Sala Vazia escrita por Jade Amorim


Capítulo 5
Mudança




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Sala vazia

Capítulo 4.

Adoraria ter aproveitado o domingo para dormir até mais tarde, o clima dentro do quarto era propício, mas o sonho que tive fez o trabalho de não deixar-me pregar os olhos por mais que cinco minutos. Era um misto de desejo, raiva e cansaço. Fiquei o tempo todo revivendo o sonho, repassando-o em minha mente, tentando descobrir quando Sakura tinha ficado tão presente.

Fiquei até mais ou menos umas sete da manhã rolando na cama tentando pregar os olhos, mas a agonia de ficar olhando para o relógio a cada dois minutos achando que se passou pelo menos uma hora é irritante. Levantei e liguei para Naruto, sua voz estava embargada pelo sono, mas nem me importei. Avisei-lhe para começar a colocar as coisas leves na caminhonete que logo chegaria para colocar os eletrônicos pesados.

Levei pouco mais de uma hora para me arrumar. Tomei uma ducha rápida, coloquei uma roupa leve o suficiente para ter mobilidade para montar os móveis e joguei meus pertences de qualquer modo dentro da mala e saí. Ao chegar na recepção pedi para buscarem meu carro e acertar a conta no hotel. Cada minuto correu com uma velocidade maçante, não sabia se era a agonia de ficar sem fazer nada ou a ansiedade de encontrar a jovem que me fez perder o sono essa noite.

A cidade ainda dormia preguiçosamente, apenas meia dúzia de pessoas andava pelas calçadas e as ruas estavam praticamente desertas. Isso que dá sair de casa em pleno domingo de manhã.

Levei pouco mais de quinze minutos para chegar até a casa do Naruto, este percurso num dia normal teria levado ao menos meia hora. A casa ficava num dos bairros mais nobres da cidade, era grande e tinha um imenso jardim. Fora ali que eu cresci junto com a minha irmã caçula e fiquei até que ela se casasse. Como presente de casamento, passei a casa para seu nome.

Nossos pais haviam morrido em períodos diferentes, nossa mãe com uma complicação médica numa cirurgia para obstruir uma artéria, eu na época tinha 15 anos, e nosso pai a pouco mais de quatro anos com uma pneumonia que teria sido tratada com facilidade se não fosse a idade avançada do velho.

Hinata não havia mudado nada, o balanço em que costumávamos brincar ainda estava pendurado na árvore centenária no fundo do jardim, o muro cheio de trepadeiras estava bem cuidado. Ela gostava da casa do jeito que era, dizia que era aconchegante para uma criança e que a fazia lembrar os bons e velhos tempos, nunca me opus. Estava tudo perfeito do jeito que estava.

Esperei o porteiro me dar passagem, e entrei com o carro, indo direto para a garagem onde um Naruto observava minha chegada com um olhar irritado e sem camisa.

- Cara, é domingo, são oito e meia da manhã, você não tem dó de mim não? – Ele perguntou, fazendo cara de sofrido e esfregando os olhos. Eu mal tinha saído do carro ainda.

- Você vai sobreviver, não se preocupe.

- Porque você não deixou isso para segunda-feira? – ele perguntou enquanto pegava num dos lados da geladeira e eu em outra.

- Esqueceu que eu trabalho?

- O problema é seu – ele riu, baixo. – E poderia ter contratado para fazer o serviço.

- Esses carregadores são tão gentis quanto um trator. Não quero nada estragado. – Ele suspirou, resignado.

- Você falou ontem que não precisaria de ajuda, fui dormir tarde.

- A partir do momento em que todos os móveis estiverem dentro do apartamento, você poderá voltar e dormir. – Colocamos a geladeira com dificuldade na carroceria, ainda faltava a TV e a madeira para montar a cama e o guarda roupa, que colocamos cuidadosamente no bagageiro do meu carro, sem falar do colchão de casal. – Teremos de fazer mais de uma viagem.

- Claro né meu amigo, isso aqui é uma Hilux, não um caminhão! – Suspirei. – Espera só eu por uma camisa e pegar as chaves.

Naruto entrou na casa apressado, ele realmente estava afim de voltar a dormir. Olhei para todos os itens, era pouquíssima coisa, mas o suficiente. Ele chegou quase correndo, rodando a chave na mão.

- Vai com seu carro que eu vou com o meu, aí você já o deixa lá e volta comigo.

Assenti e fui andando calmamente até o carro, tentei esvaziar a mente enquanto via pelo retrovisor Naruto dirigindo animado, provavelmente escutando música. Segui seu exemplo e liguei o rádio enquanto escutava Ke$ha invadir o carro. Desde quando ele gostava desse tipo de música?

Para minha satisfação, o prédio era perto da casa de Hinata e como o domingo ainda se espreguiçava, o movimento era pouco. Assim que chegamos, desci do carro para ajudar a descer as coisas, Naruto estava olhando o prédio com uma das sobrancelhas arqueadas.

- É aqui que vai morar?

- Algum problema? – não estava gostando do tom de voz dele.

- Você sempre morou em casas enormes ou em coberturas tão grandes quanto, o lugar é bonito, mas não parece ser tão espaçoso. – Dei de ombros.

- Esqueceu que agora a casa é só para mim e que eu vou passar a maior parte do tempo no escritório? Não quero ter uma casa gigante para parecer abandonada.

- É, você tem razão, eu acho – ele suspirou fundo e fez a sua maior cara de sofrimento. – Vamos? Quero ir para casa...

O serviço fora relativamente fácil, um dos porteiros nos ajudou a levar as coisas pela escada e algumas outras pelo elevador. Na segunda viagem, Naruto fora apenas com o ajudante enquanto eu arrastava os móveis pelos cômodos, decidindo onde cada um ficaria.

Enquanto trabalhava pude ouvir ao longe, não tinha certeza, mas talvez o som de um piano. Uma música baixa e agradável, que não durou muito, infelizmente. Naruto chegou esbaforido, estava entrando na cozinha com várias sacolas enquanto eu saia do quarto, onde estava levando a cama e o guarda-roupa ainda desmontados.

- Quero ter certeza que serei o primeiro a dar um presente de boas vindas – ele gritou enquanto eu me aproximava desconfiado.

- Tudo isso é cerveja? – ele assentiu.

- Você pode passar fome, mas sede nunca!

- Está tentando me deixar bêbado, seu sem vergonha? Ou tem alguma festa em mente? Porque a quantidade é absurda.

- Ora, meu caro – ele riu, bateu nos meus ombros de leve. – Apartamento de solteiro é assim, nunca, em hipótese alguma, pode faltar cerveja, comida... bom, se tiver congelados é demais. – arqueei uma sobrancelha para ele. – Você viveu com mulheres a vida inteira, eu não, passei toda a minha vida num apartamento sozinho até conhecer sua irmã e me casar com ela. Acredite em mim, neste assunto tenho PHD.

- Não sei como fui me tornar seu amigo... – ele riu de maneira exagerada, limpando lágrimas imaginárias no canto dos olhos.

- Você não saberia viver sem mim – ele piscou. – Vamos, o colchão é muito grande para eu e o rapaz carregarmos escada acima, só falta ele e poderei ir para casa.

Não foi muito fácil trazer um colchão daquele tamanho até o quinto andar pelas escadas, diversas vezes tropeçamos ou paramos para descansar. Quando terminamos, agradeci o rapaz com uma generosa gorjeta e tirei Naruto do apartamento praticamente os chutes, ele não parava de reclamar e isso estava começando a me tirar do sério.

- Tudo bem, nenhum obrigado, nem gorjeta nem nada. Você é um amigo muito ingrato Kakashi, não sei como pode ser irmão da minha Hinatinha! – seus olhos brilhavam quando falava da minha irmã, eu revirei os meus em sinal de cansaço.

- Então vá lá ficar com ela, vou descansar um pouco, pedir o almoço em algum lugar e voltar a trabalhar.

- Já estou indo, calma – ele pareceu refletir um pouco. – Eu ia falar que qualquer coisa era só ligar, mas realmente espero que não o faça.

Ele sorriu e piscou para mim, eu lhe dei um soco no ombro.

- Então desinfeta daqui!

Ele riu e partiu, quase correndo e tropeçando ao passar pelo batente da porta. Aos trinta e três anos, Naruto ainda parecia um adolescente e era quase divertido ser seu amigo se ele não agisse como um completo idiota a maior parte do tempo. Suspirei, peguei o celular e pedi o almoço.

Fui até a geladeira e peguei uma garrafa de cerveja das muitas que tinham ali, abri-a e deitei no colchão que estava jogado no meio da sala. Com tanta movimentação nas ultimas horas não tinha parado para pensar em Sakura que, provavelmente, estava dentro de seu apartamento exatamente ao lado do meu. Talvez lhe fizesse uma visita no fim da tarde, queria muito poder encarar aqueles olhos de novo.

Um barulho alto e irritante me fez abrir os olhos sobressaltado, bater o braço assustado e derrubar a cerveja no chão que, vazia, fez apenas o barulho do tilintar do vidro. Maldição! Quem poderia ser àquela hora?

Levantei de má vontade quando a campainha soou novamente, com meia dúzia de impropérios na ponta da língua. Abri a porta de forma brusca e me deparei com um cara usando um capacete e com um saco na mão, era o entregador, afinal de contas. Devo ter caído no sono e não ter visto o tempo passar.

Paguei-o mau-humorado, joguei a marmita na bancada de granito e fui pegar os talheres que eu sabia que estava em alguma das caixas. Comi sem reparar muito no que era e qual gosto tinha, sempre que tinha que almoçar no escritório era daquele mesmo restaurante que encomendava, então não me dei ao trabalho de ser crítico.

Após comer tomei um bom banho e estava secando os cabelos quando aquele barulho estridente se fez presente novamente, definitivamente, tenho que trocar essa campainha. Vesti uma bermuda rapidamente, joguei a toalha sob o ombros e fui abrir a porta para me deparar com uma imensa torta de chocolate com morango bem na minha frente, e atrás pude identificar uma bela cabeleira rosa.

- Oi! Eu sou sua nova vizinha e vim te dar as boas vindas, qualquer coisa que... – ela parou quando abaixou a torta e pode finalmente me encarar, os olhos claros cintilaram enquanto me olhava de cima a baixo e o rosto adquiria um adorável tom rosado. – O que está fazendo aqui?

As sobrancelhas crisparam e formaram um leve sulco na testa, eu ri da sua cara de espanto, surpresa e um pouco de vergonha pelo modo que acabou me flagrando.

- Oi Sakura, tudo bem com você? – perguntei, divertido.


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Notas finais do capítulo

E cá temos mais um capítulo de Sala Vazia, ficou meio paradão né? Espero que tenham gostado, e antes que perguntem, eu prefiro imaginar a Hinata como irmã do Kakashi e o Naruto com 33 anos, do que a Tsunade e o Jiraya mais novos! rs
O próximo promete! O que esse teve de parado o outro vai ter de animado e... quente. Ui ui ui³!

Beijinhos e muitos abraços,
Jade Amorim.