Um Presente para Edward ! escrita por sisfics


Capítulo 42
Capítulo 42


Notas iniciais do capítulo

Então, o último.



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Isabella Pov

Seus olhos verdes cintilavam como jamais vi desde que nos conhecemos, transbordavam felicidade e amor, refletindo os meus. Compartilhávamos não só a emoção do momento, mas a certeza de que duraria por toda a eternidade. Eu era de Edward e ele era meu, a única certeza que sempre tive e finalmente concretizávamos aquele sentimento prometendo que jamais ficaríamos longe um do outro de novo.

Sua mão na base das minhas costas continuou me guiando na lenta dança, um passo de cada vez e meu coração palpitando cada vez mais forte. Tinha conhecimento dos nossos amigos e familiares a nossa volta observando atentamente aos nossos movimentos, deveria estar corada agora, mas nem isso me fez desprender os olhos do sorriso exuberante e ainda assim acalentador. Aumentei um pouco mais o aperto entre nossos dedos entrelaçados que repousavam no seu peito, só então notei que algo frio escorria pela minha bochecha.

- Lágrimas, senhora Cullen? - sorri me acostumando com o novo nome.
- Do mais puro júbilo a esse instante, senhor Cullen. - imitei sua voz o que o fez rir.
- Pode parecer loucura, mas seu 'sim' ainda está ressoando nos meus ouvidos. - pareceu envergonhado ao conversar seu segredo, mas não era o único.
- Então, pode parecer loucura, mas está acontecendo o mesmo comigo. - riu ainda mais feliz e se aproximou até estarmos com as testas coladas - Estou com um pouco de medo também.
- De que, meu amor?
- De acordar e perceber que não passou de um sonho. Tudo isso. - seu sorrisso se espalhou ainda mais preguiçosamente deixando uma onda de calor atravessar minha alma.

Edward puxou nossas mãos um pouco para o alto e a abriu deixando que meus dedos também se espalhem na sombra dos seus.

- Não sou a melhor pessoa para te tranquilizar agora. Preciso confessar que também penso sobre isso. - deu de ombros - Mas há alguém.

Se não fosse ele a me mostrar que era tudo real, quem mais poderia?

- Duvido.
- Hum. Não deveria, senhora Cullen.


Ele mordeu o lábio aparentemente ansioso, mas pelo seu olhar soube que estava apenas repreendendo um sorriso zombeteiro em resposta ao meu questionamento. Entrelaçando seus dedos aos meus e se afastando um pouco, o assisti me girar ainda no compasso da dança fazendo-me rodar graciosamente sendo moldada pelo vestido creme. Senti meu rosto pegar ainda mais fogo ao imaginar que jamais seria capaz de tal movimento se não me ajudasse, ainda bem que pelo menos no dia de hoje não estraguei tudo com um tombo ou coisa parecida.

Ainda rindo senti minhas costas descobertas pelo decote entrarem em contato com o tecido de seu terno. Um pequeno choque me atingiu e deixe-me ser envolvida num abraço. Edward levou os lábios até meu ouvido, fazendo sua respiração quente bater contra minhas maçãs do rosto. Estava distraída demais com ele para notar o real sentido no seu gesto, a resposta que queria me mostrar.

- Ali está. Ainda duvida? - confusa levantei os olhos e encontrei na mesa em frente nossos filhos.

Rennesme usava um longo vestido da mesma cor que o meu, porém com uma fita vermelha na cintura. Os cachichos presos num coque e suas bochechas coradas me fizeram lembrar do momento que entrou na igreja comigo e me deu a seu pai em casamento. No seu colo estava ele. Nosso pequeno menino de bochechas recheadas e cabelos revoltos que nos ajudaram a descobrir - mesmo que com somente alguns meses - com quem ele mais se parece. Alice atrás observava a afilhada segurando seu irmão mais novo. Se tornara quase um hobby da pequena que depois de ter sido a primeira a segurá-lo, cismou em não mais largar.

Mais uma lágrima escorreu pela minha bochecha, mas era de felicidade como a primeira por ver meus anjinhos. Ele tinha total razão. Eles eram nossa motivação, nossa prova e nossos sonhos.

- Isso é golpe baixo. Olha o que fez comigo. - ralhei.
- Então tudo bem. - me girou para ficar de frente para ele e nos abraçamos diminuindo o ritmo assim como a canção.

- Você venceu. Meus parabéns. Satisfeito agora? - sorriu vitorioso ao ver o bico que eu fazia e me deu um beijo na testa.

Boba com tudo aquilo deitei minha cabeça em seu ombro sentindo minhas bochechas aquecerem com o calor gostoso que emanava de seu corpo. Me permiti por um momento sair da nossa pequena bolha e experimentei observar os outros casais que começavam a nos acompanhar na pista de dança seguindo um ritmo diferente do nosso.

Os mais próximos de nós eram Emmett e Rosalie que abraçados sorriam um para o outro como se estivessem se casando também. Mais atrás, quase saindo do alcance de meus olhos, Renne e Phill dançavam animados e precisei admitir que jamais vi minha mãe tão bonita quanto estava naquele vestido. Em pés perto de uma mesa, Carlisle abraçava Esme por trás e fazia caretas para Sarah no colo da avó. As duas riam sem parar e me fizeram sorrir também. Alice e Jasper foram os únicos que não vi, mas sabia que era porque minha amiga - incrivelmente - estava um pouco tímida. Ela finalmente tinha cedido, aliás um pedido de namoro que até me fez suspirar quando me contou. Só não foi tão bonito quanto o que Edward fez a mim.

- Do que está rindo? - perguntou.

Levantei o rosto sentindo minhas bochechas rosarem ainda mais e dei de ombros.

- Só vendo que há alguns outros motivos para achar que não é um sonho.
- Hum. Interessante. Achou muitos?
- Uma infinidade. - mordi o lábio tendo uma idéia - Mas então, senhor Cullen, mudando um pouco de assunto. Desde que passamos a ser oficialmente marido e mulher me deu apenas um beijo. Um mísero no altar.
- E o que passa na sua cabecinha?
- Tantas coisas. - respondi erguendo uma sobrancelha.

Ele riu e se aproximou tocando a ponta do seu nariz na minha. Fechei meus olhos e relaxei deixando que me beijasse. Não sei exatamente explicar o que aconteceu naquele momento. Só sei que foi o mais forte dos sentimentos, o qual não me abandonaria nunca mais.

'And it's you and me and all of the people and I don't know why I can't keep my eyes off of you.'


Dois anos depois.

Beijos. Distribuídos carinhosamente pelas minhas costas nua até alcançar a nuca. Lentamente. Minha pele se arrepiando ao mínimo toque daquele anjo. Senti a cama ficar mais leve e, ainda de olhos fechados, entendi que precisava levantar ou chegaríamos atrasados. Confesso não entender de onde Edward tirava forças para levantar sempre tão bem disposto mesmo depois da noite que tivemos ontem. Não que fazer amor não seja renovador - adorava aquele cansaço -, mas estar de pé às seis era uma missão difícil e se não fosse por uma causa tão boa nem cogitaria a idéia de sair dos lençóis.

Quando abri os olhos já estava sozinha no nosso quarto, a porta entreaberta era um convite para a família. Resgatando todas as minhas forças levantei deixando que pela primeira vez a claridade outonal encontra-se minha pele e sorrateiramente fui até o banheiro para tentar despertar embaixo de um pouco de água morna.

Assim que terminei o banho, me sequei e vesti uma camisa de Edward e um short qualquer. Não prendi os cabelos para não marcá-los para mais tarde. Então voltei ao quarto e arrumei minha bolsa com tudo que precisaria levar até o apartamento de Alice. Uma risada me desconcentrou dos preparativos e segui o som familiar tão delicioso. A primeira porta do corredor depois da nossa estava aberta. De lá vinha aquele som tão agradável. Me aproximei sem entrar, e parei na porta observando com um sorriso a cena linda.

- Papai. - Edward disse balançando um pouco a cabeça - Fala: papai.

Anthony segurando sua mamadeira inclinou o rosto como se tentasse entender porque a insistência.

- Papa. - imitou uma voz de crianças que precisei me esforçar para não rir - Vamos, garotão. O que custa? É só uma palavrinha. Diz: papaaai.

A criança, sentada de frente para ele com as pernas ao redor de sua cintura, largou a mamadeira e o olhou com a boca literalmente aberta. Concordava com meu filho: aquilo era inacreditável.


- Papai. Papai. Papai. - cantarolou tentando convencê-lo, mas não adiantou.

Era assim desde a primeira vez que Edward me tocou quando estava grávida de Tony. Lembro-me no trem à caminho de Washington, suas perguntas e o nervosismo. O primeiro momento que tivemos sós depois daquilo foi recheado de beijos que insistiu em distribuir pela minha barriga mesmo que ainda não estivesse aparentando nada. E dali em diante, todas as noites dormia com seus dedos acariciando meu ventre. Alguns meses mais tarde, me surpreendi ao ouví-lo conversando com minha barriga durante a madrugada. Ele não sabia da minha descoberta até hoje, afinal fingi continuar dormindo, mas só eu sei como me senti flutuando nas nuvens com todo aquele carinho.

Minha segunda gestação não fora tão difícil quanto a de Nessie, ainda assim nos últimos dois meses ele não permitia nem que eu colocasse meus pés no chão que já me rodeava e perguntava se queria ajuda. Um dia o mandei procurar um psicólogo e bati a porta do banheiro na sua cara, mas me perdoou quando disse que a culpa da irritação tinha sido dos meus hormônios descontrolados.

- Se você disser 'papai', nós vamos brincar de avião, que tal?

Ao ouvir aquela palavra seus olhinhos castanhos e redondos se arregalaram, mas só podia estar mesmo louco para ser chamado de pai para não lembrar que tinha acabado de dar de mamar para o filho, então antes que houvesse um acidente resolvi me intrometer e entrei no quarto.

- Mamãe. - Tony disse em alto e bom som ao me ver.

Os ombros de Edward caíram em desistência e se virou com um sorriso entristecido.

- Estava aí assistindo minha luta, não é?
- Mamãe. Mamãe. - sua pequenas mãos pediam por mim.
- Confesso que sim. - me aproximei e o peguei no colo o sentindo se aconchegar nos meus cabelos.

Ele adorava fazer aquilo, esfregar o rostinhos nos fios enquanto passava a mão pela minha boca.

- São essas coisas que um dia vão me levar pro analista. - resmungou irritado e comecei a rir.


Tony tocou meus lábios esticados num sorriso e por isso sorriu também. Era natural que fosse mais agarrado comigo, os meninos costumam mesmo ser mais ligados à mãe. Era o mesmo que encontrávamos com Rennesme. Tudo que acontecia ela corria para o pai. Para pedir ajuda, carinho ou conselhos, era sempre a ele que recorria.

- Pare de reclamar, seu bobo. Não precisa sentir ciúmes.
- Da próxima vez que Nessie vier me dar bom dia primeiro vou repetir o que acaba de dizer e aí mais tarde a gente conversa. - evitei rir beijando o rostinho de Anthony que ficou vermelho enquanto tentava segurar-me - Por falar nisso: bom dia, meu amor.

Tocou meu rosto com as pontas dos dedos, escorregou pela minha bochecha até a orelha onde resgatou uma mecha de cabelo e a prendeu. Aquele olhar que trocávamos pela manhã era capaz de derreter qualquer coração, mesmo o mais forte. Fui interrompida quando Tony começou a tagarelar na sua fala ainda enrolada sobre estar irritado por ter sido acordado.

- Agora ele fala. - Edward resmungou me abraçando por trás.

Respirou fundo o meu perfume e suspirou. Nosso bebê se calou um pouco e fez o mesmo que o pai antes de retornar as suas reclamações.

- Puxou você em tudo. Até na teimosia. É impressionante.
- Eu não queria falar, mas pelo visto não gosta de acordar cedo igualzinho a você. Problemas futuros na escola.
- Acha que pode cuidar de tudo sozinho enquanto estamos fora?
- Bella, só terei que dar banho e vestí-lo. Não é muito difícil.

Apesar da minha prática de anos, Edward conseguia ser menos atrapalhado do que eu quando se tratava de arrumar as crianças. Mas hoje era uma ocasião especial, então tudo devia estar perfeito.

- Não vá amarrotar o terninho, tudo bem? Foi tão difícil de passá-lo.
- Relaxa, amor. - beijou meu pescoço - Ele ficará lindo, não é garotão? - fez cócegas na pequena barriguinha infantil que tremeu com a risada.
- Sim. Lindo para o casamento da Tia Alice.

- Vamos descer para tomar o café e levaremos você e Rennesme até o apartamento dela.
- Não há pressa. O casamento é só às cinco, essas coisas de dia da noiva demora mesmo e qualquer mulher nesse dia tem o direito de se atrasar.
- Vocês se atrasam sempre mesmo. - o cutuquei com raiva.
- Ah, pare de resmungar. Nessie está mesmo empolgada em ser a daminha. Será que já acordou?

- Se tivesse já estaríamos ouvindo os gritos. - Tony prestava atenção no pai como que concordando e aproveitei sua imobilidade para me empenhar na missão impossível que era arrumar seus fios bronze para um lado ou para o outro.
- Deixe o cabelo do menino, Bella. É o charme dele.
- Como pode falar de charme? Não passa de um bebê.
- Não é mais tão pequeno assim. Verá quando nosso garoto crescer. Será um sucesso com as meninas. Terá várias namoradas. - fiz um bico engolindo o ciúme.
- Espero que pelo menos seja uma de cada vez. - olhei séria para Tony o advertindo e sem entender nada entortou a cabeça.
- Que nada. Para que esperar? Esse será idêntico ao pai. - chutei a canela de Edward que se agachou segurando a perna gemendo.

Nossas gargalhadas sobrepuseram os rosnados e reclamações.

- Acho que ele tem meu senso-de-humor, querido. - levantou seus olhos verdes sorrindo com deboche e saiu do quarto.
- Papai. Careta. Porque? - Anthony mordeu de novo o bico da mamadeira e ri por ter falado a palavra tão desejada.
- Por nada, bebê. Vamos acordar a Nessie?
- Nessie. - repetiu assentindo.

Fomos para o quarto da minha princesinha e logo a tiramos da cama. Assim como foi previsto, mal seus olhos se abriram e já estava pulando de um lado para o outro, tomando banho e se vestindo como um jato. Estava ansiosa para ver a madrinha no seu vestido de noiva. Por isso fez sua mochila bem rapidamente e bateu continência em frente a mim quando já estava arrumada. Tony a imitou sem saber o que fazia e descemos para o café.


Descemos os três para encontrá-lo preparando a mesa. Deixei nosso garoto na cadeirinha e Nessie pediu para dar seu mingau. Não vi problema em gostar tanto de tomar conta do irmão, então deixei que se sentasse ao seu lado e cuidasse dele mais um pouquinho. Edward me puxou para sentar em seu colo e disse que me daria meu café também. Sorri o abraçando e beijei seus lábios de forma carinhosa. Tocá-lo assim sempre me dava preguiça. Sim, queria arrastar segundos os tornando infinitos só para nós dois, ou para nós quatro.

Uma vez me disse que nosso amor não poderia ser comparado a nada e nisso concordávamos. Tudo que contruímos e o quanto crescemos juntos jamais poderia ser explicado. Sabia que nossa história tinha sido difícil, mas colhíamos muitos frutos agora. Os frutos do nosso amor adolescente.

Nos separamos só quando a pequena fingiu tossir chamando nossa atenção. Escondi meu rosto em seu pescoço e inspirei fundo enquanto seu corpo vibrava com a risada. Fiquei em silêncio o ouvindo dar justificativas aos filhos e fechei os olhos dizendo a mim mesma que estava fadada a amar aquele homem, que teria sorte a mulher que achasse alguém para partilhar sua vida dessa mesma maneira.

'Nós dividimos a mesma alma.'

- Poxa, Tony. - Nessie riu da careta de seu irmão e se levantou para buscar um guardanapo para limpá-lo.

Observei o tamanho da minha filha e me assustei.

- Como ela cresceu. - sussurrei para mim mesma.
- Por um segundo achei que seria uma criancinha para sempre. - respondeu olhando para o mesmo lugar que eu - No que estava pensando?
- No quanto sou sortuda. Tenho tudo que preciso. Minha história de contos de fadas.
- Só lhe falta o felizes para sempre?
- Não se preocupe. O felizes nós somos. O para sempre a gente constrói todos os dias.
- Eu te amo, Bella. - sorri e o abracei unindo de novo nossos lábios.

E hoje seria mais um dia eterno.

'Ele me dá presentes só por estar presente.'

Jasper pov

Tempos depois.

Devo confessar que jamais imaginei o quanto seria prazeroso acordar todas as manhãs sentindo aquele perfume floral tão único e especial próximo a mim. Abri meus olhos encontrando os cachos negros e longos cobrindo meu peito. Sorri me deitando de lado a abraçando e fiquei longos minutos a observando. A respiração lenta e profunda se arrastando, as pequenas mãos relaxadas sobre o colchão e um leve sorriso nos lábios. Alice dormia tão profundamente que mesmo com os beijos que dei em suas bochecha permaneceu imóvel.

- Hora de acordar. - distribui também alguns pelos ombros e pescoço - Vamos, meu anjo. Você anda muito dorminhoca ultimamente.
- Só mais cinco minutos. É cedo demais ainda.
- Não quer que eu te leve para a revista?
- Quero voltar a dormir, se deixar te recompenso. - entortou a boca ao terminar a proposta.

Inspirei fundo ponderando a idéia, mas um dos momentos que Alice ficava mais bonita era quando se irritava, então agarrei seus pulsos e a girei na cama me deitando por cima. Ela bufou depois que roubei um selinho de bom dia e tentou se soltar.

- Ora, Jasper. Me largue.
- Tenho algo melhor em mente: te solto, você me dá a recompensa e depois nos levantamos para o café.
- E dormir? Onde está a parte boa para mim nessa história?
- Acha que a recompensa será só minha? Alice, assim você está me menosprezando. Isso é um absurdo. Lembre-se do que o padre diss-
- Oh, não. - gemeu derrotada reconhecendo a minha frase que estava quase se tornando um bordão - Se soubesse que mesmo depois de dois anos de casados você continuaria repetindo os votos só para me forçar a fazer o que quer jamais teria nem subido naquele altar. - resmungou aborrecida.
- Mentir é feio. - cantarolei a soltando.

Logo passei meu braços ao redor de sua cintura e afundei meu nariz em sua pele respirando o mais profundamente que podia. Ela finalmente sorriu e acariciou minha nuca da maneira que eu mais gostava.


- Daqui a cinqüenta anos continuará me ouvindo resmungar te fazendo lembrar da sua promessa.
- Como se eu precisasse de lembranças. - murmurou, mas tive certeza que não era com intenção de me fazer ouvir por isso me afastei.
- Você me ama?
- Ai, seu bobo. É claro que sim. - me puxou para um beijo, mas não ficamos assim muito tempo.

Logo me empurrou para o lado e desceu da cama.

- Prepara meu café, amor? - pediu com um bico.
- Isso se chama chantagem.
- Isso se chama eu te amo. Vou tomar meu banho.
- Te faço companhia. - pulei também da cama e ela riu.
- Não, obrigado. O café e conversamos mais tarde.
- Malvada. - gargalhou mais um vez e foi direto para o chuveiro.

Troquei a calça de moleton que usava por uma mais escura e vesti uma camisa de mangas cumpridas para caso a empregada já tivesse chegado. Já na cozinha fiz tudo da maneira que ela gostava e arrumei a mesa rapidamente. No relógio de parede marcava seis e quarenta e cinco. Só tinha que estar no escritório às oito, o que era ótimo porque tinha mesmo que ler uma sentença antes do primeiro cliente chegar a minha sala.

Ainda mais agora que Edward resolvera tirar férias na Europa com Isabella e as crianças, o único caso seu que ainda estava em aberto estava nas minhas mãos, então precisava ficar a par de tudo. Sorri coçando a cabeça amargamente admitindo que tinha mesmo sido a melhor decisão não vender o escritório. A 'Cullen&Hale' se associara aos canadenses ao invés de ser vendida e os casos que tratávamos eram cada vez maiores.

Ainda esperando Alice, procurei na mesa da sala os papéis que deixei ali ontem a noite, mas não achei.

- Amor?
- Sim. - gritou do quarto.
- Onde estão os papéis que deixei aqui na sala ontem? - pensou por algum tempo e depois respondeu com a voz trêmula.
- Os coloquei perto do armário de casacos para que não esquecesse antes de sair para o escritório.
- Obrigado.

Os achei exatamente onde dissera e caminhando de volta para a cozinha os folheei.


Já sentado tomando um pouco do expresso procurei pela parte que interessava, mas entre as folhas do documento achei uma outra diferente. O papel mais largo tinha nas margens desenhos verdes e o puxei identificando o logotipo de um laboratório. Estranhei, mas então me veio a idéia de quem o tinha colocado ali, por isso comecei a ler.

- Marie Alice Brandon Hale. - passei para as linhas de baixo apertando os olhos - Hemograma realizado no dia vinte de maio. - me lembrei como nesse dia estava nervosa e impaciente comigo, fazia pouco mais de uma semana.

Continuei passando os olhos rapidamente pelos termos clínicos e taxas que não consiguiria entender nem com muito esforço e lá embaixo bem próximo ao rodapé havia a palavra 'positivo'. Antes que a xícara caísse da minha mão a apoiei no tampo da mesa e refiz o processo com os olhos de cima à baixo. Sabia que havia alguma informação que precisava entender, mas meu corpo parecia anestesiado pelo choque, até mesmo minha respiração tinha sumido.

- Leu? - sua voz foi a única motivação que encontrei para me mover.
- Allie?

Ela se desencostou da parede e veio até mim.

- Duas semanas atrás acordei de manhã e quando fui te abraçar senti um enjôo muito forte por causa do seu perfume e na mesma hora percebi que teria que procurar uma maneira de te contar as novidades. Confesso que pensei em tantas que até mesmo me esqueci de fazer o exame. - se sentou na minha coxa passando os braços para frente e só então percebi que estava segurando dois sapatinhos de crochê vermelhos com dois laços brancos e singelos na ponta - Espero que não infarte, amor. - completou sorrindo.

Naquele exato momento me lembrei do quanto tirei sarro de Edward pela cara que fez ao me contar que seria pai pela segunda vez. Deveria me desculpar na primeira oportunidade. Definitivamente, a minha era bem pior.

- Pai?
- E mãe. - deu de ombros.

Precisei de mais alguns minutos pelo choque, mas depois comecei a chorar e a abraçar comemorando como um bobo.


Edward Pov

A grande e pesada porta mogno no final do corredor se abriu provocando um aumento desastroso e vergonhoso no meu compasso cardíaco. Minhas mãos suavam frio como se estivesse prestes a ter o último dia da minha vida, mas então soltei o ar ruidosamente quando vi que pela passagem saiu Catheryne e não Rennesme. A jovem de cabelos presos fechou com dificuldade a maçaneta e suspirou.

Assim que me viu seu sorriso aumentou assustadoramente. Subiu um pouco o longo vestido azul celeste e veio correndo até mim. Ergui uma das mãos para que tivesse calma ao começar a falar. Se bem conhecia a melhor amiga da minha filha sua hiperatividade não me permitiria entender uma palavra sequer. Mas acho que não viu meu sinal, pois mal parou ao meu lado e desembestou em elogios e preocupações.

- Kate. - avisei uma única vez com o tom de voz mais suave que pude e ela se calou.
- Ai, desculpa Tio Edward? Sabe que as vezes fica difícil de me controlar.
- Sim, eu sei. - revirei os olhos.
- Bem, ela já está lá dentro. Vou assumir meu lugar e assim que aparecerem peço que soltem a música, tudo bem?
- Claro, mas vá mais devagar. Não se esqueça. - fechou os olhos se concentrando nessa missão e depois sorriu saindo pela lateral.

Sozinho novamente voltei a encarar meu destino sentindo toda a apreensão voltar a crescer em meu peito. A última vez que fiquei nervoso daquela maneira foi quando Bella e eu nos casamos. Tanto tempo já tinha se passado, mas lembro-me exatamente do alívio que senti ao vê-la entrar com a nossa garotinha caminhando calmamente até mim.

Segurei na maçaneta com firmeza, girei e entrei com o rosto abaixado tentando não fazer barulho. Fechei a porta atrás de mim e, só depois de alguns segundos recuperando a coragem, consegui erguer meu rosto para encará-la. E foi deixando a primeira lágrima escapar que constatei assustado o quanto minha filha estava linda naquele vestido branco e extremamente parecida com a mãe.


Ouçam a música Daughters de John Mayer.

A cauda era longa como havia me descrito no dia seguinte que decidiu o modelo, seus cachos avermelhados estavam presos num coque solto com algumas presilhas que minha mãe usou em seu próprio casamento e fez questão de dar a neta mais velha, e o rosto divinamente feliz se encarava no espelho com centração. Rennesme era a cópia perfeita de Isabella, tirando a altura e a cor dos olhos.

I know a girl
Eu conheço uma garota
She puts the color inside of my world
Ela coloca a cor dentro do meu mundo
But she's just like a maze
Mas ela é como um labirinto
Where all of the walls all continually change
Onde todas as paredes mudam continuamente completamente
And I've done all I can
E eu fiz tudo que eu posso
To stand on her steps with my heart in my hand

Para estar em seus passos com meu coração em minhas mãos
Now I'm starting to see
Agora estou começando a ver
Maybe it's got nothing to do with me
Talvez não tenha nada a ver comigo

Naquele exato momento, me lembrei da primeira vez que a vi. A insistência infantil para que eu visse a carta que sua mãe havia escrito. Me recordei também da primeira vez que me chamou de pai, do seu primeiro dia no ensino médio que nervosa se agarrou em mim e não quis descer do carro, de quando me contou do primeiro namorado e, já chorando, me lembrei de como difícil vê-la saindo pela porta de casa para morar sozinha na faculdade.

- Pai? - se virou assustada - Você está chorando?

Sequei meu rosto envergonhado e a assisti descer do pequeno pedestal que puseram em frente ao espelho. Sem se importar com a cauda do vestido de noiva, veio quase correndo até mim e apoiou suas mãos no meu peito.

- Aconteceu alguma coisa, pai? - desespero passou pelos seus olhos - Ele não está lá? Ele me abandonou, não foi?

Suas feições afoitas me fizeram rir, então tentando acalmá-la - e me avisando sobre não estragar sua roupa - a abracei com todas as forças e beijei sua testa.

- Não, meu amor. Não fique preocupada. Sebastian ainda está te esperando lá em cima e, por sinal, acho melhor não demorarmos ou ele terá um ataque. - suspirou aliviada e correspondeu ao aperto com ainda mais vontade.
- Graças a Deus. Só eu sei o quanto estou nervosa. - se afastou um pouco e sorriu timidamente.
- Só eu sei o quanto está linda.
- Obrigada, papai. Mas então o que aconteceu? Porque está chorando desse jeito?
- Não é nada demais. Já está pronta? Estão todos te esperando. - negou corando.
- Não vamos a lugar nenhum até me dizer porque chorou.
- Já disse, meu anjo. - passei a mão pelo seu lindo rosto - Acho que como seu pai devo lhe dar alguns conselhos, não é mesmo?
- Como meu pai deve me segurar para não cair na igreja. - ri e a abracei novamente.

So fathers be good to your daughters
Então pais, sejam bons com suas filhas
Daughters will love like you do
Elas irão amar como vocês fazem
Girls become lovers who turn into mothers
Meninas se tornam amantes e depois mães
So mothers be good to your daughters too
Então mães sejam boas com suas filhas também

Sei que estava sendo dramático, mas era inevitável pensar que poderia perdê-la com o tempo, que se afastaria de mim, sua mãe e seu irmão. Era estranho entregá-la de bom grado na mão de outro para que a tirasse de mim. E assim derramei mais uma lágrima.

- Não fique nervosa. Pense que a única pessoa aqui nessa igreja é aquele homem que está no altar te esperando. O que te ama mais que tudo. Aquele que você ama também.
- Tenho medo do futuro.
- Não pense no futuro. Pense no agora, na sua felicidade e na cerimônia perfeita que teremos. - pensou nas minhas palavras e assentiu mais confiante, mas depois de se afastar notou minha outra lágrima e murchou seu sorriso.

- Não vai dizer porque está chorando? - secou meu rosto - Não temos segredos um para o outro, se esqueceu da promessa?
- Você puxou a sua mãe. - bufei divertido.
- Vou contar isso para ela.
- Oh, por favor, não. Já me enlouqueceu com essa cerimônia se tiver mais um motivo me põe para fora de casa.
- Duvido muito. Como se dona Isabella conseguisse viver sem você.
- E eu? Como vou conseguir viver sem você? - parou entendendo o motivo das minhas lágrimas e sorriu de maneira triste.

Ficamos alguns minutos em silêncio, apenas encarando um ao outro, memorizando cada segundo como costumávamos fazer. Desde o primeiro dia que esteve comigo, notei que Rennesme tinha herdado essa característica e em momentos assim era como se a sentisse dentro de mim. Uma pequena lágrima surgiu no canto de seu olho e apressado a tirei de lá antes que estragasse alguma coisa.

- Por favor, filhota não chora. Não queria fazê-la chorar. Me desculpa?
- Pai. - murmurou segurando minha mão - Deixe isso para lá. Temos coisas mais importante que minha lágrima agora.
- A noiva não pode estar chorando.
- O senhor também não. - ralhou - Não está achando por um acaso que vou me afastar de você, não é?
- Querida, é inevitável. Agora terá sua própria família. E eu que tinha achado a faculdade um passo enorme. - riu e suspirou.

Alguém bateu na porta e imaginei ser Kate.

- Precisamos ir. - sussurrei, mas sequer se moveu.
- Antes preciso te lembrar uma coisa. - enruguei o cenho - Preciso lembrar que é meu pai. E não importa quantas vezes me case, me apaixone ou não sei mais o que, o homem mais importante da minha vida sempre será você. O único capaz de me amar, entender e acolher sem julgamentos. Você sempre será o meu paizão e eu sempre serei sua menininha. - sorri acariciando seu queixo.
- Minha menininha.

Nos abraçamos, mas bateram novamente na porta. O casamento precisava começar e eu, libertá-la daquele laço. Criei coragem e me afastei. Hoje realizaríamos o seu - e somente seu - sonho.

Fim.

Dedicatória:


Ao homem mais importante da minha vida por tudo aquilo que me ensinou e todo o amor incondicional que me deu. Infelizmente, não tivemos tempo de realizar seus sonhos, mas um pedaço seu estará comigo quando realizar os meus. Pai, eu sempre vou te amar.


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Notas finais do capítulo

Meu último agradecimento a todos que acompanharam essa fanfic. Senso aqui pelo Nyah, pelo tópico na ft ou mesmo na minha comunidade, quero dizer que devo muito a vocês por serem sempre meu estímulo a continuar postando. Eu perdi essa fanfic duas vezes inteira por problemas no arquivo e sei o quanto foi difícil recuperar o ânimo para reescrevê-la, postá-la e devo tudo a vocês. Quero agradecer de coração as indicações de elymartins, gaby_lutz, Danyny, danete, Mandynhaa, annynha, alecrambb, BlackAngel37, Marcynha, bellascullen, Siobhan e ChrisFanfic. Espero que com as essas idéias loucas da minha cabeça e minhas palavras eu tenha causado muitos sorrisos, lágrimas e mais um turbilhão de sentimentos. Foi um enorme prazer, sentirei saudades.

Até mais.