Capítulo 4 – Punição

            “- Tempos atrás, nós, humanos, dominávamos o mundo. A tecnologia avançava de vento em popa, verdadeiros milagres eram produzidos artificialmente todos os dias. É claro, tudo tinha seu preço, e era a natureza quem pagava por todo o progresso. Poluição do mar, da água, da terra, e do próprio ser humano. O descaso era total, o progresso era o lema... Até o dia em que a natureza deu o troco. Não se sabe de onde, não se sabe como, “eles” vieram.

Os Dinossauros.

            Primeiro, eram aparições esporádicas aqui e ali. Ninguém dava muita atenção aos cada vez mais crescentes casos de desaparecimento e assassinato, afinal, era tudo muito banal naquela época. Mas a situação piorou cada vez mais, e os relatos de ataques de ‘Dinossauros’ aconteciam com cada vez mais freqüência... Quando as autoridades se deram conta, era tarde demais: o caos estava formado. A natureza revidava da forma mais cruel o estupro que a humanidade havia cometido para com ela. O que antes acontecia de forma velada, agora era um ataque em massa. Da noite para o dia, cidades eram atacadas, dominadas e destruídas, mergulhando o mundo em completo caos.

A humanidade quase se extinguiu.

Os sobreviventes aprenderam a coexistir com a nova ‘raça dominante’ e, aos poucos, construíram uma nova sociedade, agora voltada à sobrevivência. Fechados, reclusos em zonas numeradas, essa é a nova face da humanidade: presas acuadas diante dos novos senhores da Terra.”

Um calafrio percorreu-me a espinha. Incontáveis perguntas vieram a minha mente:

- Mas de onde “eles” vieram? Como surgiram? Por que ninguém fez nada para impedir? Então, o mundo inteiro está assim?

Jon, já de pé, respondeu-me rispidamente:

- Ora, eu não sei! Foi meu pai quem me contou tudo isso, eu não estava lá quando aconteceu! Agora vamos, já demoramos muito.

Jon se virou rapidamente e recomeçou a marcha. Sem mais perguntas, segui-o. Mas começava a ter dúvidas sobre isso. Afinal, para onde estávamos indo? Setor 43? Isso era algum tipo de abrigo? A história que ele havia me contado serviu apenas para colocar mais dúvidas em minha cabeça... A visão do mundo inteiro destruído e dominado por dinossauros tomava conta de minha mente. Quantos sobreviveram? Como? E as armas, de onde elas vêm? E as balas para elas?

Já era a manhã do terceiro dia, e as explicações dadas não me satisfaziam... Afinal, eu estava perdido, confuso e amnésico; em um ambiente hostil acompanhado de um completo estranho!

Depois de alguns minutos, chegamos a uma espécie de clareira. Uns cinco metros à frente havia um gigantesco muro feito de... coisas. Era difícil descrever: havia uma mistura de rochas, árvores mortas, terra e entulho formando uma grande barreira, que se estendia indefinidamente mata adentro. Devia ter quase dez metros de altura...

- Chegamos, Derek. Essa é a ‘Terceira Cerca’. Ela protege todo o perímetro da zona 43. A única parte aberta fica situada bem ao sul, perto da estrada.

- “Única parte aberta”? Então teremos de...

- Sim, Derek. Teremos de escalar – respondeu-me um sorridente Jon, frisando a última palavra. Exausto pela viagem, sedento e faminto, eu ainda tinha de encarar mais esse desafio...

- Mas não se preocupe. Aqui a Cerca é baixa, será fácil!

- Se você diz... – respondi com leve tom irônico...

Uma leve neblina começava a se formar. Aproximamos-nos e começamos a subir... Jon parecia um macaco, tamanha a agilidade. Já eu, bem... parecia uma velhinha de muletas! Mesmo com a ajuda do Guardião, subi com muita dificuldade. O corpo inteiro reclamou, a fome apertou, mas ,enfim, consegui.

Ao chegar ao topo da ‘cerca’, petrifiquei-me com o que vi...