P.O.V Mel

Acordei ainda era bem cedo, estava um pouco escuro. Me levantei e estiquei meus braços o máximo que eu pude. Fui até a janela apreciar o sol que se levantava preguiçoso. Estava lindo. Um laranja destacando-se no azul opaco do céu das 5 da manhã. Eu sorri. Hoje era o grande dia então? “Sim, finalmente.” Pensei. Finalmente eu irei para o Fresh Air. Iria conhecer novas pessoas. Tomara que corra tudo bem.

Fui ao banheiro tomar um banho e me preparar para a longa viagem que eu teria hoje. Depois de um banho quente e calmante (não que eu precisasse disso) eu me arrumei e fui verificar se minhas coisas estavam todas em ordem. Quando terminei de guardar os últimos detalhes a porta se abriu e me revelou uma mãe muito sorridente.

- Bom dia minha flor. Pronta?

- Sempre! – Eu sorri. Mas espera. Eu estava esquecendo uma coisa. O que era? Fiquei confusa e olhei ao redor do quarto tentando me lembrar.

- O que foi Mel?

- Ah, sinto que estou esquecendo algo.

- Não serão seus fiéis escudeiros? – Eu ri. Sim, realmente eram eles. Como pude esquecê-los?

- Claro! Como pude?! – Ela riu também. Eu fui até a mesinha do computador, abri a gaveta e lá estavam. Um caderno meio abatido com a capa rosa e roxo e desenhos que até hoje não entendia e uma fina bolsa de lápis, onde se encontravam apenas uma caneta, uma borracha e um lápis grafite. Minhas paixões. Não podia deixá-los. Peguei-os e guardei na minha bolsa de necessidades. Nela eu guardo tudo que uma garota pode precisar, desde materiais de higiene pessoal, até acessórios. Bem, no caso, tudo não. Pelas minhas contas eu não precisaria de absorvente nessas férias. “ÓTIMO!” Fiquei aliviada.

Enfim, tudo pronto. É só descer. Olhei para a porta e não havia mais ninguém lá. “Nossa, ela é sorrateira.” Ri sozinha. Ok. Parei. Peguei minha enorme bolsa de necessidades (não é tão enorme assim) e minha mala e saí do quarto com um pouco de dificuldade. Cheguei ao pé (de cima, se for possível) da escada e me deparei com um “leve” lance de degraus que me esperava. “Perfeito Melanie. É hoje que você se acaba!”

Desci com o maior cuidado que pude e... Funcionou! Ufa! Bem, parece que hoje é meu dia de sorte. “Opa Mel, muito cedo pra falar isso.” Eu tropecei na ponta do tapete estampado da mamãe e caí. Não! Eu não caí. Mãos fortes me seguraram antes que eu batesse minha cara no chão. Olhei pra ver quem era.

- JAAAAAAAKE! – Gritei. Jake era meu melhor amigo desde que me entendia por gente. Sempre fomos vizinhos, ele praticamente morava lá em casa. – Ufa! Essa foi por pouco. – Falei com um olhar agradecido para ele.

- Sempre a mesma Mel! Você já queria ir pro Fresh com um braço engessado ou o nariz quebrado? – Ele parecia meu pai falando. Sempre pareceu. Ele era um ano e meio mais velho que eu. Eu sorri, já estava acostumada. Ah, falei que tenho 15 anos? Não? Bom, agora você já sabe.

- Não quando tenho meu anjo da guarda por perto. – Dei um soco de leve em seu peito. Eu já estava de pé e bem firme no chão. Era o que me parecia. Ele gargalhou com isso. Me abraçou e depois pegou minha mala e levou para a porta.

Fomos tomar café da manhã. Conversamos bastante sobre tudo. Sim, eu conversava sobre tudo com o Jake, afinal, ele era meu melhor amigo. As horas passaram que nem senti. Almoçamos.

..........

Já era de tarde. Resolvemos que já estava mais do que na hora de ir.

..........

Guardamos as nossas coisas e sentamos no banco traseiro do carro. Não iria na frente quando tinha o Jacob pra conversar. Papai terminava de ajeitar as coisas no carro.

- E então Tyler Jacob, animado para esse ano? – Ele fingiu tremer quando pronunciei seus dois nomes, sorriu e respondeu.

- Claro! Vai ser ótimo. Rever pessoas, fazer novos amigos e... Cuidar dos velhos. – Ele olhou sugestivamente para mim e eu sorri sem graça. – Qual é Mel, você sabe que eu to brincando. – Ele fez carinha de cachorro pidão e eu me convenci. – E você? Vai ser seu primeiro ano no Fresh Air. Como está se sentindo? – Ele perguntou isso segurando um microfone invisível nas mãos, como se fosse um jornalista.

- Ah, vejamos... Estou muito feliz, ansiosa e nervosa. É, acho que mais nada! – Eu sorri pra ele.

- Tudo bem. – Ele olhou pra frente. – E aqui finalizamos mais um Como Você Está. Até a próxima, no Camp. – Ele falava como se tivesse olhando para uma câmera e se despedindo dos telespectadores.

- Idiota.

- Qual é Melanie, entra no clima. Vai ser divertido pirralha. – Ele me agarrou bagunçando meu cabelo.

- Larga Jake! Pô ninguém merece. Vou chegar lá parecendo uma recém saída do hospício. O que os gatinhos vão pensar? – Provavelmente eles iam pensar: “Eu hein, essa garota toda esquisitona tá perto de mim. ALGUÉM ME SALVA!”. Tá, eu não sou tão esquisitona. Só gosto de usar muito tênis e roupas pretas. Isso meio que assusta os garotos. Mas não é só isso, eu me arrumo (ou seja, coloco saltos e vestidos) quando quero. Adoro variar. Então, me considero uma indecisa no estilo.

- HAHA! Gatinhos? – Ele ergueu uma sobrancelha pra mim. – Até parece que vou deixar mala. – Ele AMAVA me chamar de mala.

- Você que pensa meu bem. – Soltei um beijinho falso pra ele.

Porque estávamos tão perto? Ah é. Ele ainda não havia me soltado. Já tava começando a ficar estranho. Confortável. Mas estranho. Jake era meu amigo desde pequeno. Eu nunca o havia visto como mais-do-que-amigo. Se é que você entende. Ele me olhava nos olhos, profundamente. Acho que ele estava pensando a mesma coisa. Já chega! Limpei a garganta de leve e ele percebeu o que eu pedia. Ele soltou o nosso abraço e sentou-se direito na cadeira e olhou para fora. Eu fiz o mesmo.

- Bem crianças... Prontos? – Meu pai falava enquanto entrava no carro. Eu olhei pra Jacob que parecia estar um pouco... Corado? Ele sorriu o sorriso de amigos e dissemos um “SIM” como resposta. Depois disso pareceu que tínhamos esquecido aquela ceninha. Então prosseguimos viagem conversando e rindo bastante.