From Me To You escrita por Estel


Capítulo 10
Capítulo 10 - Chamadas.


Notas iniciais do capítulo

E-eu consegui responder todos os reviews? É isso mesmo?
Meldels, consigo até ouvir o corinho de anjos cantandando Aleluia :B

Enfim, demorou mas saiu :D
Aproveitem (;



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Voltei a ser o best friend forever da Sakura. Êêê.

                Eu deveria estar feliz, certo? Deveria estar pulando de alegria.

                Não, eu estava puto da vida.

                Eu esperei com todo o meu coração que aquela história de “manter contato” e trocar números fosse mera formalidade, que depois ela não fosse nunca mais olhar na minha cara. Afinal, quantas vezes se encontra um conhecido, fala para manter contato e fica naquilo mesmo? Ninguém liga para manter contato com alguém que se encontra ao acaso!

                Mas não, Sakura falou sério daquela vez. Me ligou algum tempo depois para saber da vida e me convidar para sair e conversar. Disse que ia chamar a Daidouji também, para relembrar os velhos tempos. Eu tentei dar uma desculpa para não ir, falei que tinha um compromisso, mas não dá pra competir com a voz manhosa dela. Acabei cedendo. Mas para um covarde como eu, isso já era de se esperar.

                Minha semana foi péssima. Nunca tive um mau-humor tão sublime. Admito: me tornei o ser mais escroto da face da terra, até mesmo estava sentindo prazer em foder com a vida dos outros. Desnecessário falar que também me tornei o ser mais odiado da empresa, perdendo apenas pro engomadinho do Watanabe do quinto andar. Aquele lá tem passagem direta só de ida pro inferno, se depender de quem o conhece.

                Claro que Yamamoto-san percebeu que alguma coisa tinha dado muito errado. Mas nem ela escapou da minha patética ira e acabei dando um fora nela. Me desculpei depois, obviamente, afinal, como eu viveria se não a tivesse para organizar a minha vida?

                Mas não estava irritado com Sakura. Estava irritado era com o fato de ter que ouvir a felicidade dela, da qual eu não era o responsável, e ter que fingir que estava feliz. Não que o rosto de felicidade dela não me deixasse satisfeito, mas eu nunca compartilharia dela. Eu era só o amigo.

                E amizade não iria me satisfazer. Não mesmo.

                O maldito sábado chegou mais rápido do que eu gostaria, então vesti o meu melhor sorriso e fui pro maldito bar que era o local de encontro. Mentalizei todas as regras que me impus antes de entrar: não beber demais para não falar besteira; sorrir o máximo possível; não deixar Sakura beber demais pra não ouvir detalhes indesejáveis sobre o namorado, ficante, ou seja lá o que for dela; não falar sobre meus casos passados, eu sabia muito bem o que aquelas duas pensavam de mim pra ter que aturar as duas tagarelando no meu ouvido. Se eu seguisse todas essas normas, tudo daria certo e eu chegaria em casa ileso, do jeito que Wei gosta.

                Também sabia que o meu inimigo nº 1, o Destino, não ia colaborar, e que o meu plano de bom comportamento não iria dar certo. Então preparei secretamente um plano B, escondendo-o até mesmo da minha consciência, assim nem eu mesmo poderia sabotá-lo, já que é uma coisa que eu costumo fazer bastante.

                O lugar ficava num bairro residencial meio afastado do grande centro, mas dava pra ver que era um lugar para poucos. As casas eram grandes, a maioria parecia uma cópia daquelas casas de subúrbio dos Estados Unidos: garagem para dois carros, jardim com grama verde e eventualmente uma bicicleta jogada em cima de uma das plantas, para o desespero da mãe dona-de-casa. O ar quente daquele verão preenchia todo o meu pulmão enquanto eu rumava para o pequeno bar familiar da única rua com comércio do bairro.

                Eu estava desesperado.

                Respirei fundo, tentando tirar alguma coragem daquele ar seco, e entrei. Logo pude ouvir umas risadas femininas vindas de algum canto misturadas ao som ambiente, alguma cantora de música enka, se não me engano. Elas já tinham chegado.

                Virei a cabeça para procurá-las. Sakura, quando me viu, logo se levantou e começou a agitar os braços, me chamando. O rosto dela parecia muito feliz, rindo abertamente. Céus, ela parecia a mesma de anos atrás.

                Segui até a mesa onde elas estavam. Logo percebi que as duas já estavam um pouco vermelhas, então vi que já tinham esvaziado uma garrafa de sake. Ninguém merece. Rezei internamente com todas as minhas forças para que a divina providência me livrasse da tarefa de babá de duas bêbadas. Era tortura demais pra uma pessoa só, sério.

                - Pelo visto, vocês estão animadas hoje... - definitivamente não gostei das risadinhas que elas soltaram, então deixei logo tudo bem claro – Nem vem que hoje eu NÃO cuido de alcoólatras.

                Elas caíram na gargalhada. Legal, além de babá eu também era o palhaço.

                - Syaoran, deixa de ser tão rabugento! Toma, bebe um pouquinho também – e Sakura enfiou um copo na minha mão. Será que o Touya tinha noção de que sua irmãzinha não tinha nada de “inha” quando fora de sua vista? Quer dizer, eu mesmo estava um pouco chocado, imagina como não ficaria aquele irmão super-protetor quando soubesse da vida que ela levava sozinha em Tóquio.

                Como não era de meu feitio recusar uma bebida, bebi resignadamente o sake, sentindo a minha garganta queimar. Aquela era das boas. Era bom eu ficar alerta pra não ter que sair de lá carregado ou fazer alguma besteira colossal.

                Logo a garrafa se transformou em duas, e em seguida quatro. Era o milagre da multiplicação bem diante desses olhos que a terra um dia há de comer. Sakura já se sentava que nem um homem, sem modos algum, (in)felizmente ela estava de calça jeans. A Daidouji, que parecia uma lady quando eu cheguei, com seu cabelo milimetricamente preso, estava com metade dele jogado nos ombros e falava já um pouco enrolado, o suficiente para arrancar gargalhadas de Sakura, que estava pra lá de Bagdá. Já eu fui um bom menino e me mantive relativamente sóbrio, seguindo com o meu plano inicial. O que basicamente significa que eu fui o responsável por embebedar as duas, pois enquanto elas viravam o copo com vontade eu fingia acompanhar. A planta que estava do meu lado, coitada, é que precisava de um amparo.

                Sakura estava tão animada que falou da sua vida inteira, aí então consegui entender porque diabos ela foi se meter numa revista de música. Aparentemente, enquanto ela se esquivava de um namorado músico do colegial de que não gostava, ficava folheando as revistas de música dele para ver se esfriava os, digamos, ânimos do coitado (ela devia ser uma péssima namorada). Acabou que se interessou de verdade por música e pelo meio artístico e foi parar no curso de jornalismo da Universidade H. Falou de seus três namorados (incluindo o atual) e de como a maioria dos homens não passava de idiotas que queriam sexo. Fiquei chocado com a naturalidade com que ela afirmou isso e com a seguinte virada energética de copo. Eu não sabia se ria ou se ficava horrorizado.

                A verdade é que eu deveria manter certa distância de pessoas tão expansivas, mas eu estava adorando. Ela não parecia nem de longe meiga e delicada, mas estava adorável como sempre. Ela ficava cada vez mais humana e real, muito melhor que aquelas lembranças distorcidas do passado. Porque, como eu finalmente me lembrei, o Syaoran do passado também achava a Sakura do passado toda errada e graciosa.

                A gente fica velho e começa a ficar cada vez mais burro e esclerosado.

                Mas quem me surpreendeu mesmo foi a Daidouji. Apesar de estar quase fechando os olhos, ela conseguiu manter a compostura. Mesmo mais falante e engraçada, teve o cuidado de não deixar escapar nada de sua vida, ou qualquer coisa que fosse indesejável para ela. Eu nunca vi alguém com tanto autocontrole, sério. E toda vez que a Sakura abria a boca para falar de algum ex-namorado ou algo do tipo, ela olhava discretamente para mim para ver a minha reação e conseguia contornar o assunto. Fiquei eternamente agradecido a ela, mas não pude deixar de me perguntar se ela não relaxava nunca.

                Quando ela arrumar um namorado vai relaxar, pode apostar.

                Tudo estava indo tranquilamente, até que perto de dar meia-noite a Daidouji teve que ir embora, aparentemente ela tinha algum compromisso pela manhã. Ela se foi com um pedido de desculpas nos olhos, o que fez eu me sentir um pouco culpado. Ela realmente se importava com o que acontecia, e tudo o que podia fazer era torcer em silêncio, porque, afinal, Sakura estava feliz, e isso era o que importava tanto para ela quanto para mim.

                Mas ficar sozinho com Sakura me deixava extremamente nervoso. Principalmente com ela bêbada do jeito que estava. Estava completamente fora dos meus planos, eu só fui até lá porque contava com a presença da Daidouji para evitar qualquer besteira. Eu não conseguia prever nenhuma atitude dela. Nem a face despreocupada dela me fazia relaxar.

                Surpreendentemente, até ela conseguiu perceber a minha tensão. Deixou o copo de lado e se esforçou para olhar firme nos meus olhos, mesmo que os seus estivessem completamente turvos. Aposto que ela não era capaz de distinguir um rato de um sapato.

                - S-sabe, Xiao Lang – fiz uma careta quando ela falou o meu nome chinês – você num tá bem – constatou, fazendo uma cara bem séria.

                - É muito bom ouvir isso vindo de você – fala sério, ela é que tava quase caindo.

                - É s-sério. Tem uma ruga beeem aqui – e esticou o braço, apertando com o dedo o espaço entre as minhas sobrancelhas – Você ta pere, ops, preocupado cum alguma coisa. Quando cê ta pereocupado fica cum uma ruga na texta.

                Eu sei, é ridículo, mas não consegui deixar de ficar vermelho quando ela apertou a minha testa (na verdade, ela me arranhou, com aquelas unhas e a falta de coordenação). Mas era a primeira vez em anos que ela chagava perto de mim assim e ela se lembrou de um detalhe como esse, mesmo bêbada. Mesmo assim, tentei não deixar transparecer nenhuma expressão boba que refletisse o meu interior, não queria ficar parecendo uma menininha apaixonada do ensino médio.

                - Muito bem, Sakura – gentilmente eu segurei o seu pulso e tirei o seu dedo da minha testa (a essa altura, ela já tinha cravado a unha nela e estava machucando) – passou no teste de percepção. Vai ganhar uma bala de prêmio.

                Observei o rosto bobo dela. Não pude deixar de sorrir. Lá estava ela fazendo bico, contrariada com a minha atitude. Ela sempre fazia bico quando eu brincava com o que ela fazia ou dizia. Por que parecia que o tempo não tinha passado?

                - E então? – ela perguntou, ainda com o bico.

                - E então o que?

                - O que tá te pereocupandu? – desfez o bico, ensaiando uma cara séria outra vez.

                Fiquei sem graça. O que eu responderia? Que ela me deixava nervoso quando estava sozinho com ela? Tá legal, campeão.

                - Chega de álcool, Sakura – e tirei o copo do alcance dela - Como você pretende voltar pra casa? – bem, isso também estava me preocupando.

                - Voltar pra casa? Max tá cedo, Xiao Lang – é, realmente seria uma noite beeem longa. Soltei um longo suspiro. Não sabia de onde tirar forças para lidar com aquela situação. Ao mesmo tempo em que gostava de tê-la só para mim naquele momento, eu sabia que teria que ser cuidadoso para não magoá-la. Mesmo completamente bêbada ela era extremamente atraente aos meus olhos, principalmente quando os seus olhos verdes brilhavam enquanto ela sorria.

                - Eu ovi que cê ficô um tempo em Londres...

                - É, quase um ano.

                - Tamém ovi que cê virô um galinha – disse, despreocupadamente, olhando para o lado.

                Bem, eu acho que posso dizer que pressenti esse assunto chegando. Não gostei nada disso. Não queria dar satisfações para uma bêbada.

                - Não é bem assim. As pessoas exageram – tentei contornar o assunto.

                - Eu sei. Max cê num pode negar que teve maix namoradas que dedos na mão – droga, fiquei sem argumentos. Ela ergueu o olhar para mim e continuou – Cê deve ter se sentido muito sozinho, né? Desculpa.

                Pude sentir meu rosto ficar vermelho de novo. Lá estava ela, olhando para mim seriamente, como se estivesse lendo a minha alma. Isso não é legal, devo dizer. Desviei o olhar.

                - Você não tem que se desculpar. Não é importante.

                - É sim. É muito ruim procurar alguma coisa em outrax pessoas e num achar. E não consigo deixar di pensar que num seja culpa minha.

                - Não é culpa sua.

                Ficamos em um silêncio. Não havia o que ser dito. Na verdade, eu estava bem perturbado. Eu não conseguia entender como ela, bêbada daquele jeito, conseguia ver através de mim. Justo eu, que tinha tomado o maior cuidado do mundo para não falar nada de mais.

                - Xiao Lang, quandu você foi pra Londres o Wei foi tamém? – Sakura finalmente mudou de assunto, pelo que fiquei eternamente agradecido.

                - Haha, claro! É deprimente, mas não sobrevivo um dia sequer sem ele... – constatei rindo, arrancando algumas risadas dela.

                Continuamos numa de nossas antigas conversas fáceis, em que eu falei tudo sobre a Yamamoto-san (menos sobre os conselhos sentimentais, claro) e de minha inegável dependência da agenda meticulosamente arrumada dela e de seu café milagroso, de como o trabalho em escritório é um saco, mas às vezes pode ser realmente impressionante (como no dia em que a Asano-san armou o maior barraco porque descobriu que o casinho dela da empresa, o Kouda-san, estava com outra e ia se casar. Só faltou a pipoca pra arrematar).  Sakura, por sua vez, falou de seu editor lunático de cabelo azul que era apaixonado por uma personagem de um jogo musical, de como aprendeu a lidar com o sexo masculino trabalhando quase que exclusivamente com homens loucos por rock, de que aprendeu que aparência não significa absolutamente nada, pois as pessoas mais gentis que ela conheceu no meio artístico eram justamente aquelas que os pais de qualquer um diriam para se manter afastado. Claro, tudo isso falando o  dialeto comum a todos os bêbados de plantão, então em certos momentos a comunicação se tornou realmente difícil.

                Acontece que uma coisa normal de acontecer com os bêbados é que depois da euforia vem o sono. Sono, quando eu digo, é praticamente um coma induzido. Pois é, em certo ponto da conversa, em que eu falava feliz da vida da minha coleção de bonequinhos de Star Wars (é uma antiga paixão minha, Sakura costumava implicar com isso no passado, mas eu não tava nem aí) e do meu recente boneco do Chewbacca que falava (“Aããhããgrrhaãã”), mas adivinha só? Sakura literalmente desmaiou de sono enquanto eu falava do Chewie. Só não bateu a cabeça na mesa porque eu consegui segurá-la antes.

                Que beleza, acabou que eu virei mesmo babá de uma bêbada. E o pior: eu não tinha a menor idéia de onde ela morava para levá-la pra casa. “Isso não está acontecendo”, era o que eu mentalizava, porque só me restava levá-la para a minha casa, não dava pra deixá-la ali. Quer dizer, é fim-de-festa demais acordar na sarjeta. Já aconteceu isso comigo, e vou dizer, não é legal acordar todo sujo, sem saber onde está e com o maldito sol queimando a sua vista.

                Paguei a conta (taquepariu, as duas vão perder o fígado se continuarem nesse ritmo), chamei um táxi, coloquei Sakura no banco de trás e pedi para que o motorista me levasse até em casa. Foi particularmente engraçado o jeito que ele olhou o cadáver que eu depositei no banco de trás do seu amado carro, deve ter achado que eu era um molestador, HAHA.

                A sorte é que duas horas da manhã é um horário muito avançado para um senhor de idade como Wei, que já estava batendo um papo legal com o velho Morfeu já há algum tempo. Mesmo assim, entrei pé ante pé carregando o corpo, tentando fazer o mínimo de barulho o possível, mas tava difícil porque Sakura não estava colaborando, acho que ficou mais pesada de propósito só pra atrapalhar.

                Coloquei-a cuidadosamente na minha cama, e a vi se aninhar feito um gatinho nas minhas cobertas. Suspirei, aquilo era realmente difícil de lidar. Ela não poderia mesmo ficar lá, eu não tinha condições de cuidar dela. Procurei o celular dela e fiz a coisa mais improvável de todas.

                Liguei para o meu atual Inimigo Número Um.

                E não, não era o Destino.


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Notas finais do capítulo

Nossa, ficou enorme esse capítulo ._.
Também acho que ficou confuso. Sem contar que fiz a pior Sakura bêbada de todos os tempos >.>
Pelo menos todos agora sabem da paixão secreta do Syao por Star Wars!!! O Syaoran é nerd!!!! HAHHAAHAHHAHAHAHAHAHAHAHA

Ah, é. Eu tenho completa consciência de que a sinopse da fanfic está uma bela bostinha, mas enquanto não me vem nada melhor, vai continuar assim. Ou não :D

Entããão... Reviews?