Evitei trocar olhares com qualquer um que passasse quando pisei pela primeira vez naquela escola, no primeiro dia de aula. Eu só olhava para a porta das salas tentando encontrar a minha.

            Passei um bom tempo tentando achá-la, mas nada. Eu precisava pedir ajuda para alguém. Olhei a minha volta em busca de algum funcionário, mas só via alunos passando com seus amigos e rindo, e eu me recusava a pedir informação para um deles. Comecei a me sentir insegura de novo. Eu estava perdida – numa escola! Retomei minha busca, dando passos largos. Só queria sair daquele tumulto de gente. Acabei esbarrando em duas pessoas, para ajudar, e uma delas ainda resmungou.

            - Olhe por onde anda, caramba – disse.
            Ok, olhar apenas para meus pés e para as portas não estava ajudando.

            Por fim, encontrei a sala. Ficava bem no final de um dos corredores. Três garotos estavam parados em frente à porta. Um deles era loiro de olhos cor de âmbar e os outros dois tinham cabelos castanhos com um tom de pele levemente bronzeado. Estavam entretidos em alguma conversa e riam.

            Aproximei-me e tentei abrir espaço para passar pela porta, esquivando-me deles.

            Ao perceberem a minha presença, os três pararam de rir de sei-lá-o-que e abriram passagem. Passei rapidamente, entrando logo na sala. De rabo de olho, vi o mais alto deles – um dos morenos – falar para os outros:

           - Novata – disse. Os dois assentiram e deram de ombros. Depois continuaram com sua conversa sobre qualquer coisa idiota.

            Procurei por uma carteira e optei por uma que ficava um pouco no fundo, nas fileiras do meio. Não havia muita gente sentada ali perto.

            Depositei meu fichário da Hello Kitty no compartimento embaixo dela e comecei a retirar meus cadernos de dentro da mochila. E aí senti cinco dedos envolverem meu braço, me puxando. Deparei-me com um garoto de cabelos pretos, rindo.

            - ASHLEY! – ele gritou – Mas você... – e então ele parou abruptamente, arregalando os olhos logo em seguida. Mas que merda é essa?

            - Ah, nossa. Não é ela – ele me soltou e virou, rindo de si mesmo e indo ao encontro de alguns garotos que estavam próximos dali.

            Fiquei olhando para aquele moleque, me perguntando o que tinha sido aquilo. Por acaso ele costumava segurar os outros gritando - como era mesmo? Ah, sim – Ashley?

            Tentei esquecer aquilo. Sentei em minha carteira e fiquei quieta ali. Senti aquela insegurança de novo, e eu não conseguia arrumar coragem pra falar com ninguém. Na outra escola eu era tão decidida! Pensei que essa insegurança tivesse ido embora. Mas aquela escola era diferente... O que diziam sobre ela me intimidava, talvez. Devia ser.

            Meus pensamentos foram cortados quando várias garotas arrumaram suas coisas nas carteiras próximas a minha. Fiquei olhando para elas por alguns segundos e logo abaixei a cabeça. Acho que nenhuma pareceu dar muita importância pra minha presença, pois continuaram a falar, pouco se importando se eu ouvisse ou não.

            Ocupei-me em rabiscar uma folha do meu fichário, escrevendo alguns versos de musicas. Eu costumava fazer isso quando queria ficar na minha. Até que uma das garotas – a que tinha sentado bem do meu lado – deu um berro.

            - ASHLEY!
            Levantei a cabeça e vi aquela garota com algumas das outras correrem para a porta e alguns outros alunos também. As meninas do meu lado que ficaram sentadas murmuravam “Ashley, Ashley, Ashley”.

            E aí eu olhei para a porta, e vi a tal da garota. Ela tinha cabelos castanhos que chegavam até o meio das costas. Eles estavam repartidos de lado e uma franja repicada caia, cobrindo-lhe ligeiramente o olho direito. Sua pele era branca queimada de sol e seus olhos de um castanho escuro. Não era magra nem gorda. “Eis a popularzinha metida”, pensei.

            E quando me toquei, ela estava vindo na minha direção, com outra garota andando junto ao seu braço – uma baixinha com olhinhos levemente puxados.

            - Senta aí, Ashley – disse a menina, apontando pra carteira da minha frente.         

           Ela sentou-se e então me encarou. E eu encarei de volta. “Vamos, Zoey”, pensei, “Fale alguma coisa”.

            - Oi – tentei sorrir. Provavelmente, não devo ter conseguido. 

            - Você veio de onde? – ela simplesmente perguntou.

            - Do Colégio das Freiras – respondi. “Eu preciso ser simpática”, pensei. Aliás, ela era meu passaporte para me enturmar. Naquela época eu pensava assim.

            - Ah, sei – intrometeu-se a baixinha. Olhei bem aquela garota. Olhei-a de cima a baixo. Não gostei.

            Tenho uma primeira impressão ruim sobre quase tudo. Nada me agrada. E daí?

            A popularzinha virou-se para mim.
            - Qual seu nome?

            - Zoey Liverly – respondi.

            - Sou Ashley. Ashley West – ela informou – e essa aqui é a Jenna – apontou para a outra.
            - Jenna Tennison - a baixinha anunciou.

            Dei um sorrisinho e encarei-a. Ela me olhava estranho. Seus olhinhos já esquisitos estavam semicerrados. Cheguei à conclusão de que ela era retardada. Ou não gostava de mim, assim como eu já não gostava dela. Mas não importava. Era retardada de qualquer jeito.

            Desviei minha atenção para a sala e percebi um garoto se aproximando – um dos três que estavam na porta. Ele apoiou-se na carteira que Jenna estava sentada e cumprimentou.

            - Oi Ashley – olhou para ela, que acenou – Jenna – ela sorriu – E Novata – ele olhou pra mim, com um sorrisinho de deboche.

            Percebi, então, que era o mais alto dos morenos; aquele que havia sussurrado. E eu já não estava com uma boa impressão dele.

            Optei por olhá-lo e devolver o mesmo sorriso. Ele nem se afetou e virou-se, indo para sua carteira.

            - Não ligue pra ele – Ashley disse – Clark é assim com todos.

            Segui-o com o olhar e o vi sentar-se perto do seu grupinho. Os outros dois da porta – o loiro e o moreno – estavam entre eles, com mais dois meninos. Observei-os por um tempo.

            Quando voltei meu olhar para a menina da minha frente, ela já estava entretida em uma conversa com Jenna e mais quatro garotas.

            Corri um olhar pela sala novamente. Uma professora acabava de entrar na sala, e eu estava me sentindo insegura de novo. Recostei-me na carteira e recomecei a rabiscar versos de musicas na minha folha.