O Novo Mundo Perdido:2094 escrita por Ravenheart


Capítulo 5
Decrepitude




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   Petrificado.

            Durante longos minutos, contemplei petrificado o cenário a minha volta. Minha mente simplesmente não concebia tal visão. A história de Jon passou pela minha cabeça repetidas vezes, incessantemente. Agora tudo fazia sentido.

            Do alto da “cerca”, pude ver uma metrópole. Pude ver sua queda.

            Sua ruína.

            O que restou de sonhos e sacrifícios. Era isso o que eu contemplava: os restos de um sonho.

            A floresta avançara a tal ponto que se fundia às construções. Como um louco devaneio, plantas e concreto se misturavam de uma forma quase doentia, como se brigassem pelo mesmo espaço. Altos prédios, igrejas, casas populares... Árvores, cipós, trepadeiras gigantescas... Tudo fundido perfeitamente, mas ao mesmo tempo contrastando entre si.

            Caí de joelhos, com lágrimas nos olhos. Como não percebi antes? Como não estranhei toda a vegetação, os estranhos seres, a estranha aparência de Jon? Como pude não levar sua história a sério? Meu mundo desabara sobre meus pés, assim como aquela cidade desabara sobre si mesma. Jon, ao meu lado, não parecia compreender minhas emoções...

            - Agora acho que você caiu na real. Bem-vindo ao Setor 43.

            E começou a descer o muro de detritos calmamente, deixando-me para trás.

Gritei:

            - Hei! Aonde você vai? Vai me deixar aqui?

            Sem se virar, ele me respondeu:

            - Aqui é seguro. Não posso me atrasar mais. Vou avisar a todos sobre você. Para achar o caminho, é fácil: siga as placas amarelas e brilhantes. Não será difícil...

            Sua voz foi sumindo conforme se afastava, mas pude entender suas instruções. Fiquei mais um tempo olhando aquela apocalíptica paisagem.

A fina neblina que se formara não atrapalhava a visão, e pude ver o céu. Estava completamente cinza, com tons avermelhados no horizonte. Nuvens escuras pairavam em baixa altitude, espalhadas pelo céu da manhã. O sol nascia naquele momento, mas era uma aurora sem brilho, como se o próprio astro-rei lamentasse o destino do pequeno mundo azul.

Levantei-me e comecei a descer a “cerca”. Foi fácil: a parte interna era inclinada a tal ponto que dava para descer andando sem esforço. Talvez fosse para o caso de uma fuga rápida, ou para melhor posicionamento ao defender o local. Logo atingi a base, e recomecei a caminhada pela floresta. Uma floresta morbidamente silenciosa, em que meus passos faziam muito mais barulho do que o normal...

Após um tempo andando em linha reta, deparei-me com uma das placas que Jon me disse. Era uma placa de aviso de “obras na pista”, dependurada em uma árvore e estranhamente conservada. No centro, havia uma flecha vermelha mal desenhada apontando para frente. Segui-a e, aos poucos, fui entrando na “cidade”... Seguindo várias das placas, passei por lugares, de certo modo, familiares.

Já estava pisando no asfalto, um asfalto gasto e repleto de rachaduras. Aos poucos, vultos de pequenas casas eram facilmente identificados por entre as árvores. Fui adentrando cada vez mais no esqueleto da metrópole, agora carcomido por plantas. Eu caminhava agora por uma rua de subúrbio, com casas dos dois lados. A cada passo meu, um calafrio era sentido. Esqueci as dores no corpo, o fato de estar desmemoriado, esqueci tudo... Apenas para admirar a bizarra paisagem que me envolvia.

Senti-me atraído por aquele lugar, como se uma estranha magia me puxasse com mais força a cada passo dado. Vi carcaças de carros tombados, tomados pelo mato... Residências imponentes completamente ofuscadas por seus próprios jardins, agora monstruosos e dominadores... Tudo envolto em uma aura estagnada, amarelada, decrépita.

Decrépito. A palavra perfeita para descrever o ambiente em que eu me encontrava.

Plantas, construções, objetos, tudo... Absolutamente tudo estava corrupto, enferrujado, morto. As folhas das árvores pareciam mortas, os caules retorcidos e encurvados. Não haviam flores em lugar algum, não havia cor em lugar algum...

Eu avançava devagar por entre esse ambiente caótico. As únicas coisas que se mexiam eram eu e as placas de orientação, tocadas pela brisa da manhã. Mais nada. Nenhum animal. Nenhum inseto. Nada. Era como se tudo estivesse parado no tempo.

Ao fim de uma das ruas, encontrei uma placa maior, feita de várias outras placas. Uma grande seta em seu centro apontava para o interior do que outrora era um supermercado. A grande entrada estava parcialmente obstruída, e seu interior não era nada convidativo. Mas, como eu não tinha escolha mesmo...

Lá dentro, o ar tornara-se mais pesado. Um tronco caído fez-me ter de dar a volta pela lateral, contornado os ‘finados’ caixas. Continuei em linha reta em direção as prateleiras, todas vazias e enferrujadas. No fundo, o telhado tinha desabado em uma parte, e trepadeiras dominavam o local, forçando-me a procurar outra rota para continuar avançando.

   - Derek?

   Uma voz feminina gerou medonhos calafrios em minha espinha. De onde veio isso? Quem estava ali?

   - Derek, é você?

Não consegui identificar de onde vinha essa voz. Quem estaria nesse lugar, chamando-me? Esse lugar sujo, bizarro.

Esse lugar insano, estagnado?

Decrépito...


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Notas finais do capítulo

(Capítulo escrito ao som da música-tema de Maridia, do jogo Super Metroid(SNES))