Sala Vazia escrita por Jade Amorim


Capítulo 3
Primeiro Contato




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Sala Vazia

 

Capítulo 2.

 

Conversar com ela não era difícil, descobri que não precisava de muitas palavras para o diálogo se arrastar por pelo menos meia hora. Assunto também não faltava, começamos com Shakespeare, já que era a única coisa que eu tinha certeza de que ambos gostavam. Logo, enquanto saboreávamos a sobremesa estávamos falando sobre política!

 

Céus, eu estava em um restaurante italiano de primeira categoria com uma garota pelo menos oito anos mais nova que eu discutindo sobre política. Aliás, nem discutindo estávamos, não estava a par da situação tanto quanto ela. Ela me informava, isso sim.

 

— Falei alguma coisa engraçada? – ela interrompeu o assunto abruptamente, com o rosto levemente fincado de preocupação.

 

— Não, que isso! Apenas a situação que é engraçada. – continuei com o discreto sorriso sob os lábios.

 

— Situação engraçada? O que quer dizer com isso?

 

— Oras, estamos num restaurante italiano magnífico e falando de política, ou melhor, você me coloca a par da mesma.

 

Ela riu um pouco, incomodada.

 

— Se quiser posso direcionar o assunto para o horário na minha manicure e de como o shopping fica lotado de gente aos sábados e eu mal consigo fazer compras. Posso falar de moda também, como as outras garotas.

 

— Não! – Ela se sobressaltou e eu sorri, tentando lhe deixar despreocupada. – Não se ofenda, por favor. Não falei por mal, só é... engraçado. – Instintivamente afaguei-lhe a mão sobre a mesa. – Há uma semana estava trancado em casa sem saber o que era contato com o mundo exterior. As mudanças foram radicais, de uma maneira boa, acredite.

 

Sakura olhou para minha mão sobre a dela, mas não fez menção de tirá-la, manteve-se impassiva enquanto se projetava mais para frente, inclinando o corpo em cima da mesa, sem de fato encostar nela, ficando com seu rosto a menos de 30 centímetros do meu.

 

— Quem é você Hatake Kakashi? – indagou, de supetão.

 

Não podia deixar barato, tudo bem, confesso que não sabia ser capaz de expor meu passado assim, tão de repente e para uma garota que eu mal conhecia, mesmo estando perdidamente encantado. Inclinei-me sobre ela, ficando tão próximo que podia sentir sua respiração e o cheiro adocicado de seu perfume.

 

— Quem é você Haruno Sakura? – Ela sorriu, sacana.

 

— Nem sob tortura. – Seu sorriso aumentou e seus olhos cintilaram, ela se afastou sentando-se preguiçosamente na cadeira em frente a minha, pegando mais uma generosa colherada da sobremesa.

 

— Então não vejo porque também fazê-lo – Sorri novamente, era impressionante como não conseguia mais controlar os músculos da minha boca, como sorrir parecia algo natural como se nunca tivesse parado de fazê-lo. Acenei para o garçom pedindo-lhe a conta. – Ao menos, quantos anos tem?

 

— Fiz vinte e cinco recentemente, e você? – pousou a colher no prato enquanto um garçom retirava os pratos.

 

— Um pouco mais velho – ela arqueou uma sobrancelha esperando a revelação. – Tenho trinta e três.

 

— Idade de Cristo, dizem que costuma ser um ano de mudanças. Ainda não vivi o meu para poder dizer exatamente.

 

— Posso lhe assegurar que muitas coisas mudaram para mim neste ano.

 

Ela abriu a boca para começar a falar, mas neste momento o garçom chegou com a conta. Não se pronunciou enquanto eu pagava, pegou sua bolsa, pôs nos ombros e me esperou.

 

O caminho era longo até a casa dela e tive de insistir para que ela aceitasse a minha carona. Não a deixaria à mercê da condução. O percurso foi estranhamente silencioso, muitas vezes a vi abrir a boca, mas fechava logo em seguida, estava temerosa.

 

— Não sou nenhum lunático, psicopata ou pervertido se é disso que está com medo. – falei, quando paramos num semáforo.

 

— Não é isso, lunáticos não me levariam a um restaurante chique ou teria tanto conhecimento como você tem só para me matar depois – ela sorriu, envergonhada. – É só que toda vez que engatamos uma conversa acabamos nos direcionando para o seu passado e você se esquiva dele como se tivesse medo. Não sei exatamente o que posso ou não falar.

 

Suspirei e apertei o volante até ver os nós de meus dedos ficarem brancos, é claro que ela também viu.

 

— Não são histórias muito agradáveis – sussurrei e respirei fundo. – Não sou do tipo de pessoa que costuma se abrir.

 

— É, dá para notar isso, mas as histórias nunca são agradáveis, se fossem, não seriamos tão reclusos. – ela sorriu discretamente enquanto me olhava de esgueira.

 

— O que é você, afinal? Uma psicóloga? – fiz o comentário de forma brincalhona enquanto virava uma esquina que ela falou enquanto me dava as instruções.

 

— Na verdade... – ela abriu um sorriso lindo. – Sou sim.

 

— Uow, sério? Acho que vou mudar de ramo e abrir uma daquelas clínicas de adivinha.

 

Ela deu uma gargalhada gostosa e entrou na brincadeira.

 

— Daquelas que tem um cartaz escrito “Se ele te trai, você ficará sabendo” ou então “Saiba coisas sobre você mesma que nem você sabia!”?!

 

— Tá ai, me deu boas ideias! – mandei-lhe uma piscadela.

 

— Não seja ridículo – ela riu. – Aliás, qual o seu “ramo”?

 

— Sou empresário, dono de uma empresa de acessórios automobilísticos.

Ela fez uma cara de surpresa.

 

— Isso explica o Aston Martin. - Ela parecia estar falando mais para si do que para qualquer outro.

 

— Sou apaixonado por carros, principalmente por esse, sonho com ele desde a minha adolescência e faz pouco que consegui adquiri-lo – ela torceu o nariz. – Pode até parecer um luxo, mas dê que adianta trabalhar feito um condenado e não poder usufruir de suas vantagens?

 

— De fato – ela abriu um sorriso tímido. – Aposto que mora numa daquelas mansões incríveis.

 

— Oh não, no momento, estou sem teto!

 

Uma de suas sobrancelhas ergueu de maneira interrogativa, com certeza ela não esperava que eu dissesse algo assim. Ela parecia acanhada, mas estava disfarçando bem, resolvi não levantar a questão.

 

— Vendi minha casa semana passada, ela trazia muitas recordações. Estou procurando um apartamento, mas ainda não encontrei nada que me agradasse. – a vi abrir a boca para falar algo, mas senti que precisava mudar de assunto urgentemente. – Me diga, porque escolheu ser psicóloga?

 

— Bom... – ela piscou várias vezes, não esperava essa mudança súbita de assunto. – Sempre tive a ideia de que ajudando as pessoas com seus problemas poderia me ajudar com os meus.

 

— E conseguiu?

 

— Não é assim que a banda toca – ela sorriu, desanimada. – É aqui.

 

Ela apontou para um prédio imenso que tinha bem na esquina. Não era nada muito luxuoso, mas era um lugar extremamente bonito, com jardins bem cuidados e limpos. Era, de fato, um lugar em que eu me imaginava morando. Sorri com a possibilidade, depois que ela se fosse iria ver se tinha algum apartamento para alugar ou vender.

 

— Bom, muito obrigada pela carona, pelo almoço e pela companhia, foi, de fato, muito agradável.

 

Sakura sorriu, mordendo levemente o lábio inferior e abaixando os olhos, estava sem graça, era tão óbvio quanto dizer que dois mais dois dá quatro. Sorri descaradamente e lhe dei um beijo estalado na bochecha. Ela corou violentamente e apertou mais forte o livro sob o peito, tive que reprimir uma gargalhada. Céus! Ela realmente parecia uma adolescente, e daquelas bem ingênuas.

 

— Tchau, Sakura – a olhei nos olhos, quase me perdendo naquele mar de esmeralda. – Até breve.

 

Ela soltou o cinto de segurança e desceu do carro lentamente, se apoiando na porta. Problemas de equilíbrio? Até duas horas atrás não havia visto tontura alguma.

 

— Está tudo bem ai? – perguntei, arqueando uma sobrancelha.

 

— Oh... estou, não é nada – ela corou novamente, desviando o olhar. – Até mais Kakashi.

 

— Até... Eu te ligo. – Mandei-lhe uma piscadela e arranquei com o carro. Já estava quase na outra esquina quando a escutei gritar:

 

— Mas eu nem te dei meu telefone!

 

Soltei uma gargalhada gostosa enquanto ligava o sinal e virava uma esquina. Aos poucos, conforme ia me afastando, o sorriso ia sumindo. Mas que merda que eu estou fazendo?

 

 

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam do novo capítulo? Meus capítulos são curtinhos sim, mas pelo menos é certeza de que toda semana terá um aqui!
Agradeço as reviews, estou adorando o nyah! Mandem mais!

Beijinhos e abraços,
Jade.