A primeira aula do dia seguinte era Educação Física. Ótimo. 

            Estava sentada em um dos bancos que ficavam na quadra. Alguns garotos estavam jogando futebol, enquanto outros esperavam sua vez. Depois teríamos que jogar vôlei. Como se eu tivesse coordenação. 

            Eu estava sentada entre Alisson e Jenna. Ashley estava de pé conversando com a Madison e Lindsay estava tomando outra Coca-Cola. Carrie, a alta e magra, estava parada em pé quieta. 

            E aí eu vi aquela pessoa andando em nossa direção. Não pude deixar de perceber que ele tinha umas canelas fininhas. Mas tudo bem. 

            - Jenna – ele já vinha gritando. 
            - Ei, Ashley – ele chamou – Lembra? – e começou a fazer um gesto, olhando para Jenna. Entendi que estava imitando-a por algo que ela havia feito e que eu nao tinha conhecimento. Ashley ria, mas Clark foi interrompido pelo soco da Jenna.

            Só sei que comecei a rir descontroladamente. Clark soltou um “ai” e começou a massagear o lugar que havia recebido a pancada. 

            O garoto loiro que estava um pouco atrás dele, Carter, começou a rir também. 

            Depois que me controlei, percebi que Clark estava parado na minha frente. 

            - Você acha graça, é? Vamos lá, tente me empurrar. 
            Olhei bem pra ele. Ele queria me comparar?
            - Vamos. 
           
            - Você vai cair – percebi que Clark queria algum motivo para me zoar. Caso eu não conseguisse derrubá-lo, ele iria dizer que eu era “fraquinha” e não tinha moral, essas coisas. Conhecia bem o tipo dele, e não pretendia deixar isso barato. 

            - Tente – ele sorriu debochadamente. 
            Levantei-me e dei-lhe um empurrãozinho de leve. Ele nem se mexeu. 

            - É só isso... – ele começou a falar, quando eu usei toda a minha força e empurrei-o de verdade. Clark desequilibrou-se e deu dois passos para trás. 
            Lancei-lhe um sorrisinho. 

            Clark riu e deu a desculpa de que não estava preparado. Eu já esperava por isso. Gay. 

            Depois ele virou-se e correu para o meio da quadra, com suas canelinhas finas de gazela. 

            Canelas finas de gazela que eu gostava. 

            Balancei a cabeça e afastei esses pensamentos. “O moleque parece mais um macaco”, disse para mim mesma, enquanto encarava-o de novo. 

            Quando percebi, desviei o olhar e deparei-me com Livie me lançando um sorrisinho. Levantei as sobrancelhas e ela continuou sorrindo. Cheguei à conclusão de que era abestalhada também. 

            E depois me peguei novamente olhando para Clark.

            Mas o que estava acontecendo comigo? Eu mal conhecia ele – e pelo pouco que sabia, devia odiá-lo – e já estava desse jeito. Na verdade eu nem sabia explicar o que estava sentindo. Ok, eu achava ele bonito – mesmo com suas canelinhas – mas e daí? Eu achava muitos garotos bonitos. Conhecia meninos até mais bonitos que ele e não ficava assim. 

            Eu, definitivamente, não estava bem.

            Senti-me desconfortável com isso e olhei em volta para ver se alguém havia notado minha cobiça pelo macaco-de-canelas-finas. 

            Será que era isso que o sorrisinho de Livie significava? Ela tinha percebido?

            Lancei um olhar à menina, mas ela estava entretida em uma conversa com Ashley e Madison. Desejei silenciosamente que ela não tivesse notado nada ou, se tivesse percebido, para que ficasse de boca fechada. Já era ruim ser nova em uma escola. Agora, ser novata e supostamente apaixonada por um dos garotos mais esnobes da sala, pelo que percebi, era outra coisa totalmente diferente e constrangedora. 

            Não que eu estivesse realmente apaixonada por ele. Mas todos veriam isso como paixão. Se algum boato começasse, eu tenho certeza de que ninguém hesitaria em falar que eu amava ele. E não era bem assim... Eu acho.

            Mas nem eu sabia exatamente o que estava sentindo. Simplesmente não sabia. Só sei que eu não estava gostando nem um pouco. 

            Foi por isso que decidi evitá-lo o máximo que pudesse.