O Clone de Deus escrita por jabour


Capítulo 2
Green World Energy. Parte 2.




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No dia seguinte, a importante reunião que Marco tinha na GWE não era cedo. O vinho não atrapalhou.

Lá estava Marco, parado, cabeça levemente erguida, olhando para os enormes G W e E. Ficavam logo em frente ao enorme prédio onde se situavam os escritórios da empresa. Laboratórios havia por todo o mundo. Pessoas passavam freneticamente, em todas as direções, por Marco e pelas letras. Pareciam insetos voando em torno de uma lâmpada. Só Marco parado. Surdo. Parecia um ser habitando outra dimensão temporal. Estático. Estátua. Poucas piscadas. Adorava aquelas letras douradas, mas, às vezes, ficava tempo demais ali. Alguns achavam estranho. Nos primeiros dias na GWE, um segurança chegou a abordá-lo:

-- Senhor. Deseja alguma coisa? Perguntou, temendo que fosse um assaltante, terrorista ou um maluco.

-- Ahn... Ahn... Nada não. Eu trabalho aí e gosto destas letras. Respondeu Marco.

O segurança deve ter constatado se tratar mesmo de um maluco, mas não um maluco perigoso.

Hoje Marco ficou apenas uns dois ou três minutos olhando as letras. De repente girou o corpo uns sessenta graus e rumou para a portaria do prédio. Apesar de adiantado (Marco agora sempre chegava adiantado), caminhava rapidamente.

A portaria é linda. Ampla, pé direito alto, muito granito, iluminação indireta na parte inferior das paredes e no contorno do teto. Alguns seguranças em pé nos cantos. Umas recepcionistas lindíssimas e arrumadíssimas.

Visitantes para a direita para se cadastrarem. Empregados, chamados de colaboradores, prospectores ou inventores, conforme o caso, seguiam para a esquerda. Paravam em frente a um dos portais. Um sistema de reconhecimento de pessoas lia padrões corporais diversos do empregado e, em menos de 3 segundos, recolhia a barra metálica liberando a entrada.

Assim foi Marco. Perdeu uns dois elevadores. Um deles olhando para a lata de lixo prateada ao lado da porta. Outro pensando nas inúmeras possibilidades que se poderia adotar para usar os 4 elevadores da ala dos funcionários. Dois só nos andares pares, dois nos ímpares. Dois até o vigésimo andar, dois do vinte e um ao quarenta. Todos servindo todos os andares. Mas nada se comparava ao sistema implantado pelo seu amigo Marvin Milner.

O sistema de reconhecimento de pessoas mantinha um perfil para cada funcionário e identificava a distribuição de probabilidades dos andares visitados por cada um, em cada dia da semana, do mês, em cada horário, quando estava em companhia de A ou B, etc, etc, etc. Ao identificar a presença de cada um, iniciava um processo de mineração de dados nos bancos do sistema e computava os andares mais prováveis como destino do cidadão. De posse do conjunto de pessoas que rumavam para os elevadores naquele instante, calculava a melhor distribuição delas nos elevadores disponíveis. Naturalmente, já sabendo quem estava em cada elevador e os possíveis destinos, calculava os prováveis instantes de retorno de cada um deles ao andar térreo. Alguns instantes após passar pelos portais de segurança, o funcionário podia observar, nos painéis digitais na parede sobre os elevadores, qual deles deveria pegar. Os melhores grupos de pessoas eram alocados nos elevadores de modo que ele fizesse a viagem mais "inteligente", digamos assim. Menor trajeto e maior número de pessoas transportadas. Algumas vezes, o sistema tinha tanto sucesso que fazia com que um elevador enorme, com mais de duas dezenas de pessoas parasse apenas 3 vezes até se esvaziar por completo e aguardar um novo chamado de um andar qualquer.

O problema era conseguir acompanhar casualmente, no mesmo elevador, aquela garota do quarto andar, sendo que você sempre desce no vigésimo terceiro. Bom, mas o elevador certo era apenas sugerido, você podia pegar outro e ir atrás dela, se quisesse. Se você desse sorte, ela até perceberia a sua "trapaça" e isto já seria o primeiro passo na abordagem! Na verdade, bastava começar a fazê-lo, que o sistema identificaria que sempre que ela estava no grupo de espera, você descia no mesmo andar que ela. Logo, logo você passaria a ser direcionado ao elevador da dita cuja.

Tratava-se de um problema NP-Completo, ou seja, mais difícil para computadores do que algo que você considere muito difícil para computadores muito rápidos. Mas a mente de Milner aliada aos poderosíssimos computadores da GWE, conseguiam soluções sub-ótimas (não as melhores, mas soluções muito boas) para o problema. Isso em poucos segundos!

Na verdade, o prédio central da GWE tinha um sistema de computação em grade, onde todos os computadores cooperavam na solução de tudo o que era necessário. Do computador portátil no presidente, ao supercomputador dos andares de pesquisas, passando pelo computador da secretária e pelos cem ou duzentos computadores da contabilidade, das estações gráficas do pessoal de marketing até os computadores do circuito interno de TV, todos ofereciam seus ciclos de CPU (sua capacidade de processamento) às tarefas em geral. Quer uso melhor para seu computador durante sua ausência, sua ida ao banheiro, durante o tempo em que está lendo uma reportagem ou enquanto observa meticulosamente a foto daquela atriz no último número daquela revista?

Marco insistia muito com "Double M", como ele chamava seu amigo Marvin Milner, para consultar os seus próprios perfis armazenados no sistema. Milner não permitia, já que o sistema era fechado por questões de preservação da privacidade dos funcionários. Entretanto, já havia tirado alguns relatórios e presenteado Marco em ocasiões importantes.

Marco já sabia que era o recordista de perda de elevadores. Que era o recordista em pegar o elevador errado. Recordista em descer no andar errado. Recordista em não descer no andar certo. Já sabia que, quando suas pesquisas estavam em períodos de grande produção e complexidade, costumava não sair do elevador e ficar subindo e descendo por alguns minutos, até que algum colega de trabalho que o conhecesse o retirasse do transe e o reconduzisse ao nosso mundo. Só não sabia que o sistema demorou apenas 8 dias para identificar que Marco estava seguindo Lisa...

Bom, mas após peder os dois elevadores, Marco subiu. Hoje não era desculpa para ver Lisa não. Ele ia ao "vigésimo" mesmo. O vigésimo era o andar da presidência. Isso mesmo. Não era o quarenta. O presidente Yanick Amundsen queria ficar equidistante de todos os colaboradores. Queria que fosse fácil encontrá-lo. Era acessível. Adicionalmente, no  último dia de cada mês, trabalhava em funções diversas na empresa. Ele mesmo sorteava um setor e vivia a rotina integral, de 8 às 20, naquele setor. Era meio tenso para os fucionários, mas muito enriquecedor para ele, presidente, e para os demais. Dizem que se saía muito bem, quase sempre, mas que quando caiu no andar onde funcionava o "Green Shopping", complexo de alimentação, comercial e de serviços do prédio, andou queimando um grelhados e entornando uns cafés.

Hoje era um dia chave para Marco demonstrar suas novas ideias para a cúpula da GWE.


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