58 – A revolução dos hormônios

O dia tinha amanhecido – e eu ainda estava deitada no colo de Joe, com o rosto empapado de lágrimas. Cheiro de bacon frito, vinha de dentro da barraca, e os garotos começavam a sair com seu café da manhã. Marco e Betty lançavam-nos olhares furtivamente detestáveis.

Eu já disse como odeio Marco Lonphert e Betty Tornth? Eles sempre andam juntos me olhando como se eu fosse algum monstro. Ah, como eu os detesto!

- Fome? – Joe me perguntou e eu levantei.

- É, um pouco. – Joe fez alguns movimentos com as mãos, e a neve se fez gelo e assim se moldou em uma escada.

Não fazia idéia de como as coisas entre nós estavam. Nossa comunicação não foi muito… verbal.

Desci as escadas – extremamente escorregadias – e me sentei em um tronco que servia como banco, do lado de fora da barraca. Sentia meus olhos inchados e meu nariz constipado. Joe vinha trazendo um enorme cheeseburger em um prato.

- Tome.

- Não consigo comer. – falei – Tô completamente enjoada…

- Você precisa mesmo comer alguma coisa, Benny. Está sem comer nada á dias. – disse ele sentando-se do meu lado. Peguei o cheeseburger de mau grado, e comecei comê-lo, mesmo me sentindo como se aquilo fosse causar um buraco em meu estômago.

Algum tempo depois, todos já estavam ao redor da fogueira, em plena manhã fria em Little Winning, todos silenciosos – e alguns muito irritados.

Sentia-me doente, algo como lepra, ninguém – com exceção de Joe – queria ficar perto de mim. E como um louco, Marco levantou-se de seu banco e berrou.

- JÁ CHEGA! EU QUERO IR PARA UM ABRIGO AGORA! AGORA! – e olhando para mim, cuspiu na fogueira. – VOCÊ É COMO A ARIELA E A AMENTIA, NÃO É? ESTÁ DO LADO DOS MILITARES!

E por mais que eu me sentisse doente, um sorriso de escárnio apareceu no meu rosto.

- Você quer ir para um abrigo, Marco? – falei me levantando, mas meu tom de voz era baixo e cortante – Alguém aqui está impedindo-o de ir? Ah, sim, eu sou como as traidoras? Ah claro, não é? É fácil colocar a culpa nos ombros dos outros, realmente fácil.

- POR QUE NÃO USAMOS O EXPRESSO-OLIMPUS PARA CHEGAR AOS ABRIGOS?! VOCÊ QUER QUE OS MILITARES NOS ENCONTREM E NOS LEVEM! É ISSO MESMO, QUER APENAS SER RECOMPENSADA PELAS NOSSAS CABEÇAS PELOS SEUS QUERIDOS PAIZINHOS DO OLIMPO, NÃO É MESMO? – exasperou ele, mais uma vez.

- Ora, - disse Sharon com sarcasmo, enquanto se levantava ao meu lado – é claro que ela está do lado dos militares! É por isso que ela destruiu sete armadas deles, e afinal, eles amam qualquer Dot, não é?

- EU NÃO CONFIO NELA! E POR QUE NÃO ME RESPONDEU?! PORQUE NÃO USAMOS EXPRESSO-OLIMPUS, SE QUER QUE NÓS FIQUEMOS Á SALVO?! – ele retrucou.

- Ah, por que eu não pensei nisso antes?! - exasperei sarcástica – Oh, claro! PORQUE OS ABRIGOS ESTÃO COM DEFESAS ANTI-MAGIA, Á QUALQUER TENTATIVA DE MILITARES E LUGROS, DE INVADÍLOS, É, É POR ISSO!

- Claire, acho que a sua idéia faz mais sentido. – clamou Kent, atraindo olhares de todos. O Kent calado e pensativo enfim se pronunciara.

- Está querendo dizer que cinco adolescentes têm de enfrentar o governo para a liberdade Dot? – perguntei curvando as sobrancelhas.

- Não seremos apenas cinco se todos ajudarmos. – entreviu Laster, pondo-se em pé. – Mesmo que seja uma missão suicida, temos que agir! Ou seremos caçados para sempre!

- Yeah, pensem nas próximas gerações de Dots, que não poderão nem menos usar seus poderes sem serem lobotomizadas pelo governo! – berrou Hope com a testa franzida, levantando-se também.

E todos meus amigos estavam de pé. Todos á meu favor, e Marco nos olhava com fúria e confusão, a única em seu lado foi Betty, que olhava para todos acima do ombro de Marco – como se ele fosse  um escudo.

- É disso que eu estava falando. – Malice sorriu e acariciou Ark em seus ombros. – E então, Gallatea, qual o seu plano?

E todos estavam me olhando. Todos mesmo, companheiro. Querendo ouvir o que eu tinha a dizer, e pela primeira vez na minha vida, eu fiquei com medo.

- E vocês? – perguntei á Marco e Betty – Estão conosco ou contra nós?

Ambos se entreolharam assustados.

- Com vocês. – disseram por fim.

Assenti. – Vou ter um plano completo no fim da tarde, agora, se puderem, encontrem o máximo de espadas que tiverem e as amolem, estejam descansados e me tragam o jornal.

Todos bateram continência com mais alguns segundos, todos tinham desaparecido para suas obrigações – menos Joe.

- Eu sabia que as coisas se ajeitariam. – disse-me ele, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Ele me beijou. Bem, não era os beijinhos-água-com-açúcar-a-lá-Joe, mas era algo que eu não sentia há tempo. Como se ele estivesse ressurgindo de um tempo atrás há muito esquecido. Meu Joe estava de volta.

E tão rápido como aconteceu, ele me soltou e foi-se para a floresta com uma expressão vitoriosa, lívida. Quando eu escutei…

- …não se machuque, baixinha… - dizia Kent.

- Ah, por favor, parrudão! – respondeu… Malice! – Eu sei fazer muita coisa que você nem faz idéia, é melhor não se preocupar. – mas quando ela virou-se para vir até mim, Kent a puxou de volta e a beijou. É. Os caras estavam com os lábios frouxos nesse dia…

Depois de desviar o olhar daquela cena, não muito confortável, Malice se reuniu á mim e bolemos o plano. E não é qualquer plano. Um plano que só pessoas com muita coragem – ou insanidade – são capazes de exercer.