Puxar o Seu Trenó escrita por 01


Capítulo 2
Frio e Calor




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É fácil ser seduzido por você. Qualquer um, por mais sensato que seja, poderia enlouquecer de paixão com apenas duas ou três conversas. Talvez por causa do mistério que te envolve, talvez pelo seu jeito mau com um toque de doçura... Eu realmente não sei. Mas você consegue seduzir qualquer um. Você poderia seduzir um monge, fazer qualquer um ignorar qualquer tipo de regra ou religião.

E ao mesmo tempo todos se sentem mal por causa de você. Todos os que se apaixonam por você se sentem mal. Ainda que por dez segundos apenas.

Porque, como eu disse antes, para cada caco colado, você deixa um arranhão. Você é extremamente contraditória e bipolar.

Enquanto eu puxava o seu trenó pelo deserto gelado, ao menos cinquenta vezes pensei em desistir. Ao menos cinquenta vezes, disse a mim mesmo: "Basta. Não quero mais essa dor". Mas todas as vezes que eu parei de puxar o seu trenó e me afastei cinco metros, voltei correndo e pedi desculpas, como um idiota obsecado.

Era isso, exatamente isso, que me descrevia perfeitamente: Um idiota obsecado.

E você me chamava de bipolar. Era como se eu tivesse duas personalidades. Te odiava pelo que me fazia sentir por dez segundos, e nos segundos seguintes, te amava e adorava incontrolavelmente.

Mas a verdadeira bipolariade estava em você. Só em você. Porque você por momentos me fazia acreditar que me amava também e que estava me guiando para fora daquele deserto gelado. Me fazia acreditar que chegaríamos numa casa aconchegante e dormiríamos juntos, e que o frio se dissiparia completamente, para toda a eternidade. E depois destruía tudo com palavras frias. Indiretamente deixava claro que o que eu sentia não era, de modo algum, recíproco. Dizia palavras duras, mas continuava me iludindo. Até quando me machucava, me fazia acreditar que tudo melhoraria.

E eu continuava a querer te consertar.

"Ela sofreu demais.", eu pensava, baseado no pouco que me contou sobre você. E eu acreditava, dia após dia, que eu poderia te ajudar a afastar todo aquele sofrimento. Eu acreditava dia após dia que eu poderia te puxar até uma casa segura e quente, e que jamais sentiríamos frio de novo.

Doía tanto... Meus pés, pernas, braços, cabeça... E até meu coração. Eu confiei tudo à você. "Ela vai me guiar. Eu não vou deixá-la, nunca. Nós vamos ficar juntos. O frio vai passar.". Mentira. Mentira! Você não foi sincera nem sequer por um segundo! O frio jamais passou... Meu pés, pernas, braços, cabeça e coração apenas doíam mais e mais, e eu persistia! Ah, Deus! Eu persistia por uma ilusão, uma obsessão ridícula por alguém que só me machucava.

Você era o frio. O deserto já era gelado por sí, mas você era três vezes mais fria que o deserto. Você era... Você é o frio.

E você é o calor. O que me mantinha caminhando, o que me dava forças. "Meu coração bate de novo, o ar entra e sai dos meus pulmões...". Fato. Você me ressucitou. Mas temo que só tenha feito isso pelo prazer de, lentamente, me matar mais uma vez.

Frio e calor... "Prefiro sofrer à não sentir...", sempre repeti à mim mesmo. E por vezes desisti dessa idéia, me contrariei... Você dói demais.


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