O Juramento Quebrado escrita por vivaopato


Capítulo 7
A dona da verdade me dá uma anestesia geral


Notas iniciais do capítulo

gente, me desculpem a demora
boa leitura



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                Engoli em seco e passei as mãos pelo rosto, secando as lágrimas. Reparei que havia um copo com água em cima do criado-mudo ao lado da cama, e o peguei, derramando água em minha mão e passando-a no rosto, secando-o logo em seguida com a minha blusa. Respirei fundo e falei, tentando forçar minha voz a parecer calma e esconder o tom choroso:

                - Entre. – ao contrário do que eu queria, minha voz pareceu desesperada e rouca.

                A porta rangeu quando quem quer que fosse a abriu e entrou. Eu estava de costas para a porta, e mesmo que estivesse de frente para ela, minha visão ainda estava alterada pelas lágrimas, e eu provavelmente não reconheceria a pessoa de primeira.

                - Er... Oi, Cara-de-Pinheiro. – a pessoa disse e eu reconheci a voz. Sophia. Bom, ela estava sendo amistosa, o que significava que ou ela estava com medo de mim ou estava aprontando alguma. Eu preferia a primeira opção.

                Olhei para trás. Ela tinha o cabelo loiro preso num rabo de cavalo. E usava um short parecido com o meu, só que, por incrível que parecesse, era mais curto. E uma blusa preta que se fosse mais colada nela tiraria sua respiração. Ela tinha no pulso uma pulseira negra brilhante, com um pingente que continha um emaranhado de pedras diferentes, coloridas. Ela tinha uma expressão tímida, mas atrevida ao mesmo tempo.

                Eu me virei para ela, sentando do lado oposto ao que eu estava, para encará-la melhor. Ela se sentou ao meu lado.

                - Ei. Está melhor? – ela perguntou.                                            

                Estranhei.

                - É. Acho que sim. – respondi.

                Ela suspirou.

                - Me forçaram a vir. – ela explicou.

                - Pode até ser. Mas tenho certeza de que você estava louca pra me ver outra vez, hã? – retruquei.

                Ela revirou os olhos, mas deixou escapar um sorriso de lado igual aos que seu pai Nico costumava dar.

                - É. Espera sentada.

                Tentei revirar os olhos, mas a dor que os atingiu quando fiz isso fez meu rosto se contorcer de dor. Sophia reparou e pôs a mão no bolso do short. Tirando-a um segundo depois segurando uma cartelinha de remédios. Ela me estendeu a cartela. Eu a peguei e li o nome escrito em grandes letras maiúsculas. Quando se passa mais de cem anos tentando ler, você começa a conseguir, mesmo com a dislexia.

                DIPIRONA SÓDICA, dizia. Ri com a idéia de estar tomando um remédio mortal. Destaquei da cartela dois comprimidos branquinhos. Peguei o copo com água do criado-mudo e os tomei com uma golada só, me sentindo de repente só uma mortal comum.

                - O que aconteceu com o Raio, depois que eu desmaiei? – perguntei para Sophia.

                Ela sorriu.

                - Ele sumiu. Seu pai o pegou de volta, provavelmente. Luke te pegou e te trouxe para cá. – ela riu maliciosamente. – E seu irmão me trouxe no colo, ainda que eu estivesse consciente.

                Eu não pude evitar rir. Mas me zanguei também, por ela ter brincado com ele.

                - Não seja tão má. – reclamei.

                - É, tá. Porque tostar pessoas com raios é muito bonzinho. – ela disse, irônica.

                - É sim.

                Eu não entendia o que estava acontecendo ali. Estávamos conversando normalmente. Como amigas, quase. Levei o copo de água à boca outra vez, me preparando para dar mais um gole. Mas a água se revirou sozinha antes que eu pudesse aproximar o copo do rosto.

                Sophia olhava para o copo aparentemente concentrada.

                - Chorar piora a dor nos olhos, sabia? E na cabeça. Não devia ter chorado. Nem uma lágrima. Principalmente por ele. – ela falou, fazendo a água do copo se levantar num formato cilíndrico, como uma cobrinha fina e disforme.

                Olhei surpresa para ela. Sabia que ela não tinha visto a minha mente.

                - Como você sabe? – perguntei, voltando a encarar a água do copo.

                Ela riu de leve.

                - Está escrito na sua cara. – ela disse, e fez a “cobrinha” de água explodir bem na minha cara, molhando-a toda e voltando para o copo. Mas eu não me incomodei. Na verdade, a água melhorou incrivelmente a dor. Pus o copo de volta no criado-mudo.

                - E você? Já chorou por ele? – perguntei.

                Ela virou a cara.

                - É. Já. – ela respondeu.

                - Ruim?

                Ela voltou a me olhar.

                - Ruim. – concordou.

                - O que ele fez? – perguntei.

                - Terminou o namoro comigo. – ela disse. – Quer dizer... eu sabia que não poderia ficar para sempre com ele. Mas eu esperava que durasse um pouco mais.

                - Quanto durou? – perguntei.

                - Tempo suficiente pra que ele fizesse aquilo comigo e fosse embora. – ela disse.

                Arregalei os olhos, pasma.

                - E com “aquilo” você quer dizer... aquilo, aquilo, mesmo? – questionei surpresa.

                Ela riu.

                - É. Aquilo, aquilo mesmo. Mas não teve problema. Não era minha primeira vez, mesmo. Nem a segunda. Nem a terceira. Nem a vigésima, se quer saber. E vou te falar, Thatha, talvez você nunca tenha a chance, mas se tiver, faça com um deus. Eles fazem coisas que mortal nenhum sabe fazer. Acredite. – ela disse com um ar sonhador no olhar.

                Fiz uma careta que misturava nojo e surpresa.

                - Eca! É claro que eu nunca vou ter a chance! Eu sou uma caçadora! E vou ser uma para sempre! – reclamei indignada.

                Ela me olhou maliciosa, e duvidosa, talvez.

                - Será, Thalia? Será mesmo que você será para sempre? Aposto que não! – ela disse.

                - O quê?! Mas é claro que serei para sempre! Ah, você duvida? Então vamos apostar! – desafiei.

                - Está bem. Se você continuar sendo uma Caçadora para sempre, eu terei que lhe dar minha espada. Se você deixar de ser uma Caçadora, terá que me dar sua lança. – ela falou.

                - Feito! – retruquei.

                Afinal, ela ia perder. Sophia sorriu cruelmente e estendeu a mão. Eu a apertei. Ela se levantou e ajeitou a roupa.

                - Bom. É melhor eu ir agora. – ela disse me olhando.

                - É. Tá. – falei.

                Ela ia se virando quando eu me lembrei de algo.

                - Ei. Sophia! – chamei. Ela me encarou.

                - Posso pedir um favor? – perguntei.

                - É. Pode. – ela falou.

                - Você tem poderes de Hipnos?

                Ela franziu o cenho, mas assentiu. Eu suspirei.

                - Então pode me fazer dormir, por favor? – perguntei engolindo o orgulho para pedir algo que eu sabia que precisava, mas que sabia que não conseguiria sozinha.

                Sophia riu e me mandou deitar. Eu obedeci. Ela se sentou ao meu lado e me mandou relaxar e fechar os olhos. Respirei fundo enquanto forçava minhas pálpebras a se fecharem, indo contra a hiperatividade. Então ela começou a cantar uma melodia calma. Não tinha letra, mas era um som doce, e eu não pude deixar de reparar que ela cantava bem.

A melodia começou calma, suave, doce. E foi ficando mais rápida, mas ainda mais doce. E a cada segundo eu me sentia mais calma e relaxada, mais dormente, meus pensamentos ficando indistintos. Soltei um suspiro sem querer e continuei relaxando mais e mais. Até que eu estava quase caindo no mundo de Hipnos, e Sophia parou de cantar.

Senti ela se levantar e ouvi sua voz me dizer, de forma quase indistinta:

- Espero que tenha gostado da roupa, Thalia.

Não entendi o significado das palavras muito bem, de tão sonolenta que estava. Ouvi a porta ranger se abrindo e depois se fechando com um ruído abafado. Então dormi, sendo envolvida por Hipnos. E, como sempre, por Morfeu.


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Notas finais do capítulo

gente, lembrem-se do pato!
beijoooss
p.s.: pra quem quiser ver a música que a Sophia cantou: http://www.youtube.com/watch?v=1kun8KaDU_U&feature=related



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