Cadê você, filhota? escrita por Jude Melody


Capítulo 3
Asas cortadas


Notas iniciais do capítulo

Estentor: pessoa que tem a voz muito forte



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Em todas as suas memórias, Amália trajava uma saia marrom até o tornozelo. As mãos nuas, exceto pela aliança. Cabelos castanhos sedosos contornavam o rosto de olhar marmóreo. E os lábios, hidratados apenas pela saliva, pronunciavam um sem-fim de idiomas.

À noite, Amália servia e retirava a mesa sem movimentos inúteis. Depois se acomodava no escritório e corrigia provas, a caneta vermelha dançando sem quase desencostar do papel.

William se refugiava no quintal, onde conversava com as árvores e as nuvens. Às vezes, subia na laranjeira e se ocultava entre as folhas, para fugir do prenúncio sobre os perigos do sereno. Amália debruçava-se na janela, olhando todos os cantos, menos para cima, e se retirava com reclamações silenciosas.

Ao amanhecer, William levantava-se, prendia o cabelo de qualquer jeito, pegava um naco de pão ou uma maçã e partia em direção à escola. Evitava os corredores em que trombaria com ela. Mesmo assim, não escapava da voz de estentor que desaguava hora após hora sobre os pobres alunos mais novos.

Não sei como você não fica louco, confidenciou-lhe um colega.

William tinha seus métodos. Enquanto Amália estudava os livros, ele a estudava. Foi o único trabalho antropológico que nunca conseguiu completar.


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