Dois dias depois, Lucas estava sentado ao lado da maca onde Jessica estava adormecida. Quando Elena e ele a trouxeram diretamente para a enfermaria, alguns garotos correram para limpar e tratar os ferimentos dela. Só saía dali para comer, às vezes nem para isso.

Estava com os pensamentos alheios em bobagens quando notou um pequeno movimento nas pálpebras dela. Voltou o olhar para elas e notou que estava tremulando, como se Jessica quisesse abrir os olhos, mas não ter certeza se era o certo a se fazer.

-Jessica? – ele chamou, pegando as mãos da garota, enquanto se aproximava – Ei, Jess, você pode me ouvir?

A garota franziu a testa e respirou profundamente. As pálpebras tremularam novamente e ela abriu lentamente os olhos. Quando fez isso, uma luz forte e atingiu e ela os fechou novamente.

-Lucas – ela disse com um suspiro, enquanto tentava se sentar, ainda com os olhos fechados.

O garoto segurou as costas dela para que pudesse sentar. Jogou os cobertores para o lado e sentou na frente dela. Pos uma das mãos nas costas dela e com a outra segurou uma das mãos dela.

-Você está bem? – ele perguntou preocupado, enquanto ela fazia caretas de dor.

-Estou – falou sentindo a garganta arder – Lucas – falou o nome dele e pulou para abraçá-lo.

-Ei, Jess – ele falou com o rosto nos cabelos dela – Estou aqui, Jess. Ei, não se preocupe. Estou aqui!

-Eu fiquei com tanto medo – ela disse soluçando – Foi horrível, Lucas.

-O que realmente aconteceu? – ele perguntou – Elena disse que só falaria quando você se recuperasse.

-Foi horrível – ela repetiu, enquanto continuava abraçando-o. Ele beijou os cabelos dela e segurou-a mais perto de si.

Depois de alguns minutos abraçados, Lucas ajudou a garota a se levantar e começaram a caminhar até a Casa Grande para encontrar Quíron. Passaram por vários campistas que os cumprimentaram e eles não responderam.

-Quíron – chamou Lucas, segurando a cintura de Jessica para ela subir as escadas – Ela acordou!

-Ah, Jessica – falou – Que bom que está melhor.

A garota assentiu, sem olhar nos olhos dele e sentou no sofá ao lado de Elena. As duas lançaram olhares tranqüilizadores para a outra, enquanto esperavam para começar a história.

-O que aconteceu... Bem, ninguém previa isso. Fomos obrigadas a aceitar a colaborar com ele.

-Ele nos seqüestrou e nos levou a um pequeno acampamento de meio-sangues no interior do Missouri.

-Ele... Mas ele quem? – perguntou Quíron.

-Luke – foi o que Elena disse e Annabeth e Percy que chegavam na Casa Grande se imobilizaram.

-O que? – perguntou ela com a boca escancarada – Não é possível.

-É, sim, Annie – disse Elena triste – Nêmesis o trouxe de volta com ajuda de Melinoe, provavelmente.

-Ele e o cara com o tapa olho – estremeceu Jessica – Conseguimos sair de lá por pouco.

-Não foi fácil – disse Elena, que havia sentido mais que tudo – Com algumas... chantagens.

-Que tipos de chantagem? – perguntou Percy.

-Não vai querer saber – foi a resposta fria de Elena e Annabeth estremeceu, pois havia considerado a possibilidade.

-Não, Luke não pode ter voltado. É impossível.

-Não é – falou Jessica, se levantando – Ele voltou. Está ao lado dos primordiais, que estão tentando tirar o poder dos deuses.

-Mas...

-É verdade – insistiu Jessica – Eu não mentiria por causa disso.

Naquela hora, algo estranho aconteceu. Uma áurea escura começou a circundar o corpo de Jessica, fazendo-a ficar quase sem ser vista na sombra. Os garotos pularam, Quíron olhou para ela de olhos arregalados enquanto um pequeno bidente surgia sobre a cabeça dela. Tão rápido como veio, a nevoa se foi e Lucas perguntou assustado:

-O que foi aquilo?

-Foi... – começou Quíron – Hades deu a ela sua benção.

-O-o que? – perguntou Percy, mas quem estava mais assustado era Nico, o filho de Hades estava na porta, olhando com o queixo caído para a garota.

-Os deuses podem dar suas bênçãos para os heróis que lhe são interessantes – explicou Quíron – Agora Jessica tem alguns poderes de filhos de Hades.

-Como quais? – ela perguntou, com o queixo caído.

-Provavelmente pequenos controles sobre os mortos. Você é a segunda pessoa que vejo com a benção de Hades. A primeira foi quatro séculos atrás, Rhiannon, (lembrem desse nome) filha de Hades que para salvar o Acampamento, deu sua vida em troca.

A garota estremeceu, mas continuou encolhida no sofá. Lucas pegou a mão dela e a apertou, dando-lhe forças.

-Isso é um assunto para outra hora – continuou Quíron – Precisamos comunicar os deuses imediatamente. Esse é um assunto de extrema importância.

Eles assentiram, mas Jessica falou:

-Preciso conversar com minha mãe.

Quíron assentiu.

-É melhor mesmo, ela estava desesperada.

Longe dali, alguns dias antes.

Depois da noite que tivera com Elena, Luke acordou com o sol batendo em seu rosto e procurou com a mão algo ao seu lado. Não encontrou nada, apenas lençóis desarrumados. Pensou que ela tivesse voltado para a barraca, pois ambos sabiam que aquilo era algo proibido. Sorrindo abobado ele se levantou e passou a mão no cabelo, enquanto catava suas roupas e as vestia.

Quando saiu da barraca, o acampamento já estava levantando, e quando Nakamura foi falar com ele, sabia que não era nada de bom.

-Luke – ele chamou ofegante – Algo aconteceu durante a noite!

“Ah, aconteceu...” foi o pensamento de Luke.

-O que foi? – perguntou rude.

-A filha de Macária e a filha de Zeus sumiram. Não tem nada nas barracas delas. Fugiram.

Naquele momento, Luke sentiu algo como uma punhalada nas costas. Elena havia feito aquilo para fugir. Por mais que a admirasse, não podia deixar de se irritar porque havia sido enganado por ela. Justo por ela.

Com o rosto ficando vermelho, Luke voltou para a barraca pois não queria explodir na frente do Nakamura. Jogou os cobertores ainda com o cheiro de Elena no chão, enquanto os chutava. Estava tendo um péssimo dia.

Acampamento Meio-Sangue. Atualmente.

Jessica falou com a mãe, que estava muito mais calma desde a mensagem que recebera da filha. Prometeu que nunca mais se meteria em problemas, embora ainda tivesse uma missão para completar. Partiriam em dois dias. Depois de uma longa conversa, ela ouviu leves batidas na porta. Quando abriu, Lucas estava lá. Sorriu e o deixou entrar.

-Eu quero falar com você – ele disse sério.

-Diga – respondeu a garota, cruzando os braços na frente do peito.

-Fiquei extremamente preocupado – ele disse, enquanto sentava na cama dela.

-Sim...

-Jessica, sei que vou parecer um idiota...

-Parecer? – ela perguntou de brincadeira e ele não sorriu – OK, desculpe.

-Olha... Eu estou gostando muito de você Jessica, não sei mais o que posso dizer.

-Demorou muito – ela sorriu, enquanto beijava seus lábios.