Des:contados escrita por Miss D


Capítulo 7
Dívida


Notas iniciais do capítulo

Bem, depois de 15214523215321445 anos sem postar nada, cá estou eu novamente! Não tenho nada para dizer em minha defesa, a não ser que não estou lendo nem escrevendo tanto quanto deveria, e me sinto burra por isso. E extremamente mal por ter abandonado esse site... Bora ler isso, então. Espero que gostem ;)*Estilo depressivo mode on*



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  Eram cinco horas da tarde. O sol ainda estava resplandecente no céu sem nuvens daquele dia. Mas nem o dia, nem a hora, importavam. Apenas uma coisa importava: a menina dentro da casa.

  Ninguém sabia, mas ela sempre se imaginou uma agente secreta. Fernanda adorava assistir filmes como Missão Impossível, onde havia sempre jeitos incríveis de se escapar dos caras maus, e engenhocas para se obter o que quer.

  Foi como aprendeu a arrombar portas, aquele velho truque com o grampo de cabelo. Porém, diferente dos outros dias, ela não estava arrombando simplesmente por arrombar. Havia um objetivo definido, um plano elaborado desde a morte de sua mãe. A única que se importava realmente com ela.

  O pai de Fernanda simplesmente a abandonou, largando-a com a avó doente depois da morte da mãe. A morte que ele havia causado. E ela não iria admitir isso. Jamais! Por isso parou de tomar os remédios. Aqueles que os médicos deram para ela. Eles diziam que iria viver melhor, entretanto isso nunca aconteceria se não se vingasse.

  Com olhos desvairados, a menina relembrava cada cena da morte de sua mãe: não vira acontecer, apenas o resultado. O corpo ensangüentado largado no chão, os pulsos rasgados dolorosamente, e uma navalha em uma das mãos.

  Apertou os olhos marejados. Isso não precisava ter acontecido. Não precisava. Seu pai podia tê-la amado. Ao invés disso, o que fizera? Cansara de botar-lhe chifres. Cansara de traí-la e ainda esfregar em sua cara que ela não era suficiente, que não o satisfazia. Deixara sua mãe morrer para sair por aí com aquelas vagabundas com quem ele andava.

  Ia pagar, disso não tinha a menor dúvida.

  Fernanda deixou tudo preparado. Uma grande e pesada lata num canto da cozinha, onde não poderia ser facilmente vista, a pequena caixinha em cima. Ela pegou o pé de cabra, posicionou-se na entrada para o cômodo, a parede esquerda encobrindo sua silhueta mirrada. Não tinha medo algum.

  Poucos minutos depois, Antônio entrou. Fez isso como em todos os outros dias: largou sua bolsa de trabalho em cima do sofá, tirou os sapatos e as meias e os deixou no primeiro lugar que encontrou, pegou o celular e uma garrafa de 51 na prateleira da estante na sala. Algumas pessoas nunca mudam.

  Sem nem ao menos pestanejar, Antônio retirou distraidamente a camiseta e a jogou no ar, e acabou caindo atrás do sofá. Depois retirou o cinto, depois a calça, e, por último, a cueca, até que estava completamente nu no meio do lugar. Talvez ele se achasse muito bonito e por isso fazia sempre a mesma coisa, até quando sua mãe era viva, Fernanda pensava. No entanto, hoje isso não a deixou irritada. Não. Hoje era conveniente, e até prazeroso, que ele estivesse nu.

  O homem avançou a passos trôpegos em direção à cozinha, a garrafa em sua mão já com menos da metade do líquido sem cor e amargo que insistia em tomar. Ele estava prestes a passar pela passagem até a cozinha quando a menina o acertou com o pé-de-cabra, bem na cabeça, abrindo um corte enorme de onde instantaneamente o líquido vermelho começou a jorrar ininterruptamente, antes que desmaiasse. O primeiro passo estava feito.

  Em seguida, foi até os fundos da casa, agarrou dois rolos de cordas grossas que deixara ali, voltou e foi amarrar as mãos e os pés de seu pai separadamente. Já vira isso muitas vezes em filmes, e não havia erro. Fernanda era de tal modo fascinada por essas situações que aprendera, entre muitas outras coisas, a dar nós perfeitos também. Por esse motivo não tinha nenhuma dúvida de que seu pai não escaparia. Estava acorrentado ali.

  Pelos pés, a menina o arrastou até o meio do quarto onde antes sua mãe dormira. Intimamente, Fernanda tinha o desejo de que, de alguma forma, ela estivesse vendo aquilo. Testemunhando sua mais plena vingança, e sentindo-se melhor por ver aquele homem pagar no mesmo lugar onde um dia deitara sobre o chão e expirara seu último fôlego de vida.

  Sentou-o em uma cadeira de metal previamente preparada ao centro do quarto, mãos para trás. Sentia um delicioso formigamento pelo corpo, seu sangue correndo ligeiro pelas veias. Afinal, uma verdadeira missão. Digna de James Bond, até. Ela sorriu maliciosamente.

  Voltando à cozinha, pegou a lata e a caixinha que deixara escondidas ali, e retornou para o último estágio de seu plano. O líquidos escorria de dentro da lata para todos as partes do cômodo: paredes, cama, os pés de seu pai, o criado-mudo, o pequeno guarda-roupa, as roupas íntimas que vadias esqueciam ali. Tudo. E, quando havia terminado, tirou a caixinha que colocara em seu bolso, retirou um palito de fósforo de dentro, segurando-o entre o indicador e o polegar, e fitou-o, hipnotizada. A ponta vermelha, o curto cabo de madeira. Seu instrumento final que faria dela vitoriosa.

  Seu pai acordou alguns instantes depois, enquanto ela esperava de pé, o olhar fixo naquele homem cruel que arruinara sua vida para sempre. E ele pagaria por isso.

  — Filha? — balbuciou, ainda grogue pela pancada e juntando as informações em seu cérebro. — O que aconteceu, garota? O que faz aqui? Cadê a sua avó?

  Ela sorriu gentilmente. Seus olhos pareciam brilhar com chamas vivas e escarlates e uma contemplação interior do fim.

  — Fer... nanda? — sussurrou, consciente agora do perigo que estava correndo, e completamente aterrorizado com isso. — Por favor... Por favor não faça isso... Pense na sua mãe, o que ela diria, o que ela faria... Raquel não...

  — Não diga o nome dela! — Fernanda o interrompeu abruptamente com voz firme, porém baixa. — Você não tem esse direito.

  — Mas...

  Ela sorriu novamente, um sorriso perverso e frio que gelou as entranhas do homem nu na cadeira.

  — O senhor tem uma dívida, meu pai. E dívidas como a sua são as mais perigosas. Seu prazo expirou, e agora eu vim cobrá-lo.

  — Minha filha eu...

  Ela levanta a mão ainda segurando o palito entre os dedos.

  — Não há mais salvação para mim. Jamais poderei me libertar — disse, já claramente delirando. — E desta forma ponho fim e consumo pelo fogo o sangue que foi roubado pela carne.

  Então acendeu o palito e o jogou no chão, de onde imediatamente se ergueram altas e poderosas chamas, lambendo e consumindo tudo a sua volta.

  Minutos mais tarde, ao longe, sons de ambulância tornavam-se cada vez mais nítidos, aproximando-se da casa onde pai e filha, presos por laços muitos mais fortes que apenas um simples grau de parentesco, e igualmente perdidos, eram engolidos pelo fogo.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam, o que acharam? Péssimo? Terrível? Beirando a loucura extrema? Sei disso. Não posso evitar. Essa história surgiu do nada na minha cabeça, em um de meus muitos períodos de depressão, e simplesmente saiu assim. Não me culpem.
Pelo menos não tanto.
Só peço uma coisa (mesmo sabendo ser demais): reviiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiieeeeeeeews!
BeijoSMiss Doll ;*



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