As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 5
A Extraordinária Viagem do Stan de Guerra II




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—Bem vindo de volta, irmãozão! Disse uma Mabel bastante animada.

Sim, Dipper retornara de seu período no hospital, para grande alívio de todos.

Stan deu um grande abraço em seu sobrinho-neto e pediu para Soos trazer os salgadinhos, pois Dipper “ficou magro como um graveto com aquela horrível comida de hospital”, de acordo com o malandro (mas divertido) Stanley.

O garoto olhava ao redor, contente por ver seus amigos e família ali; haviam montado uma festa para recepcioná-lo, todos eles, juntos! Wendy, Soos, Melody, Stan, Ford, Fiddleford McGucket (que batia os joelhos, animadamente), Robbie, Tambry (que estava de mãos dadas com Robbie), Waddles (abraçado por Mabel como um troféu) Pacífica e…

Gideon Gleeful?!

Sim, com seus olhos azuis, pele clara, cabelos brancos, terninho azul e baixa estatura, ali estava uma das figuras mais controversas daquela cidade.

Dipper foi convidado a se sentar para, em seguida, ser interrogado preocupadamente por todos os presentes, inclusive por Gideon, que aproveitava para colocar o braço em torno do pescoço de Mabel, apenas para que ela o removesse de forma automática, para um modesto riso de Dipper.

Todos desejavam saber se ele estava bem, inclusive Pacífica, que se limitava a fazer perguntas rápidas, como por exemplo “comeu muita sopa no hospital?” ou “nem no hospital você tirou o boné?”, sempre tentando dar ares de pouco interesse, ainda que não convencesse ninguém, nem a si própria; a verdade é que desejava abraçar a Dipper, pois consumirá-se em preocupação, além do que, pensara no rapaz ao longo dos meses, após seu retorno para a cômoda Piedmont.

Aproximando-se com a dignidade (ou arrogância?) típica de um Northwest, Pacífica entregou a Dipper um embrulho: era um bonito smoking, com tecido de altíssima qualidade.

Talvez um presente mais simples fosse o ideal, algo como um livro de mistérios ou um boné novo, poderia ser até uma edição de “O Pequeno Stanley” (que o garoto já possuía), mas deve-se considerar que a garota Northwest crescera em um lar (supondo que se possa chamar aquele ninho de pretensiosidade de “lar”) onde o simples não encontrava espaço…

Não. Pacífica era descendente direta do pseudo-fundador de Gravity Falls, Nathaniel Northwest (pensando bem, já não sentia orgulho por isso), então pensava que precisava mostrar a Dipper consideração sem, no entanto, parecer comum.

—Se ficou cicatriz, as gatinhas vão se amarrar, Dipper! – disse Stan, esperando nimar seu sobrinho. 

Melody apresentou o bolo e Mabel soltou os confetes, enquanto todos dançavam ao som de um “rock metal” popular que Aethel (até o momento, em completo silêncio) teve dificuldades em entender, por isso preferiu permanecer encostado em uma parede, enquanto segurava sua cópia de “O Príncipe” (leitura sempre recomendada por Merlin, seu querido professor).

Dipper avistou Aethel e caminhou até ele, agradecendo pelas boas palavras que esse lhe dissera no hospital:

—Ah, bem… não foi nada, Dipper. De certa forma, estamos em condições idênticas.

—Condições… idênticas?

—Esqueça isso, sua irmã deseja lhe falar. Vá, irmão Dipper, falaremos mais tarde.

Neste momento, o garoto viu Mabel diante dele, segurando o porquinho rosa nos braços como a um bebê rechonchudo:

—Que bom que já está melhor, estou muito feliz.

—É… foram dias meio complicados, mas já estou melhor, sério.

—”Gêmeos do mistério” para sempre, né?

—Claro irmãzinha, gêmeos do mistério para sempre.

Após apertarem as mãos, Mabel foi até onde Aethel lia seu livro, o que pareceu perturbá-lo um pouco; era curioso o quanto aquele rapaz poderia ser tão simpático quanto tímido.

Dipper olhou a cena com certo humor, Mabel se aproximava e o rapaz recuava timidamente, completamente sem jeito.

—Coitado do Aethel. – pensou Dipper – Mabel vai grudar nele igual chiclete e não vai largar nunca mais, hahaha.

De fato, o rapaz parecia desconfortável com a situação, já que o fato de estar entre tantas pessoas já lhe parecia demasiado penoso; agora havia uma garota cheia de glitter no cabelo e uma extroversão imensa para lhe perturbar.

Pensando bem, Mabel não era nada feia, com seu rosto sempre alegre e cabelos purpurinados; a garota era como os raios de Sol, enquanto Aethel era como a luz fantasmagórica da Lua, tão misteriosa quanto fascinante, algo que porta uma contradição deliciosa, a saber, romantismo para os apaixonados e brilho assustador que eleva lobisomens e bruxas sinistras…

Em síntese, uma incógnita.

Apesar da problemática de se aproximar de alguém que, claramente, não desejava mais proximidade quanto já o fora submetido, Mabel aceitou o desafio: aquele deus grego não lhe escaparia como os outros! Pobre garota, ainda se lembrava dos fracassos do último verão – vencer no amor tornara-se questão de honra!

Por esta razão, a garota seguiu Aethel, que saíra sem fazer alardes pela porta da frente, indo se sentar na pequena escada de entrada; desejava colocar a cabeça no lugar, analisar os problemas com paciência, separar as opções e, a seguir, selecionar aquela que servisse melhor para resolver suas pendências, como Merlin lhe ensinara:

—Problema: Fui enviado até aqui com uma missão, que não sei qual, mas deparei-me com um elfo sombrio, que deveria estar extinto, com habilidades místicas que desconheço as origens e, portanto, fico vulnerável, sendo que, além disso, ele atacou Dipper e Mabel sem nenhuma razão aparente.

Fazendo uma pausa curta, Aethel continuou a falar consigo:

—Acréscimo: O ataque começou quando o elfo (que se chama Björn) identificou qualquer conexão entre mim e os gêmeos Pines, porém, sou um desconhecido, o que me leva a identificar Merlin, de quem sou discípulo, como a fonte dos infortúnios da família Pines, portanto, eram as obras de Merlin que estavam a ser ameaçadas pelo inimigo que, sem sombra de dúvidas, está acima de Björn; o elfo é um peão, uma marionete nas mãos de um manipulador com propósitos sinistros que desconheço – se o elfo é a ovelha, então… quem é esse pastor?

—Soluções: Número 1; devo sair daqui e, por sorte, o inimigo me seguirá e os Pines estarão a salvo? Não, careço de evidências para apontar tal saída, que só teria valor caso o alvo fosse eu, o que me parece improvável. Número 2; deve-se interrogar os gêmeos e extrair informações? Inútil, sabem tanto quanto eu… não, claramente sei mais do que eles. Número 3; devo buscar qualquer coisa nos arredores da cabana do mistério e também no canteiro de flores? Mas o quê? Caçar qualquer coisa às cegas será mero desperdício de energia.

Aethel pensou no que fazer, levantou e começou a caminhar em círculos, um hábito dos tempos em que caminhava com Merlin pelos bosques, desvendando os mistérios da vida, mas parou no momento em que percebeu Mabel olhando para ele.

Ele sorriu e convidou-a a se sentar, o que ela fez com gosto, então ele se desculpou por tirá-la da festa:

—Perdoe-me, senhorita, sentiu minha ausência e saiu da festividade, estou certo?

—Eu queria falar um pouco com você, mas acho que tem borboletas e fadas demais no cérebro.

—O quê? Você quer dizer no estômago?

—Está com fome? Quer que eu traga alguns salgadinhos?

—Não, senhorita, por favor, desculpe… nossa, fala um dialeto muito particular.

—O quê? Quer dizer que eu falo errado?

—Não eu… espere, vamos começar de novo, já estou me perdendo de novo… certo, perdoe minha falta no festim, como posso ajudá-la?

—Me ajudar? Ah, sim, claro, eu queria conversar um pouco, mas achei você falando sozinho, parecia perturbado.

—É verdade. Sinto que um peso está diante de mim, mas fique tranquila, o que viu foi um método de análise muito básico que Merlin me ensinou: Descreva o problema, anote as dificuldades, olhe as alternativas, pense em seus prováveis efeitos e escolha a que parecer melhor.

—Parece meio “papo de nerd”.

—Hahaha, acredite que é mais fácil do que parece, senhorita.

—Woooow, vamos ajeitar uma coisa, tudo bem? Não precisa me chamar de “senhorita”, pode me chamar de Mabel.

—Tudo bem então, de acordo.

—De acordo… – esperou Mabel.

—Tudo bem… Mabel.

—Agora nosso tapete mágico pegou o rumo certo.

—Tapete mági… Deus de Abraão, dai-me sabedoria.

—Hahaha, desculpe, acho que você tem dificuldade em pegar algumas ideias e expressões modernas, não e não?

Neste momento, Aethel se sentou e olhou melancolicamente para a Lua cheia, majestosa no céu limpo do Oregon, a mais perfeita obra de Deus para o deleite dos olhos mortais.

A garota ficou em silêncio, pois sentiu que havia ferido os sentimentos do rapaz, então disse:

—Olha, me desculpe, tá? Eu não queria chatear nem nada do tipo.

—Não chateou… essa época é "evoluída"... não entendo boa parte do que vocês falam…

—Sei, hahaha, o "dialeto da Mabel”não é para qualquer um, o que mais te incomoda na língua moderna?

—É informal demais! Torna-se impossível delimitar a posição ou ofício de alguém por meio desse dialeto.

—Bem… na verdade você também fala “diferente”, não tem saído muito, não é?

—Não. Estou sempre estudando, lendo, explorando florestas, então não resta muito tempo para socializar.

—Porquê? Merlin não te deixa se divertir com os amigos?

—O grande mago sempre me deixa sair, mas nunca tive muitos amigos para passar o tempo.

Mabel ficou em silêncio, estava claro que Aethel era mais solitário do que ela poderia ter imaginado, mas não queria que o assunto ficasse triste, então tentou animar as coisas um pouco:

—Qual é? Um cara legal como você deve ter muitos amigos por aí, não é verdade? Heim? Heeeeein?

—Merlin e Arquimedes são meus amigos, mas a maioria das pessoas são apenas amigáveis. Tenho muitas responsabilidades para me preocupar com assuntos tão comuns.

—Desculpa… acho que só estou te atrapalhando. Talvez seja melhor eu voltar. – disse Mabel.

Mabel se levantou para voltar à festa, mas foi detida pelo rapaz, que segurou sua mão de forma rápida, mas gentil, pedindo em seguida:

—Não, espere… me desculpe, não tenho muito jeito com as pessoas. Por favor, fique, sua presença é agradável.

A garota se sentou e Aethel pôs os braço sobre seus ombros, pois “os ventos de novembro estavam frios”, como respondeu o jovem.

Mabel olhou para o céu da noite e ficou pensando nas dúvidas e receios daquele que era, até o presente momento, o rapaz mais estranho por quem já se apaixonara.

O coração de uma moça não deve ser analisado com o racionalismo dos rapazes, pois o amor está além da razão, sendo assim, pouco importava se Aethel falava como um cavalheiro renascentista e Mabel quase nada soubesse acerca dele; amor é amor, simples assim.

—Você é um cara legal, pode me considerar sua melhor amiga, ta legal?

—Fico honrado… Mabel.

Os dois riram um pouco, então o cavalheiro Aethel perguntou  que Mabel desejava lhe perguntar anteriormente, ao que esta respondeu:

—Queria te convidar para sair amanhã, você e eu.

—Me desculpe Mabel, mas eventos sociais são um pouco desconfortáveis para mim.

—Será só nós dois, sei que não gosta de multidão; vamos lá, só uma tarde, que tal?

—Está bem, então aceitarei. 14:00h, o que acha?

—Maravilha, então estamos combinados. Agora vamos voltar para a festa, ou vão acabar sentindo nossa falta, hahaha.

—Como desejar, Mabel.

Com isto, ambos entraram na cabana e encontraram Stan divertindo a todos com suas histórias divertidas sobre as viagens do “Stan de Guerra II”, que zarpou após a Cabana do Mistério passar para as mãos de Soos.

Aethel achou a narrativa interessante, então se aproximou um pouco para ouvir melhor…



De acordo com a história de Stanley, ele e seu irmão gêmeo, Ford, viajaram por mares bravios e encontraram as mais extraordinárias criaturas, desde serpentes do mar até sereias de beleza inigualável; mulheres do mar que debocharam de Stanley e ficaram fascinadas com Stanford e sua “poesia de nerd” (esse comentário fez todos rirem, menos Ford).

Ultrapassando tempestades terríveis, o Stan de Guerra II avistou uma ilha misteriosa, rodeada por um forte nevoeiro, o que obrigou os irmãos Pines (Ford e Stan) a atracarem e esperarem que as condições melhorassem um pouco.

“Era uma ilha bonita” disse Stan, “mas o clima era esquisito”, apesar disso, seguiram para o interior da ilha, como se guiados por alguma força misteriosa que os obrigava a continuar.

Ford segurou sua arma de laser e Stan colocou seu “soco inglês", pois ambos sentiam algo além de mera curiosidade, tratava-se de um medo forte daquele desconhecido.

Os irmãos já haviam visto as esquisitices do multiverso, mas nada lhes gerava sentimentos tão estranhos e diversos como aquela ilha misteriosa; medo, saudade, nostalgia, curiosidade, alegria e uma sensação estranha e pueril, como se ambos lembrassem dos tempos em que exploravam a Praia do Caco de Vidro.

Conforme adentravam o interior da ilha, sentiam-se mais jovens e revigorados, as árvores pareciam maiores e imponentes, porém, jamais transmitindo pânico aos dois exploradores.

Após algumas horas caminhando, encontraram o que pareciam ruínas de uma antiga residência nobre, com escadarias, colunas vermelhas ao estilo cretense e fontes de águas limpas, rodeadas por lindas flores e arbustos.

Ao lado daquela bela visão, havia um lago por onde nadavam peixinhos coloridos e, para completar essa “obra de Renoir”, havia uma cachoeira.

Ford foi até aquele lago lavar o rosto, foi então que percebeu o choque: tinha voltado a ter dez anos de idade!

Como ainda não havia percebido isso antes? Primeiro pensou se o lago não era responsável por aquela transformação misteriosa, mas imediatamente descartou a ideia, já que a sensação de juventude permeava seu corpo já a algumas horas, então…

Seria um efeito daquela ilha estranha?

De repente, Stan deu um grito, o que alertou Ford de que seu irmão já se dera conta de sua atual condição mirim.

De acordo com o relato, Stan falou  “Jesus, Maria, José! Que macacada é essa agora, Ford?! Agora só vou entrar num casino de novo daqui a 10 anos!”, ao que seu irmão lhe pediu calma, pois aquilo deveria ser algum efeito misterioso da ilha e que, talvez, voltassem ao normal quando retornassem ao barco, porém, uma voz lhes falou algo…

Era um rouxinol, que lhes pedia para olhar mais de perto aquele lago misterioso, o que foi prontamente atendido (embora Ford tenha sido obrigado a desvencilhar Stan da ideia de pegar o pássaro falante e o apresentar em Las Vegas).

Quando olharam o lago de perto, uma jovenzinha saiu de dentro dele e espirrou um jato cristalino de água no rosto dos irmãos, que ficaram atônitos.

Tratava-se de uma garota com cabelo turquesa, rosto branco e angelical, conxas azuis para cobrir a área dos seios e uma bela cauda de peixe com escamas turquesas, com detalhes em verde e azul; uma perfeita sereiazinha sorridente qe, em risos, lhes cumprimetava animada.

A jovenzinha lhes disse para terem calma, pois naquele lugar a juventude era restaurada até que as pessoas voltassem aos seus 10 anos de idade; não era nenhum feitiço maligno, mas uma bênção para que pudessem voltar a brincar e se divertir como nos tempos da juventude.

“Então você também é adulta?”, perguntou Ford, recebendo uma negativa; aquela jovem era uma sereiazinha de meros 8 anos – crianças de 10 anos ou menos não eram afetadas por aquele encanto, por já serem… crianças.

Ela se apresentou como Maribela e os convidou para passear pelo rio com seu bonito barco, o Stan de Guerra II, pois aquele lago ficava próximo a um braço de rio largo o bastante para navegar, embora a embarcação estivesse muito longe.

Apesar desse inconveniente, a garota não desanimou, pois disse que o barco já estava onde precisavam; foi o que viram quando, ao passarem por alguns arbustos apontados pela sereia, avistaram o rio onde, inacreditavelmente, já se encontrava o Stan de Guerra II!

“Mas como é possível?!”, questionou Stan, ao que a jovem respondeu “é a mágica do sonho; se você pode sonhar, você pode fazer”.

“Venham, vamos nos divertir”, chamou a jovenzinha que, após mergulhar fundo no lago, apareceu no rio em instantes, o que fez Ford entender que ambos estavam conectados por alguma passagem submersa.

Seguindo com o barco, a garotinha conversava animada com aqueles dois garotos, que contavam suas aventuras para ela; era bom ter a atenção daquela sereiazinha, pois a admiração dela naquelas histórias fantásticas era genuína.

Todos gostamos de admiração e atenção, então pode-se dizer que até a pessoa mais casmurra poderia sorrir alegremente ao conversar com aquela menininha das águas.

Ford perguntou a Maribela se aquela terra tinha nome, ao que a sereiazinha respondeu que se chamava Ghalary, uma terra encantada cheia das mais extraordinárias fantasias.

Infelizmente, aquele lugar maravilhoso estava vivendo uma época de tristeza; aquela ilha era, em verdade, um grande continente que outrora fora governado por uma dinastia de imperadores sábios e magníficos.

Segundo Maribela, a cerca de 100 anos a dinastia enfrentou problemas graves que, apesar de tudo, foram resolvidos; “ouvi que houve guerra em um continente distante e que uns homens maus feriram muitas pessoas, mas não sei se isso teve alguma coisa haver”, disse a sereia.

De acordo com ela, aquele continente não tinha mais imperadores a pelo menos 20 anos, então um mago malvado começou a fazer coisas más e tentar governar aquele lugar maravilhoso.

Os irmãos acharam a história interessante, mas, de repente, houve silêncio entre os três, pois avistaram fumaça que, talvez, viesse de alguma cabana ou fogueira na floresta.

A sereia pediu que não seguissem, pois ali morava uma bruxa malvada que sempre assustava as crianças, mas o cheiro de aventura foi mais forte que as súplicas da razão, então seguiram a´te as margens do rio e atracaram o Stan de Guerra II.

A sereiazinha, que ainda estava nadando no rio, ficou cuidando do barco enquanto Stan e Ford, os “gêmeos Pines”, adentravam a floresta densa.

Seguiram com coragem até avistarem uma clareira, onde viram uma choupana de pedras com um telhado de palha que, observou Ford, deveria ter algum reforço interno ou agente impermeabilizante.

De dentro da cabana, ouviram um canto patético, que dizia algo como “bruxas do mundo vão me invejar; sim salabim, para acabar; pelo de rato, sapo a jogar, lesmas, morcegos; agora esperar”.

Olhando de dentro da janela, avistaram uma bruxa gordinha com um vestido roxo na parte de cima e rosa na parte da saia, sapatos roxos (e horrorosos) e um cabelo também da cor roxa (embora de um tom mais claro de roxo), além de um dente que lhe parecia sair da boca.

Seus olhos verdes guardavam a imagem da maldade pura, do mal encarnado, de tudo que existia de mal no mundo sem, no entanto, deixarem de ser cômicos (como, aliás, todo o conjunto que formava aquela figura grotesca e boba).

De acordo com Stan (pois era ele que estava narrando toda aquela odisséia para a platéia animada da Cabana do Misterios), aquela bruxa velha deveria ser esposa de Satã, considerando a repulsa que aquela coisa gerou nele, mas os irmãos se surpreenderam quando ouviram ela dizer:

—Porquê não param de espiar pela janela e entram logo, seus dois idiotas?

Stan e Ford gelaram; como ela poderia saber que ambos a espiavam?

Correndo para a janela, ela os surpreendeu e pulou para fora, apresentando-se como a “maravilhosa madame Min” e convidou-os a entrar (na verdade os empurrou na marra até a porta de entrada).

Dentro da choupana, ela trancou a porta e os convidou a se sentarem, sendo obedecida com educação (traduzindo: elas os sentou na marra, como se ambos fossem duas crianças… o que, tecnicamente, era a verdade).

Ela lhes ofereceu sopa, mas Stan cochichou a Ford para não tomá-la, pois vira a megera colocar algum tipo de poeira nela.

Min perguntou o que aquelas duas crianças estavam fazendo, ao que Ford lhe respondeu que não eram crianças, mas adultos que foram magicamente transformados, fazendo a bruxa dar um sorriso assustador:

—Ah sim, o feitiço da ilha, nem lembro quem fez isso, se Gael ou Merlin, acho que foi o primeiro. Tudo para o casamento de um marinheiro com uma sereia, mas isso faz muito tempo, o que é um problema para vocês dois, naturalmente.

—Ei ,problema como, vovózinha? – perguntou Stan, com a diplomacia de um gângster.

—Stan! Perdoe ele, gentil senhora, quer dizer, senhorita, meu irmão não quis ofender tão distinta dama. – consertou Ford.

—Não tem problema, meu queridinho, ele tem razão, sou horrível, revoltante, incrível e tenho muito orgulho disso! Só Merlin, aquele velho idiota, que insiste na importância da moral e do bem e blá blá blá… buuuuu!

—Merlin deve ter razão. – resmungou Stan.

—E ele teria gostado muito de vocês dois, tenho certeza; dois jovens vindos de uma terra distante para desbravar e aprender coisas diferentes.

—Acha mesmo? Seria um prazer conhecer alguém que deve ser tão sábio. – disse Ford.

—É claro meus queridinhos… mas para mim isso é muito mal!...

—Mal… mal como? – tremeu Ford.

—Bem, vocês devem entender que estão cheios de magia e que Merlin adoraria conhecer os dois… mas eu e o velhote vivemos em pé de guerra… ele é o maior idiota do mundo! Tenho mil vezes o poder dele no meu dedo mindinho! O que quero dizer é que… terei de destruir vocês dois, meus queridinhos, mas não é nada pessoal…

—São só negócios, não é mesmo, bruxa velha? – respondeu Stan.

—Não, meu queridinho… é apenas por pura maldade.

Neste momento, começou uma correria pela choupana; os irmãos derrubaram a mesa e atiraram tudo o que estava nas prateleiras empoeiradas em madame Mim, que ria sem parar.

De repente, ela se transformou em um sinistro tigre roxo e começou a perseguir os dois, que gritavam e corriam.

De repente, um grupo de pássaros entrou pela janela e começou a bicar a megera e puxar seus cabelos desgrenhados; haviam sido chamados por Maribela para ajudar os dois viajantes.

Aproveitando a distração, Stan usou suas incríveis habilidades de “criminoso procurado”e foi até o baú que estava no armário de vassouras, abriu-o com um canivete e pegou o que encontrou dentro, um pequeno embrulho.

“Vou levar isso como recompensa” disse Stan, “quem tenta destruir Stan Pines merece punição”.

Pulando pela janela, Stane e Ford correram até o barco, sendo perseguidos por madame Min, que estava furiosa e lançando raios pelos dedos, literalmente!

Neste momento, Ford lembrou que ainda estava com sua arma de raios em mãos, então a sacou e começou a atirar na feiticeira (que criava escudos e se protegia), até que recebeu o chamado do irmão, que já se encontrava no barco:

—Vem logo, Quatro-Olhos! Esquece essa bruxa velha maluca!

Maribela moveu a cauda e atirou água nos olhos de madame Mim, que precisou enxugá-los; foi o que os gêmeos Pines precisavam para ligar o barco e fugir.

Maribela nadou um pouco com eles, pois queria se despedir dos seus novos amigos e ficou feliz quando estes começaram a recuperar suas idades adultas.

Eles perguntaram a razão de a bruxa não ser uma criança também, ao que a sereiazinha respondeu que, sendo madame Mim uma poderosa feiticeira, poderia criar barreiras mágicas para não ser afetada pela boa magia da ilha.

Stan abriu o embrulho e encontrou algo interessante: um pedaço de anel (parecia ser um terço de um anel; era branco e tinha cerca de 12 cm), com uma pequena faixa dourada no meio, onde se prendiam dois itens: uma pena roxa e um totem de com a forma de uma raposa rosa (feita de algum tipo de cristal rosado).

Stan ofereceu o objeto para Maribela, mas essa recusou, dizendo que fariam melhor uso dele do que ela; se Stanley havia tirado o objeto da casa da bruxa, então com certeza ele era mágico.

Despedindo-se dos dois,  ela seguiu para seu lar, nas profundezas das águas, enquanto um desejo estranho e repentino se apossou de seus corações…

Desejavam retornar a Gravity Falls.

O porquê daquilo não sabiam, mas talvez a força que os conduzira para aquela ilha encantada, também desejava que retornassem aquela cidadezinha do Oregon.

Considerando que uma pausa de sua grande viagem pelo mar poderia lhes ser benéfica (e como poderiam convidar os sobrinhos-netos para passarem o Natal com eles), decidiram voltar para a Cabana do Mistério.

Este foi o relato que Stanley Pines contou para seus convidados na festa, para espanto geral.



Todos adoraram a história, mas Aethel ficou muito perturbado com o relato, especialmente quando Stan tirou do pescoço aquele estranho objeto (que Stanley chamava de “colar da raposa”).

Aethel saiu da festa e avistou procurou Arquimedes, pois desejava falar com Merlin,  mas a encontrou dormindo em uma árvore, então pensou se não deveria respeitar o sono de seu amigo (Arquimedes quase sempre acordava mau-humorado), mas nem precisou de muita preocupação, já que a coruja despertou e o cumprimentou.

Aethel pediu que Arquimedes voasse até Merlin e lhe comunicasse que já sabia o porquê de Björn, o elfo sombrío, ter atacado Dipper e Mabel; deveria estar atrás do objeto mágico que estava, neste momento, em posse de Stan, mas como não sabia com quem, apenas onde, precisou procurar na floresta (deveria ter pensado que seria um local mais adequado para esconder um objeto precioso como aquele).

Aethel olhou para a coruja, que parecia sem palavras, depois falou:

—Arquimede, por favor, se apresse… não sei o que fazer, se Merlin estivesse aqui… acho que o senhor Stan trouxe uma grande tempestade sobre sua família.

Com essas palavras, a coruja voou alto no céu, decidida a chamar o mago…

Estava na hora de Merlin aparecer e cuidar das coisas um pouco.


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Notas finais do capítulo

Renoir:
Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), pintor francês. Foi um dos grandes mestres do impressionismo.
De suas pinturas, valem ser destacadas "As Duas Irmãs" (1881), "Retrato de Irène Cahen d'Anvers" (1880), "A Leitora"(1876; uma de minhas favoritas) e "O Pescador" (1874).