- “Clark, pare de brincar e venha aqui já!” – Leonard falava com a voz alterada, me imitando no incidente do dia anterior. 

            Fiz um gesto não muito educado com o dedo, e afastei-me. Aquilo já estava me incomodando um pouco. Não que eu fosse demonstrar, claro. 

            Andei pela sala em direção ao meu lugar. Metade da classe já parecia ter esquecido, mas ainda tinham aqueles idiotas que não tinham mais nenhuma utilidade na vida e se limitavam a me irritar.    

            Coloquei minha bolsa em minha cadeira e, quando ia sentar, percebi os amiguinhos de Clark - que me olhavam e seguravam uma risada. 

            Semicerrei os olhos e trinquei o maxilar, enquanto descontava minha raiva no assento da carteira, apertando-a com muita força e arrastando-a um pouco na minha direção. 

            Os meninos pararam de rir e se encararam com olhares assustados, do tipo “ELA VIU. CUIDADO, ELA TOCOU NA CARTEIRA. VAI NOS ACERTAR COM A CARTEIRA. MASSACRE DA CARTEIRA! É A LOUCA”.

            Resmunguei baixinho e andei em direção a Ashley, que sentava próxima a eles. Passei pelos babacas, enquanto eles estavam travados no lugar. Podia até adivinhar o que deviam estar pensando. “Ela está passando, cuidado. Prendam a respiração, ou ela pode se irritar com algum barulho”. Lancei-lhes um olhar irritado, e algumas carteiras caíram quando a maioria deles corria urgentemente para longe de mim. Os outros dois que ficaram – Jason e Drake - me encaravam com receio, incapazes de se mexer.

            Ignorei-os e me virei para Ashley. 

            - Não agüento mais – murmurei.

            - O que? – Ashley perguntou, tombando ligeiramente a cabeça para o lado. 

            - Eles – rosnei, apontando para os amigos de Clark – E aqueles ali também – indiquei Leonard e seus amigos, que pulavam pela sala balançando os braços acima da cabeça. Como eu disse anteriormente, a maturidade deles me impressionava. E muito. 

            - Por que? – Livie entrou no assunto.

            - Por causa de ontem. Quando eu me... irritei um pouco com o Clark – respondi. 

            - Ah ta, um pouco? – Lindsay começou a rir – Você deu um show lá. Que mico! Começo a rir só de lembrar, foi muito... 

            - Lindsay, vai se ferrar – falei. 

            - Ah, mas foi muito engraçado – ela continuou falando, e aquilo estava me irritando profundamente – Você fez um baita barraco e... 

            - Lindsay, cale a boca – gritei. Ah, não. 

            Percebi que alguns da sala olharam na minha direção, mas não todos. Aquilo até podia ter passado despercebido, se não fosse a Patricia: 

            - O que foi isso? – ela falou alto o bastante para o restante da sala ouvir. 

            Os olhares se voltaram para nós. Até Leonard e seus amigos, que estavam dançando Macarena há poucos segundos, haviam parado. 

            - Mas que vaca – Livie sussurrou para Ashley. 

            - Ah, Zoey. O que foi agora? Vai dar ataque? Que tal você avisar antes? Eu tenho que filmar, querida – ela riu, e Lizie seguiu-a. Que babacas. 

            Eu já estava abrindo a boca para mandar ela ir tomar em um certo lugar quando fui interrompida: 

            - E que tal você ficar na sua, Patricia? Porque não se preocupa com os seus problemas, tipo ser uma puta? – Ashley retrucou. 

            Começou um coro de “ui” pela sala, e alguns risos ecoaram. Eu comecei a dar risada da cara indignada que Patricia fez. 

            - E é bom você calar a boca também, querida. Você não tá com essa bola toda – Livie disse. 

            Os risos aumentaram e Patricia optou por nos ignorar. Comecei a rir mais, enquanto o professor entrava na sala, seguido por Clark que estava atrasado.

            Se você pensa que o incidente com vadiazinha havia acabado com as provocações, estava errado. Mesmo que não seja ela que me irritava na hora. 

            - “Pare de brincar e venha aqui” – Leonard chegou por trás de mim, enquanto eu ia para a biblioteca, e me imitou novamente. 

            Eu tinha acabado a prova de matemática, e ele também. Os outros alunos ainda estavam queimando seus miolos dentro da sala. 

            - E você não tem mais o que fazer? – perguntei, enquanto subia as escadas que levavam ao segundo andar da escola. 

            - No momento não – ele respondeu calmamente. 

            - Tá, Leonard, eu não estou pra brincadeiras agora – avisei, seriamente. 

            Ele ficou quieto por um tempo, mas me seguiu para dentro da biblioteca. O que ele queria comigo? Não agüentava mais aquele moleque me imitando com uma voz esganiçada e, conseqüentemente, me lembrando do incidente entre eu e o Clark que eu lutava pra esquecer – e que meia escola teve o prazer de presenciar. 

            Não ouse falar que eu exagerei. Eu falo o que eu quero.

            Fui andando pela biblioteca e peguei o livro que eu tanto procurava, de biologia. Eu estava com dificuldades na matéria e precisava tirar uma nota boa na prova, pois meus pais me obrigavam. 

            Fui para a sala de estudos e abri o livro em uma das mesas. Não havia mais ninguém ali, só eu e Leonard – que, aliás, já devia ter se mandado. 

            - Então, – falei – por que não vai fazer qualquer outra coisa inútil e me deixa em paz? 

            Ele me encarou de braços cruzados. 

            - Meus amigos ainda estão fazendo a prova, e você é a única que já acabou. Aliás, nem estou te irritando. Não sei por que você está reclamando. Prefere que eu comece a falar do seu mico com o Clark, de novo? – ele perguntou, apenas. 

            - Só não fale do Clark – suspirei.

            - Isso te incomoda? 

            - Tá mais do que óbvio que sim.  

            - Por quê? Ele te afeta tanto assim? É só falar dele que você fica sem jeito e se irrita. Parece até que gosta dele, hein – ele brincou. 

            Travei e arregalei os olhos, sem perceber seu tom brincalhão. Leonard começou a rir, mas se acalmou quando percebeu minha expressão. 

            - O que?... – Leonard começou, mas foi parando e me encarou – Espera aí... Você gostadele?! 

            - Não, não – neguei rápido demais, e ele não se convenceu. 

            - Por isso você ficou brava no dia do trabalho! – Leonard falava, surpreso. 

            - Claro que não, Leonard. Isso é loucura... – e meu coração parou quando Clark passou pela porta da sala de estudos. Meu Deus, não! 

            - Caramba – Leonard começou de novo, sem perceber que Clark estava na sala – você gosta do Cla... – e então eu levantei para tentar tampar a boca dele. Não deu muito certo, pois eu acabei tropeçando na cadeira que estava sentada e levando um tombo. 

            Por sorte, a voz de Leonard foi abafada pelo barulho da cadeira caindo e de meu baque no chão, não sendo ouvida nem por mim que estava perto dele. 

            Meu corpo começou a formigar nos lugares que haviam batido no chão, e eu fiz esforço para levantar – quando uma mão foi estendida para mim. 

            - Você está bem? – uma voz preocupada falou acima de mim. Levantei a cabeça e dei de cara com o bonito rosto de Clark me encarando. Ele me olhava, enquanto sua mão ainda continuava estendida. 

            Segurei-a e ele me puxou para cima. Ela era quente em contato com a minha, e isso me deu uma sensação estranha na boca do estomago. 
            - Se machucou? – ele perguntou, e, ainda segurando minha mão, virou delicadamente meu braço para examinar a marca roxa que havia ficado ali – Está doendo? – ele perguntou, mas eu só conseguia encarar seus olhos. Aqueles olhos que tanto me intrigavam. Comecei a sentir meu rosto ficando vermelho. 

            - Na-não... – murmurei, e soltei-me dele bruscamente antes que percebesse que eu estava corando. Peguei o livro de cabeça baixa e fui em direção à porta.  

            - Ei! – Clark gritou. 

            - Zoey – Leonard chamou. 

            - Eu estou bem – disse, de costas para eles. 

            - Olhe seu braço! – ouvi a voz dele se aproximando, e eu não parei de andar – Ele está roxo... ESPERA! – Clark chamou, quando eu apertei o passo e deixei-o lá.