Um Presente para Edward ! escrita por sisfics


Capítulo 41
Capítulo 41




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- O apartamento foi vendido. Achei que precisava desse choque de realidade.
- Choque de realidade?
- Sim. Antes que Bella vá embora, mas não tenha motivos para voltar.

Como no elevador ante-ontem, me olhou com desprezo e trincou os dentes com algum pensamento. Então, deu um passo para trás, olhou para Jasper e depois uma última vez para mim antes de voltar a andar na direção da porta, mas com raiva me pus de pé quase jogando minha cadeira no chão. Jasper se assustou com minha reação e se levantou também colocando uma mão na minha frente.

- Volte aqui. - gritei, mas mal se virou para me encarar - Não pode entrar no meu escritório com essa autoridade toda, se achar no direito de gritar comigo e depois sair andando.
- Você se acha no direito de tantas coisas e nem por isso estou reclamando. - resmungou.

Naquela hora, não havia nada no mundo além da minha vontade de acabar com a raça daquele desgraçado, mas Jasper me impediu de fazer uma besteira quando saí quase voando detrás da minha mesa.

- Eu só vim aqui porque parece que o aviso que dei antes não foi suficiente. Falei com Lice essa manhã.
- Alice. - Jasper resmungou com ciúmes.
- E ela estava retirando as passagens de Bella e Nessie. Você não foi procurá-la.

- O que acontece entre Bella e eu não lhe interessa. Se está indo para Washington sem mim é por um motivo alheio. Por isso, saia logo daqui com essa sua vã filosofia de que pode meter o bedelho onde não é chamado.
- Se é idiota o suficiente para não perceber que só quero o bem delas duas e também não quero me sentir mais culpado por nada, então o problema não é mesmo meu. Mas a questão aqui é entre nós dois, sobre o que lhe falei no elevador. Fiz o melhor que pude e consegui pegar essa merda desse contrato de venda agora pouco. Era o álibe que estava esperando? Vòila. - esfreguei os olhos com força, minha cabeça em confusão - Qual voz incomoda mais: a minha ou a da sua consciência?
- Vai embora. - rosnei apontando para porta - Já deu o recado que queria. Falou mais até do que devia, agora sai daqui antes que eu faça alguma besteira.

Jacob me encarou por um segundo, depois subiu as mangas da camisa e sorriu.

- Boa sorte.


Esme Pov

- Quem será essa hora? - Carlisle perguntou assustado.
- Não se levante. Eu vou atender. - ele começava a empurrar o edredom para longe.
- Mas e se-
- Não se preocupe, meu amor. Vou atender e já venho. - fechei meu robbie, calcei meus chinelos e saí no corredor.

Assim que terminei de descer as escadas, vi Felipa com sua cara de confusa exclamando palavras em espanhol. Corri até ela ainda meio camabaleante por causa do sono e pedi o aparelho que prontamente me foi entregue.

- Señora. - tentou se desculpar dando de ombros.
- Puedes dormir, Felipa. Gracias. - assentiu sorrindo e voltou ao seu quarto passando pela cozinha.

Assim que coloquei o fone no ouvido me assustei com a voz doce e tão conhecida que saiu de lá.

- Vovó Esme. Tá me entendendo?
- Nessie?
- Ah, oi vó. Quem era antes?
- Minha filha, porque está ligando essa hora? Ai, meu Deus. Aconteceu alguma coisa com Edward. O que aconteceu com seu pai? - já começava a subir de novo os degraus em busca de Carlisle quando uma risada sua me tranquilizou.
- Não aconteceu nada, vovó. Não se preocupe. Nós todos estamos muito bem. Só liguei porque queria muito conversar com a senhora e tinha que ser escondido da mamãe e da Tia Alice.

- Então, está tudo bem? - suspirei aliviada - Que ótimo. Mas que susto que me deu, menininha. Deveria reclamar com seu pai por isso.
- Não, não, é muito importante. Por favor, eu até acordei de madrugada e enfrentei meu medo de levantar da cama de noite só para falar com a senhora.
- Tudo bem, querida. Se acalme. Mas sobre o que é?
- Preciso da sua ajuda para fazer meu pai me encontrar amanhã no trem. Não quero ir embora sem me despedir dele, mas não atende o celular. Minha mamãe está triste por isso e se ele não puder ir com a gente, seria bom se pelo menos fosse nos ver.
- Só um minuto. - se calou assustada quando me exaltei - Que história é essa de que vai embora, Rennesme?
- Vamos para Washington amanhã para cuidar do bebê. Então, a senhora me ajuda?

Edward Pov

- O que faz aqui tão cedo? - Jasper perguntou desligando o telefone.
- Pergunto o mesmo. - rosnei sem paciência.
- A reunião é só daqui a quarenta minutos.
- E o que você faz aqui?
- Colocando tudo para frente. Mandando que todos fiquem com um sorriso convincente no rosto, providenciando a sala de reuniões e relendo a proposta de venda.
- Seu novo livro de cabeceira. É imagino. - joguei minha pasta sobre sua mesa e afrouxei a gravata.
- Entendo seu ponto de vista, mas também estou pensando no bem de todos. Inclusive o seu. Agora, não fale como se não fosse seu único objetivo até dias atrás. Sei que mudou, mas não vai negar que você estava empolgado com isso quando nos procuraram.

Assenti, foi antes do rostinho redondo e das bochechas fofas, das confusões de pai, de aprender a segurar uma criança no colo e procurar receitas na internet todos os dias para saber o que preparar para o jantar nutritivo da baixinha. Foi antes de amá-la de novo, de reencontrar Bella e reacender aquela paixão insana que adormecera dentro de mim.

Em parte, se a venda da empressa fosse concluída, teria mais tempo para minha família. Mas eu não saberia viver sem aquilo que eu amava fazer, não saberia me sentir inútil. Mas Jasper não via isso, a beleza do momento ofuscava sua visão. Houve um estalo na minha cabeça.

- Idiota. - murmurei para mim mesmo.

Era o mesmo brilho que me ofuscou. A idéia de ter a mulher que eu amava de novo ao meu lado com nossa filha foi tão excitante que dei passos maiores que minhas pernas. Era esse o problema, como eu podia pedir confiança a Bella se também escondia algumas coisas dela, se mal nos conhecíamos? Mas o amor permanecia o mesmo, só nos faltava a velha amizade. Aquela que construímos na primeira vez que namoramos. Naquela época, era perfeito porque não havia...

- Cobrança. - quase gritei - Eu não posso querer tudo ao mesmo tempo. - Jasper me olhou com uma sobrancelha erguida.
- O que foi isso?
- Presta atenção. Eu não devia ter pedido que viesse morar comigo. A gente mal se conhece, passei sete anos longe da vida dela. O mesmo com Nessie, mas com uma criança é completamente diferente. Tem que haver uma forma de continuarmos juntos, mas sem que se sinta pressionada a abandonar aquele conforto e aquela segurança que tinha antes.
- Você está falando sozinho, não está?
- Eu preciso ligar para Alice. - me levantei e avancei na direção do telefone, mas antes que o alcançasse o toque soou alto dentro da sala.

Jasper deu um pulo ainda sentado na beirada da mesa e fechou a pasta azul que carregava.

- Estou começando a ficar com medo.
- Alô? - atendi, revirando os olhos.
- Doutor Edward, sua mãe está no seu escritório gritando com sua secretária. O senhor precisa ir até lá.
- Minha mãe na minha sala?
- Agora que vai tudo descarga abaixo. Puta que paril. - choramingou cruzando os braços.

Bati o fone no gancho e o empurrei pela besteira que acabara de dizer. Assim que saí pela porta, Jen apontou para o corredor e fez um sinal com as mãos. Corri até o outro lado do andar e ao chegar na recepção de Mel vi Esme segurando um grampeador rosnando alguns xingamentos enquanto a pobre moça pedia mais calma.

- Mãe. O que faz aqui? - puxei o objeto de sua mão antes que se tornasse uma arma.
- Muleque. - ela me deu um tapa e me esquivei - O que está fazendo?
- Essa pergunta é minha e, por favor, não fale dessa forma no meu ambiente de trabalho.
- Porque não atende a porcaria do celular?
- Eu o perdi. O que faz aqui? E porque estava ameaçando minha secretária?
- Essa incompetente não sabia onde você estava. - olhou no relógio de pulso, enquanto Mel abaixava a cabeça e prometia a si mesma que se demitiria - Está atrasado. Precisa vir comigo agora.
- Tia Esme. - Jasper apareceu atrás de mim - Tudo bom com a senhora?
- Cala a boca, garoto. Edward, precisa vir comigo.
- Para onde?
- Estação Central onde Bella e Nessie estão te esperando como duas bobas.

 - Me esperando? - olhei dela para minhas mãos e neguei com a cabeça - Acho que não. Como está sabendo que elas viajam?
- Sua filha me ligou ontem quase três da manhã pedindo ajuda para a burrice de vocês dois.
- Rennesme te ligou?
- Sim. E parecia bem assustada. Aliás, é ótimo saber que esconde da própria mãe quando está passando por problemas. Não tem mais quinze anos, mas age como se ainda fosse um adolescente. Vamos antes que o trem vá.
- Elas saem agora?
- Não, estou aqui gritando como uma louca e ameaçando pobres moças com grampeadores porque simplesmente não tomei meus remédios.

- Mã-
- Já fiz a besteira de sete anos atrás não ter te encorajado a ir atrás daquela mulher e paguei caro por isso. - abaixou os olhos triste - Não faça o mesmo agora. A vida está te dando uma segunda chance. Só quando tiver minha idade poderá entender o quanto isso é raro. - ergueu o pulso mais uma vez e bateu impacientemente o dedo indicador sobre os ponteiros - Pouco tempo para o trem sair, não me faça falar mais, inferno. Não vamos chegar lá nunca. - tentei responder, mas ela me calou - Se não fosse o que ela mais quer, jamais teria aceitado a idéia de deixar a única filha na sua porta. - sorri com a lembrança.
- Tudo bem. Não vim de carro. Acho que vou precisar de uma carona. - tirei meu paletó pois precisaria correr e ela me entregou a chave de seu carro.
- Devo admitir que guardo muito rancor de Bella, mas quero o bem dela e dos meus netos, então é seu. Tem meia hora. - engoli em seco.
- O que?
- Meia hora. Ela está com uma passagem para você. - gritou quando eu já estava correndo.

Vi ainda o rosto de Jasper passar por mim com uma interrogação na testa. Dane-se os canadenses, eles podiam explodir que não estaria me importando. Desci do elevador na garagem, apertei o botão do alarme do Mercedes me indicando onde estava e logo embarquei. Arranquei com toda a potência e saí do prédio quase destruindo a cancela.

O caminho até lá não era longo, mas as vias estavam obstruídas pelo trânsito caótico da manhã. Havia uma obra de um bueiro duas ruas depois da empresa e precisei desviar por um canteiro. Não sabia se meu pai tinha conhecimento daquela idéia de minha mãe vir até o centro de Nova Iorque para me ajudar, ainda mais com o detalhe que Dona Esme deve ter saído de casa assim que desligou o telefone com Nessie para estar aqui a essa hora.

- Ah, minha filha. - bati a testa no volante quando parei atrás de um carro no sinal.

Assim que o semáforo se pintou de verde, apertei a buzina com toda a minha força, mas o idoso na minha frente deixou o carro desligar. Não pensei duas vezes. Joguei o carro para a direita e saí detrás embaixo de buzinas e xingamentos. Se acabasse com o carro de meu pai teria mais um problema pela frente.

Olhei no meu relógio e vi que só tinha mais quinze minutos, por isso forcei mais o pé contra o acelerador afinal só restava três quadras. Como de uma hora para outra minha manhã tinha se tornado essa loucura? Furei mais um semáforo e desviei de um táxi que atravessava o cruzamento, mas minha pressa não adiantou de muita coisa. Havia uma fila de carros parados na principal que não pareciam se mover a muito tempo, pois até alguns motoristas já tinham desembarcado de seus veículos.

Buzinei algumas vezes, mas havia um atropelamento lá na frente, então apertei mais os dedos em torno do volante e pensei. A voz da minha mãe soou novamente na minha cabeça como um alarme.

'Devo admitir que guardo muito rancor de Bella, mas quero o bem dela e dos meus netos, então é seu' - girei a chavei desligando o motor enquanto tomava conta do que havia dito.

- Como assim netos? - me perguntei descendo do carro.

Pulei para a calçada e percorri com pressa o percurso que me faltava sem nem mesmo parar para respirar. Os enjôos com a comida, a forma como estava sensível, mas é claro que não percebi antes.

- Eu vou ser pai.

 Pus mais força nas pernas.

Vou ser pai de novo. Ou melhor dizendo, era como a primeira vez, afinal depois de tudo que aconteceu. Havia um filho meu, um pedaço de mim, sendo gerado dentro da mulher que eu amava. Não sabia o que pensar, me senti tão leve e tão feliz como quando Rennesme me chamou de pai pela primeira vez depois de ter caído do escorrega da escola. Minha mãe não diria aquilo à toa, os sinais também não podiam estar me enganando assim e eu estava ficando louco com essa nova informação.

A fachada dourada da Estação Central apareceu no meu campo de vista. Assim que entrei, fui até um dos guichês e procurei nos painéis a plataforma para o trem de Washington. Ao lado do nome da cidade havia escrito 'embarque', então sorri e fui finalmente ao encontro delas.

Parei em frente a roleta e sorri para uma mulher sentada num banco atrás de uma janela de vidro. Forcei a barra de metal, mas não girou.

- Eu preciso. - apontei para os bancos já vazios em frente ao trem.
- Sua passagem, senhor.
- Está com minha esposa. Ela está lá dentro. Posso chamá-la, então.
- Sem seu tiquete não pode passar dessa roleta, sinto muito.
- Você não está entendendo.
- Na verdade, eu entendo, mas não posso fazer nada para ajudá-lo. Se dirija ao guichê e compre sua passagem.
- Mas minha passagem está lá dentro. - gritei e ao olhar para o trem vi um funcionário passar fechando a primeira porta - Pelo amor de Deus, ele já está saindo.
- Sinto muito. O próximo sai em três horas. - rosnei já querendo quebrar tudo e me afastei.

Por um segundo a mulher pensou que estava desistindo, mas ao contrário, apenas tomei distância e peguei impulso na corrida para pular a catraca. A funcionária gritou assustada e pegou o telefone ao seu lado. O trem começava a se mover bem lentamente, corri para o fim dele onde as portas ainda não estavam fechadas e pulei na primeira que vi. Um homem se assustou e tentou impedir minha passagem, mas o empurrei e entrei no vagão.

- Hey, por favor, senhor. Não deveria ter feito isso. Poderia ter se machucado e não haveria como socorrê-lo. Havia outro trem. - me seguia, enquanto eu analisava cada par de poltronas que cruzava - Está procurando seu assento? Pode me responder por gentileza.

Passei para o próximo vagão ainda com o baixinho uniformizado colado ao meu calcanhar. Seus latidos cessaram porque falava ao rádio transmissor com outra pessoa, então avancei mais na minha busca. Entrei no próximo e dei apenas alguns passos até que a vi. Bella estava de costas para mim e olhava para o chão com os ombros caídos e derrotados. Nessie estava sentada na sua frente, os braços cruzados e um olhar aborrecido para Fofo apoiado em sua perna. Sorri com a imagem e, apesar da falta de ar, deixei que uma lágrima escapasse com a idéia de que seria pai.

- Com licença, senhor. Mas acabo de receber a informação de que não tem sua passagem, por isso peço que me acompanhe at-
- Shi. Cale a boca. - estava estragando tudo.

Estava tão irritado com toda a ladainha que o volume que usei foi tão alto que Nessie levantou seu rosto na minha direção e sorriu. Suas mãos apressadas desfizeram o aperto do cinto de segurança e gritou:

- Papai. Você veio. Papai. - Bella a olhou, depois se virou na minha direção completamente assustada.

Nossa filha já estava grudada a minha perna com um sorriso enorme cobrindo suas bochechas.

- A vovó prometeu e cumpriu. Você está aqui. Você está aqui.
- Sim, meu anjinho. - a peguei no colo - E não vou mais sair. - enchi seu rosto de beijo ouvindo suas falsas reclamações.

- Pensei que não daria tempo. Tive medo.
- O papai quase causou alguns acidentes. E correu muito. - falei olhando diretamente para Bella que também já estava em pé no corredor.
- Teria chegado mais cedo se comesse menos besteira. Eu canso de avisar. - ri da mais pura verdade e em seguida a deixei no chão.

Dei um passo a frente e me segurei no banco ao lado de Isabella. Seus olhos estavam marejados.

- Oi. - foi a única coisa que consegui dizer ainda ofegante.
- Oi.
- Acho que para que ele saia da minha cola... você precisa entregar a passagem. - sorriu abaixando a cabeça e pegou dentro do bolso do casaco azul um pequeno pedaço de papel que o homem atrás de mim agarrou com rapidez.
- Muito agradecido. E, por favor, não tente pular em um trem em movimento novamente. Agora sentem-se, antes que tome providências desagradáveis. - resmungou indignado indo para o início do vagão.
- Meu pai fez isso? Eh, se superou.

Nessie ainda rindo nos puxou pela mão até os bancos. Meu coração batia descompassado desejando sair pela boca mais do que durante minha mini maratona. Nos sentamos um de frente para o outro e a baixinha continuou em pé se apoiando entre a porta como um juiz esperando que as partes se conciliassem.

- Porque isso? - Bella perguntou com a voz presa chamando minha atenção - Porque essa loucura?
- Porque vale a pena. - dei de ombros - Porque a vida me deu uma última chance e tive que agarrá-la com unhas e dentes.
- Pensei que ignoraria meu recado. - uma lágrima estava prestes a cair de seus cílios, por isso segurei seu queixo entre meus dedos e ergui seu rosto.

A pequena gota d'água escorregou pela bochecha e me aproximei a capturando com um beijo. Queria abraçá-la e tocar sua barriga, mas estava assustada por isso iria devagar.

- Não poderia ignorar a razão pela qual meu coração ainda bate. Me desculpa tê-la feito esperar. - encostei nossas testa e suspirei - E quando falo isso estou me referindo aos sete anos que estive distante.
- Edward. - apertei suas mãos nas minhas.
- Preciso lhe dizer várias coisas. Mal sei por onde começar. Acho que a primeira delas é que devemos dar todos os presentes que a baixinha quiser de hoje em diante. - houve inquietação ao nosso lado e sorri - Sem a intromissão dela não estaria aqui. Rennesme ligou para minha mãe essa madrugada para que me avisasse que horas saia o trem.

 - Como assim? - perguntou assustada.
- Acho que aprendeu com Alice. - ela soprou surpresa e balançou a cabeça.
- E eu acho que estou cercada de anjos.
- Concordo. - escorreguei um dedo por sua bochecha, acompanhando o desenho até seu maxilar - Me perdoa, Bella? Por ser sempre tão orgulhoso, tão ciumento e apressado. Por ter te tirado a paz e tê-la cobrado sentimentos que só o tempo poderia restituir. Me perdoa por ter te afastado aos poucos de mim quando a única coisa que eu mais queria era você por perto. - sua mão afagou minha nuca.
- Do que está falando?

- Percebi essa manhã, pode me chamar de idiota por ter sido tão tarde, mas percebi que muitos dos nossos problemas poderiam ter sido evitados se a pressa não nos acompanhasse. Quero dizer, te amo mais do que tudo, mas devo admitir que muito do que éramos se perdeu com o tempo, grande parte apenas se modificou e só o amor continuou intacto. Exigi de você que fosse a mesma Isabella de dezoito anos com aquele olhar de menina e as inseguranças do futuro. Mal percebi que a mulher que estava nos meus braços tinha agora suas próprias prioridades, seus sonhos e que eu jamais teria o direito de inteferir nelas.

- O que está tentando dizer? - se aproximou desesperada e a abracei tentando acalmá-la.
- Que não vivo sem você, mas que preciso aprender a te deixar viver.
- Edward. - afundou o rosto no meu pescoço e fiz o mesmo inspirando fundo seu perfume de morangos - Eu te amo tanto. Não preciso te perdoar por ter tentado voltar no tempo. Eu que devo lhe pedir desculpas por ter mentido, omitido, ou sei lá mais o quê. Me acostumei demais em carregar o peso de tudo sozinha, de ser a base, e quase me esqueci que podia dividir minha vida com alguém.

Se afastou, seu rosto molhado de lágrimas que sequei, mas logo suas mãos seguraram as minhas.

- São de felicidade, meu amor. São de alívio. - explicou com um sorriso.

 - Também é o que estou sentindo.
- Obrigado por estar aqui, por não ter desistido. Te amo tanto. - me inclinei mais um pouco e colei nossos lábios.

Estiquei meus braços a envolvendo e trazendo para mais perto. Pousei uma mão nas suas costas e a outra em sua barriga. Imaginar que poderia haver um filho nosso ali dentro me fez sorrir e parar com o contato. A curiosidade estava me deixando cada vez mais exaltado, mas não poderia falar sobre isso antes de explicar o pensamento que tive essa manhã.

Seus olhos castanhos pareciam assustados quando me afastei. Era como se ainda não acreditasse que eu estava mesmo ali. Deixei um beijo na sua testa e segurei suas mãos perto do meu rosto.

- Se lembra a primeira vez que nos vimos? O estádio gritando, seu quase tombo pela arquibancada. - assentiu com um movimento tímido de cabeça que me fez rir - Se lembra quando recebeu a carta da universidade enviada pela sua mãe e pensamos que nunca mais nos veríamos?
- Me lembro de me sentir perdida.
- Nós dois estávamos. Naquela época já não me via sem você. Mas logo achamos uma solução, depois de darmos muito com a cabeça na parede é claro. E decidimos que moraria comigo, o que era um passo muito maior do que o que poderíamos dar. Quando se é jovem não pensamos nessas coisas.
- Sempre tão impulsivos.
- Recuperei essa característica quando voltou. - apertei mais suas mãos que começavam a tremer - Você trouxe de volta a minha vontade de amar incondicionalmente, a minha juventude, mas também minha irracionalidade. Porque eu não penso quando estou com você, é impressionante, mas só consigo desejar com mais e mais força ficar ao seu lado. Sendo que não sei se isso é o melhor para nós dois.

Ela arregalou os olhos e se afastou se deitando na poltrona.

- Do que está falando, Edward? Não veio até aqui para... não está pensando em... - não permiti que terminasse a frase.
- Calma, Bells.

Não me importei com o que as outras pessoas no vagão pensariam ao ver o que estava prestes a fazer, nem mesmo se algum outro funcionário chato viria nos atrapalhar, apenas me deixei levar pela vontade e me ajoelhei ao seu lado a envolvendo em meus braços afastando o medo que seu rosto transpareceu assim que entendeu - erroneamente - minhas palavras.

- Não se preocupe. Não vou deixar que me tirem de você de novo. Já passamos por isso uma vez e não vai acontecer outra. - assentiu me apertando com força - O que quis dizer é que quando você voltou nem respirei até a hora que contei toda e verdade e te tive completamente minha. E em seguida, também não me tranqüilizei até que estivessemos morando sobre o mesmo teto com nossa filha. Me esqueci que para nós ficarmos bem, cada um precisava resolver suas próprias coisas.
- Entendo. Quando começamos fui avisada de que o certo a se fazer era não correr tanto, mas tinha tanta saudade sua que não ouvi.

- Eu também, meu amor. - se afastou, mas ainda segurando meu ombros - Somos humanos e erramos. Uma, duas vezes, mas não vou permitir que haja uma terceira. Não quero que desista de nada por mim, nem dos seus estudos, nem da sua profissão, nem nada. Se tiver que ir para longe, então é isso que deve fazer. Se acha que existe muita pressão nessa nossa vida, então podemos simplesmente não morar mais como marido e mulher. Adoraria acordar todas as manhãs ao seu lado como temos feito, mas se me afastar um pouco é a melhor saída para que a gente construa nossa confiança, então estou preparado a aguentar o peso que for. Não estou falando para terminarmos, mas de darmos um passo de cada vez. Não se preocupe achando que alguma coisa vai nos distanciar. Estamos destinados um ao outro desde muito antes de nascermos. Por isso achei que te conhecia quando te vi no estádio. Você é minha alma gêmea, se é que acredita nisso. Não importa como, ficaremos sempre juntos. Se não fosse para ser, não haveria tantas chances.


Os olhos de Bella se encheram de lágrimas e por um segundo se desprederam dos meus encarando Nessie que provavelmente estava pulando de ansiedade atrás de mim. Estava tremendo ainda mais agora, e pelo visto meu estado não era muito melhor que o dela. Eu sabia que estava com o anel no bolso da calça. O tirara da minha pasta assim que cheguei na empresa, mas precisava saber o que ela queria para o nosso futuro. Precisava saber se teríamos mesmo um filho e se estava disposta a me deixar enfrentar o que fosse pela frente.

- Edward. - finalmente falou voltando a olhar nos meus olhos - Não há estudo ou emprego que me faça ficar longe daquilo que foi realmente o meu maior sonho nessa vida que é ficar ao lado do único homem que eu amei e construir com ele nossa família. Não quero que jamais passe pela sua cabeça que estou desistindo de alguma coisa para ficar aqui. A minha resposta à bolsa de estudos e emprego na Europa é e sempre será não porque o que eu preciso está bem aqui comigo. - envolveu meu rosto com suas mãos quentes e sorriu - Demorou muito para chegar, não vou desistir agora.

- Oh, caramba. - soltei mais aliviado o que a fez rir.
- Outra coisa: eu confio em você. Perdoe-me se passei a impressão errada nesses últimos dias. Confiei em você ao ponto de deixar a razão da minha vida na sua porta. Não vou ficar me enganando dizendo que só fiz aquilo porque fui influenciada e estava desesperada. No fundo, sabia que você não tinha mudado, que continuava o mesmo homem maravilhoso que me fez a adolescente boba mais apaixonada desse mundo. Quero continuar ao seu lado para sempre, como duas pessoas que se amam, que precisam uma da outra para viverem.

O alívio que senti foi tão grande que cheguei a me curvar um pouco nas pernas dela conforme o peso saía das minhas costas. Bella acariciou meu ombros e riu.

- Meu Deus, era só isso que eu precisava ouvir. Era só isso. - quase gritei - Mais nada.

Me levantei um pouco e a puxei para um beijo enquanto tirava do bolso a pequena caixa.

 O beijo foi diferente de todos os que já tive com Bella. Não havia a excitação do primeiro, o rancor daquele que tivemos depois de sete anos, nem mesmo os segredos do último. Era só eu, ela e o nosso amor. Um toque delicado, apaixonado, que mostrava toda a devoção que sentia. Ouvi alguns sons engraçados, nos separei sorrindo e olhamos para onde Nessie fazia uma espécie de dança que cessou assim que notou que a observavamos.

- Desculpa. - sibilou.

Voltei minha atenção para Bella que estava corada. Me afastei um pouco, respirei fundo levando a caixinha - que não parecia mais pesar tanto - na sua direção.

- Preciso lhe contar uma coisa. - sussurrou antes que terminasse o movimento.
- E eu preciso lhe pedir uma coisa. - tomei seus dedos nos meus, os beijando enquanto abria a tampa azul revelando o conteúdo.
- Voc-

A frase que diria em seguida morreu sem nem mesmo ganhar sentido quando notou o anel brilhando na sua direção. Minha boca ainda roçava levemente a pele macia de sua mão, por isso senti o arrepio que a percorreu quando entendeu minhas intenções.

- Desde a primeira vez que nos vimos tive a certeza de que um dia acabaríamos assim. A minha falta de palavras, suas bochechas coradas e o pedido ansioso na ponta da minha língua. Mas estava enganado ao pensar que terminaríamos assim. Se disser sim, esse será apenas um começo. Isabella Swan, você aceita se casar comigo?

Uma lágrima solitária escorreu pela sua bochecha enquanto racionalizava minhas palavras. Pelo tempo que me pareceu uma verdadeira eternidade, Bella não expressou nada além de certo espanto. Um minuto depois, um leve sorriso voltou a acender toda a beleza de seu rosto e ela olhou para nossa filha.

- Se você não aceitar, eu aceito mamãe. - Rennesme sussurrou nos fazendo rir.
- Bella. - murmurei com meu peito sendo massacrado.
- Acho que não poderia ser um começo melhor. É claro que eu aceito.
- Papai e Mamãe vão se casar. - ouvimos enquanto seus braços se apressaram em me rodear.

Eu a abracei com todas as forças que tinha, como se não houvesse mais nada no mundo a não ser nós dois. Acariciei seus cabelos enquanto a enchia de beijos e de repente fomos pegos de surpresa com palmas. Todo o vagão estava prestando atenção em nós. Duas irmãs gêmeas de no máximo dezoito anos que suspiravam com a cena, um senhor solitário com seu jornal e um pequeno sorriso, duas famílias e dois homens que pareciam discutir negócios. Até mesmo o funcionário que antes implicara tanto comigo estava com uma enorme expressão de alegria.

O rosto de Bella estava completamente vermelho e isso me fez rir mais. Tirei o anel de dentro da caixa, segurei sua mão direita e a beijei antes de encaixá-lo no dedo. Tomei também sua mão esquerda para mim e a acariciei. Logo aquele anel estaria ali e não sairia nunca mais.

- Eu sempre vou te amar.
- Eu também. Mais que tudo, Edward. Mais que tudo. - nos beijamos e houve mais uma salva de palmas.

Assim que me afastei me sentando ao seu lado, ela fez com que minha mão fosse para seu ventre. Uma piscadela foi trocada entre as duas e sorri.

- Temos uma surpresa. Uma grande surpresa.
- Acho que já sei o que é. - minha voz estava trêmula e só agora percebi que tinha os olhos repletos de lágrimas.
- Espero que tenha paciência para as novas regras de pais que vou lhe ensinar.
- Meu Deus, quer dizer que existem mais?
- Muito mais. - acariciei seu ventre - Um novo presente para você, Edward. Como disseram para mim muito anos atrás: o homem da sua vida e dois filhos. Nossos filhos.
- Ah, Bella. - encarei por um minuto sua barriga e sorri - Não poderia ser mais perfeito.

Mais uma vez nos beijamos. O trem ganhara a velocidade máxima e já estávamos saindo de Nova Iorque. Nessie explodiu de felicidade ao nosso lado dizendo coisas como 'melhor que nos meus sonhos' e foi assim por toda a viagem. Eu e elas desfrutando dessa dádiva.


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Notas finais do capítulo

Droga, fui reler o capítulo para postá-lo e estou aqui chorando feito um bebê. Bem, leitoras, venho no sábado de noite, ou então no domingo de manhã para postar o último capítulo e as duas cenas extras. Espero que tenham gostado. Deixem seu review. Beijos