As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 2
Retorno a Gravity Falls




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—Mabel! Anda logo ou vamos perder o ônibus!...

Sempre era assim nas férias de inverno, a irmã parecia declarar guerra ao relógio e era Dipper que tinha de acelerá-la.

Mas que ano mais peculiar estava sendo aquele! Os pais acabaram por acumular obrigações nos últimos meses (em especial nos meses de outubro e novembro), então precisavam resolver essas incômodas pendências até a metade de dezembro, ou seja: não poderiam passar o Natal com os filhos.

Mabel e Dipper não estavam muito contentes com isso, afinal de contas, "Natal é para ser passado em família", como dizia a garota, cabisbaixa, mas o garoto era mais positivo, já que voltariam a majestosa (ou perturbadora, dependendo do ponto de vista) Gravity Falls, uma cidadezinha do Oregon cercada por bosques verdejantes e uma infinidade de espécimes animais e vegetais.

Na verdade, os dois irmãos já haviam estado naquele lugar antes, vivendo grandes momentos.

Dipper ainda se lembrava da ascensão e queda do perverso Bill Cipher, uma entidade de outra dimensão que quase trouxe o fim de tudo...

Mas aquilo já era coisa do passado.

Os dois jovens irmãos já tinham 13 anos e estavam no início da adolescência, muita coisa estava mudando aos poucos, assim como as plantas de um jardim no decorrer das estações do ano.

O rapaz já estava se aborrecendo, pois sua irmã cheia de glitter no cabelo ainda tardava a descer das escadas, o que o obrigou a falar:

—Mabel Pines! Se você não descer em 17 segundos vai ficar sozinha aqui nesta casa pelos próximos três meses! – disse o irmão, bastante impaciente.

—Está bem Dipper, já estou descendo irmãozão! – respondeu Mabel, bastante sorridente e carregando sua mochila com um unicórnio borrifado de glitter e lantejoulas coloridas, além de estar trazendo seu porquinho rosa de estimação, Waddles.

Apesar de não estar nada satisfeito com a espera, o rapaz não estava realmente bravo.

Aqueles últimos meses haviam posto fim a qualquer tipo de inimizades que poderiam vir a perturbar os irmãos; eram uma família e permanecerem unidos parecia ser o mais natural.

Dipper segurou o riso e observou sua irmã gêmea (um fato interessante, gêmeos na família Pines não eram muito incomuns) por um instante: suéter rosa com um desenho de unicórnio (pois a garota adorava aquele suéter tanto quanto filmes melosos de adolescentes, daqueles que são lançados em um ano e esquecidos no outro como se jamais houvessem existido), uma saia roxa e sapatos pretos (porque branco e preto são cores neutras e, portanto, combinam com todas as outras cores)...

Basicamente, o mesmo visual que tinha quando foi junto com o irmão para Gravity Falls, poucos meses atrás.

Mas sejamos justos; a aparência do garoto não era tanto melhor, apenas mais "madura", como insistia em dizer: calças jeans azuis, camisa azul marinho e, por baixo, uma simples camiseta branca, além de portar...

Seu tradicional chapéu azul com detalhe em branco e um pinheiro azul.

Dipper jamais abriria mão daquele boné, pois fora presente de seu querido "tivô" Stan, quando esteve naquela cidade do Oregon tempos atrás.

Mabel desceu as escadas rapidamente e ficou ao lado de Dipper; os dois irmãos portavam malas não muito grandes e já estavam prontos para partir, quando os pais falaram brevemente as típicas orientações de sempre, que o garoto fez questão de anotar palavra por palavra em um caderninho:

 

Orientações de Viagem:

 

—Não brigar na viagem;

—Obedecer ao tio-avô Stan;

—Escovar os dentes e passar fio dental;

—Não deixar a Mabel se empanturrar de açúcar e

—Tomar pelo menos 1 (um) banho por dia (isso é para você, Dipper!).

 

Ordens anotadas, os gêmeos saíram rápido até o ponto de ônibus, onde embarcaram naquele meio de transporte tão especial que os guiaria, mais uma vez, para a cidade mais esquisita do país: Gravity Falls.

Em viagens tão longas é bastante comum que as pessoas fiquem fascinadas com as paisagens pouco corriqueiras que podem ser avistadas, mas, infelizmente, isso foi impossível para aqueles dois jovens irmãos gêmeos da Califórnia...

Pois caíram rapidamente no sono.

Quanto tempo deve ter passado? Seja como for, ambos mereciam um sono restaurador depois dos meses de aula e da vida enfadonha de um estudante comum, até porque haviam partido de casa à noite, então o velho João Pestana não os teria deixado em paz, de qualquer forma.

De repente, um solavanco despertou os dois, que se viram rodeados pelas belas paisagens do Oregon, aquele Estado que tanto fascinou Quentin Trembley, 8° e ½ presidente dos Estados Unidos.

Talvez tenham sido aquelas paisagens que inspiraram aquele chefe de estado bobalhão a fundar Gravity Falls...

Ou talvez seja apenas porque ali havia pica-paus, por ser um lugar esquisito, quem pode saber? Quentin era uma ótima pessoa, mesmo após 150 anos preso em pé de moleque (longa história; felizmente, Dipper se lembrou de anotar tudo isso no diário número 3 de seu tivô Ford).

A questão é que os irmãos viram-se diante daquelas paisagens tão belas e verdejantes que, sem sombra de dúvida, haviam impressionado os antigos viajantes e peregrinos do passado, que buscavam um lar para suas famílias em meio a um país ainda em formação, com tantos territórios misteriosos a espera de serem explorados.

Dipper aprendera na escola sobre inúmeros desbravadores e figuras curiosas daquela fatia do continente americano, em especial a de Johnny Appleseed, com sua simplicidade e sabedoria da terra.

O garoto ficou pensando no velho "semente de maçã", quando sua irmã chamou sua atenção para o ponto final do ônibus, onde seus tivôs, Ford e Stan, esperavam-nos ao lado de Soos.

 

Com certeza uma surpresa; Stanley e Stanford não estavam fazendo sua viagem pelo mar? O que poderia ter acontecido para estarem ali, em Gravity Falls? Pensamentos à parte, a verdade é que Dipper estava feliz por rever a todos.

Mabel cumprimentou os três com um "abraço-Waddles", uma mistura de abraço de urso com beijo de esquimó na bochecha (pois na visão da garota, seu porquinho beijava com o narizinho rosa), alegremente, enquanto Dipper preferiu apenas um abraço comum.

Juntos, todos se dirigiram até a Cabana do Mistério, onde Soos disse que teriam uma companhia vinda de longe, um viajante que estava residindo lá, temporariamente:

—Ele parece um cara legal, mas não é muito sociável e fala meio esquisito. – disse Soos, enquanto ajeitava seu chapéu da "ordem das sardas sagradas", que no passado era usado por Stan.

—Não deem atenção a ele, crianças, isso é conversa do Soos! Eu e Ford estamos aqui há quase três dias e ainda não vimos ninguém além dele e da Melody! – disse o tivô Stan, enquanto admirava sua carteira nova.

—Falo sério, manos, o cara é de verdade! Ele apenas saiu para caçar criaturas mágicas, ou sei lá o que. – insistiu Soos, com ares de sinceridade.

—Eu acredito no Soos. Se ele disse que tem um cara novo, então tem mesmo um cara novo! – disse Dipper, concordando com o amigo.

—Stanley, talvez alguém tenha, realmente, visitado a Cabana do Mistério. Nesta cidade tudo é possível. Além disso, o quarto do sótão tem sinais de ter sido habitado recentemente. Você não subiu lá ainda? – disse Ford, que ainda refletia sobre o relato de Soos.

—Eu... bem... estava muito ocupado dando duro pelo bem da Cabana do Mistério! É isso! Estava vendo se o Soos fez um bom trabalho. – disse Stanley, com a lábia de um batedor de carteiras.

—Você ficou esparramado no sofá, de frente para a televisão durante os últimos três dias. – disse Melody, em risos, aparecendo na frente da Cabana do Mistério e cumprimentando alegremente as duas crianças (embora Dipper insistisse que tinham 13 anos e, portanto, eram adolescentes – há! essas crianças com mania de quererem ser adultas).

Melody era uma moça bonita, com cabelos castanhos claros presos em um rabo de cavalo.

Vestia uma calça jeans azul, sapatinhos verdes e uma camisa também verde, com o desenho de uma grande estrela branca e um coração vermelho no centro.

—Garotos, já que não nos reunimos a algum tempo, o que acham de fazermos uma festa de boas-vindas? – perguntou Melody, já indo pegar sua bolsa para comprar alguns balões comemorativos.

—Ótima ideia, amor! Mas não precisa ir até uma loja, ainda temos muitos balões da grande festa de reinauguração da Cabana do Mistério. – falou Soos, sorridente.

—Também será uma oportunidade para apresentar a todos o Aethel, ele é um cara demais, até tem uma coruja falante! Sabem, como nos desenhos animados! – disse Soos, deixando Mabel muito entusiasmada; a garota pensou se a coruja falante não poderia traduzir os "roincs" de Waddles ou lhe ensinar a falar com os animais.

Como se pode notar, Mabel era uma garota com uma imaginação bastante farta.

—Wendy também vai vir para nossa festa? – perguntou Dipper, lembrando-se de seu antigo amor platônico.

 

—Vai sim, mano, mas ela só poderá vir à noite. A Wendy está, como ela mesmo disse, "desfrutando de um momento especial em família ''. – disse Soos Ramirez, pensando um pouco nas atividades de Wendy com seu pai e seus irmãos.

—Sério, Soos? Que tipo de atividades?

—Bom Dipper, ela tem participado de competições com a família, como serrar árvores, escaladas na floresta, corrida de troncos, essas coisas. O senhor Corduroy disse que isso estimula a união familiar, confiança e força dos seus filhos, ele é bastante prático.

—Nossa Soos! A Wendy é incrível.

O gentil Soos concordou com o amigo, aquela garota era durona, como deveria ser normal em uma família de lenhadores.

Wendy Corduroy vinha de uma família conhecida de lenhadores e, na verdade, seu pai havia ajudado a construir a Cabana do Mistério. Além disso, seus antepassados estiveram envolvidos na construção do Solar Northwest (atualmente pertencente ao animado Fiddleford MecGucket).

Dipper tinha uma boa amizade com Wendy, mas ao se lembrar de sua família de cortadores de madeira, lembrou-se do fantasma do solar Northwest; um pobre lenhador que morrera após ser traído pela família Northwest...

E fazendo um "link mental", lembrou-se de Pacífica, herdeira de Preston e Priscilla Northwest.

O senhor Preston, homem arrogante e cheio de si, cometera um erro crasso ao investir a fortuna em "ações de estranheza", durante o evento chamado "estranhagedon" e precisou vender o solar Northwest para não cair na pobreza.

Dipper não entendia porque seus pensamentos haviam se dirigido à jovem Pacífica, apenas podia dizer que isso não o aborrecia, afinal, a garota não era de toda ruim; Pacífica tinha um lado gentil: era esperta, criativa e confiante de uma forma que fazia o rapaz sorrir timidamente...

—Acorda Dipper! – gritou tivô Stan, segurando uma gargalhada de vilão.

Foi neste momento que o rapaz percebeu que todos estavam olhando para ele, com ares de indagação; Dipper ficara tão imerso em suas reflexões que não se dera conta de que Soos lhe convidara a subir com Mabel para o sótão e arrumar suas coisas lá.

Melody e Mabel olharam o garoto, viraram seus rostos uma para a outra e começaram a rir, o que deixou Dipper um pouco envergonhado; com certeza deviam estar pensando que se distraíra com a lembrança de Wendy ou de outra garota.

Para acabar com aquilo, o garoto apenas subiu com sua mala até o quarto do sótão, com as bochechas tão vermelhas, que pareciam duas mangas maduras.

Mabel abraçou Waddles e Soos ajudou com sua mala, depois ambos subiram as escadas até o quarto onde residiriam.

De repente, a garota olhou para seu irmão e seguiu seu olhar hipnotizado até uma pequena mesinha com vários livros e cadernos esmeradamente organizados: seriam do residente misterioso?

—Ele estuda bastante e sempre diz que seu professor espera muito dele. – afirmou Soos.

—Quem é o professor dele? Alguém da cidade? Talvez o Ford...

—Não Dipper, não é ninguém conhecido. Mas ele disse que vamos conhecê-lo em breve.

Os gêmeos olharam rapidamente os livros: filosofia, história, "história dos reis da britânia", máquinas de voo, biografias de Da Vinci e uma cópia da Bíblia (uma tradução moderna da versão de João Ferreira de Almeida).

 

Mabel pegou um dos cadernos e começou a folheá-los, ficando extasiada com os belos desenhos feitos a mão (com certeza feitos pelo misterioso Aethel, esse ilustre desconhecido)...

Eram ilustrações de fadas, paisagens, personagens históricos, curtas tiras em quadrinhos e vários outros belos desenhos.

De repente, uma coruja entrou pela janela do quarto e se empoleirou em cima de uma das vigas do teto.

Mabel olhou a ave, de penas marrons e semblante nobre, liberou um sorriso radiante e encheu os olhos de lágrimas:

—Que pássaro mais majestoso! – disse a menina, querendo ser tão sincera quanto educada.

A ave, que parecia querer dormir um pouco, abriu seus olhos e fitou-os naquela que lhe dirigira tão belo elogio.

Aproximando-se com calma, pois temia afugentar a ave, a garota esperou que o animal voador fizesse algo inesperado, pois supunha que pertencesse a Aethel...

Foi quando os irmãos, Dipper e Mabel, ouviram uma resposta da coruja:

—Obrigado minha jovem. Me chamo Arquimedes e fico feliz em conhecer uma moça tão educada.


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Notas finais do capítulo

Férias:
Apesar do texto chamar o período de "férias de inverno", na verdade, trata-se de um mero recesso de poucos dias, em decorrência do Natal e Ano Novo.

—Johnny Appleseed:
John Chapman (26 de setembro de 1774 - 18 de março de 1845), mais conhecido como Johnny Appleseed ("semente de maçã") , foi um pioneiro americano que introduziu macieiras em grandes partes da Pensilvânia , Ohio , Indiana , Illinois e Ontário , bem como nos condados do norte de atual Virgínia Ocidental.

—João Pestana:
Personagem da mitologia portuguesa que, de acordo com as lendas, trás o sono as pessoas.

—Ordem das Sardas Sagradas:
De acordo com o livro "O diário perdido", o chapéu pertencia ao pai de Stanley, mas o patriarca jamais falou muito sobre essa misteriosa ordem.

—Erro Crasso:
Erro grosseiro advindo da falta de conhecimento ou aptidão. Segundo a lenda popular, a expressão teria nascido com os erros que o general Marco Licínio Crasso cometeu na batalha de Carras (53 a.C.), que lhe trouxeram uma derrota vergonhosa e morte em combate. Apesar da tentadora origem, Crasso é, de acordo com historiadores, o adjetivo latino "crassus", que originalmente se referia a "gordo, expeço", ganhando posteriormente em latim o sentido de "grosseiro, tosco, rude."

—Esmeradamente:
De "esmero", isto é, "cuidado extremo, refinamento, perfeição, apuração."