From Me To You escrita por Estel


Capítulo 5
Capítulo 5 – Whisky.




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- Syaoran? – ela estava totalmente estupefata. Tanto que demorou um minuto inteiro para perceber qual foi o destino do final de seu café – Ai, me desculpaaa! Droga, sujei a sua roupa toda! E agora, o que eu faço?! 

                Não consegui evitar deixar escapar um sorriso. Atrapalhada como sempre.

                - Já disse, não tem problema – ela me olhou de esguelha, como se não acreditasse muito no que ouvia. Acho que ela não acreditava que tinha justamente trombado em mim, de todas as pessoas do lugar.

                - Tem certeza? – que coisa, não entendia toda aquela suspeita sobre mim.

                - Toda – e tinha mesmo. Não consegui deixar de sorrir ainda mais.

                - Que foi? – hum, modo defensivo detectado?

                - Você – respondi simplesmente.

                - Eu, o que?

                - Está falando comigo.

                Foi realmente interessante vê-la ficar sem resposta e depois bem vermelha. Porém ela logo fez menção de ir embora, mas a impedi puxando seu braço.

                - O que você quer, Syaoran? – perguntou com raiva quando a girei em minha direção. Estava totalmente aflita. Me perguntei desde quando parecia tão repulsivo para ela.

                - Nada – o que mais poderia responder?

                - Então me deixe em paz! – ela se livrou da minha mão e foi embora, sumindo na multidão.

                O que mais eu poderia querer? Estava claramente brincando com os limites. E sem a menor possibilidade de ganhar algo com isso. Estava decepcionado, é claro, mas pelo menos tinha aprendido a minha lição: só mexa com o passado se estiver disposto a sair ferido. Acho que ninguém quer isso, né? Bem, os masoquistas devem querer, mas não me vem nenhum à cabeça agora.

                Além disso, vi o que queria. Sakura estava bem, até demais. Ter me afastado de sua vida de fato não pareceu causar dano algum. Claramente só fui mais um de várias pessoas passageiras de sua vida, assim como a minha própria tem várias. Pessoas que vêm e vão, mas não são de fato especiais. Elas só estão ali, como meros figurantes no teatro da vida.

                Mas por que isso me incomodava tanto? Por que ser figurante na vida dela era tão sufocante?

                Não tinha mais nada a fazer ali. Além disso, estava completamente sujo de café. Wei vai mal-dizer esse feriado pro resto da vida, com certeza.

                Só posso dizer que eu também.

                Após o desastre do festival, Wei me obrigou a voltar para Tóquio. Bem, em parte, já que eu também não estava nem um pouco disposto a continuar lá. Também tinha muita coisa a fazer, a Operação Sakura simplesmente me desorganizou por completo. Olá, horas extras!

                Yamamoto-san não pareceu muito satisfeita com o meu estado quando apareci na segunda. Disse que essa rotina de trabalho-farra ia acabar com a minha saúde, e que estava com três rugas a mais no rosto. “Farra”! HAHA.

                De fato me sentia exausto. Parecia que todas as minhas forças haviam sido carregadas para longe, e que quem estava trabalhando era meu correspondente zumbi que veio do além. Nada bom. Eu precisava me focar de novo no trabalho, havia me esforçado demais para me atrapalhar com uma coisinha à toa do passado. Mas antes, precisava desestressar.

                Avisei a Wei que não me esperasse aquela noite, eu iria para um bar próximo beber. Mesmo sob efeito de uma moleza anormal, consegui terminar o que tinha que fazer até o final do expediente, e segui rumo ao Black Soul, um bar meio escondido que era perto da empresa. Eu gostava bastante do lugar. Lembrava-me os pubs londrinos, com muita cerveja e rock ao fundo, até mesmo aquela massa cinzenta que paira no ar. Afinal, todo lugar com ar alternativo de alguma forma atrai fumantes.

                - E aí, Li, o que manda hoje? – com o tempo acabei ficando meio amigo do barman do lugar, Takumi Harada. Na verdade ele era o irmão mais novo do dono do bar, e estava se preparando para se tornar sócio. Era totalmente do tipo bobo-alegre, mas com certeza era uma pessoa agradável.

                - Whisky 18 anos – respondi, soando mais derrotado do que estava de fato.

                - Mau dia, eh. Pode deixar, vou trazer um dos bons – e deu um daqueles sinais incompreensíveis de cumplicidade, a piscadela. Era realmente muito engraçada a forma como ele agia.

                Enquanto esperava o meu precioso whisky curtia um pouco da minha total falta de perspectiva de vida. Era um momento raro, por isso deveria aproveitá-lo ao máximo e da melhor maneira possível: regado a álcool. Uma ressaca sensacional totalmente colocaria a minha cabeça no lugar.

                - Aqui o whisky, Li. Com pouco gelo, do jeito que você gosta – no momento, juro que me senti agradecido do fundo do coração ao Harada e sua atenção. Na verdade, foi mais pela bebida, mas isso não é tão poético – Aqui, se liga na gata à minha esquerda – ele sussurrou, e olhei. Nada mal, cabelo comprido e peitos grandes. Desviou lentamente o olhar quando percebeu que eu estava olhando – Tá de olho em você – e mais uma das incompreensíveis piscadelas.

                - Tem certeza?

                - Claro! Tá te olhando desde que você entrou! Por acaso já te meti em roubada – é, realmente não.

                Olhei para o fundo do copo. Se era para animar, que eu fizesse o serviço completo. Suspirei e virei o copo. A dose de coragem já estava garantida. Levantei-me e fui até ela.

                Como havia previsto, a ressaca foi sensacional. Minha cabeça latejava e mal conseguia enxergar. Com o tempo, consegui definir as formas à minha frente. Uh. Do lado da cama estavam duas garrafas de champagne vazias. Olhei para a janela. A luz do sol fazia doer a minha vista. Que cortinas eram aquelas?

                Juntei minha coragem (e o resto de dignidade) e olhei para o outro lado da cama. Argh. Não conseguia lembrar quem era. Mesmo assim, tinha belas curvas. De fato o Harada nunca me metia em roubada. Mas mais importante que isso, eu tinha que descobrir onde estava e que horas eram, não podia me atrasar para o trabalho.

                Para saber as horas era só achar o meu celular, que estava na minha calça se não estava enganado. O problema era achar a calça no meio da bagunça. Argh. Não queria nem lembrar. Para saber o lugar era só chamar o serviço de quarto, mas isso levava a outro problema: a conta. E eu tinha bastante certeza que aquelas duas champagnes não eram das mais baratas. Não queria nem pensar no quarto inteiro.

                Graças a Deus horas extras são bem pagas.

                Encontrei as calças atrás de uma poltrona. Como elas foram parar lá era outro mistério que eu completamente não queria desvendar. O destino dessa vez resolveu ser bonzinho comigo e deixou o meu celular no bolso, então não foi problema saber se estava atrasado ou não. Não estava, ainda bem.

                Decidi ir direto para a recepção e pagar a conta, não queria acordar de qualquer forma quem é que estava naquele quarto com uma conversa pelo telefone, já bastava de situações complicadas. Afinal, eu nem conseguia lembrar o nome dela, não ia ser nem um pouco legal bater um papo cabeça com uma (meio) desconhecida às oito e vinte da manhã.

                Saí do hotel como se tivesse deixado metade do meu peso lá. Não metade do meu corpo, mas com certeza do meu bolso, e isso me dava uma dor bem no fundo do meu peito, para acrescentar à de cabeça.

                De alguma forma consegui chegar a tempo pro trabalho. Depois de uma xícara de café extra-forte me senti de fato renovado, e pude finalmente trabalhar sossegado. Era sempre assim.


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Notas finais do capítulo

E eu continuo desvirtuando o Syaoran D:
Não me matem!!!
Mas fazer o que, adoro personagens desvirtuados, então podem esperar por um Syaoran cada vez mais humano (:

Queria agradecer do fundo do coração a todo mundo que acompanha a história, vocês são muito fofos :3

A campanha MNRSL continua de pé!