2. Mudança:

-Alice, faz oito dias que eu disse que iria com você e você ainda não terminou de arrumar as malas?- eu perguntei irritada.

Alice estava a exatamente uma semana arrumando as minhas malas para que eu fosse passar vinte dias em Forks junto com ela na casa dos meus avós. Isso mesmo, ela estava arrumando as minhas, que só por sinal, continham tantas roupas que dariam para eu passar um ano, tranquilamente.

-Ah, Ness... Eu estou tentando garantir que você não tenha que repetir roupas e é assim que você me agradece?!

-Não, dinda... Olha, não é que eu esteja sendo mal-agradecida, é só que o nosso voo sai em TRÊS HORAS, e nós ainda estamos no meu quarto!- eu falei já nervosa.

-Eu sei querida - Alice disse, com um sorriso angelical - O nosso voo sai em três horas, e nós levamos uma hora para ir daqui até o aeroporto - falou, enquanto analisava um pijama meu - Ou seja, nós ainda temos duas horas para ficar nesse quarto - ela completou, sorrindo.

-Você é louca. - eu falei, sem conseguir acreditar no que tinha acabado de ouvir.

Nesse momento, minha mãe entrou no meu quarto, com uma expressão incrédula no rosto.

-Vocês ainda não terminaram com as malas?- ela perguntou, com os olhos arregalados. - O voo de vocês sai em...

-Três horas, eu sei. - Alice interrompeu-a, parecendo um pouco irritada. - Afinal, qual é o problema de vocês duas? Nós temos tempo de sobra.

-Não temos tempo para perder com as malas, Alice. - mamãe falou brava. - E você sabe muito bem que o Emmet e a Rose estão aí embaixo esperando a Nessie descer!

-Tia Rose e tio Emm estão aqui em casa? Por que vocês não me disseram antes? - eu perguntei já me retirando do quarto.

-Ness, espera. - minha mãe falou. Voltei até a porta. - Hum... Querida, o Henry veio junto e ele não ficou nada contente com a novidade, então...

-Pode deixar que eu me entendo com a fera, mãe. - Falei brincando, porém a verdade é que eu não sabia como explicar a ele que eu moraria longe dele por uns tempos.

Henry é meu primo, filho de Rosalie e Emmet, tem quase quatro anos e é realmente muito inteligente para alguém da sua idade. Ele também é muito bonito, lindo na verdade, com seus olhinhos verdes e cabelos castanhos encaracolados.

Desci as escadas e encontrei o papai, tia Rose e tio Emm na sala, conversando. Emmet estava sério, o que definitivamente não era normal, e Rosalie estava com uma expressão de pura melancolia.

-Tio, tia. Quantas saudades!- Eu falei, me encaminhando para abraçá-los.

Emmet levantou-se da poltrona e me deu um abraço de urso que quase quebrou minhas costelas. Eu não reclamei, sentiria muito a falta daquilo.

-Ah, baixinha - Ele falou, meio choroso. - Eu vou sentir tanta saudade de você!

-Sem essa ursão, para de drama, são apenas vinte dias. - Eu falei tentando fazer brotar um sorriso em seus lábios, mas foi em vão. - Eu também vou sentir muito a sua falta. - Falei, mal conseguindo conter o choro.

-Hei, está esquecendo de mim? - Tia Rose perguntou, tristonha.

-É claro que não tia. - Eu falei e dei um abraço apertado nela.

-Vou sentir sua falta Ness. - Ela falou, já chorando. Pode parecer exagero de nossa parte, afinal era tão pouco tempo. Mas nós éramos muito unidos em nossa família, sentíamos como se fôssemos pequenas partes de um todo.

-Eu também tia, muito. - Disse, e então lembrei de algo. - Ei, onde está o Henry?

-Está lá fora, emburrado. - Rose respondeu, sorrindo.

-É Ness, eu acho que você tem um problema. - Emmet disse brincalhão. Ótimo, ele estava me encorajando tanto.

-Eu vou lá falar com ele. - Eu disse e fui para o quintal.

Ele estava sentado na beirada da piscina, com as perninhas cruzadas e encarando seu reflexo na água.

-Hei Henry... O que foi garotão?- Eu perguntei receosa.

-Você ainda pergunta?- Ele me olhou com os olhinhos marejados. - Ah Nessie, você é uma traidora!

Assustei-me com a forma como ele falou comigo.

-O que é isso Henry, você nunca falou assim comigo! - Eu o acusei.

-Desculpa Ness - pediu, e continuou: - Mas é que você me prometeu que nunca ficaríamos separados, e agora você vai para a casa do vovô e da vovó e nem vai me levar junto?- Ele devolveu a acusação.

-Ah, Henry... Desculpa, desculpa, desculpa, desculpa. Eu sei que isso é uma quebra de promessa, mas eu não tenho escolha, entende?

-Sim, eu sei. - Ele disse e me abraçou. - Vou sentir saudades Ness.

Peguei-o no colo, coloquei minha mão em seu rosto e falei através do meu dom: Eu também, Henry. Encaminhei-me para dentro de casa, levando-o pela mão enquanto lhe dizia silenciosamente: Vou sentir muita, mas muita saudade. Mesmo. \t    

[...]

Estávamos eu, Alice, mamãe, papai, Rose, Emmet e Henry no saguão do aeroporto, esperando o momento do embarque meu e de Alice. Eu estava abraçada a meus pais e com Henry no colo.

-Vocês vão passar em Forks antes de ir viajar na semana que vem, não vão? - perguntei, com os olhos cheios de lágrimas.

-É claro que nós vamos, bebê. - minha mãe falou chorando, papai concordou.

-Atenção passageiros do voo 712, com destino a Seattle, favor dirigir-se ao seu portão de embarque.

-Bom, eu acho que é agora, não é? - Eu disse.

-Que tal um abraço coletivo? - Alice sugeriu, e foi o que fizemos.

Depois disso, eu disse a todos que os amava e embarquei no avião, junto com Alice.

[...]

Desembarcamos em Seattle, nem sei quanto tempo depois. Nosso voo não foi lá muito tranquilo, segundo Alice, mas eu nem vi nada, pois dormi a viagem inteira.

Tio Jasper nos esperava no aeroporto, e eu prefiro não ter que falar a respeito do reencontro meloso do casal.

-Renesmee, que bom que você veio! - ele disse, me abraçando.

-Pois é tio Jazz, me diz: O que é que a nossa fadinha não consegue quando ela realmente quer alguma coisa?- eu perguntei rindo.

-É, você tem razão. - Jasper disse, rindo também. - Vocês, pelo visto, precisam de ajuda com as malas, não?

Eu apenas assenti enquanto via Alice revirar os olhos para Jasper, que parecia ligeiramente assustado com o número de malas que tínhamos trazido para passar apenas vinte dias. Ele nos ajudou a levar as malas (leia-se: MUITAS malas) até seu carro.

Ele teve que nos buscar, pois o carro de Alice só chegaria dentro de dois dias. Ela havia contratado a melhor transportadora de NY para levar seu Porshe amarelo canário - discretíssimo - para Forks.

-E então, Nessie, ansiosa para conhecer Forks?- Jasper perguntou enquanto dirigia.

-Sim, muito. Você sabe, eu adoro a natureza!- eu respondi realmente empolgada.

-Então tenho certeza de que você vai amar o lugar. - ele disse sorrindo. - Na verdade, seus avós não estão morando em Forks, quero dizer, não exatamente.

-Como assim? - perguntei confusa.

-Eles estão morando bem perto, quase dentro de uma reserva indígena chamada La Push. - ele me respondeu.

-Ah Nessie... Eu acho que você vai adorar a First Beach. - Alice falou empolgada.

-First Beach?- perguntei.

-É uma das praias mais bonitas do país, querida, você não sabia?

-Sim, eu sabia, mas não lembrava que a reserva em que a First Beach está localizada chama-se La Push. - expliquei. - A propósito, qual é a tribo de La Push, tio Jazz?

-Eles são da tribo Quileute, Ness. Um povo muito hospitaleiro e cheio de lendas maravilhosas. - Jasper falou, com os olhos brilhando. Ele adorava as histórias da colonização norte-americana, não era à toa o fato de ele ser um antropólogo muito famoso na comunidade científica mundial.

A viagem foi bem legal, eu me sentia super bem na presença daqueles dois: Alice, sempre tão animada, era a melhor tia e amiga que se pode querer. Já Jasper era um pouco mais reservado, mas mesmo assim, tinha um senso de humor incrível.

Às vezes eu me flagrava pensando: “será que algum dia eu vou encontrar um homem que seja tão bom pra mim quanto os homens de minha família são para suas mulheres?”. É claro que eu não era tão pretensiosa a ponto de imaginar que havia alguém que pudesse me amar acima de tudo, esperando por mim em algum lugar. Não que eu fosse feia ou não fosse digna de amor, mas eu não tinha experiências  amorosas lá muito boas em meu currículo.

O único namorado que eu tive na minha vida havia me traído porque eu não tinha coragem de transar com ele. Eu tinha dezessete anos naquela época e não queria me entregar antes de realmente ter confiança nele. Eu havia prometido a mim mesma que no dia em que eu confiasse o bastante nele, a ponto de lhe contar o meu segredo, eu me entregaria.

Porém, ele não aguentou esperar. Duas semanas após o meu aniversário de dezoito anos e alguns dias antes de completarmos um ano de namoro, eu peguei ele transando com uma vadiazinha qualquer da faculdade. Ele implorou para que eu não terminasse com ele. Eu lhe dei as costas e fui embora. Nunca mais falei com ele.

É claro que eu  tive alguns ‘rolinhos’ depois do Alex, mas nunca mais assumi compromisso. Resumindo: Hoje, com quase vinte anos na cara, eu ainda sou virgem! Triste, não? Pois é! (n/a: não por muito tempo, querida! #oremos).

Finalmente chegamos a Forks e eu já estava quicando no banco, de tanta ansiedade para rever meus avós. Eu estava ansiosa também para conhecer La Push, que era um lugar onde o contato com a natureza era constante. Quando chegamos à casa de meus avós, os dois nos esperavam na varanda, com sorrisos enormes em seus rostos. Esme veio correndo até mim.

-Nessie, oh querida, eu senti tantas saudades. - ela falou me abraçando.

-Eu também, vovó. - falei emocionada, afinal, fazia um ano que eu não via meus avós. - Senti muitas saudades.

-Você está ainda mais linda do que da última vez em que nos vimos. Oh... Minha netinha cresceu e se tornou uma mulher maravilhosa.

-Obrigado. - eu murmurei, corando é claro. Abracei-a novamente.

-E eu? Não ganho abraços?- perguntou Carlisle.

-É claro que ganha vovô! - eu disse e lhe abracei.

-Sua avó tem razão, Nessie. - ele disse, enquanto nos encaminhávamos para dentro da grande casa. - Você está ainda mais bela do que antes.

Eu corei e abaixei a cabeça. Nem consegui responder. Minha família vivia me elogiando, mas eu acho que nunca perderia essa timidez.

-Ness, você quer ver o seu quarto?- Esme perguntou.

-Meu quarto?- devolvi a pergunta.

-É claro. Você não tinha um quarto na antiga casa, em Londres? Então, agora que nos mudamos, você tem um quarto aqui!

-Ah, vovó... A senhora sabe que não precisava...

-Sem essa, Ness. - Alice me interrompeu - Vamos lá mamãe, eu quero ver a decoração do quarto da Nessie.

-Então, vamos, Nessie?- Esme perguntou.

Eu assenti, sorrindo timidamente. Minha família adorava me mimar, mas eu não me sentia tão digna assim de todos aqueles mimos, pois em troca de todo o carinho que eu recebia, eu só dava preocupação, por conta do meu ‘dom’.

-Renesmee, que carinha é essa?- minha avó perguntou, preocupada. - Olha, eu e Carlisle somos seus avós e é mais do que natural que tenhamos um quarto para você em nossa casa. Aliás, você já viu o tamanho dessa casa? Ainda temos muitos quartos sobrando.

-Tudo bem, tudo bem. Estou convencida. - falei, rindo.

-Ótimo. - Alice falou, pegando a mim e a Esme pelas mãos - Vamos logo antes que ela desista. - disse e saiu nos arrastando escada a cima. Esme e eu apenas ríamos.

Chegamos ao segundo andar e eu pude perceber que o ambiente daqui era tão aconchegante quanto o da casa de Londres, porém, enquanto na outra casa a decoração seguia um estilo rústico, bem nos padrões da Inglaterra, a decoração daqui era bastante moderna e artística. Subimos mais um lance de escadas e eu já estava realmente assustada com o tamanho da casa.

-Olha Ness, aqui é o seu quarto. - Esme falou, me indicando uma porta branca com algumas borboletas pintadas em lilás. Também tinha o meu nome, escrito em alto relevo com letras rosa bebê. Meio infantil, não é? Mas esse é o meu estilo: bem menininha.

-Abre logo, Renesmee! O meu filho já está quase nascendo por conta da minha ansiedade. - tia Alice falou, dando alguns pulinhos.

Eu ri e abri a porta.

O quarto era FANTÁSTICO, todo em tons claros de verde, rosa e lilás. Tinha uma cama King Size, uma porta que dava para uma pequena sacada, uma TV de plasma 42’’embutida na parede que ficava em frente à cama, um sofá de dois lugares super bonitinho, uma poltrona, uma escrivaninha e em uma das paredes tinha uma porta de correr que era provavelmente, do closet e do banheiro.

-E então querida, o que você achou?- Esme perguntou ansiosa.

-Eu achei lindo vovó, per-fei-to!- respondi sincera.

-Bom, eu não coloquei nenhum quadro nas paredes porque imaginei que você quisesse fazer isso, mas se você achar que nós precisamos mudar alguma coisa...- Ela disse, meio nervosa.

Caminhei até ela e coloquei minhas mãos em seu rosto. “Eu achei perfeito, vovó. Simplesmente amei... Muito obrigado!” Eu falei através do meu dom, que eu raramente usava.

-Que bom que gostou meu bem. - Esme falou sorridente.

-Isso que você ainda nem viu a melhor parte: o closet!- Alice falou animada. - Eu cuidei pessoalmente dessa parte.

-Você diz isso pra me animar ou pra me deixar com medo, tia? (n/a: #bichamá)

-Ah, que é isso Ness? Você está me chamando de exagerada ou é impressão minha?- ela perguntou com as mãos na cintura.

Eu apenas ri, essas reações eram tão típicas de Alice. Nem podíamos botar a culpa nos hormônios da gravidez, afinal, ela sempre foi assim.

Abri a porta, esperando o pior. E adivinhem? Eu estava errada! O closet nem eratão grande assim e era super fofo.

Era todo em rosa bebê e verde oliva e tinha uns detalhes em roxinho. Tinha um espelho grande, com uma maçaneta, e eu deduzi ser aquele espelho a porta do meu banheiro. Percebi que estava certa quando Esme abriu a porta-espelho e me revelou um banheiro lindo, todo branquinho e super delicado. Entrei e pude ver todos os detalhes: tinha um boxe de vidro para o chuveiro, uma banheira, pia, espelho e vaso sanitário, tudo branco com detalhes verdes.

-Nossa...- foi só o que eu consegui dizer.

-Gostou?- Alice perguntou.

-Se eu gostei? Eu amei! Amei, amei, amei, amei!- disse me jogando em cima das duas. - Muito obrigado, de verdade!

-De nada, querida. É ótimo saber que você gostou tanto. - Esme estava radiante.

-Sim, eu gostei muito mesmo vovó. - eu falei, e então caiu a ficha. - Alice?

-Sim, Nessie.

-Você disse que ajudou com a parte do closet, certo?

-Certo. Ah... Eu também ajudei a escolher as cores. - respondeu sorrindo.

-Mas se você ajudou na decoração, por que estava tão ansiosa para ver o quarto?- perguntei desconfiada.

Alice ponderou por um instante, mas acabou falando:

-Tudo bem, eu confesso. Lembra quando eu vim visitar seus avós, há dois meses?- perguntou, assenti confirmando. - Então, na verdade eu vim ajudar a mamãe com isso. Mas o quarto ainda estava vazio. Naquele final de semana nós escolhemos as cores e decoramos o closet, mas depois disso eu não vim mais para Forks, então, eu não sabia como o quarto tinha ficado.

-Ah, entendo. - eu estava envergonhada por constatar, mais uma vez, o quanto minha família se importava comigo, e em troca só ganhava preocupação.

-Querida, já estamos servindo o jantar. - Esme disse - Vá tomar um banho relaxante, eu imagino que você deva estar cansada. Desça quando estiver pronta.

-Tudo bem, vovó. E mais uma vez, obrigado a vocês duas, por tudo.

Elas sorriram e se retiraram do quarto. Eu fui para o banho e acabei ficando mais tempo do que esperava embaixo do chuveiro, pois estava realmente cansada. O meu dia tinha sido cheio: Eu havia tido aula pela manhã - a última aula do meu penúltimo semestre (n/a: que invejinha! --‘), havia ajudado Alice com o resto das malas e depois ainda havia feito uma viagem super longa.

Terminei o banho, desci e jantei com minha família. Depois, fui para o meu quarto e me joguei na cama, totalmente sonolenta.

Porém, antes de dormir eu ouvi algo que me chamou a atenção.

Um uivo, rompendo o silêncio da noite.