Des:contados escrita por Miss D


Capítulo 6
Um teste de vida


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito, muito, muito, muito tempo sem postar uma one, eu finalmente consegui escrever uma. Posso dizer uma coisa? Eu... É, tem razão. É melhor não dizer nada agora.
Fazia tempo que eu tava com essa ideia (que eu não posso dizer qual ainda) para escrever uma one, mas a história simplesmente não saía. O fim estava pronto, mas faltava o enredo. Então, enquanto eu estava escrevendo a fanfic... Tá, vcs não sabem qual é, pq ainda não tá no site, e acho que vai demorar, mas... Então, quando eu tava esccrevendo essa fic... BAM! A ideia surgiu do nada. E eu fui escrevendo.
Essa nota ficou enorme, credo...
Bem, gente, enjoy! =D ---->
(Nos vemos mais abaixo)



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  No pequeno escritório, uma mulher começou a chorar. Soluçava convulsivamente, as mãos cobrindo o rosto, o coração murcho, desolado. Não podia acreditar. Não, tinha que ser um engano...

  Ao seu lado, o marido a olhava, aflito. Não sabia o que fazer. Ele nunca fora bom com palavras, nunca soubera bem como lidar com alguém quando estava chorando. Não era um bom consolador. No entanto, ali estava a pessoa que mais amava no mundo em prantos, e ele se sentia impotente. Queria apenas tirar aquela dor do peito de sua esposa, acabar com aquilo.

  Eles haviam se conhecido no colegial, quando ele ainda não tinha preocupação nenhuma, e nenhum plano para o futuro. Quando tudo o que queria era curtir a vida. Ela era apenas uma garota como qualquer outra: romântica, fantasiosa, cheia de sonhos. Jamais a havia notado realmente. Nem percebia sua existência.

  Não era diferente com ela. Apesar de saber até bem demais quem ele era, não queria ter nada a ver. Porque era simplesmente o garoto mais conquistador e destruidor de corações de toda a escola.

  No entanto, um dia ela estava sozinha caminhando em direção ao ponto de ônibus, no meio da chuva. Parecia que o céu desabava sobre sua cabeça.  Ele a viu, caminhando debaixo da tempestade, molhada, e perguntou se ela não gostaria de ir debaixo de seu guarda-chuva. Era a primeira vez que ele era gentil daquela forma, então aceitou. E eles caminharam juntos até o ponto. Ela tremia um pouco, agasalhada apenas com uma blusinha fina, então ele a cobriu com uma parte de sua jaqueta. E foi ali que tudo começou.

  Paola percebeu que ele não era o que tinha imaginado. Por trás de toda aquela máscara de indiferença para com os sentimentos dos outros havia alguém genuinamente meigo, doce. E ela queria descobrir mais sobre esse alguém.

  Primeiro, como já devia se esperar, ele tentou negar de todas as formas que estava apaixonado. Isso era ridículo. Ele não se apaixonava, isso era para os almofadinhas da escola. Mas não houve saída. Como poderia explicar a si mesmo o motivo de ficar tão nervoso quando ela estava por perto? Como poderia explicar o jeito como ela estava vinte e quatro horas em sua cabeça? Não podia. Porque não havia explicação.

  Tentara afastar isso. Tentara afastá-la. Porém ela sabia. Sabia que alguma coisa estava acontecendo.

  Parecia estranho, agora, pensar em como as coisas haviam começado. Como, depois de negar tanto e veemente, ele havia se entregado a esse amor por ela. Se entregado a tal ponto que haviam se casado não muito tempo depois.

  Paola tinha muitos sonhos. Ela era esforçada. Corajosa. Tinha iniciativa. Entrou na faculdade, e, em pouco tempo, já tinha uma profissão. Ele também. Começou a pensar mais seriamente no que queria da vida e entrou para a faculdade.

  Entretanto, depois de algum tempo, queria outra coisa. Um sonho que ela nutria desde os tempos em que fofocava com suas amigas desmioladas, na sexta série. Um sonho que agora desmoronava.

  – Tem certeza, doutor? – perguntou ela, entre soluços.

  – Absoluta certeza, senhora. Parece que a senhora tem um problema na supra-renal, com os hormônios.

  – E não há nada que se possa fazer? – indagou o marido ao médico, sentado atrás de sua mesa, os exames à mão.

  – Há tratamentos para esse tipo de distúrbio, mas não há certeza de êxito. Também existe a opção de fertilização in vitro, ou outros semelhantes.

  Paola soluçava ainda mais. Como podia evitar? Seu mais caro, maior sonho agora desmoronava: o de ter um filho seu, da sua barriga. Poder cantar para ele durante a gestação, poder ler histórias enquanto ainda estava em sua barriga. Sentir as dores do parto e, finalmente, poder dizer que aquela criança havia saído de dentro dela, e que a amava. Agora parecia uma fantasia louca, distante, levada como uma folha de papel pelo vento, flutuando ao ar para longe, cada vez mais inalcançável.

  Ela não podia mais ficar ali. Tinha que sair. Tinha que sair daquele lugar cheio de tristeza, da frente daquele médico descrente, destruidor de esperanças. Esfregou os olhos, tentando assim fazê-los parar de derramar as lágrimas quentes que escorriam por seu rosto ininterruptamente.

  Levantou-se e caminhou lentamente para fora, determinada, decidida. Ali tudo o que podiam dizer a ela é que não daria certo. Que havia poucas chances de acontecer. Que ela podia recorrer à adoção. No entanto, estava certa de que se quisesse, se realmente quisesse ter um filho, com todas as forças, poderia ter um. E teria.

  Por trás dela, seu marido a abraçou, terno, preocupado.

  – Está tudo bem, meu amor? – inquiriu ele.

  Ela soluçou mais uma vez, seu corpo tremia.

  – Não muito bem – disse, com a voz um pouco rouca. – Você sabe como eu queria isso, Alan – soluçou novamente. – Você sabe como era... – e então não pôde mais. Não conseguia mais. Estava fraca, cansada, frustrada, e mesma assim tentava agarrar-se a última fagulha de esperança acesa dentro de si. Ali desmoronou, nos braços de seu esposo. Onde ele estava, sempre, para segurá-la, confortá-la. Acolhê-la, como fazia agora, em seus braços firmes, amorosos.

  Ele a conduziu ao carro. Juntos, voltaram para casa, em silêncio, pensativos, imersos em suas próprias reflexões.

  Paola saiu do carro assim que ele estacionou na garagem de sua casa. Exausta, tudo o que ela queria era um sono, um sono que pudesse descansá-la, que pudesse renovar sua coragem. Ela queria forças para suportar aquela dor em seu peito, aquela que pesava quilos.

  Deitou-se de costas na cama, os olhos desfocados, fitando o teto acima dela. Alan sentou-se ao seu lado.

  – Você sabe que eu sempre vou te amar, não sabe? Sempre, não importa se você puder ou não ter filhos. Eu amo você, desde aquele dia, quando ficou toda vermelha quando eu ofereci meu guarda-chuva.

  Ela suspirou.

  – Você não entende – retrucou. – Talvez nunca entenda como a vida de uma mulher se torna oca quando ela não pode ter um bebê. Essa é a essência da nossa existência. Somos as reprodutoras. Se não consigo fazer isso, sou completamente inútil.

  – Você não é inútil coisa nenhuma! – discordou Alan, furioso. Pegou o rosto de sua esposa gentilmente entre as mãos, e a puxou para que pudesse olhá-lo. – Não é inútil para mim. Como eu viveria se não fosse você? Você é tudo o que eu mais amo.

  Paola fitou o rosto gentil do marido. Ele não poderia entender. Mas estava grata por ele estar ali, dizendo aquelas coisas para ela. Em qualquer outro dia, teria se sentido a mulher mais feliz e sortuda entre todas, mas não hoje. Hoje ela queria algo mais.

  Enquanto a noite passava, lenta, degradante; e ela tentava com todas as forças cair em um sono sem sonhos, sentia-se totalmente infeliz. Que sentido teria sua vida agora? Qual era seu propósito ali? Paola chorou com tanta tristeza que acordou Alan. Ele tentou abraçá-la, tentou ampará-la, mas ela não conseguia se acalmar. Entrou em um estado de total histeria, gritando com ele, dizendo que não queria mais viver, até que veio o cansaço, o abatimento, e, finalmente, o silêncio.

=/S2\=

  – Eu tenho certeza de que desta vez é verdade. Estou mesmo grávida, Alan! Posso sentir nosso filho dentro da minha barriga! – exultou Paola.

  Alan a encarou, cansado. Já era a terceira “gravidez” que ela tinha certeza, em um ano. Ele esperava todos os dias que ela aceitasse que não poderia ter filhos, entretanto via que isso dificilmente poderia acontecer.

  – Desta vez ao invés de fazer um teste caseiro, vou até uma clínica. Esses testes de farmácia nem sempre são confiáveis.

  Estava tão alegre que mal podia acreditar. Um filho! Tudo o que mais queria na vida! Tinha certeza dessa vez. Não importava o que seu marido dissesse. Não importava o que suas irmãs dissessem... Na verdade, estava cheia delas. Parecia que faziam questão de mencionar todos os feitos de seus filhos quando ela estava por perto. Ninguém, a não ser, talvez, Alan e sua mãe, tinha compaixão por ela. Era motivo de risadas, sabia que sim. Mas agora tudo mudaria. Tudo finalmente se encaixaria. Um filho, mal podia acreditar!

  A plena certeza estava dentro dela. Nunca fora tão certa de qualquer coisa quanto estava disso. Seria mãe. Logo teria um bebê para embalar, para carregar no colo, para beijar a noite. E então sua vida finalmente seria perfeita, como sempre quis que fosse. Não importava se era menino ou menina; quando por vezes se pede uma coisa assim, como um filho, essas coisas já não importam, porque se vê o quão precioso é apenas aquela pequena vida, que já havia sido negada antes.

  Paola marcou o exame, mais feliz do que estivera em um ano – bem, talvez não um ano, porque houve aquelas vezes que achou que também estava grávida... –, e nem se deu ao trabalho de xingar a grossa atendente. Estava feliz demais para que alguém a tirasse do sério.

  Esperava com ansiedade os dias se passarem para poder afinal fazer o teste. Apesar de ser apenas um dia, passou como um mês para ela, tamanha a sua agitação. Quando o dia chegou, mal podia se segurar. Alan já estava preocupado. Outra decepção seria o fim para os nervos de sua esposa. Ela estava a um passo do abismo da depressão, suspensa apenas por aquelas gravidezes imaginadas. Mais um “não” poderia acabar com o resto de disposição que ainda tinha.

  No entanto, ao entrar no consultório, estava confiante. Confiante de tal modo que ninguém poderia dizer que algum dia tivera decepção nisso. Fez o teste, ansiosa, inquieta, e por fim, voltou para casa. Chegaria em no máximo uma semana, via correio. Ela aguardaria. O mais pacientemente que seu coração de mãe pudesse agüentar. E assim foi.

  Três dias mais tarde, estava ela no mercado, fazendo as compras, desatenta ao que pegava, pensando somente em uma coisa: o resultado. Tinha que ver o resultado. Precisava ver, antes que enlouquecesse completamente.

  Alan acabava de chegar do trabalho, um pouco cansado. Leu o bilhete escrito às pressas pela mulher: “Fui fazer compras. Volto logo. Beijos.” Fez o mesmo que fazia em todos os outros dias. Subiu até o primeiro andar do sobrado, tomou um banho curto, trocou de roupa, e desceu para a cozinha, onde seu café já havia sido preparado pela esposa, na garrafa térmica. Pegou uma xícara e foi tomar, ligando a tevê, na sala.

  Paola não estava conseguindo lembrar tudo o que viera comprar ali. As coisas se embaralhavam em sua mente, em volta da expectativa de poder ter certeza de que suas suspeitas estavam certas. O que era mesmo? Trigo, tomates, fermento... xampu, é claro, e... Não conseguia lembrar o que mais. Colocou tudo no carrinho e passou no caixa, ainda sem prestar atenção.

  Em casa, seu marido assistia a tevê sem um pingo de animação. Estava no seu limite. Levantou-se, desligou a televisão, e foi até o portão, na caixa de correio.

  Com as sacolas penduradas nos braços precariamente, e andando com a cabeça a alguns quilômetros de distância, ela se dirigia a seu carro. Estava do outro lado da avenida, no estacionamento do supermercado. E pensava: se for menina, acho que se chamará Glória. Sim, é um nome perfeito. E se menino...

=/S2\=

  Ainda com o papel nas trêmulas mãos, Alan ouvia o homem a sua frente disperso, incrédulo, abatido. Era mentira. Claro, tinha que ser.

  – Ela foi atravessar a rua e, infelizmente, a van a pegou. Ela ainda estava viva quando chegou aqui, mas não resistiu. Meus pêsames.

  Não. Não, não, não! Não era verdade. Impossível. Sua esposa ainda estava viva, tinha que estar. Chegaria em casa e ela estaria preparando o café para ele, ou então estaria tomando banho, e, assim que o visse, lhe daria um beijo, como fazia todas as vezes, e perguntaria se ele estava bem. Sim. Ela estaria lá.

  – Me desculpe, mas quando a minha esposa sai daqui? – perguntou ele, ainda sem acreditar.

  – O senhor quer dizer para o funeral? Eu...

  – Não – disse ele, firme. – Quando ela terá alta...

  O médico viu que aquele homem se agarrava com todas as forças à ilusão de que a esposa ainda estava viva. Sentiu pena dele. Avançou um passo e pôs a mão em seus ombros, estavam trêmulos.

  – Senhor Alan, sua esposa se foi. Eu sinto muito.

  Então ele empalideceu. O choque tomou cada parte de seu corpo impedindo-o de se mexer. Sua esposa... Sua Paola estava... Estava morta. Como ele podia suportar isso?

  Largou-se pesadamente em uma das cadeiras do corredor abafado, o branco das paredes o cegando. Logo o médico pediu a uma das enfermeiras que lhe trouxesse um copo de água. E, depois de beber, seus movimentos foram voltando pouco a pouco. Mas sua consciência ainda vagava, longe, até voltar para o papel em sua mão. Ele saíra tão depressa de casa, ao ser informado do acidente de sua esposa, que nem notou que o trouxera até ali. Estivera agitado demais para parar e deixar o envelope em qualquer lugar.

  Alan o havia agarrado com tanta força que havia amassados nas bordas onde ele segurava. Sem pensar realmente no que estava fazendo, rasgou a parte de cima e tirou um papel dobrado de lá de dentro, lendo sem, na verdade, absorver nada de seu conteúdo. Porém, seus olhos se detiveram em apenas uma palavra. Uma palavra que acabou com tudo:

  Positivo.

  E chorou.


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Notas finais do capítulo

AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH! Chorei litros com essa shot!!!! Vcs gostaram? Sério, eu abri o maior berreiro quando terminei ela! y.v Foi uma coisa totalmente... trágica. Acho que a pior de todas as tragédias que eu já escrevi nessa fic. Ainda tô chorando, acho que vou ficar emotiva por um longo, longo tempo.
Bem, pessoas, espero que tenham gostado tanto quanto eu...
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BeijoS
Miss Doll ;*