- O QUÊ? – Livie praticamente gritou no meio do pátio.

            A professora havia nos liberado mais cedo, então não tinha quase ninguém ali além do nosso grupinho.

            - Ai! É, eu caí. – respondi, enquanto Ashley passava os dedos pelo hematoma em meu braço – O que tem de tão surpreendente nisso? Fora que é só mais um vexame pra minha lista.

            - Não estou surpresa porque você se machucou – Livie fez uma cara de indignada – Só não entendo como eu pude perder a cena!

            - Eu posso estar machucada, mas isso não me impede de meter a mão na sua cara – ameacei.

            Ashley riu e Lindsay revirou os olhos.

            - Não entendo como você conseguiu tropeçar na sua própria cadeira! – ela falou.

            Eis a história que eu tinha contado para elas: Eu estava na sala de estudos com Leonard e fui me levantar, quando – destrambelhada como sou – tropecei em minha própria cadeira e acabei caindo no chão. Clark também viu a cena. Não comentei nada sobre meu desespero para tampar a boca de Leonard e nem do meu constrangimento quando Clark quis me ajudar.

            Obviamente, eu teria minha vingança. Eu ainda iria atormentar Leonard e tirar aquela idéia – de eu gostar do Clark – da cabeça dele. E ele nunca mais iria mexer comigo.

            - Mas tropecei, Lindsay – bufei.

            - Está tudo bem mesmo? – Ashley perguntou, e eu assenti – Então eu vou embora. Meu pai já deve estar lá no estacionamento – ela se levantou e pendurou a bolsa no ombro.

            - Eu também – Livie fez o mesmo – Tenho que ir a pé e quanto mais cedo eu chegar, melhor. Minha avó dá ataque quando eu atraso – resmungou. Livie morava com a avó durante a semana, pois sua mãe trabalhava em outra cidade.

            Lindsay pegou sua mochila e seguiu-as.

            - Você não vem, Zoey? – perguntou.

            - Vão na frente. Eu deixei minha bolsa na sala, tenho que pegar ela – respondi e acenei, virando-me e apertando o passo em direção a classe.

            Elas acenaram também e foram para a direção oposta.

            Entrei na sala, pendurei minha bolsa nas costas e peguei o fichário. Já estava indo para a porta de novo quando reparei no local.

            Carter e Drake estavam sentados em um canto, e Leonard estava pegando seus materiais também. AH, Leonard.

            Dei meia volta e fui em direção a ele.

            - Leonard! – sussurrei para os outros dois na sala não ouvirem.

            Ele virou-se e levantou as sobrancelhas quando viu que era eu.

            - Oi – murmurou.

            - Ouça, – continuei, olhando de rabo de olho para Drake e Carter – eu não sei o que você acha que sabe, mas eu não gosto do Clark. E você não pode sair contando isso por aí – disse, ainda com a voz baixa.

            - Por que está tão preocupada com o fato de que eles possam ouvir? – Leonard falou em tom normal, percebendo meu nervosismo e indicou os dois garotos, que voltaram sua atenção para nós – Talvez por que seja verdade? – ele riu.

            Apertei com mais força o fichário em minhas mãos e continuei encarando Leonard, com os olhos um pouco arregalados, tentando adivinhar o que ele faria.

            - Você pensa que me engana falando que não liga para ele? – Leonard falou um pouco mais baixo, para logo depois voltar ao tom anterior: - Ei, meninos, vocês não sabem. A Zoey aqui... – mas não conseguiu terminar, pois um fichário – meu fichário – atingiu-o na cabeça.
 

            Não, eu não sou louca. Apenas usei a única coisa que podia servir como arma naquele momento. Não podia arriscar e deixar ele contar!

            - AH – um barulho estranho veio do outro lado da sala, onde estavam Carter e Drake.

            Os dois estavam me olhando assustados e corriam para a porta, enquanto murmuravam “Massacre do fichário, massacre do fichário”. Mas nem dei bola para eles. Minha vitima era outra.

            Leonard estava passando a mão na cabeça, bem onde o fichário havia atacado.

            - Mas o que...? – ele começou, mas eu puxei-o pelo colarinho e o fiz me encarar.

            - Preste bem atenção, Leonard. Eu não estou pra brincadeiras, e a ultima coisa que eu preciso é de um babaca como você inventando coisas sobre mim e espalhando por aí. Se eu ficar sabendo que você disse isso pra alguém, vou fazer você lamentar pelo resto de sua vida. Me entendeu? – dei mais um puxão na camiseta dele, enquanto ele se debatia.

            - Mas se você gosta... – ele murmurou.

            Ah, não. Como ele ousava?

            - Você não sabe nada da minha vida pra falar isso!

            - Calma... – ele começou a dizer, mas eu dei-lhe outro golpe com o fichário.

            - Eu não gosto, entendeu bem?! – gritei.

            - Calma, garota – ele disse – Só estava brincando! Não precisa me matar. Mas, puta que pariu, você é louca? – e apontou para o fichário. Ele grunhiu e passou a mão pela cabeça, onde eu tinha atingido o fichário com toda a minha força.

            Ok, eu talvez tivesse exagerado um pouco. Mas eu sou exagerada, e aí?

            - LEONARD!

            - O que?

            - QUEM MANDOU VOCÊ ME IRRITAR?! – eu estava me sentindo culpada, quando percebi um local em sua testa começando a ficar roxo.

            AH, NÃO. Minha intenção não era machucá-lo. Só... assustar. 

            - Como se eu fosse realmente contar. Tenho mais o que fazer, sabia? – ele disse, e afastou-se com sua mochila antes que eu pudesse falar algo.

            Fiquei mais um tempo lá, com os olhos arregalados e segurando o fichário com as mãos. O FICHÁRIO!

            - AAAH – joguei-o no chão e afastei-me, como se ele pudesse levantar e dar uma de “Ahá, te peguei!”.

            - Meu Deus – balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos – É só um fichário.

            Peguei-o, mas não pude deixar de encará-lo fixamente por alguns segundos.

            Zoey, se interna.

            O que eu tinha feito? O garoto ia ficar traumatizado com aquilo. Mas a culpa também era dele, não é? Quem mandou ele ficar me provocando por causa daquilo? E voltamos ao lema de “tudo é culpa do Clark”, porque até nisso ele estava envolvido de alguma forma.

            Pelo menos agora eu tinha certeza de que Leonard não ia contar para ninguém. Ah não ser que ele fosse idiota. O que, de fato, ele era.

            Resolvi não pensar mais no que havia acontecido e fui embora.