As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 3
As Desventuras de Dipper e Mabel




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807574/chapter/3

Os irmãos gêmeos, Dipper e Mabel, olhavam para a viga no teto, de onde a coruja falante saiu voando e foi pousar em cima da pequena escrivaninha cheia de livros.

A ave ajeitava suas penas vaidosamente, quando a garota começou a falar:

—Minha nossa! Uma coruja fofa que fala!

—Surreal! Mas não é tão esquisito quanto tudo aquilo que ja vimos aqui. - falou Dipper.

—Falam da ascensão de Bill Cipher, correto? Isso preocupou um pouco Aethel, mas ficamos felizes que conseguiram resolver essa bagunça.

—Sabe de Bill Cipher?! Mas como? Tudo aquilo foi mantido sob sigilo absoluto! - perguntou Dipper.

—É suficiente dizer que chamaram nossa atenção, vocês dois. Quem pensaria que dois gêmeos de 12 anos fariam tantas coisas! Imagino que foi por isso que "ele" nos enviou aqui.

—"Ele" quem? Esse tal de Aethel? - perguntou o rapaz.

—Não meu rapaz, falo de Merlin.

—Merlin? "O" Merlin?! - falou Dipper.

—Ai meu Deus! Ai meu Deus! Ai meu Deus! Um mágico de verdade! Que coisa mais incrível! - falou Mabel.

—Se Merlin é real, então a "távola redonda", Morgana e até o rei Arthur também eram reais?! - falou Dipper.

—Ah sim, Arthur, nos acostumamos a chamá-lo de Wart - respondeu a coruja.

—Mas que incrível! Nossa, tenho tantas perguntas, será que poderia nos dizer se...

—Me desculpe Dipper, mas não temos tempo agora, preciso levar o livro de botânica para Aethel, ele está recolhendo exemplares na floresta.

Neste momento, a coruja pegou o livro de botânica na mesa e preparou-se para voar pela janela, quando Dipper insistiu para acompanhá-la.

Arquimedes não viu problema algum, então os gêmeos acompanharam a ave até o interior da floresta, onde esperavam encontrar Aethel e, quem sabe, o lendário Merlin.

A floresta de Gravity Falls parecia não ter fim, mas havia algo mais naquele lugarzinho do Oregon, que destacava aquela região verde de todas as outras do país...

Esquisitices debaixo de cada pedra.

Não era difícil perceber o quanto aquele lugar esverdeado era diferente, afinal de contas, Mabel já estava chutando alguns gnomos malandros, enquanto era assistida por algumas fadas do vômito que, hora riam, hora vomitavam; um espetáculo tão patético quanto desagradável.

Arquimedes apenas ignorava aquela cena ridícula e buscava localizar Aethel voando acima das árvores, enquando Dipper tentava buscar rastros do misterioso rapaz em meio a grama.

—Se passou por aqui, deve haver pegadas ou sinais de plantas cortadas. - observou Dipper.

—Pode estar certo Dipper, mas o que ele veio colher na floresta? Será que ele quer flores? - perguntou Mabel.

—Mabel, o cara tem um arco, uma coruja falante e um montão de livros de história, filosofia, botânica e outros mais... acha que ele viria até a floresta apenas para colher flores?! De verdade?! - perguntou Dipper.

—Quem sabe ele quer colher um buquê de flores para uma linda princesa que está presa em uma torre, junto com um dragão cuspidor de fogo e um bruxo malvado que solta lasers pelos olhos! Ai meu Deus! O Aethel deve ser um cavaleiro que vai salvar a princesa e se casar com ela!

—O quê?! Você ficou maluca, Mabel? Aliás, como pode pensar nesse conto de fadas esquisito enquanto chuta um gnomo? - perguntou Dipper.

—Bem... você sabe... chutar gnomos... cavaleiros reluzentes... combinam muito.

—Mabel, isso não faz nenhum sentido!

—Eu sei... acho que me perdi no assunto.

Para fugir de um silêncio constrangedor, os gêmeos se separaram para procurar Aethel; Mabel seguiu para uma parte florida da floresta, enquanto Dipper preferiu seguir por um canteiro de erva com espinhos, pois ali havia uma variedade de plantas que pareciam ser úteis nas mãos de um mago.

A garota seguiu pelas flores até atingir uma clareira muito flórida, era um verdadeiro jardim natural cheio de cores; flores amarelas, azuis, vermelhas, laranjas, tudo para encher os olhos de Mabel com lágrimas.

De repente, a menina ouviu um galho se quebrar a direita, então, quando se virou, viu algo que a deixou sem palavras...

Um elfo sombrio que parecia ter sua idade, com olhos tão verdes quanto as esmeraldas de um samorim, cabelos negros que chegavam aos ombros e eram presos em "rabo de cavalo", um gibão escuro típico do século XVII, que parecia ser de um tipo de couro cuja tonalidade de roxo se aproximava do breu absoluto, lembrando as escamas de uma mamba-negra, brilhante e sinistro.

Suas calças eram de cor igual a de sua camisa, mas suas botas eram cinzentas, transmitindo um ar de alguém cuja esperança acabou a muitos anos.

Apesar de tudo, Mabel não sentiu medo, apenas um misto de paixonite e pena, então se aproximou lentamente e parou no centro da clareira florida, sempre olhando nos olhos daquele elfo sombrio, que notou a garota e falou com uma voz de Tyrone Power:

—O que faz aqui, minha jovem? Esta floresta esconde perigos demais para uma dama se aventurar por ela.

—Nossa... você é lindo... quer dizer... quem é você e o que veio fazer aqui? Veio colher flores para uma princesa presa em uma...

—O-o quê? A senhorita não é daqui, verdade?

—Hahaha, está tão na cara assim? Acho que entrei em algum clipe do Sev'ral Times, isso está tão esquisito, hahaha... desculpa, estou toda atrapalhada.

—"Sever al", o quê? Haha, você parece ser uma garota muito... diferente. Perdoe minha falta de cortesia, me chamo Björn, filho de Ivar, da casa de Haraldr. E qual seria sua graça?

—Minha graça? Ah, você quer saber meu nome, claro... me chamo Mabel Pines, mas pode me chamar só de Mabel.

—Senhorita Pines, Mabel, perdoe se pareço descortês, mas fala um dialeto bastante estranho, o que é "sevral tarres"?

—O quê? Ah sim, Sev'ral Times! Eles eram um grupo de artistas muito bom, a Grenda e a Chiu também gostavam bastante deles, mas depois descobrimos que eles eram clones feitos por um empresário inescrupuloso, isso é uma loooooooooooonga história.

—Verdade? Talvez a senhorita Pines, ou melhor, Mabel, deseje que eu lhe guie de volta a... bem, na verdade não disse de onde veio ou para onde vai, hahaha.

—Pode deixar o "senhorita" de lado, me chame só de Mabel. Na verdade eu estava procurando um amigo que está vivendo na cabana do mistério por uns tempos, talvez você saiba onde ele está, ele é meio, quer dizer, a altura dele... hahaha, não sei como ele é, nunca o vi antes.

—Cabana do... ah sim, deve estar se referindo a estranha habitação que está em uma clareira desta floresta. Quanto ao seu amigo, não tenho como procurá-lo se não sabe como ele é, mas posso acompanhá-la na busca, se permitir e achar conveniente.

—Seria o máximo! vai ser moleza achar o Aethel com seus olhos profundos e incríveis!

—Aethel? Fala de Aethel Absalon?

—Acho que é ele sim, não sei o sobrenome, você conhece ele?

Neste momento, Mabel percebeu certa frieza no olhar de Björn, como se algo sinistro houvesse despertado ante a menção do nome de Aethel, alguém que a garota sequer conhecia de fato, então a jovem começou a se sentir menos confortável na presença do elfo, que já olhava para ela de forma suspeita.

Ante um certo arrepio na espinha, Mabel sentiu que havia chegado a hora de sair daquele jardim florido, pois esse já mostrava ser lar de serpente.

Ante o afastamento lento da garota, Björn começou a perguntar:

—Minha criança, porque deseja encontrar o discípulo do grande mago? Deve se afastar dele, pois não lhe trará nenhuma alegria a proximidade com esse rapaz.

—Eu não estou... quer dizer, ele tem uma coruja... Arquimedes é que está procurando ele.

—Arquimedes? A coruja também está aqui... o grande mago não deve estar longe. - Disse Björn.

Mabel logo percebeu a grande mancada que havia dado, revelando mais informações para aquele indivíduo tão suspeito.

O elfo começou a se aproximar, então a garota correu, mas de nada adiantaria, pois sua velocidade não se comparava a do elfo sombrio; estava tudo perdido.

A garota tropeçou e rolou pela grama até cair por um morro, dando-se conta de que estava agora em meio a arbustos com espinhos, mas não tinha tempo para reclamar da queda, precisava correr como no dia em que precisou fugir de um mundo mágico ilusório criado por Bill Cipher.

Björn era rápido e corria até em meio aos galhos das árvores, conseguindo encurralar Mabel com formidável facilidade e começando a falar:

—Me desculpe, não desejava que fosse assim, mas você já sabe demais...

—Não! vai embora, me deixa em paz!

—Me perdoe pelo que farei. - disse Björn.

Neste momento, Mabel assistiu o elfo sombrio se afastar um pouco e estender o braço direito em sua direção, com a mão aberta, fazendo a garota sentir um medo terrível, algo próximo a um filme de terror ou uma prova de matemática para a qual você não estudou, mas não pode faltar, já que sua saúde vai bem.

Da mão de Björn se formou uma esfera roxa que parecia rodeada de pequenas chamas negras, mas Mabel não conseguia se mover para escapar, o pavor era tanto que ela estava paralisada...

Mas porquê? Não foi ela a garota que enfrentou Bill Cipher junto ao irmão? Bill não era uma ameaça muito pior? Então por qual razão Björn a paralizara daquele modo?

Talvez porque fosse algo inesperado ou apenas porque Mabel jamais tivesse visto olhos tão mórbidos e tristes quanto os de Björn.

Era surpreendente como a garota havia mudado de opinião acerca dos olhos verdes do elfo: já não pareciam tão belos assim, apenas frios, tristes, sem esperança; o que será que acontecera com aquele belo elfo para ter um olhar como aquele?

Com muita energia, Mabel tentou vencer o medo e correr, quando por um milagre o elfo foi acertado por um livro no rosto: Dipper e Arquimedes haviam aparecido!

A coruja viu a menina acuada então chamou seu irmão para salvá-la, o que a tirou de sua paralisia e a fez dizer, em lágrimas, "valeu... irmãozão" e abraçar Dipper em seguida.

Björn não parecia contente e vociferou:

—Seu moleque, vai ficar de joelhos!

—Corre Mabel! Eu seguro ele! Arquimedes, chame ajuda!

—Ajuda?! Você vai morrer! Todos vocês vão morrer!

Neste momento, o perverso elfo sombrio atirou sua esfera roxa em Dipper, que o acertou a queima-roupa, para choque de Mabel:

—Dipper!

—Corre... Mabel... eu vou parar esse cara... vou te proteger... irmã...zinha.

—Fique longe das crianças, escravo de Gael! Se afaste delas ou vou arranhar sua cara toda! - gritou Arquimedes, em um raro momento "pouco educado" para uma "coruja educadíssima."

—Isso não é brincadeira, seus moleques! Suma da minha frente, ave encantada! Ou melhor, onde está a jóia do mago?! Onde ela está?!

Mabel queria salvar seu irmão, mas Arquimedes a impediu, pois nada poderiam fazer naquele momento; precisava tirar a garota de lá e afastar o elfo de Dipper, mas como poderia fazer algo assim? Como? Neste momento, apelou rapidamente a Deus, pois era tudo o que lhe restava fazer.

Björn já marchava em direção a garota, quando algo o agarrou com força por trás: Dipper se levantara!

—Seu... me largue! Solte-me agora, criança imprudente!

—Mabel, corre! Corre agora! - gritou Dipper.

—Não! Não vou deixar meu irmão...

—Mabel... eu te amo irmãzinha... amo nossos amigos... nossos pais... se você não... sair daqui, acabou tudo. Por favor Mabel... se salve.

Neste momento, Dipper sentiu suas forças diminuírem. Havia recebido uma magia forte e Björn não parava um segundo de tentar se libertar; se Mabel não fugisse logo, Dipper não aguentaria mais segurar o vilão.

Mabel não saiu dali, simplesmente não poderia fazer algo assim, tão covarde e sem honra...

Dipper era seu irmão! Aquele que a havia animado e salvado várias vezes no passado! Era parte de sua família, assim como Soos, Stan, Ford, Waddles! Aquele que ajudara Mermando, a protegera dos gnomos, a tirou do mundo ilusório de Bill...

Não! Se Mabel saísse dali seria mais que uma covarde, seria uma criatura ignóbil, uma pessoa sem honra, uma mau-caráter!

—Não irmão. Vamos enfrentar esse cara juntos... vencendo ou perdendo, não importa, vamos travar essa batalha juntos, como sempre fizemos... isso é família Dipper, um cuida do outro. - Encerrou Mabel.

Dipper começou a soltar lágrimas e agarrou Björn com ainda mais força, dizendo:

—Quem mexe com os Pines... dança.

E ergueu o elfo no alto, em um movimento digno de "The Rock", jogando-o no chão com força.

Dipper sorriu, enquanto perdia a consciência, encerrando:

—Ninguém se mete... com os gêmeos do mistério.

Neste momento, quando seus olhos quase se fechavam, viu uma luz dourada e alguém que corria em sua direção.

Björn pareceu, em um breve momento, ser atacado por alguém; seria algum tipo de ilusão que antecede o estado de inconsciência?

Dipper olhou para cima e viu alguém em pé, diante dele, mas estava escuro demais para ver quem era...

Dipper desmaiou.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Samorim:
Foi um título dos soberanos do antigo Estado hindu de Calicute, localizado no que é hoje o estado indiano de Querala, entre os séculos XII e XVIII.

Gibão:
Casaco de couro usado pelos vaqueiros; véstia (Mini-Aurélio, 8° Edição). No caso empregado neste capítulo, refere-se a um casaco de couro típico dos séculos XVI e XVII.

Mamba-negra:
A mamba-negra é uma espécie de cobra grande e extremamente venenosa pertencente à família Elapidae. É nativa de partes da África Subsaariana.

Tyrone Power:
Tyrone Edmund Power III (1914-1958), geralmente creditado como "Tyrone Power" e conhecido, algumas vezes, como "Ty Power", foi um ator de cinema e de teatro estadunidense. De sua obra, recomendo o belo "Jamais Te Esquecerei" (1951).


Ignóbil:
Sem nobreza, abjeto, vil. (Mini-Aurélio, 8° Edição)

Mau-caráter:
Que ou quem tem um caráter mau; que ou quem é capaz de atos traiçoeiros; que ou quem não é pessoa confiável.

The Rock:
Dwayne Douglas Johnson, também conhecido pelo seu nome no ringue The Rock, é um ator americano, ex-lutador profissional e ex-jogador de futebol americano universitário pela Universidade de Miami. O sentido empregado no capítulo se refere, especificamente, aos anos em que lutou no ringue.