O Homem que Perdeu a Alma escrita por Willow Oak Acanthus


Capítulo 7
Capítulo V - Harvelle's Roadhouse


Notas iniciais do capítulo

Oi oi hunters : )
Bora rever mais personagens queridos?

Esse é curtinho mas é importante ♥



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Três dias depois.

Ponto de vista de Hazel Laverne – Harvelle’s Roadhouse, Nebraska.

O inverno se aproxima, mas isso não parece importar em Nebraska.

Meu machucado está cicatrizando, mas os pontos ainda não caíram, então ainda mantenho o curativo. Dean acaba de estacionar o Impala nesse fim de mundo árido. Usar luvas está cada vez mais difícil pela mudança de clima à medida que nos afastamos da costa leste para o interior do país, então eu decidi que vou manter as mãos dentro dos bolsos da jaqueta jeans, é isso ou vou desmaiar de calor.

Já não me basta precisar da jaqueta para proteger a queimadura de olhares curiosos.

Encaro o bar diante de mim, cheio de caras fortões usando flanela e mulheres que parecem tão afiadas quanto lâminas. Dean me avisou que esse era um bar de caçadores, e eu honestamente não sei o que eu esperava encontrar, mas certamente não era isso.

É óbvio que estou me sentindo deslocada. Um cara olha para mim e cutuca uma mulher, ambos me encarando. Eles cochicham alguma coisa, nem disfarçam muito. Não faço ideia do que eles disseram, mas os encaro mesmo assim.

—E aí, vamos entrar? – Dean chega ao meu lado, e um vinco se forma em sua testa quando percebe minha expressão fechada – Ah, não fica encarando não. Caçador só tem duas alegrias na vida quando está descansando, que é fofocar e arrumar confusão. Se for ficar irritada com todo cochicho, melhor você nem entrar...

—Só os encarei de volta, nada demais...- Digo isso desviando o olhar deles quando entramos no bar que tem aquelas portinhas de velho oeste. Algumas pessoas estão bebendo, outras estão rindo em grupos, e alguns jogam sinuca.

Nos aproximamos da bancada do bar, feito em madeira e com entalhos enfeitando a superfície. Dean se senta e eu me sento ao lado dele.

—Ellen Harvelle, quanto tempo! – Dean abre um sorriso sincero e uma moça de uns cinquenta anos de olhos castanhos e estatura média retribui o sorriso.

—Ora, ora, ora...Dean Winchester! – A mulher, que aparentemente se chama Ellen, dá a volta na bancada e o abraça com força, dando tapinhas bruscos porém carinhosos em suas costas – Quando Ash me contou que você havia ligado, eu não acreditei.

—Pois é, sabe como é...- Dean coça a cabeça, meio sem jeito – As coisas não tem sido fáceis. Dei uma sumida na vida de todo mundo...

O olhar de Ellen se torna fraterno no momento em que Dean diz isso a ela.

—O Bobby  me contou sobre...o “retorno” de Sam. Eu sinto muito, Dean. – Ela dá batidinhas no ombro dele, para reconfortá-lo – Para a maioria das pessoas que perguntam, a gente diz que o Sam...morreu, para que não saibam o que realmente aconteceu. – Ela sussurra para ele – Só para não corrermos nenhum risco, certo? A última coisa que queremos é um bando de caçadores tentando caçar o Sam.

—Obrigado, Ellen. Mas nós...nós vamos recuperá-lo. – Ele diz isso meio cansado, e ela sorri para ele.

—É claro que vão, garoto. – Pela primeira vez, ela parece notar a minha existência. Seu olhar me percorre de cima a baixo, desconfiada. Dou um sorrisinho desconfortável para ela – E quem é essa?

—Essa é Hazel, uma amiga que está em apuros. – Assim que Dean diz o meu nome em voz alta, a mulher arregala os olhos. Ellen parece reconhecer o meu nome.

—Hazel...Laverne?! – Ela sussurra, como se estivesse falando um palavrão.

—Culpada. – Digo, em tom de brincadeira -Prazer em conhecer você, Sra.Harvelle...- Ela processa a informação devagar, e olha de mim para Dean, meio em choque.

—O prazer é meu, e pode me chamar de Ellen, menina. Mas não diga o seu nome para mais ninguém, me ouviu?! – Dean e eu ficamos confusos. Do que Ellen sabe?— Vamos lá para dentro...é mais reservado.

Ellen praticamente nos escolta para dentro da cozinha, onde ficamos os três sozinhos.

—Do que você sabe, Ellen? – Dean começa questionando.

—Os caçadores tem ficado ouriçados com um burburinho...- Ellen se senta em um banquinho, me olhando com seriedade – Sobre você, garota.

—É...eu não sabia que ia chegar nos caçadores tão rápido assim, a informação...- Dean esfrega as têmporas, parece com dor de cabeça – Ela tem usado um nome falso, Ellen. Fique tranquila...

—Não sei se um nome falso vai protegê-la por muito tempo...- O olhar de Ellen é pesaroso.

—E o que está sendo dito sobre mim, exatamente? – Questiono, antes de Dean.

—Que você é perigosa. Que vários demônios que foram exorcizados, estavam à procura de uma tal “protegida” do inferno, “Hazel Laverne”. Eu achei que era tudo baboseira, não dei atenção. Por que eles entregariam o seu nome para caçadores aleatórios se você é protegida do inferno? E então me lembrei da situação que o Bobby me passou, sobre o Sam. Se o inferno está dividido, então...

—Então o lado que está com Crowley está colocando caçadores para me procurar. – Junto os pontos e chego a essa conclusão. Dou um longo suspiro antes de continuar -  Mas isso não faz muito sentido, faz? – Fico confusa, me lembrando do que Castiel havia me contado – Supostamente, Crowley quer que Sam me mate. Por que me colocar na mira de caçadores?

Dean respira fundo, parecendo entender algo.

—A não ser que ele saiba que não vão conseguir colocar as mãos em você. Por estar comigo. – Dean fica muito sério, e se encosta na parede com o olhar pensativo – Porque, por algum motivo, deve estar sendo difícil te encontrar. Mas quanto mais gente estiver atrás de você, mais rápido sua localização vai vazar. – Ele passa a mão pelos cabelos, exausto – O maldito é esperto.

Um breve silêncio se faz, e Dean começa a explicar a Ellen tudo o que sabemos sobre o assunto até então, e ela ouve a cada palavra atentamente.

Ao fim, Ellen suspira e me olha como se temesse pela minha vida.

—É...é pior do que eu pensava. Foi muito bom você ter vindo, Dean. Agora que você sabe que também tem caçadores na cola dela, vai ter que redobrar o cuidado. – Dean me olha preocupado, e embora eu esteja surtando por dentro por ter descoberto que a lista de criaturas e pessoas que querem a minha cabeça em uma bandeja só cresce, tento manter uma pose tranquila. Dean já está uma pilha de nervos me protegendo por aí, o mínimo que eu posso fazer é manter a calma. Afinal, chuveiros servem para a gente chorar sem ninguém ver, não é mesmo?

—Vamos dar conta...- É tudo o que Dean consegue dizer – E embora...

Dean para de falar e fica meio desconcertado quando uma garota loira, não muito mais velha do que eu, entra no ambiente. Ela usa uma calça jeans de cós baixo, uma regata marrom e tem um rifle pendurado no ombro, e seu corpo está cheio de machucados e sangue seco. A garota parece tão desconfortável quanto ele, e surpresa, também. Ninguém fala nada por um tempo, permeando aquele silêncio constrangedor, até que a garota dá um passo à frente.

—Dean Winchester...Se perdeu por essas bandas, ein? – Posso estar ficando louca, mas acho que tem um tom de ressentimento na voz dela.

—Oi, Jo...- Dean enfia as mãos na jaqueta verde militar que está usando, e Ellen fica olhando de um para o outro enquanto a cena se desenrola – Voltando de uma caçada, é?

—O que entregou? A arma ou o sangue? – Jo o provoca. Dean dá um sorriso em resposta.

Jo não sorri, nenhum pouquinho.

—Os dois. – Novamente, um breve silêncio se estende enquanto a garota fuzila Dean com o olhar, e Ellen resolve se levantar do banquinho em que estava sentada.

—Eu vou tomar um ar...- Ellen diz ao sair pela porta, e eu aproveito a deixa e me apresso a tentar escapar dessa situação constrangedora. Seja lá que tipo de história esses dois tiveram, não parece ter acabado bem. Eu é que não quero ficar no fogo cruzado.

—Eu também...- Me viro para sair, mas Dean me puxa pelo ombro.

—Não, você fica. Esqueceu o que a Ellen falou? – Pela primeira vez desde que entrou aqui, a garota resolve me olhar. Seus olhos castanhos são frios ao me analisar.

—E quem é você? – Ela questiona, me analisando.

—Hazel Laverne. Prazer em conhecê-la! – Tento dar um sorrisinho simpático, mas o sorriso nem chega a conseguir se formar pelo olhar que ela me disfere.

 Como se eu fosse um fantasma.

—Dean Winchester, você se mete em cada uma...- Ela esfrega a testa, e dá um suspiro – Os boatos são verdadeiros? – E lá vamos nós de novo, penso comigo, um pouco cansada de explicar a mesma história outra vez. Dean conta para Jo, exatamente tudo o que acabara de explicar a Ellen. Jo vai ouvindo e ficando cada vez mais séria, até que por fim torna a me olhar.

—É, garota. Eu não queria estar na sua pele. De qualquer forma, prazer em conhecer....- Jo Harvelle estende a mão para me cumprimentar, mas eu não posso segurar a sua mão. Ela percebe que eu fico sem jeito e franze o cenho – Que foi, novata? Vai aprender a virar caçadora e não pode tocar em uma mão cheia de sangue seco?

Ela parece ofendida, mas Dean intervém:

—Não é isso, Jo. Tem uma parte que eu deixei de fora. A Hazel...tem visões. Quando toca em uma pessoa com a mão descoberta, vê algo do passado dessa pessoa em questão. É bem bizarro e pra quem vê de fora até parece um exorcismo ou coisa do tipo. Ela não tem controle sobre isso...

Jo fica pensativa por um momento, mas então diz:

—Ah, entendi. Desculpe, Hazel. Interpretei errado.... – Ela soa honesta em sua voz – Não deve ser... fácil. Essas visões são como um filme? Na sua cabeça? – Ela parece genuinamente curiosa.

—Não, é mais como...estar lá, na lembrança. Como um fantasma, é difícil explicar...- E realmente é. Nem eu entendo. Enquanto conversamos, noto que o ruído lá fora, no bar, parece ter diminuído consideravelmente.

—Mas e a pessoa que está tendo a lembrança invadida? O que ela sente? – Embora Jo questione isso a mim, quem responde é o Dean.

—É como desmaiar, e você sente a sua cabeça se abrindo no meio. Pelo menos, comigo foi assim, quando ela me tocou. – Jo assente, claramente incomodada com alguma coisa, mas logo muda de assunto.

—Entendi. Como eu disse...não deve ser fácil. Vocês devem estar exaustos da viagem. Eu acho que eu vou...- Jo dá um passo para trás, mas antes que ela termine a frase, sua mãe abre a porta:

—Fechei o bar mais cedo, mandei todo mundo embora. Achei mais seguro assim... - Ellen dá um suspiro e faz um sinal para que a gente a siga – Vamos, venham. Estamos sozinhos, vocês podem beber e comer alguma coisa.

—Eu vou tomar um banho, depois, se eu não estiver muito cansada, eu apareço...- Jo Harvelle dá um sorrisinho fraco e se retira. Posso jurar que vi Dean Winchester abrindo a boca para protestar, mas era tarde demais.

XXX

Dean e Ellen ficam conversando empolgados sobre uma porção de coisas que eu desconheço, e um tal de Ash, um sujeito muito estranho, se junta na conversa enquanto o rádio toca algumas músicas, dentre elas, blues dos anos 40. Fico entediada, já que não bebo e não tenho a mínima noção do que estão falando, então resolvo me levantar e explorar o ambiente. A decoração é bem rústica e aconchegante, mas o que chama a minha atenção é um retrato de família.

Nele, vejo Ellen alguns anos mais jovem, e Jo sorri no colo de um homem que eu acredito ser o seu pai. Eles parecem muito felizes, e estavam em um jogo de baseball.

—E aí, novata... – A voz de Jo Harvelle se faz presente ao meu lado, eu acabo dando um sobressalto já que estava tão absorta em meus pensamentos que nem a vi chegando. Ela está usando uma calça limpa, uma regata branca e não há mais nenhum rastro de sangue em sua pele. Em mãos, ela tem uma Heineken— Quer que eu pegue uma para você? – Ela oferece gentilmente.

—Não, valeu. - Sorrio, agradecida - Achei essa foto muito bonita...- Aponto para o retrato. Ela sorri ao olhar para ele. Mas é um sorriso triste.

—Esse dia foi muito especial. O nosso time ganhou, de lavada! Foi...foi muito bom. – Seus olhos ficam pesarosos de repente – Sinto falta do meu pai. Sempre.

—Sinto muito...- Me apresso a dizer, olhando para baixo meio sem jeito, mexendo meu coturno marrom para lá e para cá.

—Obrigada. Sinto muito pelos seus pais, também. – Agradeço, fazendo um aceno com a cabeça. Ficamos em silêncio por um tempinho, as duas meio sem jeito. E então ela corta o silêncio de repente – E então...você e o Dean...a quanto tempo?

Meu cérebro até desconfigura por alguns instantes. Igual computador, quando dá tela azul.

—C-como é que é? – Até gaguejo, diante do absurdo.

—Vocês me pareceram bem próximos, então...- A voz dela não sai maldosa ao dizer isso. Ela só parece estar tentando entender a situação, então me apresso a dizer:

—Jo, você interpretou as coisas de uma maneira completamente equivocada. Eu e o Dean, nós não temos nada. Somos próximos sim, mas não da forma como você está pensando...– Troco o peso de uma perna para outra e esfrego levemente com a mão o meu curativo. Preciso tirar esses pontos logo. Jo continua me encarando – Tem uma parte da coisa toda que a gente explicou mais cedo...que eu deixei de fora porque não achei que era importante, mas isso que eu vou te contar vai te ajudar a entender. Sam e eu tivemos um relacionamento, coisas aconteceram e é uma história muito, muito longa. Mas para resumir, Dean e eu somos próximos porque ele sente falta do irmão, e eu...

Minha voz morre, por um momento.

—E você sente a falta do Sam, também. – Ela completa o que eu não tive coragem de dizer. Fico desconfortável, e ela toma um gole da sua cerveja - Entendi. Foi mal, novata. Li a situação de outro jeito...- Jo olha discretamente para Dean, e esse acaba por trocar olhares com ela também, meio sem jeito.

Decido virar o jogo, quando ela está tomando mais um gole de sua Heineken.

—E você e Dean? Qual é a história? – Jo se engasga com a bebida em sua boca, e eu dou uma risadinha —Foi mal. Não precisa me contar. Só...percebi como vocês dois se olham. – Me apresso a dizer. Jo respira fundo, se recompondo.

—Um dia, quem sabe, eu te conto. Se você sobreviver a todos os caçadores, demônios e anjos que estão na sua cola. – Ela diz isso de brincadeira e eu acabo rindo.

Porque minha vida se parece muito com uma divina comédia ultimamente.

—É, acho que nunca vou ficar sabendo então...- Digo isso em tom de brincadeira, mas é inevitável deixar transparecer um tom de verdade pela voz. Jo faz que vai colocar a mão no meu ombro, mas recua.

—Eu ia te dar um tapinha de reconforto pela sua situação, mas lembrei dos seus poderes sinistros...- Ela explica meio constrangida.

—Ah, não funciona assim. Só acontece se eu tocar com as mãos em você. Sei lá por que funciona assim... sei lá por que eu tenho isso, afinal de contas. Acho que é uma daquelas coisas ficam para sempre sem respostas...- Minha voz soa pensativa.

—Bom, nesse caso...então, aqui está o seu tapinha reconfortante...- Ela bate gentilmente a mão duas vezes no meu ombro – E aí? Já se sente melhor? – Ela brinca. Dou risada:

—Já. Cem por cento, Harvelle.

XXX

É de manhã, e eu não consegui dormir direito. Rolei na cama, de um lado para o outro, pensando em tudo o que está em jogo a essa altura.

A falta dos medicamentos continua fazendo o meu corpo se sentir estranho, e eu precisei correr para o banheiro três vezes durante a madrugada, para vomitar. Fora isso, sinto uma tontura constante, como se estivesse cambaleando em cima de um navio. Estou arrumando as minhas coisas, e Dean está roncando na cama dele. As Harvelle foram muito gentis, disponibilizando um quarto para passarmos a noite. Reviro a minha mochila atrás de uma coisa que trouxe comigo, uma coisa que eu quis jogar fora durante todos esses anos, mas que nunca consegui me desapegar.

O colar. Seguro o objeto em minhas mãos, enquanto estou sentada na cama. A luz do sol que entra pela janela o faz brilhar. Seu cordão é de prata, assim como o pingente. Passo os dedos pela pequena estrela com um círculo em volta, coberta em labaredas.

Sam me explicou na época em que me presenteou com ele que era importante usá-lo. Me pergunto se, com tudo o que está acontecendo, não seria uma boa o usar, afinal... Que mal pode fazer?

Ao colocá-lo, o escondo por debaixo da camiseta.

Me sinto um pouco mais segura.

Só não sei se é pelo fato de ter um símbolo antipossessão comigo, ou se é por ter um pedaço dele ao redor do meu pescoço.

Afasto esse pensamento para longe. Acabou.

Acabou. Ponto final.

Vou ao banheiro e me olho no espelho, e a garota refletida nele me deixa triste. O curativo enorme no braço, e o outro...

Encaro por apenas cinco segundos e cubro ambos com as mangas da blusa cinza. Resolvo prender os cabelos em um rabo de cavalo, e tento fingir que as minhas olheiras não estão enormes. Devo ter perdido mais alguns quilos, porque a minha calça está um pouco frouxa.

Fecho os olhos e respiro fundo. Preciso me recompor.

Preciso me segurar. Preciso ajudar a garota que está refletida no espelho.

Não vou deixá-la sucumbir. Não vou deixá-la perder.

Vou sobreviver por pura teimosia.

Por pura inconveniência.

XXX

—Obrigada por tudo, Ellen...- Digo isso com uma gratidão muito verdadeira em meu peito. As Harvelle correram perigo por me deixarem ficar aqui durante a noite, eu sei disso. E mesmo sem me conhecerem, me abrigaram apesar do perigo. E há uma frase que minha mãe cantava em uma de suas músicas, que nunca saiu da minha cabeça...

Nunca se esqueça do teto que ficou sobre a sua cabeça durante uma tempestade”

—Não há de quê, menina. – Ellen diz, passando a mão pelo meu ombro, carinhosamente – Estou torcendo por você.

—Espero poder retribuir o favor uma hora dessas...- Digo, e Jo se aproxima, me entregando um objeto prateado com muito cuidado para não tocar a minha mão diretamente. É um canivete, bem grande e bem pesado.

—Para te trazer sorte, novata. – Ela sorri, e eu retribuo.

—Obrigada, Jo. – Olho para o objeto em minhas mãos, e me parece bem antigo. Gosto de coisas antigas, porque elas carregam histórias.

Me pergunto qual a história desse canivete. Se eu sobreviver a tudo isso, talvez pergunte a ela, um dia.

Ellen se afasta, após se despedir de Dean. E eu vou em direção ao carro, dando privacidade para que Dean e Jo se despeçam.

O sol está muito alto no céu, e o tempo árido está cada vez mais difícil de suportar. A areia voa por entre pedras e a estrada, e o horizonte até fica turvo pelo calor. Me encosto no Impala, esperando.

Dean e Jo levam algum tempo. Eles parecem estar muito desconfortáveis um com o outro.

Vou encher o saco dele daqui até o Kansas sobre isso, com certeza.

Dean anda em minha direção, uma camiseta xadrez amarrada na cintura, o olhar pensativo. 

Ao entrarmos no carro, antes de dar partida, Dean umedece os lábios:

—Eu te trouxe aqui para que você soubesse. - Franzo o cenho de imediato, e ele nota a minha confusão, então se apressa a explicar - Que não está sozinha. Existem boas pessoas no ramo, Laverne. Pessoas boas de verdade.

Sorrio para ele, com sinceridade.

—Obrigada, Dean. Mesmo...- Olho pela janela, observando a paisagem quando o Impala começa a se mover.

Um pequeno silêncio acontece. Dean parece estar com a cabeça confusa, pesada. Deve estar absorvendo tudo o que Ellen disse a ele. Deve estar preocupado com Jo Harvelle, também.

Decido fazer por ele o que sei que ele fez por mim, que é irritá-lo o suficiente para desviá-lo dos seus problemas. 

—Tenho uma coisa importante para te dizer, Dean. – Começo a dizer isso com uma cara séria. Ele tira os olhos da estrada por um breve momento e me olha preocupado.

—O que? – Seus olhos verdes tem as pupilas contraídas pela luminosidade da janela, e uso a voz mais séria que consigo:

—Você tem perna de alicate, quando você anda...- Ele rola os olhos para mim e liga o som.

—Perna de alicate... – Ele resmunga, apoiando a cabeça em uma das mãos enquanto a outra está no volante – Não tenho perna de alicate porcaria nenhuma... – Começo a rir quando ele continua a resmungar, e o vejo segurando um sorriso.

Lá vamos nós...de novo.

Essa tem sido a estrada até aqui.

Próxima parada, Kansas.

Rolo o pingente do colar em meus dedos, com um pensamento mais forte que os demais.

Vamos salvá-lo. Custe o que custar.


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Notas finais do capítulo

Notas finais: Gente, eu espero que vocês tenham sentido um quentinho no coração com esse capítulo ♥
Comenteeeem!
XOXO



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