Minha cabeça latejava.

Fiquei com medo de abrir os olhos e piorar tudo.

Mas depois que eu senti aquele cheiro...Aquele perfume..

Levantei num pulo, me sentando na cama.

Minha cabeça rodava, girava, dava piruetas, latejava, doía...

Olhei o quarto ao meu redor.

Era branco.

Tinha uma estante pequena à minha frente, com uma tv e um aparelho de som.

Levei a mão a cabeça, dando um tapa na minha própria testa.

Eu estava no apartamento do Uruha.

No quarto do Uruha.

Fiquei sentado, forçando a me lembrar de algo da noite passada.

Flashs passavam pela minha mente enquanto minha cabeça parecia querer sair do meu pescoço e criar vida própria.

Luz fortes piscando, o Uruha sorrindo, copos de...Vodka? ... Banheiro, luzes fortes...Porta, Uruha, cabine do banheiro, Uruha, beijos, Uruha, suspiros, Uruha, batidas incessantes da música eletrônica...E Uruha.

Por deus...Eu...Trai..

Eu trai o Reita.

Meu coração deu uma pontada.

Bufei, sentindo minha cabeça doer ainda mais.

Me virei e vi Uruha acordado, se espreguiçando.

-Ohayou! - ele disse sorrindo.

-Oquediabosaconteceuontemanoite, Kouyou?! - eu disse rápido, desesperado.

Ele me fitou, suspirando.

-Não venha com frescura... - ele passou as mãos pelos cabelos loiros, se sentando na cama.

-Como assim? - disse nervoso.

-Sabia que esse treco de bêbado não lembrar de nada é mito? - ele bufou.

-Não é que eu não me lembre de nada... - disse sem jeito. - Eu só...

-Você deve se lembrar do suficientepara saber que...O Rei-chan tem chifres. - ele sorriu cabisbaixo.

-É, eu lembro. - bufei, me levantando da cama. - Não adianta chorar pelo leite derramado...

Saco, eu me sentia a escória do mundo!

Que inferno!

Por que eu tinha que ser fraco?

Por que eu tinha que me render?

Por que eu tinha que...Me deixar levar pelo meu desejo?

-Tem..Aspirina? - eu disse finalmente, fechando os olhos.

-Já vou buscar. - ele disse sorrindo, se levantando e indo, aparentemente, até a cozinha.

Algo me deu um clique no cérebro e fui pegar meu celular.

" 21 chamadas perdidas"

"Cel do Reita"

MERDA!

ELE ME LIGOU 21 VEZES?

Disquei o número apressado.

-Moshi moshi? - eu disse afoito.

-RUKI! - ele gritou do outro lado da linha. - Daijoubu?! E-eu te liguei a noite inteira, fiquei preocupado!

-Gomen nee! E-eu tava numa danceteria! - eu disse, suspirando pesaroso.

-D-danceteria? C-com quem? Sozinho? - ele disse apressado.

Mordi o lábio inferior.

-É, sozinho...Eu tava me distraindo...Segunda eu começo no emprego, Rei.

-Ah, verdade! Desculpe por parecer um namorado compulsivo! - ele riu sem jeito do outro lado da linha.

Me doeu ter que mentir pra ele.

Mas...

Eu não poderia simplesmente falar : "Ah, eu tava com o Uruha, ai eu fiquei bêbado e dei pra ele! Foi bem divertido!"

-Daijoubu, Reita-kun! - eu disse, segurando um suspiro mais alto.

-Okkei então! V-você tá onde agora? Em casa? - ele disse com a voz mais tranquila.

Não consegui mentir dessa vez.

-E-eu to na casa do...Uruha. - eu disse finalmente, percebendo que a linha ficara muda por alguns segundos.

-Por quê? - a voz seca de Reita me assustou.

-Vim pegar uns...Cds emprestados. - eu disse, prendendo a respiração.

-Ah, okkei. Então, até mais tarde! - ele disse parecendo mais tranquilo. - Aishiteru.

-Aishiteru mo. - sorriu e desliguei o celular, voltando a respirar normalmente.

-...E aí? - ouvi a voz do loiro atrás de mim.

Me virei e dei de cara com o Uru, segurando um copo com água e um comprimido na outra mão.

-Tá tudo bem...Por enquanto. - sorri fraco, pegando o remédio e o tomando junto com a água.

Ficamos sentados na cama, em silêncio.

Sem trocarmos uma só palavra.

Até que decidi ir embora.

-Uru...Eu vou indo. - eu disse, suspirando.

-Tudo bem. - ele disse, desanimado.

Peguei minhas roupas e meu celular.

Me despedi normalmente e sai.

Minha cabeça ainda doía um pouco.

Peguei o metrô e em questão de minutos eu já estava na estação onde eu desceria.

Caminhei até a casa de Reita pensativo.

O que eu faria agora?

Minha mãe sempre falava:

"Ah, meu pobre Takanori...Não sabe nem mentir..."