– Certo, senhorita Collins. – disse o professor que Melanie descobriu se chamar Turner, responsável por ensinar inglês – agora pode procurar um lugar.

A garota olhou para a turma e mordeu o lábio para não rir ao ver Ray acenando freneticamente como se achasse que a tarefa de enxergá-lo no fundo da turma fosse demais para ela. Depois de estudar a maneira mais rápida de chegar até ele, começou a andar entre uma das fileiras de carteiras de plástico sem sentir que chamava muita atenção até que seu pé encontrou um obstáculo que a teria derrubado se não tivesse um ótimo equilíbrio.

– Tem que ter mais cuidado por onde anda, querida. – riu uma garota de cabelos louros tão naturais quanto chuva no deserto e um perfume doce demais que parecia infestar tudo em volta.

Melanie não disse nada, mas registrou o movimento da garota ao colocar o pé calçado num salto cor de rosa novamente embaixo da carteira.

– Você acabou de conhecer, Ashley Carter, o dragão que assombra todas as liquidações de shopping.

A garota quase riu com comentário de Ray quando chegou até ele.

– Ela é sempre tão simpática? – ironizou.

– Só quando está de bom humor. – ele enrolou um cachinho no indicador com um ar afeminado – Por que não existe nada mais legal do que poder comprar uma roupa igualzinha a da Paris e parecer um piranha de luxo, não é mesmo?

– Isso foi muito gay, Ortiz. – um garoto magro que usava óculos de aro grosso e um gorro sobre os cabelos repicados disse revirando os olhos.

– Deixa esse mau humor de lado Way! – ele replicou dando um tapa que tirou o gorro do lugar tapando as sobrancelhas do garoto. – Ah sim, esqueci das apresentações. A alegria em pessoa aqui é o Mikey – ele disse um “oi” depois de resmungar alguma coisa sobre a mãe de Ray – Esse é o irmão dele, Gerard – apontou para o garoto as suas costas, um tanto gorducho, mas com os olhos mais verdes que ela já tinha visto – E esse é o Bob, não é irmão de ninguém.

– Fazer o quê? Sou um excluído nato. – o garoto de cabelos louros quase brancos, disse dando os ombros com um ar conformado.

– Somos dois então. – Melanie brincou

– Então povo, essa é a Melanie, minha donzela em perigo.

Os três acenaram para ela e a garota agradeceu. Estava quase se sentando na cadeira a frente de Bob quando foi impedida por Mikey e Gerard.

– Você não vai querer sentar na frente do Ray, acredite. – Gerard avisou e ao ouvi-la pela primeira vez, ela percebeu que gostava do som da voz dele.

Ela resolveu ouvir o conselho e se sentou atrás de Mikey, ao lado dele. Não demorou pra que percebesse por que não o tinha visto antes, ele estava concentrado no desenho que fazia enquanto ignorava a explicação do professor. Melanie não pôde controlar a curiosidade e se inclinou na carteira para tentar ver melhor, mas de repente Gerard parou de desenhar virando o rosto para lado e o deixando a centímetros do dela sem querer.

– Bem que eu notei uma sombra estranha. – disse, sua respiração tocando o rosto dela.

Melanie corou mais uma vez e se ajeitou em seu lugar, completamente constrangida.

– Err..calma, não é nada demais. – ele coçou a cabeça sem saber o que fazer – Se queria ver, era só ter pedido, olha. – ele ergueu o caderno e o virou na direção dela.

Meio timidamente, ela se virou e viu o desenho sem conseguir evitar que uma risada escapasse de seus lábios. Era um desenho de um pequeno Gerard com olheiras vermelhas embaixo dos olhos, bebendo o líquido vermelho de uma taça grande através de um canudinho enquanto parecia balançar as pernas no trono de estofamento cor de vinho que era alto demais para ele.

– Muito legal, queria saber desenhar assim.

Gerard ergueu uma sobrancelha e deu uma olhada para verificar se o professor continuava concentrado em sua explicação antes de dizer baixinho:

– Você tem humor negro, não é?

Ela corou.

– É meio inevitável.

– Não, é legal. – ele sorriu – não são muitas pessoas que gostam do que eu desenho.

– Então você precisa conhecer mais pessoas.

– Quem foi que jogou isso?! – os dois se ajeitaram nas carteiras ao reconhecer a voz do professor Turner e viram que ele sacudia uma bolinha de papel entre os dedos.

– Foi ele! – Ray disse apontando para Bob.

– Mas eu não fiz nada!

– Entendeu por que não é bom sentar na frente do Ray? – Gerard sussurrou quando achou seguro e Melanie fez que sim com a cabeça.