Ray bateu a porta do armário e o trancou, quando se virava para seguir até sua sala passou os olhos distraidamente pelo corredor e se deparou com algo que o paralisou, ou melhor, alguém.

Roupas um tanto largas que não chegavam a esconder o corpo bonito que as vestia, cabelos castanhos e lisos cujas pontas repicadas caíam sobre os ombros e um rosto meigo parcialmente coberto pelos óculos de aro grosso e pela franja lateral. Segurava um copo de café em um dos braços e o material no outro, Ray imaginou que aquilo não daria certo, já que além de estar meio desorganizado, pareciam serem coisas de mais pra que ela segurasse com só uma das mãos. Inconscientemente, começou um contagem mental.

Três

O material ameaçou escorregar de seu braço, mas ela conseguiu firmá-lo um pouco.

Dois

A posição desconfortável em que era obrigada a andar por causa do material colocava o copo de café em risco.

Um

Alguém esbarrou nela por acidente provocando a queda de todo o material, incrivelmente o copo ainda estava em sua mão sem que nenhuma gota tivesse caído.

Enquanto ela ainda olhava meio desesperada para as coisas no chão, como se não pudesse decidir o que era mais importante para recolher primeiro, Ray se aproximou e começou a juntar tudo, organizando melhor antes de levantar e estender o material a ela.

– Nossa, muito obrigada. – disse agradecida enquanto ele lhe entregava tudo. – Nem sei o que dizer...

– Raymond, mas pode me chamar de ...

– Ray, eu tenho que falar com você! – Gerard surgiu do nada e o arrastou para o outro lado do corredor sem que tivesse tempo abrir a boca. – Aliás, que garota era aquela?

O garoto olhou frustrado com para a estranha que já andava em direção a sua sala. Se derrubasse Gerard e corresse atrás dela chamaria muita atenção, não que se importasse, mas ela lhe pareceu tímida e não queria que o imaginasse como um perseguidor escandaloso logo de cara. Tarde demais pra uma aproximação descontraída.

– Eu estava pra descobrir quando você resolveu me puxar pro cantinho. – respondeu irritado – Eu sei que sou bonito, mas você não faz meu tipo Way, e eu não faria isso com a Melanie.

– Deixa de ser idiota, Ortiz. Eu te puxei por que quero conversar.

– Sobre o quê?

– Eu e ela, nós dois.

– Se tivesse mais um, vocês iam ter uma relação um pouco fora dos padrões.

– Quer parar de falar besteira?

– Você é que não está falando o que tem de errado com vocês!

– Fala mais baixo! – ele o puxou para um intervalo entre os armários tentando se afastar das pessoas no corredor. – O problema é o que não estamos tendo. Nós não... – fez um gesto com as mãos que fez Ray erguer as sobrancelhas ao traduzir.

– Tá falando sério? Com todos esses agarramentos quando vocês pensam que ninguém está vendo?

Gerard fungou e levou a mão ao rosto tentando disfarçar o fato de que tinha ficado vermelho.

– Ela diz que não está pronta. Mas está ficando difícil de me segurar.

– Ora vejam se não é o meu amigo ex-bolofofo. – Ray abriu um sorriso orgulhoso – Você nem tinha uma vida amorosa e agora tem problemas sexuais. Tanta evolução em tão pouco tempo, vocês crescem muito rápido.

Gerard revirou os olhos.

– Ray...

– Relaxa cara, as garotas são diferentes, elas precisam de um tempo pra se sentir seguras. Deixa rolar, quando for a hora, vai ser. E se você estiver pensando em fazer alguma besteira, – ele passou um dos braços pelo ombro do amigo – lembre-se de que ela também é minha amiga e eu posso garantir que você nunca mais faça uma besteira na vida.

Gerard arregalou levemente os olhos, mas antes que formulasse uma resposta a atenção de ambos foi para o corredor onde Bob vinha correndo na direção deles. O louro parou apoiando as mãos nas coxas enquanto tentava recuperar o fôlego.

– Ashley... – puxou o ar com força –... Mel.

– O que tem as duas? – Gerard perguntou assustado.

– As ...duas...Ashley...Mel.

– Essa parte a gente já entendeu!! – Ray gritou impaciente.

– Briga... No pátio.

Os dois se viraram um para o outro os olhos arregalados e começaram a correr em direção ao pátio no instante seguinte, deixando Bob para trás. Pensando que deveria ter uma vida menos sedentária ou pensar em mandar outra pessoa correr na próxima.