O Cometa escrita por Carol, thammy horan jones, renatatwifan


Capítulo 10
10. Sapos, salamandras e Barbie Passarela.


Notas iniciais do capítulo

Oii, mais um capítulo aí para vocês.
Obrigado aos comentários no cap anterior e bem vindas, novas leitoras.
Boa leitura...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/103475/chapter/10

O Cometa:

10. ? Sapos,  salamandras e Barbie Passarela.

O sol estava nascendo no horizonte, seus tímidos raios matinais rompendo as nuvens pesadas do céu da península de Olympic. Eu estava sentada na cadeira de balanço do meu quarto assistindo essa bela cena, em Nova York era impossível ver algo assim. Os arranha-céus cobriam tudo e a cidade nunca ficava silenciosa, uma legítima selva de pedra.

Levantei-me da cadeira, estiquei o corpo e caminhei preguiçosamente até o banheiro que ficava dentro do meu closet, deixando o pijama jogado pelo caminho, depois eu recolheria.

Liguei o chuveiro e entrei embaixo da água quentinha, estávamos em pleno verão, mas em Forks fazia frio o ano inteiro. Espreguicei-me e ensaboei todo o corpo com calma, lavei bem os cabelos e passei muito condicionador para garantir que meus cachos não iriam embaraçar com essa umidade toda. Fiquei muito tempo com o chuveiro ligado, o que me fez sentir culpa por estar ajudando a acabar com a água do planeta, mas aí eu lembrei: “todos podem extrapolar pelo menos uma vez”, palavras da minha mãe. Dei de ombros e continuei cantando musiquinhas felizes.

Quando meus dedos começaram a ficar murchos eu deduzi que se ficasse mais tempo embaixo d’água  começaria a derreter. Ri com esse pensamento, mas fechei o registro rapidamente. Enxuguei o corpo, vesti uma calça de moletom e a minha blusa de pijama da Hello Kitty, que eu tinha desde os quatorze anos de idade. É claro que agora ela era pequena para em mim, mal chegava ao umbigo e, como ficava muito apertada nos seios, eu tinha que deixar o primeiro botão aberto. Mas a questão é que eu adorava aquela blusa, havia ganhado da tia Rosalie, e naquela época - aos quatorze anos - eu me achava sexy quando vestia aquilo. Tive que rir de mim mesma com essa lembrança. Sexy com uma blusa da Hello Kitty, rá.

Penteei os cabelos e sequei apenas a franja, escovei os dentes e voltei para a cadeira de balanço com o telefone celular nas mãos. Ter pensado nas maluquices da minha mão me causou uma pontada de saudade no peito. Disquei seu número.

-Alô - a voz arrastada do meu pai falou do outro lado da linha, eu o havia acordado.

-Bom dia papai! - cantarolei para ele.

-Nessie? É você? Oh meu bem, que saudades de você. Achei que tinha esquecido o seu velho pai. - falou dramático, revirei os olhos.

Renesmee? Deixe-me falar com ela, Edward!”. Minha mãe falou, alto o suficiente para mim escutar. Acho que ela estava gritando com ele, provavelmente pulando na cama e estapeando-o para pegar o telefone.

Eu ri, papai falou:

-Ah, querida, depois nos falamos... Sua mãe vai ter um ataque epilético aqui se eu não passar o telefone para ela. Eu te amo, um beijo.

-Eu também te amo pai. - falei sorrindo.

Não sei se ele ouviu, pois uma fração de segundo depois de eu ter acabado de dizer aquela frase, a histérica da minha mãe começou a falar.

-Renesmee, minha filha! - ela ainda não era muito adepta do meu apelido - Ah meu amor, eu não aguento mais de saudade. Estava dizendo ontem ao seu pai, acho que não vou poder acompanhá-lo na viagem ao Oriente. Quatro meses é muito tempo, eu não posso ficar quatro meses longe da minha pequena cutucadora! Eu preciso estar perto de você meu amor, preciso fazer seu bolo preferido e olhar em seus olhos enquanto você se lambuza de leite com achocolatado. - ela disparou tudo de uma vez, como uma metralhadora automática.

Eu balancei a cabeça, rindo.

-Ah mãe, para de drama. Eu aprendi a beber leite com achocolatado sem me lambuzar já faz mais de um ano - é, isso mesmo. Apenas aos dezoito anos que eu aprendi a comer como um ser humano normal, quanto orgulho para mim! - Você não pode deixar de viajar com o papai, estão planejando essa viagem há dois anos!

-Eu sei filha, mas você é o meu maior tesouro...

A partir daí ela ficou quase uma hora falando da minha importância em sua vida e eu levei o mesmo tempo para convencê-la de que não seria justo ela deixar a viagem para ficar comigo e que eu ficaria bem. Despedimo-nos e ela me deixou falar mais um pouco com meu pai. Ele me perguntou o que eu havia achado de Forks, se estava fazendo amigos, e depois me perguntou quem era Jacob Black. Eu congelei, quis saber o porquê de sua pergunta, ele disse apenas: “Você fala mais nele do que nos seus outros amigos”. Tratei logo de desviar desse assunto embaraçoso, afinal, o que eu diria? “Ah pai, eu conheci ele no domingo, sei que pode parecer precoce, pois hoje é só quinta-feira, mas eu estou GAMADA.”. Não, definitivamente essa não era uma resposta aconselhável, a não ser que eu quisesse um coração artificial batendo no peito do meu pai.

Depois de nos despedirmos - com a confirmação da promessa de que eles viriam aqui antes da viagem -, eu desci as escadas e rumei para a cozinha.

Esme estava sentada à mesa tomando uma xícara de café e comendo umas torradas.

-Tão cedo, querida? - perguntou enquanto recebia um beijo meu em sua bochecha.

-Na verdade eu acordei há muito mais tempo. Assisti o nascer do sol. - falei sorrindo - E liguei para os meus pais também.

Esme sorriu para mim.

-Que bom querida, eles devem estar com saudades.

Eu ri.

-Com certeza! - falei - E a senhora certamente consegue imaginar o escândalo que a minha mãe fez.

-Com certeza! - ela repetiu a minha frase, alongando um pouco as palavras.

Rimos juntas e eu a acompanhei em seu café da manhã.

-Bom dia família. - Alice entrou cantarolando na cozinha.

-Bom dia Alice. - credo, Esme e eu estávamos sincronizados demais hoje.

Alice - ainda de pijama - sentou-se em uma das cadeiras e ficou alisando sua barriga. Eu me levantei, contornei a mesa e fui conversar um pouco com o meu afilhadinho, já estava com saudades.

-Bom dia Cory, tudo bem aí dentro? - perguntei acariciando a barriga de Alice, como sempre fazia.

Mas o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa. Arregalamos os olhos e ficamos momentaneamente sem palavras, até que tia Allie rompeu o silêncio berrando a plenos pulmões:

-JAZZ, ACORDA PREGUIÇOSO! SEU FILHO ACABOU DE SE MEXER DENTRO DE MIM!

Vó Esme abriu um sorriso de pura felicidade, enquanto eu e Alice tínhamos os olhos marejados.

-Ele estava com saudades de você, Ness. - Alice disse baixinho - Não estava filho? - perguntou para a sua barriga.

Nesse momento, como que para reforçar o ponto de Alice, Cory se mexeu novamente, mas dessa vez foi bem mais forte. Alice, que exibia um sorrisão maior que o mundo, saiu correndo da cozinha. Virei-me a tempo de vê-la se jogar nos braços de tio Jasper, que caminhava meio zonzo até a cozinha. Ele a pegou no colo e rumou novamente para a escada.

-Acho que agora eles vão comemorar - Esme disse ainda sustentando seu sorriso doce - Só espero que eles não traumatizem o meu netinho.

Eu ri alto, mas corar foi inevitável. Ao mesmo tempo em que era engraçado, era muito embaraçoso ouvir Esme falando a respeito de sexo.

Terminamos o café e eu - sob protestos - ajudei Esme e Kate a arrumar a cozinha. Carlisle estava no hospital, mas a minha avó garantiu que ele almoçaria conosco. Eu sentia falta dele.

Fui até a biblioteca, eu decidi que não iria ficar me descabelando de preocupação enquanto Jacob não voltasse. Liguei o computador e fiz algumas pesquisas, eu ainda não havia decidido o tema do meu trabalho semestral da faculdade. Teria que ser algo realmente bom, afinal era o meu último semestre, depois disso eu me formaria e começaria a trabalhar, teria a minha própria casa, minhas contas para pagar.

Eu já tinha o quadro do meu futuro todo pintado desde que era pequena, mas de repente percebi que faltava alguma coisa. Na verdade eu sempre soube que faltava alguma coisa, mas só agora, depois de quase vinte anos de planejamento eu descobri que não me faltava algo. Faltava-me alguém. Eu sempre imaginei que me tornaria uma fotógrafa e cartunista de sucesso quando me formasse, mas nunca pensei que iria gostar de ter alguém com quem dividir a minha felicidade, ou talvez mais do que isso, alguém que fosse a própria fonte da minha felicidade.

Eu nunca me imaginei em uma relação tão séria quanto o  casamento, até porque,  eu nunca sequer imaginei que um dia teria coragem para contar o meu segredo a alguém. Realmente, essa vinda para Forks conseguiu tornar ainda mais maluca toda a minha realidade.

Saí da biblioteca apenas para almoçar. Eu havia encontrado algo realmente interessante para fazer, mas infelizmente não tinha muito a ver com o meu trabalho do semestre. O livro “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, sempre foi uma paixão minha, e eu descobri que vovô tinha um exemplar da época em que foi lançado. Fiquei boa parte da tarde lendo, mas nem isso conseguia prender cem por cento da minha atenção. Eu estava muito preocupada com Jacob.

Quando já eram umas quatro horas da tarde, o sol conseguiu romper a densa cobertura de nuvens, conferindo ao céu um tom alaranjado maravilhoso. O vento, porém, não dava tréguas e eu tive que me retirar da biblioteca, que havia se tornado gelada demais.

Subi com o livro para o meu quarto e me sentei à janela, novamente. Eu estava parecendo aquelas velhinhas fofoqueiras que passam 20 horas por dia na janela esperando qualquer movimentação estranha para correr para o telefone. É, eu sei, ando assistindo muito desenho animado ultimamente.

Mas, quando eu já estava ficando tão entediada a ponto de contar carneirinhos para conseguir dormir, eu ouvi aquele som já conhecido que me levou do inferno direto para um estado de glória: o ronco da Harley.

Levantei-me da cadeira com um pulo e comecei a dançar pelo quarto, comemorando. Depois fui até o espelho checar se estava apresentável para recebê-lo. Eu estava um caco, mas não me importei. Escancarei a porta do quarto e disparei em direção às escadas.

A parte mais racional do meu cérebro - aquela que geralmente é ilustrada por um nerd com óculos fundo de garrafa - gritava: “Reação exagerada!”, “Reação exagerada!”. Ignorei esse alerta irritante que ficava piscando na minha mente como uma maldita placa de néon em um motel vagabundo e desci as escadas na máxima velocidade que a minha condição humana permitia, pulando de dois em dois degraus. Nessa hora eu amaldiçoei o dia em que vó Esme decidiu fazer o meu quarto no terceiro andar da mansão.

Já no segundo piso, eu esbarrei em Alice, que saía de seu quarto com uma toalha enrolada no cabelo.

-Onde é o incêndio, Nessie? - perguntou com as mãos no peito, ela havia se assustado.

Eu - que estava estatelada no chão do corredor - levantei-me rapidamente e ajeitei minhas roupas.

-Jake chegou. - falei, explicando o motivo da minha pressa.

-Ah, é claro que ele chegou - ela disse com um sorriso malicioso - Desculpe a minha falta de tato, querida. Você não está indo apagar um incêndio, não é? Está indo iniciar um.

Eu corei e revirei os olhos para ela, mas não respondi. Apenas voltei a correr.

Quando cheguei ao topo da última escada que teria de descer, meu coração se encheu de vida. Lá estava ele, parado à porta, com seu sorriso de sol e... sem camisa!

Senti uma umidade se formar em minha calcinha e me assustei um pouco com isso, mas era bom. Muito bom. Eu nunca o havia visto sem camisa, e fiquei hipnotizada quando o fiz. Seu corpo era mais do que másculo, mais do que perfeito, e colocaria qualquer halterofilista no chinelo. Notei que ele tinha uma tatuagem no braço direito, um símbolo muito bonito e imponente.

Eu desci os degraus em uma velocidade surpreendente enquanto ele caminhava até o pé da escada. Joguei-me em seus braços e afundei minha cabeça em seu peito nu, inalando o maravilhoso aroma amadeirado que exalava de seus poros. A preocupação já não estava mais em mim, eu me sentia viva novamente. Perfeitamente bem, pois ele estava aqui comigo. Quando nos reencontramos e eu voltei a me sentir completa, me dei conta de que aquele sentimento que habitou meu ser desde o momento em que ele saiu até agora, mais do que medo e preocupação, era saudade. Só agora que eu estava bem novamente foi que percebi o quanto estive realmente mal durante esses dois dias. Foi como se meu coração tivesse sido esticado e repuxado para todas as direções. Foi como se ele tivesse sido dividido.

Jacob não parecia estar se sentindo muito diferente de mim. Seus braços quentes e fortes prendiam-me ao seu corpo em um abraço de ferro. Ele cheirou meu cabelo, meu pescoço, e depois deu um beijo molhado em minha bochecha.

-Eu senti saudades -falou, e eu me assustei com a dor que ouvi em sua voz - Eu senti muitas saudades. Ficar longe de você é pior do que enfrentar um exército de sanguessugas. É a minha ruína.

Olhei em seus olhos.

-Eu também senti muito a sua falta - falei olhando-o fixamente - e quase morri de preocupação. Foram os dois dias mais longos e angustiantes de toda a minha vida.

Ele me olhou pesaroso.

-Desculpe por não ter vindo antes - disse, acariciando meu rosto com a ponta dos dedos - Tive problemas com a alcateia.

-E o que era? - perguntei curiosa, depois abaixei meu tom de voz para um sussurro - Ataque de vampiros? Oh, alguém se feriu?

Ele balançou a cabeça negativamente.

-Não se preocupe, não havia sanguessugas. Não foi nada grave, apenas... complicado.

Eu assenti, não iria insistir nesse assunto, não iria obrigá-lo a me contar. Voltei a abraçá-lo com força, minha vontade era prendê-lo a mim e não soltar nunca mais. Ele imediatamente retribuiu ao meu abraço, segurando meu rosto contra seu peito, acariciando meus cabelos.

-Vamos à praia? - perguntou enquanto desenhava círculos em minhas costas com o polegar.

-Claro! - respondi sorrindo, ele sorriu também.

Jake me afastou de seu corpo e me analisou da cabeça aos pés. Eu corei, ainda estava com aquela blusa de pijama da Hello Kitty que, nesse momento - diante do olhar de luxúria de Jacob -, me parecia bem mais indecente. É, pelo visto eu me enganei, havia sim como ficar sexy com uma blusa da Hello Kitty. Ele deu um sorriso safado, mas depois ficou sério, pensativo. Parecia estar ponderando alguma coisa.

-Sabe Ness - falou com um pouco de malícia na voz - Eu gosto dessa blusa. Gosto bastante. Mas acho melhor você vestir outra para irmos a First Beach, uma que te deixe um pouco mais, hum... coberta.

Eu estreitei os olhos para ele. É claro que eu não sairia de casa de pijama, mas sério que ele estava me pedindo para trocar de roupa? Não consegui conter o riso.

-É que você vai passar frio vestida desse jeito. - ele explicou rapidamente.

Eu ri alto dessa vez.

           

-Jacob, você nem de camisa está para dizer que eu vou passar frio com essa blusa! - falei rindo dele, mas depois fechei a cara - Aliás, por que é que você está sem camisa, mesmo?

Essa foi a vez dele de rir.

-Te incomoda tanto assim me ver seminu?

Eu corei. É lógico que eu não me importava de vê-lo seminu, na verdade, eu não me importaria nem um pouquinho de vê-lo completamente nu - corei mais ainda com esse pensamento -, mas a questão é que eu não queria as Stacey’s da vida babando naquele peitoral sarado.

-A sua seminudez não me incomoda, garoto. - falei severa, enquanto ele ria descaradamente - Mas você não acha que, caso eu saísse vestida da forma que estou, eu estaria mais aquecida com essa blusa do que você sem blusa nenhuma?

Ele franziu a testa e balançou a cabeça.

-Eu acho que já te expliquei isso - falou pensativo.

-Isso... o quê?

-Da forma como o corpo dos lobisomens é forte. É quase como uma máquina, Ness... Um mecanismo de defesa muito poderoso. Você já reparou no quanto o meu corpo é quente, não?

Sem dúvida, baby! - pensei.

Assenti com a cabeça.

-Pois é - ele falou -, então, eu comecei a ficar assim quando eu tinha dezesseis anos e...

-Você já me explicou isso - o interrompi - Desculpe pela confusão, é só que eu não me lembrei desse negócio de temperatura, é tanta coisa na minha cabeça. Também não lembrei que é muito mais fácil para você andar só de bermuda, por causa da transformação. Achei que você estava sendo apenas fútil ao desfilar sem camisa por aí.

Ele arqueou uma sobrancelha.

-Fútil? - ele estava incrédulo - Por quê?

Eu corei ao responder.

-Ah, você sabe... ficar exibindo essa montanha de músculos pela rua não me parece muito humilde.

Ele riu.

-Montanha de músculos? - perguntou sacana.

Eu lhe dei a língua. Sabe como é, conviver diariamente com a tia Alice dá nisso.

Peguei sua mão e o puxei escada acima.

-Aonde vamos? - ele perguntou confuso.

           

-Eu vou trocar de roupa. - falei, ele estacou no último degrau.

Voltei-me para trás para fitá-lo. Ele estava com uma cara de bebê safado que quase me fez perder o juízo.   

-O que foi? - perguntei.          

-Por que você está me levando junto? - ele devolveu a pergunta - Precisa de ajuda para trocar de roupa? - ele estava apenas brincando, mas havia uma pontinha de esperança em sua voz.

Eu arregalei os olhos teatralmente e ele se apressou em pedir desculpas e dizer que era brincadeira, eu gargalhei.

-É claro que não preciso de ajuda. - falei ainda rindo - É que eu quero te apresentar para os meus avós e meu tio Jasper.

Ele assentiu. Percebi que estava nervoso.

-Não se preocupe - falei - Eles não mordem.

O canto direito de sua boca se elevou um pouco em um sorriso torto maravilhoso.

-Eu sei que eles não mordem - falou e então se aproximou do meu ouvido para sussurrar - Na verdade, sou eu que mordo. Mas só de vez em quando.

Eu percebi ambiguidade em sua frase, e corei. Ele riu e beijou minha testa.

-Ok, vamos! - falei puxando-o para o escritório de minha avó, onde ela, tio Jazz e tia Alice estavam vendo algo no computador.

Quando chegamos à porta, pigarreei para atrair a atenção deles. Suas reações foram completamente distintas entre si. Tia Allie fez cara de “oh, eu já esperava por isso”, vó Esme sorriu feliz para nós, e tio Jasper nos olhou confuso.

-Vovó, tio Jazz... - falei arrastando um Jacob relutante para dentro do escritório - Quero que conheçam meu amigo, Jacob Black.

Esme levantou-se da cadeira e caminhou até nós. Estendeu a mão para Jake, que a pegou sem hesitar.

-É um prazer conhecê-lo, Jacob. - ela falou docemente, e então fez uma cara de espanto - Oh, você está com febre, querido?

-O prazer é todo meu. - Jake disse um pouco tímido - E não, eu não estou com febre, esse calor é coisa dos índios de La Push. Estamos acostumados com o frio. - falou dando de ombros.

Tio Jasper também veio apertar a mão de Jacob e eu fiquei feliz ao ver que minha família havia gostado dele. Perguntei baixinho se ele queria ficar ali enquanto eu me trocava, ele disse que preferia esperar em outro lugar. Eu não o culpei por isso, percebi que ele não estava muito confortável ali, talvez por não estar devidamente vestido.

Despedi-me de meus tios e de minha avó, avisei a eles que iria a praia e saí do escritório com Jacob me seguindo. Levei-o até a sacada e pedi que esperasse lá, ele assentiu. Fui até meu quarto, vesti uma calça jeans, botas e um suéter.

Jacob e eu descemos as escadas e fomos até sua moto. Ele colocou um capacete em mim, me ajudou a subir - atrás dessa vez - e acelerou em direção a First Beach.

Agora estávamos caminhando de mãos dadas à beira da água. O sol já estava quase se pondo e a vista era fantástica. Eu estava contando a ele como era a minha vida em Nova York.

Jacob ouvia tudo com muito interesse, e de vez em quando me perguntava alguma coisa. Ele queria saber de tudo: minha cor preferida, meu time de futebol, a matéria que eu mais gostava na faculdade, com que idade dei o meu primeiro beijo... Eu fiquei um bom tempo falando e contei a ele coisas que nunca imaginei que teria coragem de contar a alguém. Falei a respeito de Alex e sua traição, e de como eu me senti em relação àquilo. Jake ficou perplexo.

-Eu não acredito! - falou um pouco alterado, interrompendo o meu relato - Eu simplesmente não consigo acreditar que exista no mundo uma criatura tão estúpida quanto esse imbecil desse Alex. É sério, não entra na minha cabeça como esse cara pôde ter sido tão burro a ponto de ficar com outra garota enquanto tinha você. E o pior: ele magoou você! Ele te deixou triste! Ah, Ness... Agora eu estou com muita vontade de dar uma bela surra nesse fulano.

Eu ri com isso.

-Vamos com calma, Testosterona Man. - falei rindo - O Alex é mesmo um canalha, porém, ele já não me afeta mais. É estranho eu dizer isso, porque se fosse há uma semana atrás eu estaria me debulhando em lágrimas ao lembrar do que ele fez, mas agora eu simplesmente não me importo. Te conhecer me fez muito bem, Jake. Eu me sinto ótima ao seu lado, realmente feliz.

Ele abriu um sorriso lindo para mim.

-Eu sou o homem mais realizado do mundo por ouvir da sua boca que a minha presença te deixa feliz. - falou sorrindo feito um bobo.

Eu sorri de volta, mas antes que pudesse me derreter com a carinha de satisfação que ele fazia cada vez que me via sorrir, eu gritei com toda a minha força. Isso mesmo, gritei. Tudo bem, eu explico: é que enquanto eu estava admirando o lindo deus grego que caminhava ao meu lado, minha visão periférica detectou um movimento estranho na areia, e quando eu fui investigar esse movimento, não pude conter a histeria. Era uma salamandra! Uma salamandra grande e assustadora.

Jacob, em um gesto automático, se colocou à minha frente de maneira protetora e varreu toda a praia com seu olhar atento, enquanto eu não parava de pular. Quando terminou sua observação minuciosa, virou-se para mim cauteloso.

-O que foi, pequena? Por que você gritou?

Quando ele falou, o motivo do meu pavor voltou a dominar minha mente e eu não consegui segurar outro grito escandaloso que escapou por minha garganta.

-Meu Deus, Ness... Qual é o problema? - Jake perguntou preocupado.

Eu - que nesse momento gritava e pulava feito uma retardada - apenas indiquei a salamandra para ele. Vi sua testa se franzir.

-Você está com medo desse bichinho? É isso? - perguntou incrédulo, eu o fuzilei com os olhos -  Tudo bem, não se preocupe. Eu te protejo, Ok? É só passarmos longe dela.

-Não! - protestei, assustada - Olha só, eu não estou com medo dessa salamandra, é só que eu tenho fobia de anfíbios. Uma longa história. A questão é que eu não vou passar nem perto da toca desse bicho! - essa última parte saiu em um tom completamente histérico.

-Ah Nessie... - Jacob falou triste - Eu queria te levar na nossa pedra, onde estávamos segunda-feira, lembra? Mas nós precisamos passar por esse caminho.

Fiz beicinho, Jake riu.

-Tudo bem, tudo bem. Eu te carrego.

-O quê? - perguntei atônita - Não precisa!

Ele virou de costas para mim e se abaixou.

-Sobe aí. - falou.

Eu relutei um pouco, mas acabei cedendo. Também queria ir à nossa pedra. Enlacei minhas pernas em sua cintura e me segurei em seus ombros. Olhei na direção oposta quando estávamos passando pela toca da salamandra.

-Afinal, por que você estava tão apavorada? - Jake perguntou por sobre o ombro, quando já estávamos bem longe do adorável animalzinho.

Eu ainda não havia descido de suas costas. Ele parecia gostar muito de me carregar como se eu fosse uma criancinha de seis anos e, confesso, eu adorava isso também.

-Um trauma. - respondi - Quando eu estava na sexta série, o professor de biologia inventou que teríamos de dissecar um sapo - por isso a ideia dissecação me assusta tanto - e tinha um furo na minha luva, então o sapo soltou aquela secreção venenosa na minha mão. Foi naquele dia que eu descobri que sou alérgica, e acredite em mim, não foi nada agradável. Eu inchei como um baiacu e fiquei de atestado vinte dias por causa das reações alérgicas. Eu vomitava muito e espirrava de cinco em cinco segundos, deu medo. Por isso daquele dia em diante eu nuca mais cheguei nem perto de um anfíbio.

Jacob me ouviu com muita atenção, para depois explodir em estrondosas gargalhadas. Eu fechei a cara.

-Pimenta nos olhos dos outros é refresco. - resmunguei.

Suas risadas ganharam mais intensidade, o que acabou me contagiando. Ele começou a girar e correr na areia, comigo pendurada em suas costas como um sagüi. Não sei se a sua intenção era me derrubar ou apenas me divertir, mas a questão é que eu estava achando demais aquela nova brincadeira. Eu ria tanto que a minha barriga chegava a doer.

-Crianças... - ouvi uma voz conhecida falar.

Quil. Ele estava segurando um balde e uma pazinha plástica nas mãos e tinha uma garotinha que aparentava uns dois anos pendurada nos ombros. Ambos estavam rindo de mim e de Jacob.

-Está vendo, Claire? - ele falou para a garotinha risonha e gordinha que agora puxava seus cabelos sem dó - Depois eles ficam debochando de mim, dizendo que eu pareço ter a sua idade mental quando brinco com você. Rá, olha bem para o Jacob quando está perto da Nessie! Hahahaha, é bom saber que eu vou deixar de ser o alvo das gozações, hahahahahaha.

A menina puxou o cabelo dele com mais força e gritou:

-Quelo chão, Cuil! Agoooola!

Quil a pegou pelos pequeninos ombros e colocou-a no chão com muito jeito. A forma como ele agia com ela, por mais estranho que pareça, lembrava a forma como Jake agia comigo. Com a diferença de que Jacob era ainda mais cuidadoso.

A menina correu até nós - sim, eu ainda estava grudada nas costas de Jacob - gritando “Tio Jaaaaay!”, e abraçou uma perna de Jacob.

-Olá bebê. - Jake disse bagunçando os cabelos negros dela.

Ela riu e então subiu seu  olhar até mim. Eu pedi ajuda para Jacob, desci das suas costas e cumprimentei a menina. Ela me deu um sorriso tímido, um “olá” quase inaudível e olhou rapidamente para Quil, seus olhinhos pediam uma explicação.

-Claire, essa é a Nessie. - Quil me apresentou à pequenina - Ela é namorada do tio Jay.

Olhei para Jacob, ele deu de ombros. “Não dá bola para o que ele diz, esse aí é um caso perdido”.

-Ei, eu ouvi isso! - Quil protestou.

-Como se isso adiantasse alguma coisa. - Jake disse rindo.

Eu ri também, assim como Claire.

-Tio Jay, a sua namolada é linda. Ela palece a minha Babie Passalela. - Claire disse com um sorriso lindo no pequeno rostinho.

Eu corei.

-Concordo plenamente com você, Claire. Garota esperta! - Jake falou - Toca aqui!

Ele estendeu a mão para ela e então os dois fizeram aquele cumprimento de bater a palma das mãos e depois os punhos. Típico de garotos. Deduzi nessa hora que Claire passava boa parte do seu tempo com Quil.

-Ela é sua irmã? - perguntei à Quil enquanto víamos Jake rodar a menina no ar.

Ele hesitou por um momento, olhou para Jake - que havia parado abruptamente a brincadeira com Claire - e voltou a olhar para mim. Estava um pouco nervoso.

-Irmã? Não, Claire é minha...

-Afilhada. - Jacob disse rapidamente.

Eu juntei as sobrancelhas, os dois estavam estranhos demais, mas resolvi não insistir.

-AH, DROGA! - Quil gritou de repente, assustando a todos nós - A Emily vai brigar comigo e a sua mãe não vai mais deixar eu te trazer a praia, Claire. Olha só, o sol já está se pondo, nós deveríamos ter voltado há duas horas atrás. DUAS HORAS! Vamos bebê, eu tô ferrado! 

A garotinha correu para ele, que a pegou no colo e saiu rapidamente em direção ao estacionamento da praia.

Jacob e eu ficamos rindo do ‘pequeno’ chilique de Quil.

-O que você achou da Claire? - Jake perguntou me puxando pela mão. Percebi que estávamos a apenas alguns metros da nossa pedra.

-Ela é adorável, e o Quil precisa urgentemente de um terapeuta. - falei rindo.

-Eu acho que ele precisa mesmo é de uma terapeuta, se é que você me entende. - Jake disse rindo também.

-Ei, eu não quero saber da vida sexual do seu amigo! - falei - Mas ele me parece feliz.

Jake assentiu, concordando.

-Ele é feliz, porque para ele o que importa é a felicidade de Claire.

Olhei em seus olhos.

-Eu tenho esperança de que algum dia você me explique esse negócio.

-Eu vou explicar - falou solenemente - Apenas tenha calma, Barbie Passarela.

Revirei os olhos.

-Eu sabia que você não deixaria passar.

Ele riu e me ajudou a subir na pedra. O sol estava bem baixo agora, a impressão que dava é que ele estava tocando o mar. Fantástico. Jake me abraçou ternamente, eu retribuí.

-Eu acho que, em toda a minha vida, eu nunca estive tão feliz quanto estou agora. - Jacob disse baixinho - É tão... inexplicável. Eu me sinto tão completo ao seu lado, minha pequena. Não existem, não existem palavras para descrever.

Que dia é hoje

E de que mês?

Esse relógio nunca pareceu tão vivo

Eu não consigo prosseguir e não consigo voltar

Tenho perdido tempo demais

           

Eu olhei em seus olhos negros e, de repente, todas as razões que eu encontrava para resistir - o fato de eu morar do outro lado do país e estar indo embora em uma semana, o fato de ele ser tão volúvel e nunca assumir um compromisso, o fato de eu mesma não saber se queria um compromisso no momento -, tudo isso deixou de existir. Só existíamos eu, ele, e a vontade que eu tinha de ser dele.

Porque somos eu e você, e todas as pessoas

Com nada a fazer, nada a perder

E somos eu e você, e todas as pessoas e

Eu não sei porque não consigo tirar meus olhos de você

           

Ele era tão bom para mim, tão perfeito. Eu não queria pensar no depois. E não pensei. Aproximei meu rosto do seu com lentidão, enquanto ele fazia o mesmo comigo. Ele me puxou para mais perto, envolvendo minha cintura com um de seus braços enquanto sua outra mão se enrolava em meu cabelo. Seu cheiro estava me inebriando. Eu alcancei sua nuca, puxando seus cabelos para trazê-lo para mais perto. E finalmente aconteceu. Nossos lábios se tocaram, como o sol havia tocado o mar ainda há pouco, e o que começou com um selinho, agora já havia virado um beijo apaixonado.

Céus, sua boca era tão doce! Tinha um sabor exótico, tipo canela. Ele sugava meu lábio inferior, massageava a minha boca. Sua língua quente pediu passagem e eu cedi. Quando nossas línguas se encontraram, foi como uma explosão de fogos de artifício. Seu beijo era delicioso, e eu senti como se tivesse virado uma boneca de trapos em seus braços. Estava completamente mole.

Eu não queria parar, mas a maldita necessidade de oxigênio me obrigou a interromper o beijo. Separamo-nos ofegantes, mas Jacob não parecia nada inclinado a manter sua boca afastada de mim por muito tempo.

-Você não faz ideia do quanto eu ansiei por isso... - sussurrou em meu ouvido - E não faz ideia de como eu estou me sentindo agora.

Sua boca quente e faminta explorou toda a linha do meu maxilar, descendo por meu pescoço. Eu precisava respirar, mas quem liga? Capturei seus lábios para mim novamente, beijando-o com toda a paixão que sentia.

Beijamo-nos por muito tempo, até eu reparar que a areia da praia já não estava mais sendo iluminada pelo sol, e sim pela lua. Sobressaltei-me. Quanto tempo havíamos ficado nos ‘pegando’? Jake parecia estar pensando o mesmo que eu. Olhou para mim com aquele sorriso que agora parecia estar permanentemente grudado em seu rosto e disse “Vamos meu anjo, eu vou te levar para casa”.

Que dia é hoje?

E de que mês?

Este relógio nunca pareceu tão vivo...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostou de ler o capítulo? Sabe, eu gosto de ler os reviews *----*