P.O.V Mel

Até que a viagem não havia sido longa. Apenas duas horas e meia que voaram rapidinho. Claro, eu fiquei todo o percurso conversando com o babaca do Jake. Eu amava conversar com ele. Não tinha frescuras entre a gente. A gente se entendia bem. Éramos irmãos. Havíamos sido criados juntos, desde que estávamos na barriga de nossas mães. Ele sempre me ajudava, e eu sempre fazia o que podia por ele. Eu o amava tanto. Meu melhor amigo.

Estávamos quase chegando ao local onde ficava o Fresh Air. Jake havia caído no sono há uns quarenta minutos atrás. Ele dormia encostado na janela da sua porta. A boca aberta e roncava baixinho. Eu ri com a cena. Ele era mesmo um bobão. Havíamos parado num posto de gasolina para abastecer o carro e comprar lanche, eu estava com fome. Já estávamos quase chegando (eu já falei isso né?), então eu decidi acordá-lo. Ele com certeza não gostaria de entrar no lugar de cara amassada de sono. Isso eu tinha certeza.

- Jake? Jake acorda. Estamos chegando. – Eu sussurrei perto do ouvido dele, cutucando para melhorar o efeito.

- Hmmmmmmm, mais cinco minutos mãe. – Eu segurei uma risada alta. Não queria assustá-lo, mas ele não tava facilitando.

- Jake, por favor. Já estamos chegando. Vai estar cheio de gatinhas e você não quer que elas o vejam com cara de sono quer?

- Não, não quero Ash. – Ash?! Quem é Ash? Esse garoto tem problemas. Segurei outra risada e voltei a cutucá-lo, dessa vez um pouco mais alto.

- JAKE! – Tá, eu sei! Exagerei. Eu não me segurei. Mas mesmo assim ele continuava dormindo. Que sono pesado é esse?

Dessa vez eu empurrei com força o ombro dele. Mas não adiantou. Acredita?! Ele bateu a cabeça na janela com força e caiu em cima de mim. Ah, cansei.

- TYLER JACOB! TIRA ESSA CABEÇA ENORME E PESADA DO MEU COLO! TÁ ESMAGANDO MINHAS PERNAS! – Eu sei que exagerei de novo, mas minha paciência tem limite, e é bem curto. Quando eu falei isso ele levantou assuntado.

- HÃ? O QUE? A GENTE JÁ CHEGOU FOI? – Eu caí na gargalhada. Isso, ele era meu bobão, parecia que ainda tinha cinco anos de idade. Ele olhou pra mim confuso, mas logo percebeu do que eu tava rindo e fechou a cara pra mim.

- Cala a boca Mel! – Ele cruzou os braços com raiva. Mas a raiva dele nunca dura muito, então ele desistiu. – Precisa me acordar assim pô?

- Sinto muito TJ, mas eu tentei. Com carinho e amor, tudo que eu encontrei por você. Mas seu sono é mais pesado que um elefante obeso. Tive que partir pra violência. – Eu ri de novo. Ele riu junto.

- Tá! Valeu mesmo. Mas fala aí, quanto falta pra chegarmos? Onde a gente tá hein?

- Calma aí hiperativo! A gente tá quase chegando, acho que mais uns vinte minutos. A gente ta num posto de gasolina Einstein. – Ele me olhou com cara de: NÃO DIGA! SÉRIO?

- Nossa Mel, você tá com fome mesmo pra tá chata desse jeito!

- É, eu sei. Por isso que paramos nesse posto, além do fato de precisar abastecer. – Eu sorri cínica pra ele. Ele retribuiu com o mesmo cinismo.

- E então pessoal? Com fome? – Meu pai falou entrando no carro e nos entregando dois pacotes de salgadinho e um refrigerante em lata pra cada um.

- Ô se não. A Mel tava quase me engolindo aqui. Você precisa melhorar esse seu lado garota prodígio.

- Cala a boca e come James Bond. – Eu abri o meu pacote e ocupei minha boca com os deliciosos Cheetos de presunto (meu favorito). Eu realmente ficava insuportável quando estava com fome.

......

- Chegamos meninos! Uau! O lugar é imenso mesmo Tyler. – Meu pai falou admirado. Eu parei para prestar atenção ao enorme muro que cercava o que com toda a certeza seria o Fresh Air Camp.

- É sim Robert. Mas isso porque você ainda não viu o lugar por dentro. – Ele riu. Depois de tantos anos de amizade, Jake já tinha se acostumado a chamar meu pai e minha mãe pelo primeiro nome. Exatamente como eu fazia com os pais dele.

- Tudo certo então garotos. – Meu pai falou parando o carro em frente ao portão principal do lugar. – Boa sorte com tudo. E tomem cuidado. Melanie? – Ah, qual é. Ele vai dar sermão agora?

- Sim?

- Cuidado minha filha. Você sabe que é nossa filha única e...

- Sei sim pai. Chega! Eu não sou mais...

- Não se preocupe. Eu vou cuidar bem dessa moça. – Nossa! Ninguém merece quando esses dois dão uma de protetores. AFF!

- Obrigado Tyler. – Ele falou pro Jake e depois sorriu pra mim. Eu sorri também. Por mais irritante que ele pudesse ser às vezes eu ainda o amava. Dei um abraço nele, ou melhor, tentei abraçar meu pai e me despedi.

Descemos do carro com nossa bagagem e acenamos pro carro prata até ele sair de vista. Estranho. Eu comecei a me sentir nervosa. Olhei pro Jake procurando algum conforto. Ele olhou pra mim e riu da minha cara. “Palhaço!”

- Vai ficar tudo bem Melanie. Não se preocupe. Aqui ninguém morde. Bem, pelo menos não se você não pedir. – Ele riu malicioso. Eu odiava esse humor sombrio dele, principalmente quando era comigo.

- Idiota. Vamos logo! – Dizendo isso começamos a andar em direção ao portão principal do lugar. Quando estávamos caminhando pelo caminho de pedras que dava para uma grande casa escutamos alguns passos e ouvimos alguém gritar.

- Tyler!