Era uma sensação que nenhum dos dois nunca tinha experimentado, aquela mistura de ansiedade e medo que fazia o ar passar com muita dificuldade por suas gargantas. Melanie e Gerard encaravam os ponteiros do relógio na parede da sala sem saber se torciam pra que ele corresse ou parasse de vez.

Antes que se decidissem, o sinal tocou.

Ignorando a movimentação das pessoas que saíam para o intervalo, ele se virou para ela. Seus olhos vagaram das mãos unidas sob o colo para o peito que se movimentava para cima e para baixo numa respiração profunda, demonstrando seu nervosismo e fazendo os seios se destacarem por alguns segundos sob o tecido fino da bata branca que ela usava.

“Mas que idiota! Isso não é hora de eu prestar atenção nessas coisas!”

– Vem comigo? – ele quase se surpreendeu ao vê-la estender a mão em sua direção, mas colocou a sua sobre a dela e se deixou guiar até a mesa do professor. – Eu não sei sobre você, mas estava meio sufocante pra mim naquela carteira. – completou aparentando mais calma.

Com ela conseguia? Mesmo com a sala completamente vazia, não era nem um pouco mais fácil pra ele respirar.

– Mel, me ajuda? – ele segurou as mãos dela entre as suas e escondeu o rosto nelas se inclinando um pouco.

Ela que havia tornado seu porto seguro, não era capaz de escondê-lo naquele momento.

– No quê? – perguntou tentando soar calma, mas nunca tinha sentido o coração tão perto de escapar pela boca. Era difícil lidar com a ansiedade e sensação dos dedos dele entrelaçados aos seus. “Dedos de artista”, como vovó Helena costumava falar.

– Eu não sei o que dizer e tenho medo de falar alguma besteira e te afastar. – ele descobriu os olhos e a encarou, mas manteve as mãos da garota sobre a boca, o que causava uma sensação quente nos dois – Eu não ia aguentar te perder por uma idiotice minha.

Um pequeno sorriso surgiu nos lábios da morena. Ela desvencilhou uma das mãos e acariciou a pele pálida, aliviando um pouco da tensão.

– Então, que tal dizer o que está se passando pela sua cabeça agora se eu prometer que não vou sair correndo?

Deixando de lado a sensação fria que tomava conta de seu peito, Gerard respirou fundo reunindo coragem para falar.

– Eu não sei exatamente o que isso que eu estou sentindo... Tudo que eu posso e dizer é que em pouco tempo você entrou de mansinho e ocupou um lugar no meu coração que é só seu, que você é a pessoa em que eu mais confio nesse mundo, que eu adoro a sensação macia da sua pele quando você me toca e que desde aquele dia na pracinha é muito difícil pra mim, ficar do seu lado sem te beijar.

– Gerard...

– Você merece alguém que te dê carinho, que cuide você. Eu fico louco de imaginar mais alguém do seu lado, então... eu só queria saber se...  – ele parou, engolindo seco antes de completar –... se eu posso tentar se esse cara e... Ei! Por que você está chorando? Eu sabia! Falei besteira não foi? Desculpa! Não era o que eu queria...

– Para seu tonto! – ela o interrompeu limpando as lágrimas que teimavam em escapar de seus olhos e escorrer por suas bochechas. – Eu não estou chorando de tristeza.

– Ah não faz mais isso, pelo amor de Deus! – ele a puxou para seus braços deixando que as lágrimas molhassem sua camisa e sussurrou para ela. – Eu detesto te ver chorar.

– Sim. – ela murmurou contra seu peito.

– O que? – ele se afastou um pouco com o choque.

– A resposta é sim.

– Isso quer dizer sim, nós estamos juntos?

– Uhum. – respondeu se segurando para não rir da expressão de dúvida de Gerard.

– Tipo, sim eu posso te beijar a hora que eu quiser sem correr o risco de levar um tapa?

– Exatamente.

– Sim, eu vou poder brigar com algum engraçadinho que der em cima de você por que você é minha garota?

– Só se eu puder fazer o mesmo com essas peruas que andam por aí.

Ele riu sem saber se era mais por achar graça ou por aquela sensação de alívio que havia deixado tudo mais leve e logo a envolveu novamente com seus braços, iniciando uma trilha de beijos por onde aquelas lágrimas que ainda não entendia tinham marcado o rosto suave, por isso o gosto do beijo que se seguiu foi salgado, mas muito bom, a melhor coisa que ele já havia provado.