Gerard sentiu seu coração na boca antes de apertar a campainha. Parou, respirou fundo e depois de três tentativas conseguiu apertar o botão ao lado da porta branca.

– Olá Gerard. – Brenda, a mãe de Melanie o cumprimentou sorridente – Seus amigos já estão lá dentro.

Ele esboçou um sorriso e entrou, antes mesmo de chegar à cozinha podia ouvir a risada de Melanie depois de uma piada sem graça de Ray. Seu estômago se contraiu.

– E aí Gerard? – Ray disse assim que o viu e completou antes que ele respondesse – Cara, ainda é estranho te ver assim, é como se eu tivesse perdido um terço do meu melhor amigo.

Melanie e Bob que acompanhava os dois deixaram uma risada escapar e Gerard rolou os olhos entrando na cozinha sem responder. A mesa no canto da cozinha estava sendo ocupada por dois bolos grandes com cobertura branca e glacê preto formando o desenho de uma guitarra no centro e várias caveirinhas em volta, e dois potes quase do mesmo tamanho com doces.

– Então, o que acharam? – Brenda perguntou olhando orgulhosa para as coisas na mesa.

– Ótimo trabalho senhora Collins. – Bob respondeu animado.

– Eu não sei nem como agradecer. – Gerard completou.

– Não precisam fazer nada, nas reuniões de pais que eu fui também achei o professor Thompson bem divertido e vocês devem gostar muito dele pra organizar essa festa surpresa.

– O cara sabe das coisas. – Ray disse fazendo um sinal de positivo. – Agora vamos levar isso.

Brenda ajudou os quatro a levarem os bolos para dentro do carro e todos seguiram para escola. Nas poucas vezes que arriscou olhar pelo retrovisor, Gerard surpreendeu os olhos escuros de Melanie com atenção sobre ele, mas Ray e Bob não pareceram notar.

– Certo, o povo já deve estar arrumando as coisas na quadra. Vocês dois entram normalmente pela frente da escola e avisam que eu e o Bob estamos correndo pra chegar se alguém perguntar alguma coisa. – Ray apontou para Melanie e Gerard. – Enquanto isso a gente coloca as coisas lá atrás e depois entra pra disfarçar, ok?

– Err...tá. – Melanie respondeu baixinho e Gerard assentiu saindo do carro.

Os dois se viram sozinhos quando o carro deu a volta para chegar ao outro lado da escola, já passava um certo tempo da hora da entrada e eles estavam atrasados.

– Não sei como você pode ser tão magra sendo filha de chefes de cozinha. – Gerard disse tentando amenizar o clima.

– É por que eu não sou preguiçosa como certas pessoas. – ela respondeu mais leve.

– Não é preguiça, é... economia de energia.

Ela riu e Gerard sentiu seu estômago se contrair de novo. Os corredores da escola estavam quase vazios, apenas alguns alunos se dirigiam as suas salas e como Ray havia previsto Martin descia o corredor na direção deles.

– Batman, Robin! – brincou devido ao costume dos dois de andarem juntos durante o último ano. – Onde está o resto da liga da justiça?

– Eles já devem estar vindo. – Melanie respondeu.

– Tudo bem, não tem problema, eu também vou me atrasar um pouco pra aula. Me avisaram agora pouco que tem alguma coisa pra eu resolver na secretaria. – ele suspirou entediado – Pode demorar um pouco, mas me esperem na quadra, ok?

Os dois fizeram que sim com a cabeça. Metade da escola era cúmplice na surpresa pra Martin, até mesmo a mulher da secretaria com quem Melanie tinha feito amizade depois de descobrir que ela apenas tinha uma letra muito ruim.

Dessa vez os corredores estavam vazios e os dois andavam mais lentamente em direção a quadra sem se olhar. Gerard desejou desesperadamente ter um manual de “O que fazer depois que você beija sua melhor amiga” e como não tinha e não achava as respostas de jeito nenhum acabou apelando.

– AAHH! Eu não aguento mais!

Melanie olhou assustada quando ele parou diante dela, fechando sua passagem.

– O-o q-que foi?

– Mel, o que você sentiu ontem?

– O que?

– Ontem,– respondeu ansioso – no parque, o que você sentiu quando a gente...?

– Tinha que fazer essa pergunta assim, na lata?! – ela quase gritou impaciente sem entender muito o porquê, as palavras só saíram altas demais.

– E de que jeito você queria que eu fizesse?! Eu preciso saber e não sei como perguntar.

Ela o encarou muda, tentando entender a última frase.

– Precisa saber? – arfou – Por quê?

– Por que eu adorei.

– E por que importa? – perguntou quase num sussurro, mas Gerard já tinha se aproximado tanto que não foi difícil para ele ouvir.

– Por que se eu gostei e se você também gostou, bem que a gente podia fazer de novo. – cada passo que ele dava em direção a ela, era um passo que ela dava para trás, não demorou até que ele ouvisse o metal dos armários ranger quando Melanie colou as costas nos armário. – Então, o que você sentiu?

As respirações arfantes dos dois se misturavam e o calor que vinha do corpo dela fazia Gerard se controlar pra não colocar a mão em nenhum lugar que não fossem aqueles armários. Uma parte dele ainda esperava que ela o chutasse e saísse gritando “tarado!” pela escola.

– Não sei descrever. – ela desviou o olhar e ele baixou os ombros, desanimado – Mas eu posso mostrar.

– O qu...? – de repente ele se viu envolvido pelos braços dela com a boca encostada a sua.

Ele não teria trabalho nenhum pra se livrar daquele abraço, mas não iria fazer isso nem que um terremoto começasse naquele mesmo instante. O som dos armários foi mais alto quando ele a prensou ali e aprofundou um beijo, suspirando quando sentiu os dedos frios dela se enroscarem em sua nuca.

– Me disseram que vô... – a voz de Mikey fez Gerard se afastar quase num pulo.

Ele quis se bater quando sentiu seu rosto vermelho.

– Err...a gente.

– Não se preocupe. – ele interrompeu o irmão – Eu só vim procurar vocês por que estavam demorando muito a ir pra quadra, é claro tinham coisas mais interessantes pra fazer, mas o pessoal está esperando e daqui a pouco o Martin chega.

– Ok, a gente já vai.

– Eu vou escoltar vocês, só por segurança sabe? Vai que vocês se perdem no caminho.

Gerard olhou pra Melanie, ela sorriu e puxou sua mão antes que começassem a seguir Mikey.