Era Uma Vez... Uma Ilusão escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 13
12. Você não precisa tentar se justificar... Nem sempre é possível gostar de todo mundo.




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Devonshire House, Londres

 

— Perfeita! Você foi perfeita, Cathrine! Não deu sinal algum de ansiedade. — Richard ainda mostrava-se muito contente pela apresentação mais cedo, e Cathrine também, mas a única ação dela era sorrir agradecida e abaixar a cabeça, corando levemente. — Vamos, Anne, diga novamente como a marquesa foi perfeita!

Talvez fosse pedir demais. Anne, até então encostada na berlinda, observando entediadamente o andar das carruagens, olhou friamente de lado para Richard e revirou os olhos. Com certeza, era pedir demais. Voltando-se ao marido, que fitava irritado a irmã, Cathrine sorriu tranquilamente.

— É melhor pararmos, Richard, ou acabaremos irritando Anne. — O marquês, em completo descontentamento, voltou-se imediatamente a esposa e negou veemente.

— Não! Anne também deve ficar feliz por você, na verdade, ela deveria agradecer! — Agradecer!? Os olhos de Cathrine arregalaram com a menção dessa palavra e se encheram de medo quando Anne a encarou... indignada. Ela negou, mas Richard ainda acrescentou num tom cobrador: — Vamos, Anne, agradeça! Não comece essa noite perfeita com uma descortesia.

— Descortesia!? — Semicerrando os olhos, a princesa repetiu em completa indignação. Parecia o início de uma discussão, Cathrine até fechou os olhos em desprazer, porém... a carruagem parou em frente a Devonshire House. — Chegamos? Oh, graças ao Todo-Poderoso, acabou a tortura.

Unicamente porque eles não poderiam ser vistos brigando. Mas Cathrine discordava da cunhada, na verdade a tortura estava apenas começando... para ela, no caso. Respirando fundo, a marquesa olhou pela janela, já conseguindo observar muito do interior da Devonshire House... incluindo as pessoas. Cathrine rapidamente fechou as cortinas.

— Isso não era para ser mais fácil!? Pois não sinto facilidade alguma. — Afinal de contas, era o baile da duquesa de Devonshire, amiga íntima até da falecida Marie Antoinette. Levando uma mão ao estômago, Cathrine fechou dolorosamente os olhos. — Oh, meu estômago, parece não parar!

A marquesa quase se contorceu com o desconforto, fazendo Richard pegar instantaneamente ambas as mãos dela, fitando-a muito preocupado. Sentindo passar, foi bastante rápido, Cathrine sorriu ao marido, que sorriu de volta. Anne, porém, revirou os olhos para tudo isso.

— Você reclama por nada, Cathrine. Deve ser apenas suas dores de mulher. — Por que não havia a possibilidade de ser outra? A marquesa virou o rosto, muito magoada com essa insensibilidade. Richard fitou duramente a irmã, que suavizou o rosto, mas não os olhos. — Responda-me, Cathrine, mas sem qualquer obrigação:... quem estará presente hoje?

O quê? Lentamente, a marquesa voltou-se à cunhada, isso seria algum tipo de brincadeira, ou seria um teste de mau-gosto? Porém, para o desprazer dela, Anne realmente parecia esperar uma resposta, Cathrine fitou Richard e... encontrou um olhar de expectativa. Respirando fundo, Cathrine tentou voltar à compostura.

— Estarão os Devonshire, os Spencer e... eh... os Bessborough... e... eu já falei Cavendish? — Anne arqueou uma sobrancelha, talvez mostrando ironia, mas Cathrine sentiu-se humilhada. Richard acenou para a esposa continuar, até que... uma luz veio a ela. — Em resumo: toda a mais alta sociedade britânica.

— Que a julgar pelos nomes dados por você, resume-se apenas na duquesa de Devonshire e seus irmãos. — Muita rápida, tanto que nem deu tempo para a marquesa sorrir satisfeita consigo mesmo, Anne respondeu irônica.

— Por favor, Anne, Cathrine foi ótima. — O marquês logo tomou o partido da esposa, recebendo um revirar de olhos da irmã. Richard sorriu largamente para Cathrine e retornou a irmã. — Eu já não havia dito para...

No mesmo momento que ele falava, até como se fosse planejado, a porta da berlinda finalmente foi aberta, dando para Anne a chance de "fugir". Que situação, Cathrine negou lentamente, só que levemente satisfeita. Mas por que eles haviam demorado tanto para abrir? A marquesa encarou Richard, que respirava fortemente a fim de manter a calma.

— Vocês não vêm? Assim estaremos impedindo os outros de entrar. — Ao contrário do irmão, Anne não teve receio algum de mostrar ironia.

O peito de Richard subia e descia tanto, que Cathrine chegou a pensar que ele iria ter um colapso mental, mas nada aconteceu, graças ao Todo-Poderoso. O marquês sorriu, então a marquesa forçou um sorriso no rosto e depois saíram os dois da carruagem. Eles foram conduzidos então pela Devonshire House até o salão, parando as portas.

Que coisa! Cathrine respirou fundo e apertou o braço do marido. Richard e Anne, porém, não mostravam preocupação alguma, estavam tão calmos como se estivessem em casa, como eles conseguiam!? A marquesa negou consigo mesma. Porém, nesse mesmo instante, o nome deles foi anunciado e as portas duplas do salão foram abertas. Uma grande multidão foi revelada.

Estava cheio, muito cheio! O coração de Cathrine quase parou percebendo isso e faltou apenas sair para fora quando eles três entraram no salão, parando logo em seguida. Todos olhavam para eles, Richard, Cathrine e Anne eram o foco da multidão. Era desconcertante, assim como estranho o fato deles estarem parados. Entretanto, antes dela fazer qualquer pergunta... os olhos de Cathrine arregalaram.

— É uma perfeição tê-los aqui, Suas Altezas Sereníssimas! — Exibindo um encantador sorriso no rosto, uma impressionante dama, acompanhada por uma jovem de cabeça baixa, aproximou-se dos Bristol... a duquesa de Devonshire. — Sejam bem-vindos, minha Devonshire House é sua Devonshire House.

— É impossível pensar o contrário com tanta hospitalidade, Sua Graça. — Estava confirmado, era a duquesa. Cathrine, assim como Anne, manteve-se calada, mesmo recebendo sorrisos da líder social. Richard pegou a mão da tímida jovem e a beijou. — Lady Georgiana.

Certamente a filha mais velha dos Devonshire. Lady Georgiana assentiu ao marquês e depois fez uma mesura às princesas, que assentiram. Tudo sob o olhar da sorridente da duquesa... que contraste.

— Sei que já disse isso, mas é uma alegria tê-los aqui, é o primeiro grande evento do ano, afinal! — Direcionando para eles um sorriso, a duquesa comentou. Foi o suficiente para fazer Cathrine sorrir, mesmo com a atenção voltando-se para Anne. — Foi perfeita a sua apresentação mais cedo, minha princesa.

— Eu agradeço, Sua Graça. — Com um curto sorriso, Anne respondeu educadamente, olhando logo em seguida para Lady Georgiana. — Mas com certeza a estrela do próximo ano será Lady Georgiana.

— Estamos trabalhando na perfeição, minha princesa, mas Little G me orgulhará de qualquer forma. — Ao afirmar isso, a duquesa encarou amorosamente a filha, que sorriu verdadeiramente. Isso impressionou Cathrine. Porém logo Georgiana voltou-se aos Bristol, a marquesa, mais especificamente. — E falando em orgulho, minha marquesa também foi perfeita. Katherine certamente estaria muito satisfeita.

Agora, talvez até inerentemente, a duquesa criou uma sombra entre eles. Por um rápido momento Cathrine pensou ter visto o sorriso de Richard tremer.

— Com certeza estaria. — Sem sorriso sincero ou alegria na voz, Richard respondeu. Estava confirmado: não foi apenas uma impressão.

— Katherine era perfeita, nunca mostrava incômodo, nem em situações ruins. Ela sempre cumpriu o dever. — Havia uma grande reverência nas palavras da duquesa, tanto que Cathrine sentiu o estômago embrulhar. Que sombra terrível! E não apenas para ela, Richard quase não segurava o sorriso, enquanto Anne procurava urgentemente uma fuga. — Mas... não vamos nos entristecer, lembremos do passado apenas com alegria.

Graças ao Todo-Poderoso, a própria duquesa de Devonshire percebeu a situação e mudou o foco.

— Novamente, agradecemos pela hospitalidade. — Sorrindo, praticamente em agradecimento, Cathrine respondeu docemente, ganhando um sorriso da duquesa.

— Não existe o que agradecer, minha marquesa. Ah, mas eu lembrei de algo. — Como...? Antes que Cathrine pudesse pensar mais, Georgiana pegou calorosamente as mãos dela e sorriu. — Seja muito bem-vinda... Cathrine. Você será perfeita.

Havia tanta doçura e naturalidade na voz de Georgiana Cavendish, parecia até uma boa amiga. Cathrine sorriu verdadeiramente agradecida e assentiu, poderia alguém não gostar dessa mulher? Foi comovente, mas logo a duquesa teve que receber os outros convidados e eles se afastaram.

— Gostei da duquesa de Devonshire, — Enquanto os três andavam pelo salão, praticamente sem rumo, Cathrine comentou fitando Richard. — ela é tão gentil.

— Todos gostam da duquesa, tanto que ela e mamãe eram melhores amigas. — Ainda sem rumo, o marquês respondeu distraído, porém logo ele teve a atenção capturada. Anne riu divertida.

— Melhores amigas? Quanto exagero, Richard. — Imediatamente eles pararam. Exagero? Cathrine franziu o cenho para a cunhada, porquê não poderia? Anne, porém, negou cética e voltou-se à multidão. — Creio que...

— Mas vejam só, os belos Bristol! Como é feliz revê-los!

Voltando-se para trás, os três encontraram uma orgulhosa dama, bastante familiar para Cathrine, acompanhada por um alto e belo, assim como sério, jovem, esse não muito familiar. Por um momento, nada os Bristol falaram. A marquesa semicerrou os olhos, tentando lembrar, mas ela foi praticamente puxada por Richard a fim de fazer uma mesura. Então eram importantes.

— Sem mesuras, por favor, somos praticamente primos. — Com certeza eram muito importantes. Após as mesuras, a dama encarou fixamente Cathrine, embora sorrindo. — Afinal de contas, todos viemos de Elizabeth Stuart de um lado e do duque George de Brunswick-Lüneburg do outro.

Foi? Mas esses dois tiveram tantos filhos e... Cathrine não descendia de Elizabeth Stuart, ela compartilhava um ancestral em comum até com os Habsburg, mas nada de Elizabeth Stuart. Porém Cathrine, balançando a cabeça, deixou as divagações de lado.

— É o costume, você sabe disso. — Richard respondeu sorrindo largamente. Por Deus, quem eram? Cathrine mordeu os lábios e fitou Anne, que analisava o cavalheiro. E falando no jovem, até Richard o encarou. — E esse com você, Charlotte, quem é?

— Como assim "quem é"? Claro que é Fritz! — Charlotte riu espirituosa, como se fosse óbvio, o que fez os Bristol se entreolharem. E Fritz seria? A dama percebeu então a confusão. — Meu enteado mais velho.

— E príncipe hereditário de Württemberg, mamãe. — Württemberg… Württemberg!? Os olhos de Cathrine arregalaram em horror. Essa na frente dela era Charlotte, a princesa real e também duquesa consorte de Württemberg! O príncipe hereditário voltou-se aos Bristol. — É um prazer, Suas Altezas Sereníssimas.

Friedrich, o príncipe hereditário, fez uma mesura ao príncipe de Niedersieg e depois beijou a mão tanto da princesa consorte quanto da princesa Anne, ambas sorriram levemente, embora a segunda quase por obrigação. De fato, um jovem muito bonito, apesar dos normais olhos azuis e cabelo loiro, e alto, embora não tanto quanto Richard.

— Fritz não é encantador? — Tendo observado atentamente todas as ações do enteado, a duquesa comentou e olhou sugestiva para Anne. — Ele veio comigo para conhecer as belezas da Inglaterra e, quem sabe, conseguir uma esposa.

— Quem sabe, não é? — Oh Deus! Um divertido sorriso surgiu nos lábios de Cathrine, principalmente com esse comentário da cunhada. Não era preciso ser um gênio para saber a opinião dela. Anne analisou Fritz e acrescentou: — Mas não seria melhor na Alemanha? Ou talvez Áustria e Rússia?

— Não há lugar para casamento numa guerra, minha princesa. — Apenas na Inglaterra? Anne assentiu lentamente ao príncipe hereditário, que então franziu o cenho e... sorriu de lado. Um belo sorriso. — Eu presenciei a sua apresentação a rainha, foi esplêndida. Niedersieg sempre foi sinônimo de beleza.

— Vamos ficar arrogantes com tantos elogios assim. — O sorriso do príncipe hereditário voltou-se à marquesa. De fato, muito encantador. Seria um... conquistador? A duquesa de Württemberg sorriu amplamente. Cathrine fitou a cunhada. — Não é, Anne?

— De fato, foram muitos elogios. — Abrindo seu leque, Anne respondeu lentamente, embora num tom entediado. Os cinco ficaram em silêncio um momento, até que escutaram o som de instrumentos sendo afinados. — As danças logo começarão. Acho que vou procurar Lady Compton, com licença.

Uma fuga, Anne estava prestes a deixá-los sozinhos com a princesa real e o príncipe hereditário. Eles aguentariam, de qualquer forma. Porém essa "fuga" não alegrou em nada a duquesa de Württemberg, que encarou o enteado e acenou para Anne. Fritz suspirou.

— Vamos dançar, minha princesa? — Antes mesmo que Anne pudesse se despedir, Fritz estendeu uma mão a ela. A princesa hesitou, mas acabou aceitando.

O sorriso da princesa real foi solar, mas logo ela também afastou-se. Agora sozinhos, Cathrine e Richard se entreolharam, levemente preocupados, e... deram os ombros, ainda não era problema deles. Não demorou muito e outros nobres e aristocratas se aproximaram deles. Já começou.

*****

Por que, Deus? Por quê? A culpa pertencia unicamente a ela, de fato, mas ainda assim, por quê? Anne, em pé ao lado do príncipe hereditário, arrependia-se profundamente por ter aceito o convite dele, mesmo que a dança ainda não tivesse realmente começado. Ambos estavam desconfortavelmente calados e, como se não fosse o bastante, ele pouco olhava para ela.

O "Fritz" preferia observar as lindas belezas inglesas passando, com certeza elas eram mais "exóticas" que as alemãs. Anne revirou os olhos e voltou a se abanar com o leque. Quanta humilhação! Poderia piorar...?

— Eu... peço desculpas pela "animação" da minha madrasta. — Custou muito para ela não fazer uma careta ao ouvi-lo, então poderia sim piorar. Anne forçou-se a sorrir para o príncipe, que fez o mesmo. Um belo sorriso. — Você... digo, minha princesa sabe como ela é.

Exuberante, para não dizer dramática? Anne riu consigo mesma e negou. A princesa real poderia não ser a mais bela das filhas de George III e da rainha Charlotte, mas sabia chamar atenção.

— Todos já estamos acostumados com a personalidade dela, então chega a ser divertido. — Mas também inconveniente, como agora. O silêncio retornou, até que Anne percebeu Fritz olhando para... o decote de Lady Georgiana Gordon... isso ela não aguentaria. — Mas creio que ela esteja apenas preocupada com o seu futuro.

— Oh, nem me lembre disso! — Voltando-se para Anne, Fritz exclamou entediado. Foi o suficiente para matar o sorriso dela. — Era casamento ou universidade, eu não queria nenhum dos dois, mas Friedrich diz que eu devo "agir mais" como o herdeiro de Württemberg. Mas eu sou jovem, tenho apenas 17 anos e quero viver!

Mesmo com o príncipe encarando-a fixamente, Anne fitou Lady Georgiana Gordon e depois Fritz, com um olhar mais irônico que compreensivo. Certamente esse "viver" seria gastar dinheiro, estar com mulheres belas, algumas de virtude questionável, e ser encantador. Todos os pontos estavam começando a se conectar... a princesa suspirou.

— Parece uma existência tão vazia. — Fritz imediatamente franziu o cenho com esse desdenhoso comentário. E Anne ainda acrescentou com falsa preocupação: — Com certeza seu pai, o duque de Württemberg, deseja apenas o seu melhor, que meu príncipe não sofra.

— Ah, eu acredito, mas não compartilho os desejos dele! — Sorrindo, o príncipe respondeu inflexível. Surpresa, Anne desviou o olhar dele, quando ódio pelo pai! Porém... a forma como foi tratada a duquesa Augusta... O sorriso de Fritz tornou-se malicioso. — Desapontada, princesa? Triste por saber como realmente sou?

Rapidamente Anne voltou a encarar Fritz, mas que sorrisinho provocador! O desejo dela era... a música começou a tocar, os pares foram feitos e... uma ideia surgiu na cabeça da princesa. Sorrindo lindamente, Anne estendeu a mão ao príncipe, que, mesmo desconfiado, aceitou e a levou para dançar.

Durante todo o trajeto, a princesa sorriu, e continuou a sorrir durante o cotillion, Anne até mesmo riu, principalmente quando Fritz a "perseguia" quando ela ia mais rápido. Mas não foi nada disso que ela planejou, na verdade o plano dela foi posto em prática apenas no final do cotillion. Quando estava prestes a acabar... Anne pisou fortemente no pé de Fritz, que gemeu de dor.

— Oh meu Deus, eu o machuquei!? — Muito dramática, mais que o necessário, Anne tentou tocar em Fritz, mas ele afastou-se abruptamente, furioso. Porém... ele logo percebeu que estavam olhando.

— ... N-não foi nada, minha princesa. Pareceu uma saca de algodão. — Algodão molhado, certamente. Dava para ver a dor nos olhos dele. Fritz novamente afastou-se dela e sorriu, principalmente para os que observavam. — Estou ótimo!

— Que ótimo. — Não que importasse. Anne rapidamente deu as costas para Fritz e afastou-se. Porém, não muito longe, ela voltou-se para trás. — E quanto a sua pergunta, a resposta é não. Prefiro morrer solteira do que casar com... tipinhos como o seu.

Dando ao príncipe hereditário, muito atordoado e confuso, um último olhar desdenhoso, Anne voltou-se para frente e saiu. Era o fim, deveria ser o fim, mas não foi assim. Fritz encarou a princesa afastando-se, encarou furiosamente, até que... um sorriso malicioso surgiu nos lábios dele. Não seria assim. O príncipe hereditário andou rapidamente em direção a princesa.

— Vamos tomar um refresco, minha princesa? Foi uma dança exaustiva. — Ele... estava com os braços envolta dela? Anne encarou Fritz, que a encarou de volta e imediatamente se afastaram, corando violentamente. Tudo tinha limites. Porém logo o príncipe voltou a sorrir desafiador. — Você mudará de ideia.

— Aceito o seu convite. Quanto à segunda parte... — O príncipe a encarou com curiosidade, mas a princesa voltou a andar e sorriu com o mesmo desafio. — boa sorte.

O príncipe hereditário sorriu e andou para o lado dela, um sorriso que Anne também mostrou. Que o mais forte vencesse.

*****

Bocejando altamente, sem qualquer compromisso com a educação, Richard apoiou a cabeça na carruagem e fechou os olhos. Mas que cansaço! Definitivamente, Georgiana Cavendish fazia ótimos bailes, e a prova viva, ou talvez morta, disso era Anne, que cochilava deselegantemente encostada na moldura da janela. Como diziam uns: foi uma noite intensa.

— Nunca dancei tanto em toda a minha vida. — Abrindo um olho e fitando Cathrine, Richard comentou numa baixa, assim como cansada, risada. A marquesa, exausta, sorriu.

— Eu nunca nem mesmo estive em um baile. Mas você está certo. — Ela estava sorrindo, sorrindo de verdade, o que fez ele sorrir também. Cathrine, porém, mordeu maliciosamente os lábios e sussurrou: — Meus pés estão doendo como nunca antes, será que... criará bolhas?

Oh não, era isso!? Richard negou e... ambos começaram a rir sem escrúpulo algum, fazendo até Anne reclamar deles, o que apenas causou mais risadas. Uma perfeição, essa noite estava sendo uma perfeição, assim como uma animação. Richard e Anne não dançaram muito juntos, mas dançaram bastante. Cotillion, contra dança e danças tradicionais inglesas... muitas danças.

E ainda houve as pessoas... Oh, as pessoas! o marquês gemeu cansado, embora parecesse mais um risada.

— As conversas foram algo à parte, Cathrine. Algumas tão edificantes, enquanto outras... — A lembrança fez o marquês rir. Será que ele bebeu muito? Talvez um pouco. — um verdadeiro porre! Lady Torrington é um exemplo.

— Não fale assim da pobrezinha, eu até que gostei dela. — Gostou? Parando de rir, Richard encarou surpreso a esposa. Cathrine tentou manter uma expressão séria, mas o cansaço a venceu e ela, fechando os olhos, acomodou-se no banco. — Lady Torrington é exasperante, devo concordar, mas ela foi a que mais gostei.

— Então... você está chamando minha babá de chata? Lady Pembroke foi nossa babá, sabia? — Imediatamente Cathrine abriu e arregalou os olhos, bastante surpresa. Como o imaginado. Segurando uma risada, ele abaixou a cabeça e acrescentou num tom ferido: — Curioso, eu pensei que vocês seriam amigas. Lady Pembroke também ama romances.

— Mesmo? Eu... não necessariamente vou gostar sempre de quem... é natural que... — Deus, mas quanto drama, Cathrine não conseguiu formular uma frase. Richard não conseguiu aguentar mais e começou a rir, fazendo a expressão da marquesa tornar-se raivosa. — Richard! Não faça isso comigo, assim você me constrange!

Ela estava quase desesperada de raiva, mas a única ação dele foi continuar a rir. Parecia horrível? Era horrível, mas não tinha como segurar. A única ação de Cathrine foi bufar e inflar as bochechas, o que apenas aumentou o sorrisinho de Richard. Porém, tendo uma certa "pena" dela, ele suavizou o sorriso e estendeu uma mão, Cathrine virou o rosto.

— Você não precisa tentar se justificar, Cathrine. Nem sempre é possível gostar de todo mundo. — Era uma verdade dura, porém importante. Cathrine permaneceu com o rosto virado, até que... ela suspirou e, voltando-se para frente, aceitou a mão dele. Richard sorriu docemente. — Mas tente gostar ao menos de Lady Pembroke, afinal, ela que cuidará dos nossos filhos.

— Eu tentarei, mas... que filhos serão esses que Lady Pembroke cuidará? Que filhos!? — As palavras de Cathrine eram tão... infelizes. Nenhuma resposta saiu da boca de Richard, então ele simplesmente negou. Ela fechou dolorosamente os olhos. — Francamente, Richard, estou começando a pensar que sou tão seca quanto uma PEDRA!

Não! Não, nunca! Richard apertou a mão da esposa e negou desesperadamente, como ela poderia pensar uma coisa dessas de si mesma!? Teria ele... dado a entender isso? Nos olhos de Cathrine, tristes como sempre, lágrimas estavam sendo formadas. Negando mais ainda, Richard pegou a mão dela e começou a beijar muitas vezes.

— Nós teremos sim filhos, Cathrine, e teremos muitos. — Eles eram jovens, estavam começando agora a vida sexual, não seria justo pedir imediatamente filhos. Ainda assim, ela negou. Richard novamente beijou a mão da esposa. — Lembre-se que estamos casados faz apenas...

— Cinco meses e eu já poderia estar com quatro de gravidez! — O marquês afastou-se levemente da esposa, assustado com a situação. Cathrine... cortou ele? — E não ouse dizer que estou exagerando, pois não estou. O príncipe de Gales nasceu menos de um ano após o casamento do rei e da rainha, e Charlotte de Gales...

— Mas isso foi eles, Cathrine! O que temos haver com isso!? — Percebendo o que fez, Richard levou as mão a boca, ele... havia gritado... Cathrine assustou-se, mas não o suficiente para calar-se.

— Caso não tenham avisado você, eu nasci quase sete anos após o casamento dos meus pais! — Foi um grito igualmente alto, como numa briga, e os olhos dela encheram de lágrimas. Essa visão preocupou o marquês, principalmente quando ela virou o rosto. — E, para variar, meu período está atrasado.

Isso foi o suficiente para o coração dele. Cathrine praticamente escolheu no banco da carruagem, sem receio algum da aparência, então a culpa e o remorso tomou conta do coração de Richard. Ela era tão sensível e ele ainda fazia uma coisa dessas? Lenta e cuidadosamente, o marquês sentou ao lado da esposa e a abraçou. Cathrine não repeliu.

Pessoas amadas por ele não poderiam sofrer, não por culpa dele. Richard beijou o ombro de Cathrine, que começou a acariciar o cabelo dele. O casal ficou assim por um momento, até que Richard beijou o pescoço da esposa... logo os dois estavam se beijando ardentemente. Até que a berlinda parou e...

— Peço que não passem dos beijos e abraços, por favor. Tenham consideração por mim. — Anne, ainda sonolenta, levantou-se. Cathrine corou imediatamente, completamente envergonhada, mas Richard continuou a abraçá-la. Eles não estavam errados. A princesa tirou as sapatilhas. — Já deve passar das quatro da manhã. Como estou cansada!

— Claro que está, o príncipe hereditário de Württemberg dançou três vezes com você. — Sorrindo malicioso, o marquês respondeu divertido. Anne fez uma careta ao lembrar. — E ele ainda fez questão de ter a sua última dança.

Também lembrando disso, Anne fez uma careta ao irmão desceu abruptamente da berlinda, sem ao menos esperar um lacaio abrir a porta. Quanto desespero. Richard e Cathrine riram divertidos, mas logo também seguiram o exemplo de Anne.

— Não tente ser engraçado, Richard, não combina com você. — Já no hall, Anne respondeu irônica e, jogando as sapatilhas e o xale numa cadeira, fez uma desgostosa careta. — E o príncipe hereditário arecia mais um... encosto!

— Achei ele encantador. — Cathrine, vindo logo atrás com Richard, acrescentou favorável. Anne, parando aos pés da escadaria, revirou os olhos.

— Ele é, de fato, mas apenas para quem deseja ser. — Essa forma como Anne falava... Richard e Cathrine se entreolharam, o que aconteceu naquela primeira dança? — Para mim, Friedrich Wilhelm é um desagradável.

Dizendo isso, a princesa fez uma mesura aos marqueses e começou a subir a escadaria. Novamente se entreolhando, Richard e Cathrine riram. Mas que situação, contanto que Anne não matasse o príncipe.

— Acho que ele gostou de você, não parava de observá-la! — Quando eles estavam perto da escadaria, Richard provocou uma última vez.

— Então farei ele me odiar... onde já se viu uma coisa dessas!? Eu, uma Tudor-Habsburg... — O casal deixou de dar atenção. Rindo novamente, Richard fitou a esposa e acariciou o rosto dela, eles aproximaram então os lábios... — Cathrine! Amanhã teremos que acabar de planejar nossa festa no jardim, não esqueça!

Mas que estraga prazeres. Richard sorriu em direção a escadaria e depois voltou-se à esposa, que sorria tensamente agora. Acariciando a bochecha de Cathrine, Richard a beijou ternamente. Tudo daria certo, desde a festa até os filhos. Após o beijo, os dois subiram... ambos para o quarto dela.


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Notas finais do capítulo

* Vou começar com uma espécie de explicação: eu realmente queria ter falado mais de Devonshire House, mas não existem registros o suficiente "dessa" Devonshire House. Como assim? Essa casa, que já não existe mais, foi incrivelmente reformada em 1840, e eu não encontrei muita coisa sobre a anterior, construída em meados do século 18. Sei apenas que, desde o início, era uma casa muito confusa, então coloquei pouco.

* E o que vocês acharam de Fritz? Esse é um dos novos personagens. Gosto muito dessas interações mais de "ódio" entre ele e Anne. Afinal, eu criei Richard e Cathrine para serem fofos, levemente trágicos. E não fiquem preocupados, pelas fontes essa era mesmo a personalidade dele.

* Outra coisa "interessante": tecnicamente, todos os meus protagonistas Tudor-Habsburg são primos, ou tem algum parentesco, muito parentesco às vezes. Para se ter ideia, todos os cinco tinham algum parentesco. É algo bem confuso. Uma coisa: eu não considero errado primos terem um relacionamento, nada, a não ser a genética, isso em casos exagerados, torna isso errado.

* Eu havia dito semana passada que tinha pensado em postar mais de um capítulo esse semana, farei isso? Não, pois eu havia dito que seria assim caso eu não postasse semana passada, mas eu postei. Além do mais, quem é que vai me cobrar?

* "Era Uma Vez... Uma Ilusão" também está no Pinterest, colocarei imagens dos personagens reais e de Devonshire House: https://pin.it/5Wev4Hi



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