O Clone de Deus escrita por jabour


Capítulo 3
Capítulo 2 - Convencendo o presidente - parte 1




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Saiu do elevador, virou à direita, deu uns passos, viu que errou, olhou no relógio, fingiu que lembrou de algo, deu meia volta e rumou para o outro lado. Chegou à antessala. Secretárias de pé, andando de um lado para outro. Mesa? Não. Elas não têm mesa. Suas mesas são virtuais. Precisam de alguma anotação ou informação? Assentam-se em frente a qualquer dos computadores, suas faces são reconhecidas e o desktop se configura com o perfil de cada uma. Talvez por isso chamaram-no de desktop. Ali estava tudo o que usam, anotaram ou que precisam. Alguns sofás bonitos. Algumas pessoas esperando e duas secretárias lendo. Visitantes e secretárias no mesmo sofá? Bom, aqui é a GWE: regras, padrões, costumes, tabus, só se tiverem motivos razoáveis. Só se forem aprovados pelo pessoal do setor. Marco foi até o sofá e mexeu com Rose: -- Folgada? -- Tomando um fôlego. Começo da manhã, sabe como é, né? Passa um furacão aqui pela presidência. -- Onde está Carla? -- Por quê? Qual o interesse? -- Sorriu Rose. -- Vou contar para a Lisa, hein! Sorriu de novo. -- A única coisa mais rápida que a rede de dados da GWE é a rádio corredor! O que andam comentando por aí? Disse Marco com um risinho lateral. -- Mas você sabe -- continuou Marco -- que as prospectoras são sérias demais. A Lisa, às vezes, muda de amiga para colega de trabalho de uma hora pra outra. -- Ah! Então rola um interesse mesmo, né? -- Sei lá. Você acha? -- Perguntando pela Carla e olhando pras minhas pernas desse jeito fica difícil saber, Sr. Einstein... Marco ficou meio desconsertado e olhou pros lados para ver se algum cliente estava escutando a conversa. Rose percebeu e parou com as brincadeiras. Bateu com a mão no sofá, bem ao seu lado, e disse: -- Senta aqui moço. Marco sentou-se ao seu lado, com o corpo bem enconstado no dela. -- Eu acho que vocês dois combinam muito, se te interessa. Marco ficou com um ar pensativo. -- Mas, sem stress Marco. A Carla está na salinha do sono. Logo ali do lado da copinha. -- Disse Rose pulando do sofá e desfilando em direção a uma das mesas para batucar qualquer coisa no computador. -- Ela chegou muito cansada hoje e foi tirar uma soneca. A GWE era repleta de salinhas do sono. Sono atrasado? Cansado? Gripado? Tira um cochilo amigo! Volte quando estiver refeito. Essa era a política. Tinha também umas piscinas, salas de ginástica, salas de leitura, jardins (não para passear, mas para cultivar, meter a mão na terra, roubar umas frutinhas), salas de conversa para relaxar, salas de artesanato e trabalhos manuais, salas lúdicas para quem resolveu trazer crianças, ringue de boxe, salas acústicas com instrumentos musicais, etc. Mas todos tinham bem claro em suas mentes que aquilo não era dado pela empresa. Não caia do céu. Não era uma dádiva. Tudo era mantido por eles mesmos. Se todos desfrutam, que todos contribuam. Sem lucro, sem lazer. Sem produtividade, sem tranquilidade. Uma GWE forte e grande era a garantia de continuidade deste ambiente livre e descontraído. Cada um sabia que era peça importante. Sem ele a GWE não seria a mesma. Funções diferentes, capacidades diferentes, talentos maiores ou menores, gênios ou espertos, mas sempre parte fundamental do todo. Se eu não fosse fundamental, não estaria aqui. Fingir que faz, encostar nos outros, esperando que tudo dê certo e que ninguém perceba, nunca funcionava mais que algumas semanas. Nenhum apático ou oportunista havia se mantido por muito tempo no time. Era como uma voz desafinada em um coral bem ensaiado. Mas nem tudo dependia só da intuição de cada um em achar que estava contribuindo da melhor maneira. "Double M" havia desenvolvido um sistema meio Big Brother. De alguma maneira, ele ia se alimentando de informações o tempo todo e mantinha um fator de contribuição para cada empregado. Todos tinham acesso ao seu "fator Milner", como era chamado. Tinham acesso ao fator médio do seu setor e ao fator médio na empresa. Havia também um confidente para cada funcionário. Um via a evolução do fator do outro e eles trocavam ideias sobre isto. Não se sabe bem que uso os setores estratégicos fazem do fator de produtividade, mas todos sabem que o fator é bem complexo. Provocar risadas no setor de trabalho; ter boas ideias; ajudar a algum colega; ser assíduo; fazer boas vendas; indicar novos funcionários; identificar falhas em qualquer setor, site da empresa ou processo; evoluir a cada dia; se qualificar; estudar; fazer cursos; dar cursos; ensinar; tudo é contabilizado. Tudo passa pelos programas de Marvin Milner. Mais de 90% das informações são coletadas automaticamente, com base nas ações, deslocamentos, programas de computador usados, estímulos ambientais sensoriados, relatórios e questionários preenchidos, expressões faciais dos empregados e, por fim, indicadores tradicionais como vendas, rentabilidade dos inventos,  e lucratividade em geral. Não se tinha notícia de demissões causadas por um baixo fator Milner. Mas muitos acreditavam que a presidência o utilizava para promoções, nomeações de chefes de projetos e prêmios. Marco preferiu não acordar Carla. Levantou-se, foi até Rose e pediu que ela localizasse Lisa para ele. Rose virou-se para o computador e perguntou: -- Onde está Lisa? -- Escolha qual delas. Respondeu a voz sensual emprestada por alguém à máquina. Marco deu a volta na mesa de vidro e olhou para a tela. Rose já havia tocado na foto da Lisa que queriam encontrar. Um desenho colorido plotou o vigésimo andar e uma bolinha começou a deslizar por ele. Os dois foram seguindo a bolinha que se aproximava do fim do corredor e juntos cantaram: -- Ih, ih, ih, chegou! E se viraram rindo para a porta da sala onde estavam e apontaram para Lisa que entrava por ela. -- Oi gente. -- Sorriu Lisa -- Me seguindo pelo computador, aposto. -- Oi Lisa, tudo bem? Disse Marco, lhe dando um beijo no rosto. As moças se cumprimentaram, Marco perguntou se podiam entrar e agradeceu a Rose. Os dois entraram em direção à sala do presidente.


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