As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 4
Hospital


Notas iniciais do capítulo

Quando a série Gravity Falls foi exibida no Brasil, para uma melhor adequação ao público e linguagem nacionais, a equipe de dublagem optou por fazer pequenas modificações, como por exemplo o sobrenome da personagem Pacífica Northwest, que se tornou "Noroeste."
Embora eu considere essas alterações válidas e justificáveis, manterei nomes próprio em suas versões originais (salvo em casos raros, quando a tradução parecer mais adequada), considerando que, por regra básica da língua portuguesa, nomes próprios não devem sofrer traduções.



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Luz branca, um teto também branco que parecia refletir a luminosidade de todo aquele ambiente cândido; foi essa a primeira visão que Dipper Pines teve em seu quarto, no hospital de Gravity Falls.

Seu corpo estava um pouco dolorido e por isso o rapaz tentava não se mexer demais; seu braço direito estava enfaixado, assim como seu peito (pois recebeu maior dano) e havia curativos em seu rosto, mas Dipper, apesar de seu atual estado, sentiu certa satisfação: havia salvo a irmã.

Apesar disso, começou a sentir-se fraco e vulnerável; teria realmente salvo a irmã? Com certeza lhe dera tempo para escapar, mas e se o inimigo apenas o tivesse eliminado e depois perseguido Mabel?

Esse pensamento trouxe certa tristeza ao garoto, pois esperava ficar cada vez mais forte e dar provas constantes de seu valor após completar seus 13 anos e, portanto, se tornar um adolescente, porém, infelizmente, a vida mostrava-se mais complexa que uma equação básica como essa; medos existem, era verdade, mas será que Dipper não deveria estar mais forte para lidar com todos eles?

Quase havia sido morto por um inimigo que não estava no nível do temível Bill Cipher…

Mas jamais sentiu tanto medo de Bill quando sentira de Björn, naquele dia…

 Aliás, em que dia estava naquele momento?

Observou o quarto com lentidão, não notando ninguém em um primeiro momento, até que olhou à sua esquerda e viu alguém dormindo em uma cadeira próxima a sua cama. 

Quando tentou mover o braço esquerdo em direção ao estranho, sentiu uma picada em seu braço, seguida de dor; o braço de Dipper estava com um tubo ligado a um saco de soro hospitalar.

Neste momento a mente do garoto começou a conjecturar qual a razão de estar naquele estado, já que havia recebido apenas um único ataque do elfo; foi quando tentou se levantar um pouco e alguém falou:

—Não faça isso, vai aumentar a dor.

Dipper olhou novamente para o lado e viu o estranho acordado.

Era um rapaz que aparentava ter igual idade a de Dipper e possuía pele clara, cabelos e olhos castanhos, como a última noz de outono, assim como roupas que o faziam parecer ter saído de um livro de contos de fadas; algo parecido com as roupas de Björn, mas de uma tonalidade de verde escuro, desde a camisa e as calças até o gibão, com botas cor de carvalho, uma capa esverdeada com detalhes em branco e preto.

O semblante do rapaz era gentil e, após olhar rapidamente para o tubo de soro, disse:

—Acalme-se, você está seguro. Vai melhorar.

—Quem… é você? – perguntou Dipper.

—Sou Aethel, a quem sua irmã e você procuraram.

—Aethel?... você… conhece mesmo… Merlin e o rei…

—Arthur, sim. Merlin, Arquimedes e eu o chamamos de Wart. – respondeu Aethel.

—Nossa… tenho tantas perguntas… Mabel queria que a coruja… ensinasse a língua dos animais. – falou Dipper.

—É mesmo? Haha, sabe, uma vez Merlin me transformou em um esquilo.

—Sério… qual foi a sensação? Porquê ele… fez isso?

—Para ensinar uma lição que agora trago em meu coração. Quanto a sensação, senti que o mundo é grande e difícil, somos pequenos e nem sempre ser durão é a resposta.

—Qual foi… qual foi a… lição?

—A lição foi “inteligência supera força.”

—Inteligência… supera força. Acho que não fui… muito esperto ultimamente.

—Sua irmã discorda. Ela saiu com algumas escoriações leves, Merlin já cuidou dela… Dipper, você desnorteou um elfo sombrio atirando um livro e depois se aproveitou da distração dele para imobilizá-lo pelas costas… bom trabalho.

—Mas foi você que nos salvou, não foi? Eu… não pude fazer nada. Pensei que… quer dizer… eu sou adolescente, eu… me sinto impotente… sinto raiva, eu…

—Sempre haverá alguém maior do que você rapaz; contra esses a força bruta é inútil. E não deve se condenar por ter feito pouco, pois, dessa forma, descarta tudo o que fez e os riscos que correu para cumprir um dever maior. Sua irmã está bem e você me deu tempo para chegar aquela clareira.

—Se eu não fui um… inútil… porquê… por… porquê me sinto vulnerável assim?

—Você se sente fraco e vulnerável, Dipper, porque somos homens; nenhum homem na Terra está acostumado a perder. Você tem o dever de proteger seus amigos e entes queridos, mas sente que não é capaz de fazer isso agora, pois enfrentou alguém que estava além de suas capacidades.

—Depois do Bill… achei que não teria… medo de mais nada.

—O medo acompanha o homem desde a primavera dos tempos. Bill Cipher trouxe medo, mas esse temor já foi superado; novos medos surgirão, pois esse é o caminho natural da vida. Até os reis têm medo, Dipper, não é vergonha nenhuma.

—Já passou por isso? Teve… esse tanto… de medo?

—Várias vezes. Muitos de meus temores se tornaram agradáveis lembranças, já alguns outros… é melhor deixar de lado.

—Dá para superar… esse medo todo? Como se faz?

—Entendendo que o céu é um fardo pesado demais para nossos ombros mortais, Dipper. Nestes momentos em que a fraqueza e a impotência quebrantam o coração, devemos nos lembrar que temos família, amigos e Deus no céu; todos estendendo as mãos para nos erguer se cairmos.

—Acho que tentei… vencer sozinho… a Mabel não deixou.

—Dipper… você sabe a razão de Mabel não ter se afastado, certo?

—Sei… ela me disse naquela hora.

—Então você entende que não está só. Sabe, sua irmã jamais teria sido capaz de abandoná-lo à própria sorte, ainda que ela quisesse fazer isso com todas as forças. Não se pode abandonar a família, esse tipo de vínculo é inquebrável.

—E se eu odiasse… a Mabel?

—Odiando ou não, daria na mesma. Vocês têm igual sangue e parentela, gostando ou não. Mas, se quer uma dica, Deus prefere que as famílias vivam em paz e felizes, hahaha, então o ódio não serve para muita coisa.

—Acho que tem razão. Até que… você é sábio.

—Tenho um excelente professor, logo o conhecerá, Dipper.

—Mason… meu nome de verdade é Mason, por causa do sinal de nascença… Dipper é só um apelido, mas todos me chamam assim.

—É um ótimo nome. Se pensar bem, você tem um nome e um apelido ótimos, o que já é mais do que a maioria das pessoas tem, hahaha.

—Hahaha… ai, ai… acho que tem razão Aethel.

—Já que falamos de nomes, o meu nome completo é Aethel O. Sakhar Absalom Ryu.

—Nossa… é bem diferente de Mason.

—Uma vez Merlin recitou algo sobre meu nome, “um nobre adormecido em uma rocha, sob a sombra de uma oliveira de Sião; seu pai é paz (como o são todos os bons pais) e seu espírito alcança os céus, pois nele reside um dragão – a herança de Uther, o legado de Arthur, o servo do Altíssimo.”

—O que… ele quis dizer?

—Não sei bem, mas acho que apenas fez uma brincadeira com meu nome: “Aethel” vem do inglês antigo e significa “nobre”, “O” é apenas a redução de “oliveira”, uma árvore muito importante no oriente médio, “Sakhar” é a palavra árabe para “rocha”, enquanto “Absalon” significa “meu pai é paz”, em hebraico. Já o nome “Ryu” significa “dragão”…

—Então… nobre, oliveira, rocha… por qual razão… você dorme na… sombra da árvore?

—A razão é porque ele me conheceu assim, a muito tempo atrás. Eu observava o céu azul enquanto me deitava sobre a relva de um bosque, em frente a um lago com águas tão limpas quanto as nascentes do paraíso…

—Bonito… gostaria que minhas… professoras da escola, também fossem assim… um lago seria legal… a sala é cansativa, mas tenho que tirar boas… boas notas, exigência não é demais…

—Fique calmo, Mason, não deve se cansar.

—Haha..ha, certo… tem razão. O assunto está… interessante, mas uma coisa me intriga muito, algo… que aconteceu antes… de perder a consciência… naquele dia na floresta; eu vi uma luz… amarela.

—Um bonito segredo, Luna: uma amiga que veio de longe.

—Luna… ela é um anjo?

—Ela é uma fada.

—As fadas… de Gravity Falls são… meio estranhas. A Luna… é daqui?

—Não Mason, ela veio do refúgio das fadas… um lugar muito distante daqui.

—Nossa, ainda tenho tantas… tantas perguntas!

—Ter perguntas é bom, a dúvida é a fase inicial da busca do saber, como diz Merlin; mas agora você tem visitas…

Neste momento, a porta do quarto se abriu para revelar uma multidão inesperada: Soos, Melody, Wendy Corduroy, os “tivôs” Stan e Ford, Mabel e…

Pacífica Northwest?!

—Dipper! Você está bem, meu rapaz? Me diz quem fez isso com você e eu acerto as coisas no estilo dos Pines! – disse tivô Stan.

—Mabel nos contou tudo, Dipper. Conversei brevemente com a enfermeira, ela disse que você vai ficar bem. Assustou todos nós, meu jovem. – falou o tivô Ford.

—Tá tudo bem contigo, cara? Tudo bem mesmo? A gente pode pegar algumas balas na cantina para te animar um pouco. – falou Wendy.

Dipper começou a corar e seu rosto ficou parecendo um pimentão; era muito estranho ter tanta atenção de todos, nunca fora o mais popular na escola nem se destacava nos esportes a ponto de atrair os holofotes para si.

Melody e Soos perguntavam se estava tudo bem com Dipper, Wendy se aproximava da cama e ajeitava seu travesseiro e Stan já colocava seu “soco inglês” com ares de durão, dizendo que iria partir a cara do abusado que deixara seu sobrinho-neto em estado tão lastimável.

Quanto a Pacífica, essa ficou parada, um pouco distante, como se temesse julgamento de alguém ali: hora olhava na direção de Dipper para depois, sempre que cruzava o olhar com o do garoto, desviar para outra direção e resmungar algo aleatório, como “esse chão é muito branco” ou "estes lençóis são baratos demais, vou providenciar outros”, esnobar o quarto era sua maneira de dizer que estava preocupada.

Mabe segurava as lágrimas, pois sentia-se culpada por tudo aquilo, então pegou a mão esquerda do irmão e disse:

—Você achou mesmo que se arriscar tanto era uma boa ideia?! Você parou para pensar nisso com seu cabeção?! Porquê não fugiu?!

—Você é minha irmã… tive que te… proteger. Ele ia nos pegar se eu fugisse.

—Eu sei! Mas… olha como você está, você quase… – soluçou Mabel.

—Eu tô bem Mabel… já nem dói tanto assim. Ele me salvou… lembra dele?

Neste momento, todos prestaram atenção em Aethel, que observava tudo em silêncio, mostrando consideração aos presentes.

—Quem é o cara? – perguntou Wendy.

—O deus grego… quer dizer, esse cara, ele é o Aethel. – falou Mabel.

Aethel se levantou de sua cadeira e curvou-se levemente, em sinal de respeito a todos e se apresentado:

—Senhores, sou Aethel, fico encantado em conhecer tão distinto grupo, ainda que nas presentes circunstâncias.

—Hum… fala educadamente e tem bons modos. – comentou Ford.

—Irmão, você salvou meu amigão Dipper, valeu mesmo cara. – agradeceu Soos.

Todos pareceram se distrair com o distinto rapaz e seus modos peculiares e logo começaram a interrogá-lo sobre o ocorrido.

Quanto a Pacífica, essa se aproximou do leito de Dipper e ambos olharam nos olhos um do outro:

—Bem, quer dizer, você parece bem… – disse Pacífica.

—Verdade… haha… ai, ai, bom, só um pouco menos que o normal.

—Pensando bem… você está péssimo. – disse Pacífica com um leve sorriso.

Os olhos da herdeira Northwest começaram a se encher de lágrimas; Pacífica estava sendo tão forte o quanto podia, mas ver Dipper naquele estado acabou ultrapassando os limites de sua força…

Ela abraçou Dipper e começou a chorar.

O rapaz, ruborizado, colocou o braço direito sobre a garota (pois o esquerdo estava levando soro), retribuindo o gentil abraço de Pacífica.

Os dois não falavam nada, pois não era preciso, apenas se contentavam com aquele gesto simples, que lhes propiciava proximidade sem bater de frente com o orgulho de um ou a timidez de outro.

Enquanto isso, Aethel pediu licença a todos e abriu uma janela, pois uma coruja havia pousado no parapeito; Era Arquimedes, que também se preocupou com Dipper:

—O menino vai bem?

—Sim Arquimedes, logo estará de volta a ativa. – respondeu Aethel.

—Tem certeza? Posso trazer algumas ervas para os ferimentos.

—Veja você mesmo, meu amigo – e Aethel apontou para Dipper – acho que o senhor Pines e a senhorita Northwest estão resolvendo algumas coisas.

Arquimedes viu Dipper e Pacífica se abraçando e pareceu satisfeito, enquanto o restante dos visitantes olhava a ave falante.

Não estavam chocados com Arquimedes(seria impossível depois de terem testemunhado o estranhagedon de Cipher), mas a curiosidade continuava irresistível; era uma ave falante, apesar de tudo.

—Senhores, este é Arquimedes – apresentou Aethel – coruja educadíssima e um amigo leal.

—Fico honrado em conhecê-los. – respondeu a coruja.

—Minha nossa, o “cuco” falou de verdade! Então o Soos não estava maluco. – respondeu Stan.

—O que?! Cuco?! Mas que insulto! Seu velhote malcriado! – zangou-se Arquimedes.

Enquanto o tivô Stan e a coruja discutiam, chegou a enfermeira e pediu que todos saíssem, pois Dipper precisava repousar.

—Por favor, bondosa senhorita, deixe que fiquem mais um pouco com o rapaz. – pediu Aethel.

—Desculpe, querido, mas todos terão que sair agora. – respondeu a enfermeira.

—Calma ai, dona, ele é meu sobrinho! Nem posso ficar um pouco mais? – perguntou Stan.

—Em primeiro lugar, senhora é a velha daquele restaurante gorduroso na floresta, em segundo lugar, vocês terão que sair agora! – respondeu a enfermeira.

—Pensando bem, senhor Stan – disse Aethel – acho que estavam servindo bolinhos, chocolate e café na cantina.

Ao som dessas palavras, Stan se despediu rapidamente de Dipper e foi até a cantina, antes que o chocolate acabasse.

Mabel foi até a enfermeira e perguntou se tudo ficaria bem com seu irmão, ao que ela respondeu sorridente que sim; dentro de três dias o garoto poderia voltar para casa.

Pacífica tocou de leve a mão esquerda de Dipper, enquanto via seu braço que recebia soro; sorriu levemente para o garoto e se despediu rapidamente.

—Sabe Dipper, a Pacífica ficou sabendo que você estava mal e então saiu escondida de casa. Ela disse que veio com a gente porque queria fazer um check-up rápido, mas acho que ela só estava afim de ver você. – disse Mabel.

Dipper ficou envergonhado com a fala da irmã, mas não podia parar de pensar que se encontrar com Pacífica não havia sido ruim, afinal de contas, desde o evento no Solar Northwest, a garota parecia ter mudado aos poucos, já não era aquela criatura esnobe e metida a superior que tanto desgosto trouxera a Mabel.

Com uma batidinha de mãos, os dois irmãos se despediram e Mabel se foi com os outros; Soos, Melody, Stan, Ford, Wendy e a enfermeira, mas Aethel permaneceu no quarto.

—Você vai ficar? – perguntou Dipper.

—Preciso descansar um pouco. – respondeu Aethel.

De fato, Dipper notou que Aethel (antes desperto e bem disposto) estava parecendo um pouco exausto, como se houvesse feito alguns minutos de caminhada.

—...Você não… se dá muito bem com… multidões, não é?

—Multidões – suspirou Aethel – … não Dipper, nem um pouco.

Dizendo isso, Aethel caminhou até a janela para respirar um pouco de ar fresco, quando viu Arquimedes retornar rapidamente, com uma carta no bico.

—Está de volta, meu amigo? Não me diga que Merlin lhe fez de correspondente de guerra. – riu Aethel.

—Eu estava voando, quando essa coisa voou até mim. Será que Merlin não poderia ter me dado a mensagem antes de eu sair de casa?! – Questionou a coruja.

—É uma mania dele, Merlin sempre foi bem humorado, hahah. – respondeu Aethel.

—Não importa, não importa… de todo jeito, aqui está a carta, acho que é importante.

Aethel agradeceu o amigo, pegou a carta e pediu que ele esperasse um pouco, pois lhe traria algo para comer; após pedir licença a Dipper, Aethel saiu apressadamente do quarto.

A janela não ficava longe do leito, de modo que Dipper conseguiu olhar a coruja com atenção, assim como fizera antes, na cabana do mistério.

—Então meu rapaz, já está se sentindo melhor? – perguntou a coruja.

—Meu corpo todo dói, mas já me sinto menos cansado, estou ofegando menos agora.

—Fico feliz, seu semblante parece menos pálido também.

—Acha? A enfermeira disse que eu posso sair dentro de três dias.

—Muito bem, meu rapaz, mas tente ficar longe de perigo.

—Ok, acho que é justo. Senhor Arquimedes, você conhece o Aethel há muito tempo?

—Desde que ele se tornou aluno de Merlin. Era um rapaz meio desanimado.

—Desanimado? Ele me disse que conheceu o Merlin próximo a um lago.

—Isso mesmo, meu rapaz, ele havia fugido de casa.

—Fugido? Mas porquê?

—Quem sabe? Quem sabe das coisas? Talvez ele apenas quisesse esfriar a cabeça.

—Então vocês encontraram ele ali, deitado na grama? Simples assim?

—Não exatamente. Merlin já esperava por ele, então ficamos próximos ao lago, tomando chá e comendo bolo de gergelim. Merlin não queria assustar o pobre rapaz, além disso, o garoto precisava de tempo para descansar um pouco.

—Se Merlin o esperava, então armou a fuga do Aethel? Mostrou o caminho para ele?

—Não. Merlin apenas “previu o futuro”, como gosta de dizer. Não é completamente preciso, quer dizer, ele nem sabia “quem” exatamente estaria no lago, mas sabia onde e quando esse alguém iria chegar.

—Parece alguém muito esperto. Imagine só a quantidade de sabedoria que esse grande mago deve guardar!

—Não exagere Dipper, Merlin consegue ser tão sábio quanto atrapalhado. Está sempre pesquisando coisas e pensando no futuro, ao invés de se preocupar com sua própria época, dar atenção ao “hoje e agora.”

—Própria época? Fala dos dias atuais?

—Não, falo da Era dourada de Arthur.

Dipper ficou pensando por alguns instantes, quando, de repente, Aethel surgiu na porta, trazendo um bolinho e uma xícara de chá para Arquimedes.

—Me desculpe Dipper, mas como está sob os cuidados da equipe médica, não me permitiram trazer-lhe nem alguns poucos biscoitos.

—Tudo bem Aethel, sem problemas. – respondeu Dipper, educadamente.

Arquimedes observou o semblante inocente de Aethel, que raramente tinha a chance de fazer amigos, já que sempre mergulhava fundo nos estudos.

Merlin não impedia que o rapaz tivesse contato com outros garotos de sua idade, na verdade até tentava lhe estimular a fazer novas amizades, porém, Aethel era tímido e preferia ficar diante dos livros, o que fazia a coruja sentir pena…

Por essa razão, Arquimedes fazia companhia ao jovem Aethel, dava-lhe conselhos e ajudava em momentos de dificuldades.

A coruja pensava na razão do retraimento daquele moço, que deveria ter seu próprio círculo de amigos e até alguma paixonite platônica com alguma garota do colégio…

Neste momento, a ave se deu conta de que Aethel não costumava ir a escola, na verdade, Merlin era seu professor e o rapaz tinha modos excessivamente “cavalheirescos”, o que podia parecer deslocado daquela modernidade caótica do século XXI.

Neste momento, Arquimedes percebeu que Aethel o chamava, perguntando se desejava alguns biscoitos, mas a coruja recusou gentilmente; sim, aquele jovem tinha um coração feito de ouro, mas suas habilidades sociais não eram muito desenvolvidas.

Com esses pensamentos em mente, lembrou-se de Wart, que também não parecia grande coisa quando Merlin o conheceu, o que levantava a questão: Porquê Merlin o escolheu?

Wart realizava até a mais simples das tarefas com dedicação e honestidade. Tudo que fazia na vida era “de corpo e alma”, como diziam os antigos, sendo que Aethel não era muito diferente.

Wart também tinha uma vida familiar “complicada” e não esperava ser grande coisa na vida; não tinha grandes perspectivas de futuro, apesar do que Merlin tentava lhe incutir, apenas tentava  viver cada dia de cada vez, com valor e dedicação, respeitando o castelo de sir Hector, um cavaleiro respeitável que o acolheu e adotou.

Saindo de suas divagações, Arquimedes chamou Aethel e lhe disse que já chegara a hora de partir, ao que o moço despediu-se de Dipper e lhe desejou melhoras, sendo acompanhado pela coruja, que também despediu-se do garoto para, logo em seguida, voar pela janela, indo pousar em uma árvore próxima ao hospital, onde esperou Aethel, pensando se não sairia junto de Mabel e de todas aquelas outras pessoas animadas…

Não. Aethel saiu sozinho.


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Notas finais do capítulo

Para quem não acompanhou a série, ou apenas não se recorda dos detalhes, o "evento no Solar Northwest" se refere ao episódio em que Dipper precisou lidar com o fantasma de Arquibald Corduroy, um dos lenhadores que, após ser traído pela família Northwest, foi vítima da Grande Enchente que atingiu o Solar Northwest em 1863.
O problema só foi resolvido quando Pacífica Northwest se desculpou com o fantasma e abriu as portas do Solar Northwest para os habitantes da cidade; promessa feita aos lenhadores em 1863, mas descumprida.
De acordo com o livro "O Diário Perdido" (Hirsch, Alex; 2018), vários lenhadores morreram na enchente...
E todos eles eram empregados dos Northwest (foram eles os responsáveis por construir o Solar).
Para mais detalhes, vale a pena conferir a série.