Porém, isso não durou muito tempo.

            Mas vamos por partes. Duas semanas de aula já haviam passado, e eu já estava bem mais tranqüila em relação à escola. Também já conhecia todos da sala. Fora meu grupinho e o de Clark, haviam mais seis garotas – metidinhas, só para constar. Odiava mesmo a Patricia Handson, que se achava a melhor por ser a mais velha, já que havia sido reprovada.

            Também haviam vários outros meninos. Entre todos eles, conhecia apenas três que já haviam estudado comigo em uma das milhares escolas que já passei.

            A maioria das pessoas era legal, e acabei percebendo que o que diziam do colégio eram apenas mentiras. Minha antiga escola era muito pior. Depois de um tempo, senti liberdade para ser eu mesma – coisa que eu não fazia há muito tempo – e acabei me tornando amiga das garotas. Até da Lindsay, apesar de brigarmos muito. Também mudei minha opinião sobre Ashley: de “passaporte para se enturmar”, ela virou uma das minhas melhores amigas.

            Todos os professores foram legais, também, e - como eu ia muito bem nas matérias - não demorou muito para começarem a me chamar de “nerd” e “CDF”. Mas eu nem ligava. Era apenas brincadeira, não é?

            Jenna acabou se mudando para a minha antiga escola na segunda semana de aula. Sentimos falta dela no começo, mas depois nos acostumamos.

            E eu continuava evitando ele. Nem o olhava direito. 

            Tudo estava indo muito bem.

            Mas aí a coisa começou a complicar um pouco.

            O caos começou na segunda feira da terceira semana de aula. Lana, a professora de inglês, entrou na sala e já anunciou:

            - Formação do mapa de sala!
            - Ah, não – resmungaram algumas pessoas.

            - Detesto mapa de sala. – Ashley sussurrou para quem estava por perto – Eu sempre caio em lugares ruins. No ano passado, por exemplo, tive que sentar entre o Carter e o Leonard – resmungou.

            Leonard era o garoto estranho que havia me confundido com ela no primeiro dia de aula.

            - Eu fiquei no canto das meninas – resmungou Jack, outro garoto. 

            Mapa de sala? Eu não esperava que tivesse isso. Sempre acabava ficando longe dos meus amigos.

            - Eu fiz um esquema – a voz da professora calou os murmúrios dos alunos – Vou indicar seus lugares, tudo bem? Então, Adrianne, você é ali... – e começou a organizar a sala. 

            Para minha sorte, quando me encaminhei para o meu lugar, vi que era do lado de Ashley. Comemorei silenciosamente e arrumei meus materiais na carteira, enquanto a professora indicava os lugares para os outros alunos.

            Sentei-me na cadeira e experimentei o lugar. Até que acabei gostando: não era no centro da sala; era um pouco para o lado direito. Não era perto nem longe da lousa, e o pessoal que estava sentado próximo era bacana.

            E aí a professora anunciou:
            - Clark Bexter, você vai sentar ali – e apontou para mim – na frente da Zoey.

            Ferrou.

            Merda! O que era aquilo? Perseguição?
            Eu realmente sou muito ferrada. Como eu ia agüentar aquilo ali, na minha frente?

            Clark andou até a carteira e me lançou aquele sorrisinho costumeiro de deboche. Vá se ferrar!

            Comecei a suplicar silenciosamente para a professora resolver me colocar em outro lugar. O local que parecia ótimo há poucos minutos havia sumido. Agora era um lugar horrível, o pior de todos. Tudo por causa dele.

            Fiquei encarando a professora por muito tempo, enquanto ela andava pela sala aplicando seu mapa de merda. Eu estava recorrendo a tudo; tentei até mandar sinais mentais para ela se tocar e me tirar dali, mas pelo jeito não adiantou. 

            Por que justo ELE?

            Por fim, a professora não entendeu meus olhares desesperados e me deixou lá. Comecei a odiá-la a partir disso.

            Quando ela começou a aula, foquei apenas na apostila a minha frente. O que mais eu podia fazer?

            Tentei evitar ao máximo aquela pessoa ali, mas não conseguia. Por que Clark não saia da minha cabeça?

            - Ei – aquela voz encheu meus ouvidos e eu, automaticamente, levantei a cabeça, dando de cara com ele.

            - Não gostou do seu lugar? – e então sorriu debochadamente, com um olhar intenso.