SANTUÁRIO – GRÉCIA

SALA DO GRANDE MESTRE

No tempo que passou Shion já se restabeleceu, porém segue se precavendo e reassume o posto de Grande Mestre, deixando Aioros se preparando para o cargo no futuro. Ele convocou Milo até sua sala. O cavaleiro de Escorpião chega e o reverencia.

— Com sua licença, Grande Mestre. O que o senhor deseja?

— Milo tenho uma missão para você.

— Qual missão?

Shion se levanta e anda de um lado para o outro, mostrando preocupação.

— É o seguinte Milo. Quando estive a última vez no Japão percebi algumas ameaças vindas da cidade de Osaka. Quem anda por lá é a amazona Mayura de Pavão no radar das escudeiras de Athena, também conhecidas como saintias. Mas senti algo realmente perigoso, um cosmo fora do comum e estou bastante preocupado. Senti que esse cosmo se intensificou nesse último mês e pode nos trazer problemas. Preciso saber do que se trata. Gostaria que você fosse até lá averiguar.

Milo olha para Shion se mostrando orgulhoso.

— Grande Mestre, se houver alguma ameaça, eu, Milo de Escorpião, a deterei. Pode confiar em mim senhor.

— Eu confio Milo. Você pode partir imediatamente. – Pede Shion.

Milo concorda e quando está saindo da sala do mestre, encontra Camus se aproximando, entrando na sala.

— Veio incomodar o Grande Mestre Camus?

— Eu incomodar? Claro que não, vim conversar com ele sobre um assunto e ele me permitiu vir. Quem deve estar o incomodando é você sem parar de falar igual uma matraca.

Milo sorri. Os dois se cumprimentam. Logo eles percebem que o Grande Mestre está os observando.

— Desculpe a nossa falta de compostura senhor. Não queríamos o desrespeitar... – Milo tenta se justificar. Ele e Camus cultivavam uma grande amizade há anos.

— Está tudo bem Milo. Pode ir. E você pode entrar Camus. – Responde Shion.

Camus se aproxima e reverencia o mestre de olhos fechados.

— Obrigado por me receber Grande Mestre.

— Você e Milo são muitos amigos não é?

Camus abre os olhos e olha para Shion.

— Somos sim.

— Pelo que vejo se conheceram muito antes dos demais cavaleiros.

Camus fica mais próximo do mestre.

— Sim senhor. Eu quando estava em treinamento vim para o Santuário e quando fui regressar a Sibéria, antes acabei conhecendo a Ilha Milos, onde Milo treinava. Lá nos conhecemos e pouco tempo depois ele foi conhecer a Sibéria. Treinamos um tempo juntos e criamos um grande laço de amizade.

Shion balança a cabeça positivamente.

— Isso é ótimo. É muito importante os cavaleiros serem próximos, aliás, somos todos companheiros. Mas o que te trouxe aqui, Camus?

Camus dá alguns passos à frente se mostrando bastante confiante no que veio pedir.

— Soube que o senhor em breve irá recrutar garotos para se tornarem cavaleiros de Bronze e com isso eles terão rigorosos treinamentos. Eu gostaria de solicitar ao senhor que eu seja o mestre de um deles.

— Você? – Se surpreende Shion.

Camus volta a fechar os olhos e se afasta um pouco.

— Sim. Eu sei que na Sibéria há uma armadura que está aprisionada há muito tempo nas geleiras. Ela se trata da armadura de Bronze de Cisne e nenhum cavaleiro jamais a trajou desde a primeira geração de cavaleiros. Acredito que eu seja capaz de treinar um aspirante a essa armadura.

Shion volta a se levantar.

— Isso é ótimo Camus de Aquário, essa armadura estava realmente no meu radar. Vou averiguar essa situação e guiarei um aspirante a você sim. E nesse momento você regressará a Sibéria.

— Agradeço senhor. Será muito importante para mim. – Camus o reverencia e se retira. Shion fica orgulhoso.

Pouco depois é Albion quem se apresenta na sala do Grande Mestre.

— Queria falar comigo Albion, cavaleiro de Prata da constelação de Apus?

— Sim senhor. Regressei a pouco da minha missão em terras asiáticas. Se recorda daquela menina que avisei o senhor que encontrei na Turquia? Ela está em um orfanato local que está para fechar. Sinto nela um cosmo interessante, penso em levá-la até o Japão, ela pode aprender muito nessa nova fase.

— De acordo Albion, pode levá-la. Será importante uma amazona nova em treinamento também.

Albion fica satisfeito e se retira para ir buscar June.

OSAKA – JAPÃO

Uma bela menina ruiva, de cabelos médios e olhos vermelhos que tem 7 anos corre assustada na noite da cidade. Ela sente algo a seguindo. Ela vinha do mercado próximo de sua casa, e para fugir do que a perseguia e acabou se perdendo. Ela se desespera.

— Papai... Irmã... Socorro! Me ajudem!

Uma serpente surge e tenta a agarrar. A menina escapa, grita e chora.

— “Finalmente te achei, minha pequena anfitriã”.— Diz a voz saindo da serpente.

— Não! Socorro!

Logo a serpente desaparece e uma bruxa aparece mostrando para menina uma maçã vermelha e suculenta. Os olhos da menina parecem vidrados.

— Venha é um presente para você. É só você dar uma mordida e todo o seu medo e seus problemas desaparecerão. Ficou com vontade, não é? Venha, está suculenta, é toda sua.

A menina parece não se controlar e vai pegar a maçã para comer. Nesse momento, outra menina surge gritando. Ela tem longos cabelos azuis escuros e olhos vermelhos parecidos com os da outra menina. Ela tem 10 anos.

— Shoko não!

A menina se vira e olha para a outra menina que chegou.

— Kyoko!

— Você não pode pegar coisas de estranhos!

A bruxa se surpreende com a chegada da outra menina.

— Eu quero Kyoko, está suculenta, eu estou com fome! – Responde Shoko. (*)

A bruxa sorri.

— Venha menininha, é toda sua!

Shoko se aproxima para pegar a maçã. A maçã se torna dourada e a bruxa se torna uma mulher que tem cauda de serpente. A mulher lança sua cauda para atacar Shoko, e Kyoko se desespera correndo em direção a irmã. Logo uma luz dourada surge. É um homem segurando a pequena Shoko no colo. Ele é Milo de Escorpião. Shoko desmaia no colo de Milo. Milo dispara contra a mulher, que desaparece.

— Devolva minha irmã Shoko! – Grita Kyoko.

— Vocês são irmãs? – Questiona Milo colocando Shoko deitada no chão.

Milo encara Shoko desmaiada no chão.

— Então essa menina... Agora compreendo a preocupação do Grande Mestre. Essa menina... Eu tenho que evitar o renascimento daquela deusa maligna. – Milo ergue a unha de seu dedo indicador direito para atingir a menina com uma ferroada.

— Não! — Kyoko grita e se joga em cima do corpo de Shoko. Milo observa.

— Saia da frente!

— Não! Essa menina é minha irmã, não é nenhuma deusa maligna. – Grita Kyoko.

Milo encara Kyoko e sente algo vindo dela e da irmã desmaiada.

— Essas meninas... Elas nasceram sob a estrela de um destino cruel. Elas podem ficar presas a ele ou resistir dependendo de como levarem a vida. Isso que aconteceu hoje irá acontecer novamente no futuro. – Comenta Milo.

— Destino? Do que está falando? – Pergunta Kyoko.

Milo olha para a jovem garota que segue protegendo a irmã desmaiada.

— Se vocês forem fortes podem mudar isso. Os humanos têm o poder de mudar seus destinos.

Milo se retira. Kyoko fica impressionada com tudo o que aconteceu. Shoko retoma a consciência por um breve instante, mas logo ela volta a desmaiar. Kyoko a abraça.

— Eu preciso ficar forte... Para proteger a Shoko.

Milo olha as meninas de longe, em cima de uma montanha. Ele sente uma mão em seu ombro.

— Hein... Mayura de Pavão!

— Sim sou eu, Milo de Escorpião. Percebi você olhando aquelas meninas... Eu há pouco tempo estava de olho nelas.

Milo conta o ocorrido para Mayura. A amazona de Prata tem certeza do que fazer.

— Diga ao Grande Mestre que protegerei essas garotas. Como você bem sabe, elas têm que lutar contra o destino, mas elas são inocentes, não podem ser sacrificadas, você fez bem. Nascer sob a mesma estrela maligna de Éris vai fazer essa deusa maligna querer tomar o corpo de uma delas. A caçula é a principal vítima da deusa da discórdia.

Milo concorda e diz que irá relatar ao Grande Mestre. No dia seguinte, Mayura percebe Kyoko saindo para a escola assustada. Ela se aproxima.

— Garota!

Kyoko se assusta ao ver a mulher mascarada. Mayura se apresenta e conta que sabe tudo o que aconteceu na noite passada. Mayura a conta sobre toda sua história como amazona. Kyoko era estudiosa e acreditava em tudo sobre os deuses e sobre os cavaleiros. Ela sente que Mayura fala a verdade.

— Você realmente quer livrar você e sua irmã desse destino? – Questiona Mayura.

— É claro que sim!

— Estou recrutando saintias, uma classe diferente de amazonas que são a guarda pessoal de Athena, suas escudeiras. Vejo que você é indicada, caso queira treinar comigo. Estou recrutando outras meninas capacitadas. Aceita? – Questiona Mayura.

Kyoko está certa em sua decisão.

— Sim senhora Mayura. Mas preciso levar minha irmã junto... Ela também sofre perigo!

— Não se preocupe, não iremos longe, vamos para Tóquio e ficarei de olho nela. Ela está fora de perigo, a próxima ação de Éris demorará. Ela no momento certo também poderá, se assim quiser, aprender a se defender sozinha.

Kyoko aceita. Ela que estava para estudar fora da cidade aproveita e usa como desculpa para o pai. Uma das saintias está escolhida por Mayura.

PIREU – GRÉCIA

Um homem acaba de deixar o teatro, onde trabalha. Ele vai até a proximidade do rio que tem na região e respira fundo. O homem é simplesmente Noesis que não tirava o dia em que foi expulso do Santuário da mente.

— Já faz mais de uma década... Por que tenho pensado tanto naquele dia... Como estará o Santuário?

Logo ele vê uma sombra se aproximando e o incomoda.

— Que cosmo intenso.

Ele se vira de frente e percebe alguém o observando.

— Quem está aí? Vamos se mostre!

— Vejo que mesmo após tanto tempo afastado do Santuário segue com a mesma boa intuição de sempre. E reconhece um cosmo. – Diz o homem se aproximando.

Noesis arregala os olhos ao avistar o homem.

— É você... Saga... Saga de Gêmeos.

O homem encara Noesis e fecha os olhos.

— Como sempre me confundem com meu irmão mais velho! Não eu não sou Saga, eu sou Kanon, seu irmão gêmeo.

Noesis se assusta.

— Kanon?

Kanon se aproxima de Noesis.

— Sim, eu sou irmão gêmeo de Saga. Um homem que assim como você, já fez muitas coisas erradas.

Kanon conta tudo o que aconteceu com ele após ser trancado na prisão do Cabo Sunion. Noesis fica impressionado.

— Isso é de fato verdade?

Kanon eleva seu dedo e um grande brilho surge no rio. Do fundo das águas surge a escama de Dragão Marinho.

— Incrível! Você possui mesmo uma das escamas de Poseidon. – Exclama Noesis.

— Sim Noesis. Poseidon me revelou que está em dívida com Athena. Me aliei a ele. Mas se for mentira eu não vou permitir que o deus dos mares aja contra Athena. Mas sinto que ele está falando a verdade. Sinto que existem reais ameaças que estão querendo tomar o controle da Terra. – Diz Kanon.

Noesis olha para o rio vendo o Sol se por. Ele se vira para Kanon.

— Como me encontrou aqui? E o que quer comigo?

— Saga me contou tudo sobre você na época em que estava no Santuário, sobre o auxiliar traidor do Grande Mestre. Soube da sua grande habilidade de enganar se fazendo passar por outra pessoa. Não foi difícil te encontrar, seu cosmo é perceptível. Senti dentro de você um grande arrependimento, assim como há em mim.

Noesis fecha os olhos abaixando a cabeça.

— Isso pouco importa agora. Estou expulso do Santuário já faz uma década. E de forma justa. Não há mais nada que eu possa fazer.

— E aceitará ver a Terra ser invadida e Athena podendo ser morta e ter seu Santuário destruído passivamente? – Kanon instiga.

Noesis anda um pouco a frente, se aproximando ainda mais do rio.

— Se tiver ao meu alcance dedicarei minha vida a proteger esse planeta. Já fui muito ganancioso, quis entregar os segredos de Athena aos maus homens da Terra. Percebi que isso não significa nada. Hoje sou um ator de teatro, consigo imitar vários personagens muito bem, mas sei que meu destino era ser um guerreiro. Me sinto um fraco e inútil.

Kanon se aproxima.

— Não é momento para se vitimizar. Sua habilidade me lembra muito a de lymnades, ninfas da mitologia que tinham a capacidade de se metamorfosear. Há pouco derrotei um monstro que era destinado à escama de Lymnades, mas não é momento de associar seres malignos ao novo exército de Poseidon. Se realmente quer proteger a Terra você pode se preparar para conquistar essa escama. Um homem que chegou a disputar a armadura de Sagitário com Aioros é um homem de grande valor. O que me diz?

Noesis se mostra bastante interessado.

— Poder voltar a ser um guerreiro... É a minha vontade... Mas jamais trairei Athena de novo.

— Nem eu. Vamos nos aliar a Poseidon, eu sou o chefe dos marinas. Assim como você não posso regressar ao Santuário. Não é só Athena, é a Terra que poderemos proteger. Sinto que Hades não é a única ameaça. Só de Poseidon não querer causar o dilúvio, mostra que ele é o melhor deus para nos aliarmos. Ele é o Imperador dos sete mares. – Diz Kanon.

Noesis olha para seu reflexo no rio bastante pensativo. As palavras de Kanon o convenceram.

— Tem razão Kanon. Não vou ficar parado. Quero saber os planos do Imperador Poseidon. Se ele quiser proteger a Terra do mal, estarei ao lado dele.

Kanon empurra Noesis para dentro do rio.

— O que está fazendo?

— Não se preocupe. Venha comigo e iremos agora para o Templo Submarino. Lá você começará seu novo caminho.

Kanon e Noesis desaparecem no mar.