Duas semanas haviam se passado, e tudo continuava na mesma. Jessica treinava com Elena durante quase todo o dia, sob o olhar atento de Luke. O único momento do dia em que tinham tempo para falar sozinhas era durante os dez minutos de banho que tinham.

-Precisamos sair daqui logo – disse Jessica enquanto passava xampu nos cabelos rebeldes.

-O mais depressa que pudermos. Quando essa chuva passar podemos mandar uma Mensagem de Íris para o Acampamento. Não gosto de lá, mas...

-Sim – concordou Jessica – Temos que voltar, embora eu ache que devamos ficar aqui por um tempo. Descobrir os planos dele...

-Eu não fico aqui mais do que o necessário!

-Nem eu – disse Jessica, enquanto colocava a cabeça embaixo da água que caia do chuveiro – Vou mandar a mensagem amanhã, provavelmente. Mas precisamos sair daqui.

-Eu tenho uma idéia – disse Elena – É nojenta, mas posso tentar...

-O que é?

-Vou distrair Luke – ela explicou – Quando ele estiver acabado, saímos.

-Não vou deixar você fazer isso – disse Jessica zangada – Elena...

-Eu sou maior de idade Jess, e com todo o respeito, você não manda em mim.

-Mas, Elena...

-Prontas garotas? – perguntou Luke.

-Me encontre na barraca de Luke com mochila às 3 da manhã! Se não estiver lá, vou sem você – sussurrou Elena enquanto ambas saiam do banheiro.

-Demoraram – ele disse desconfiado, enquanto trancava a porta do banheiro e guardava a chave no bolso.

-Nós garotas precisamos demorar, Luke – disse Elena – Você nunca esqueceu, não é?

-Não mesmo.

Naquela noite, Elena penteou bem os cabelos, passou um pouco de perfume e ajeitou suas roupas. Era um sacrifício que teria que fazer para ambas. Tanto para ela quanto para Jessica, sentia-se responsável pela menina.

Caminhou até a barraca de Luke e deu uma espiada para dentro.

O garoto estava sentado na cama olhando um pedaço de papel. Usava uma camiseta branca que grudava no seu corpo e uma calça camuflada, como as do exército. Nem levantou os olhos quando Elena entrou na barraca, somente quando ela pigarreou.

-Oi Luke – disse corando falsamente.

-Oi Elena. É uma surpresa.

-É mesmo – ela concordou, mordendo o lábio – Eu quero falar com você.

-Pode falar – ele disse guardando o papel no bolso da calça enquanto Elena sentava ao lado dele na cama.

-Eu não agüento mais, Luke.

-Não agüenta mais o que?

-Isso... tudo. Esse mundo – ela disse, com falsas lágrimas escorrendo de seus olhos e caindo no seu colo – Tudo que eu queria no inicio era fugir disso, depois tentei me adaptar e agora... Não consigo mais.

-Ei, Lena – disse Luke, ajeitando-se na cama e pegando as mãos dela – Não pode desistir agora.

-Eu... – ela começou, então abraçou Luke.

Ele tentou se esquivar, mas acabou cedendo aos braços de Elena, sua antiga amiga que mesmo depois de tudo que ele fizera para ela, estava ali em seus braços, chorando e desabafando. Ela soltou o pescoço de Luke, então seus olhos voaram para os lábios dele. O garoto notou o olhar dela, e um pouco desconcertado, fez a mesma coisa.

-Eu... – começou a garota, mas Luke a interrompeu.

-Não diga nada. Não agora – disse e então tomou para si os lábios dela.

(Explicação: Elas armaram isso porque Luke ficava de vigia na barraca delas)

Dez minutos antes das 3 da manhã, Jessica estava completamente pronta. Vestia as roupas que Luke havia dado para ela e usava no corpo suas jóias que se transformavam nas suas armas. A cada dez segundos olhava para Morte. Então sem olhar para trás, ela saiu da barraca. Esquivando-se das luzes dos guardas nos pontos de vigia, ela caminhou até a barraca de Luke. Olhou para o relógio, 2:57. Impaciente, ela sentou na sombra e esperou os minutos passaram.

As 3:04 ela notou um movimento na entrada da barraca e se levantou imediatamente, aliviada em ver a amiga. Elas se abraçaram e então ambas caminharam até as arvores ao redor do acampamento.

-Precisamos ir logo – disse Jessica.

-Nem sabemos onde estamos! – exclamou Elena, enquanto puxava o braço da outra e ambas correram entre as arvores.

Depois de várias horas correndo elas pararam a beira de um riacho para descansarem um pouco. Jessica se jogou em uma árvore enquanto a outra se abaixava e bebia água do riacho.

-Precisamos continuar – disse ela, levantando o rosto e secando a boca com a manga do casaco.

-Vamos dormir um pouco – resmungou Jessica – Por favor, nos escondemos. Preciso descansar, não consegui dormir.

-Quem deveria estar cansada era eu – disse Elena e Jessica estremeceu só de pensar no que ela havia passado para ambas poderem fugir.

-Vamos dormir, por favor – ela disse – Ao amanhecer mandamos uma mensagem de Íris para o Acampamento...

-OK, me convenceu!

Depois de alguns minutos em silencio, elas finalmente adormeceram e não tiveram nenhum sonho que as perturbasse. Horas inquietas se passaram e Jessica acordou com a luz do sol batendo em seus olhos. Rastejou até a amiga e então ambas arrumaram as coisas e partiram.

Lucas estava sentado em um tronco oco de arvore na beira da floresta. Usava a espada para fazer pequenos desejos na terra e quando viu, havia escrito o nome de Jessica. Com um pouco de impaciência, chutou a terra com o pé, quando ouviu um barulho de galhos se quebrando.

Levantou e preparou a espada, mas o que viu foi algo totalmente inusitado. O que chamou a atenção foram duas garotas correndo de dentro da floresta. Uma tinha cabelos negros cheios de galhos de árvore, com a perna esquerda manca e segurando uma mochila enquanto ajudava outra garota a correr. A garota que ela ajudava era vários centímetros mais baixa. Tinha longos cabelos castanhos cacheados sujos de sangue e uma ferida na barriga que sangrava, assim como o braço que pendia inútil ao lado do corpo.

-Jessica? – ele perguntou, largando a espada no chão e correndo para ajudar as duas garotas.

-Você é Lucas? – perguntou a morena, enquanto ele pegava Jessica no colo.

-Sou – ele disse – E você?

-Elena, filha de Zeus – ela disse em tom autoritário, enquanto ajudava o garota a carregar as coisas de Jessica – Foi... Luke. Ele nos capturou. Queria o que ajudássemos a ter sua vingança contra Percy.

-O que? – perguntou Lucas surpreso – Achei que fosse por causa de Urano!

-Como assim?!

-Quíron falou para alguns campistas mais antigos sobre uma terrível ameaça vindo dos deuses como Urano, Gaia, Ponto e Tártaro. Mas não mencionou o que. Acho que agora sabemos.

-Precisamos falar com Quíron – disse Elena – E quero buscar meu irmão.

-Seu irmão?

-É – ela disse – Victor. Ele não está seguro lá fora. Agora vamos, ela perdeu muito sangue.

-Não vou perde-la – disse Lucas, e então ambos correram para o Acampamento.