As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 13
A Contraofensiva de Merlin




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Foi durante os dias sombrios do inverno, durante alguma data esquecida da baixa idade média, quando a violência e a brutalidade imperavam, que aquele rapaz franzino realizou um feito extraordinário.

Tratava-se de um menino de 11 ou 12 anos, com cabelos dourados, como o trigo da alta estação de colheita, rosto um pouco pálido, olhos castanhos, túnica vermelha (mas simples, como caberia a um humilde escudeiro), cachecol amarelo, calças alaranjadas e botas avermelhadas que, a bem verdade, compunham um conjunto equilibrado.

O grande torneio (cujo vencedor seria coroado o novo rei da Inglaterra) havia cessado e uma multidão se amontoava ao redor de uma praça, próxima a grande catedral, onde aquele rapaz removia com seus braços finos uma grande espada reluzente de uma bigorna (essa estando assentada em cima de uma rígida pedra).

Os sinos da igreja badalavam alegremente, enquanto o jovem era iluminado por uma luz, vinda dos céus, como se Deus também se alegrasse com aquela cena pitoresca.

Todos gritavam, com imensa alegria, "Viva o rei Arthur! Deus salve o rei!”, e o rapaz, sem entender o que ocorria, surpreendia-se com sir Hector, que se ajoelhava-se diante dele e lhe pedia perdão, enquanto ordenava que seu filho, Key, se curvasse “diante do rei”, segundo suas próprias palavras.

Naquele dia de inverno, um novo rei nasceu para salvar aquela nação da anarquia: Arthur Pendragon, filho de Uther Pendragon, discípulo de Merlin, filho adotivo de sir Hector e meio irmão de sir Key.



Em suas divagações, Merlin se recordava, com muito carinho, desse dia abençoado, quando seu pupilo entrou para aquele lendário ciclo de lendas que inspiraram escritores, artistas e homens de grande valor no decorrer da história.

O mago via Arthur (ou Wart, como se acostumara a chamá-lo) como a prova de que a educação poderia mudar a forma de pensar do povo, trazendo paz e evitando crises por meio de líderes valorosos e bem preparados.

Merlin a muito deixara as mágicas heróicas para trás, ocupando-se agora de ensinar as pessoas humildes, tal qual os 12 discípulos, sempre ressaltando que "inteligência supera força”, algo que madame Min e Gael jamais seriam capazes de entender.

De repente, cortando as reflexões do mago, Tristan entrou voando na Cabana do Mistério e anunciou a nova calamidade que se abatera sobre todos eles: Aethel confrontou Gael, mas terminou sendo morto.

Enquanto  Dipper, Mabel, Stan, Ford, Wendy, Soos e Melody ficavam atônitos, Merlin permanecia tranquilo, sentado na velha poltrona e tomando um chá de hortelã, enquanto Arquimedes tentava entender os últimos acontecimentos pelos olhos do feiticeiro.

Por alguma razão, a voz do pequenino alado foi entendida com perfeição: os belos sons de sinos, que tilintavam de forma doce e encantadora, deram lugar a palavras comuns! A língua das fadas era tão compreensível quanto a dos homens.

De acordo com Merlin, em breve Luna também partilharia deste efeito (embora, de acordo com o mago, talvez o tilintar voltasse de vez em quando), pois o coracor era instável e certamente afetaria tudo que estivesse dentro do grande escudo protetor de Gravity Falls: Gael levaria tempo para se acostumar com tanto poder, ainda que tivesse se preparado para isso por tantos séculos.

Tristan entregou tranquilamente o diário 3 a Dipper, dizendo que a vida de Aethel fora sacrificada na busca por aquele livro de anotações, porém, condoeu-se em ver os olhos brilhantes de Mabel se encherem de lágrimas e molharem a face da menina.

“Mas como isso aconteceu?! Porque ele foi sozinho?!” perguntava Ford, sem compreender a razão de alguém de Aethel ter feito algo louco como aquilo, mas ficou em silêncio, assim como o restante da cabana, quando Merlin começou a falar:

—Eu compreendo que desejam se entregar ao luto, mas a verdade é que estamos em guerra e Gael virá até aqui, para nos destruir. Portanto, devemos nos preparar para resistir o quanto antes, ou o sacrifício de Aethel será em vão.

—Sacrifício?! – perguntou Dipper, indignado – não foi um sacrifício, foi um suicídio! E o senhor não parece estar tão triste quanto o restante de nós.

—Meu rapaz – começou Merlin, serenamente – eu desejava que meu querido aluno estivesse aqui, tomando chá conosco, mas ele se foi, não podemos mudar isso. Tudo tem seu propósito, até um fato terrível como este, mas devemos lembrar que Aethel era sábio e sabia interpretar o que estávamos enfrentando.

—Ei, velhote, pelo menos finja que está de luto! – disse Stan, bastante aborrecido.

—Aethel está em um lugar melhor. Mas a cidade deve estar sendo atacada neste exato momento. Muitos inocentes estão sofrendo, enquanto Gael busca sua vingança. Senhor Stanley, olhe ao redor e me diga o que vê.

Neste momento, Stan olhou ao redor e ficou em silêncio…

A Cabana do Mistério estava se enchendo das esquisitices da floresta: gnomos, fadas, unicórnios e várias outras criaturas de Gravity Falls, que estavam fugindo da ameaça de Gael e seu exército.

“Precisamos montar uma defesa! Dipper, pegue meu desruptor dimensional!” gritou Ford, mas o grande mago tranquilizou a todos:

—Tenham calma e me escutem com atenção, meus filhos. Se me lembro bem, vocês transformaram esta cabana em um guerreiro de madeira e metal, para combater Bill Cipher e salvar o mundo, não estou certo? Então me tragam todos os pratos, panelas e utensílios de cozinha que encontrarem, pois precisarei deles para montar um exército improvisado.

—Exército improvisado? – perguntou Melody – vai armar os gnomos com as facas da cozinha?

—Não, minha cara senhorita – disse o feiticeiro, com grande educação – vou apenas animá-los e transformá-los em soldados. Mas senhor Ford, traga esse seu disruptor dimensional, esta residência vai precisar dele quando estiver em combate contra Gael.

Sem entender o ancião, Stanford correu para seu laboratório, em busca da arma precisa, enquanto Merlin subiu na poltrona, pegava uma varinha branca de sua manga esquerda e começava a pôr suas artes mágicas em ação, como fizera tantos anos antes, quando Wart era apenas um aspirante a escudeiro:

Higitus figitus zomba kabom! De todos, peço a atenção. Cabana do Mistério, morada sagrada da família Pines e lar temporário de Aethel, aquele do sangue Ryu… obedeça meu chamado e mostre quem sou!

Neste momento, a cabana começou a tremer violentamente, como se alguma força além de qualquer ciência ou saber mundano estivesse por se apossar daquela estrutura por inteiro: rochas, troncos de madeira, metal, vestígios das antigas epopeias tecnológicas de Ford e até o velho (e roubado) carrinho de golf se fundiram a cabana, formando um poderoso soldado gigante.

Suas pernas eram feitas de madeira e metal, o peitoral era a própria cabana, os braços eram os mesmos que faziam parte do antigo robô de Gideão (destruído meses antes) e sua cabeça era uma árvore com as feições de Merlin (sendo o tronco sua face e as folhas sua barba, bigode e cabelos).

—Stanley! – chamou Merlin – traga os utensílios de cozinha!

—Já vai, seu velho maluco! – gritou tivô Stan.

A um comando de sua mão esquerda, o feiticeiro fez o “soldado cabana” caminhar em direção a cidade de Gravity Falls para montar uma defesa e deter a desolação promovida por Gael.

Enquanto estas ações espetaculares se desenrolava diante dos olhos atônitos de Dipper, que segurava o diário 3 com firmeza, Mabel caminhou até o sótão, subindo as escadas vagarosamente, como se temesse que o último degrau a aproximasse de algum patíbulo infernal, que a conduziria para o princípio das Eras e o Reino da Eternidade…

Mas tal visão aterradora só habitava a mente de uma garota aflita que, por calamidade do destino, havia perdido o garoto que amava.

Entrando no quarto, Mabel olhou sua cama bagunçada, o leito de Dipper no chão, totalmente desorganizado e, por fim, a cama usada por Aethel.

 “Ele arrumou a cama”, disse a garota, “mesmo antes de ir para a morte, ele se preocupou com uma coisa dessas”, encerrou, sem dizer mais nenhuma palavra.

Subitamente, alguém cruzou a porta do quarto: era Dipper, com seu boné característico branco e azul com aquele eterno pinheirinho azulado na frente, camiseta laranja cujo tom avançava para um vermelho agradável, shorts cinzas e bem passados (provavelmente por Ford), meias brancas como a neve e tênis pretos que, a bem verdade, contribuia para harmonizar todo aquele conjunto.

O rapaz estava usando seu colete azul, além de segurar o diário 3 (recuperado pelo sangue de Aethel) com firmeza, como se temesse perdê-lo, o que não escapou aos olhos reluzentes de Mabel.

Olhando atentamente para a irmã sentada na cama usada por Aethel, Dipper caminhou com lentidão e se sentou ao lado dela, buscando palavras gentis para aliviar aquela dor profunda que assolava o coração daquela garota em luto:

—Então… quer desabafar?

—Dipper… sniff… ele se foi. Nunca mais vamos vê-lo.

—Mabel, sei que está sendo difícil, mas precisamos ser fortes. Merlin e os outros estão a todo vapor lá embaixo, lutando para terminar o que o Aethel começou.

—Não é tão simples Dipper. Eu sei que estamos em crise e precisamos ser fortes… mas não dá! Ele morreu! Morreu para nos proteger! Encontrei o arco dele do lado da minha cama… acho que ele não esperava voltar a me ver… Deus! Porque isso está acontecendo com a gente?! O que ele fez para merecer isso?!

Dipper colocou os braços ao redor da irmã e a abraçou, com ternura, enquanto ela chorava: olhos brilhando como estrelas, narizinho avermelhado, coração batendo acelerado, suéter um pouco desarrumado e cabelos macios com algumas mechas cobrindo a face.

Movendo a mão direita para seu colete, Dipper tirou um punhal limpo ainda dentro de sua bainha – o punhal de Aethel, dado para a proteção do menino e de sua irmã!

Mostrando a arma branca, Dipper recomeçou a falar com sua irmã, ainda que as palavras lhe fugissem a boca:

—Quando eu acordei, isso estava na minha mão. Acho que ele me entregou para nos proteger. Eu não sei porque o mundo todo ficou uma bagunça de novo, não sei mesmo… mas sei que o Aethel tinha algo em mente.

—Dipper… eu quero ele de volta… quero que as coisas voltem a ser como eram antes… pensei que já tinha superado isso depois de completar 13 anos, mas as dúvidas sempre voltam! O fantasma de Bill e daqueles tempos tranquilos em que você e eu chegamos a Gravity Falls… quando você conheceu a Wendy… ou nossa volta pra casa… Porque as coisas não podem ser do jeito que eram? Eu ficaria feliz se elas não ficassem tão loucas!

—Mas Mabel… nossa vida nunca foi tranquila e feliz! O passado não pode voltar… mas o tivô Ford me ensinou que não é bom guardar dores e sentimentos ruins, que dizer, ele ficou uns 30 anos furioso com o tivô Stan… e isso quase destruiu o mundo! O Soos ainda acha que o zodíaco mágico que tentamos fazer, teria nos dado super poderes maneiros… é lógico que isso não faz muito sentido.

—Dipper… eu estou com medo. Ele me dava segurança… eu gostava quando via o sorriso dele, a pose legal, o olhar confiante…

—Mabel… eu via aquele olhar super legal, mas notava mais preocupação que alegria nele. Acho que ele queria tanto que todos ficassem bem e seguros, que guardou todas as angústias e preocupações consigo… até chegar o momento em que se desesperou…

—O que você quer dizer?

—Bom… quando aquele tal de Gael reuniu todas as peças desse coracor que tanto ouvimos falar, o Aethel parecia tranquilo e confiante… mas a verdade sempre me pareceu outra: os olhos deles sempre desviavam quando alguém tentava olhar direto, ele cruzava os braços com frequência e sempre me parecia bastante preocupado. Mesmo durante o seu show de bonecos, era como se ele não conseguisse manter o foco total.

—Você quer dizer que… meu Deus, então… você acha que ele já tinha considerado tudo?

—Bom… eu acho que sim. Quando ele voltou para a Cabana do Mistério e nos ajudou com os zumbis, não sei se você reparou bem, mas o cara já estava bastante ferido.

—Dipper… quando ele me salvou daquele elfo malvado, ele machucou o braço, mas não contou isso nem para o Merlin. Ele apenas foi até o telhado e começou a orar. Ele devia ter muito medo que Gael conseguisse as peças mágicas, então preferiu se esforçar ao máximo para recuperá-las, ainda que acabasse se ferindo… ou pior. Sei que o Bill talvez fosse muito pior… mas acho que estou mais apavorada com esse tal de Gael do que com o Bill Cipher.

—O Bill era um louco que queria se divertir, mas pelo que entendi, o Gael deve ser muito inteligente, além de ter um objetivo que faz algum sentido.

Neste momento, Dipper tirou seu boné tão querido, olhou para ele brevemente e começou a dizer algo que fez sua irmã ficar em silêncio por alguns instantes:

—Sabe… eu amo esse boné, ainda mais que o meu boné da sorte antigo, aquele da estrela. Esse boné foi um presente do tivô Stan e eu vivi muitas aventuras nesta cidade com ele… conheci a Wendy, o Soos… todas essas pessoas maravilhosas que me trouxeram tanta diversão e alegria… até fiz um amigo que conheceu o rei Arthur! E foi com esse boné! – disse Dipper, mostrando orgulhosamente o boné – Será que algum garoto na Terra poderia dizer “meu boné é o mais legal do mundo” depois de conhecer a história do meu?

Mabel olhou para o arco de Aethel, com sua aljava, flechas, desenhos estranhos que ela antes não notara e perguntou como seu irmão ainda tinha aquele boné, já que o havia trocado pelo chapéu de Wendy, no dia em que voltaram para casa, meses antes, ao que Dipper respondeu:

—Eu não sei. Um dia ele apareceu em cima da minha cama… e o chapéu dela tinha sumido, mas eu não senti medo ou tristeza. Algo dentro de mim dizia “relaxa cara, você vai ter o chapéu de volta e vai poder devolvê-lo para a Wendy”, então fiquei alegre, porque eu não duvidava que aquilo fosse verdade e, portanto, eu veria nossos amigos de Gravity Falls em breve. Eu não consigo explicar essa sensação que eu tive, só posso dizer que tive ela, só isso. Você entende?

—Eu acho que entendo. No dia em que conheci o Aethel também me senti assim… me imaginei como uma princesa de vestido branco e coroa que havia encontrado seu príncipe encantado. – disse Mabel, ainda chorando.

—Irmãzinha, você conheceu ele a tão pouco tempo, tipo, uns três dias. Não acha que está exagerando um pouco?

—Pode ser. Acho que ele é carismático… além de bonitinho… hihihi. Mas sabe, talvez ele não tivesse perdido completamente as esperanças, quer dizer, não é qualquer um que aceita morrer por uma causa perdida… e ele nem levou o arco e a adaga… aquele garoto permaneceu uma incógnita até o fim. Mas quero acreditar que, apesar de tudo, ele manteve um pouco de fé até o fim.

—Mabel… eu também tenho medo. As coisas não ficaram exatamente fáceis, quando completamos 13 anos. Na verdade, acho que muitas delas até pioraram. Mas, se formos pacientes e tivermos fé… acho que nós… os “gêmeos do mistério”, damos conta. Venha o que vier! Você concorda?

—Certo – disse Mabel, enxugando as lágrimas e segurando o arco de Aethel – vamos ter fé, como ele teve.

Mais confiantes, os gêmeos voltaram para a sala, onde Stanley havia empilhado alguns pratos simples, tigelas de cereais, xícaras e três jarras, segundo o comando de Merlin.

Todos aqueles objetos começaram a flutuar e multiplicar-se, formando pequenos "batalhões", que, de acordo com o mago, seriam usados como tropas a seu comando para ajudar na evacuação de Gravity Falls (onde os cidadãos já deveriam estar cercados).

Dipper segurou sua adaga com a mão direita e segurou o diário 3 com a esquerda, enquanto sua irmã colocava uma flecha no arco de Aethel, enquanto dizia “vamos salvar a cidade”, para o sorriso de Merlin e Arquimedes.

Luna chegou voando da cozinha e anunciou ter visto algo de impressionar: madame Min estava do lado de fora, sentada em meio a um canteiro de tulipas, com uma expressão ameaçadora no rosto, como se estivesse pronta para fulminar qualquer um que se atrevesse a incomodá-la.

“Excelente!”, disse Merlin, já erguendo a varinha e gritando um feitiço para teletransportar Min até a sala da cabana (para imenso desgosto da bruxa, que odiava o feiticeiro e detestava ser ajudada), surpreendendo todos ali presentes.

“O que você quer, seu velho idiota?”, rosnou madame Min, ao que o mágico respondeu que todos precisavam se ajudar naquele momento tão crucial, caso contrário, o inimigo triunfaria, ao que a feiticeira respondeu:

—E o que tenho haver com isso? Prefiro enfrentar a peste negra a trabalhar com um velhote como você!

—Min, você fez a mesma coisa quando protegi as tropas de Guilherme, o Leão. Você sempre resmunga e inventa desculpas. Não entende que o poder de Gael supera em muito os nossos?

—E a culpa é toda sua, seu velho burro! Gael só aprendeu a usar os poderes por sua causa! Se tivesse seguido regras, tudo poderia ser diferente!

—Regras? Mas que tipo de regras?! Eu deveria ter redigido uma carta magna de regras tolas, assim como você sempre faz, quando duelamos? Se bem me lembro, você jamais segue essas regras!

—Vamos nos entender mais tarde, seu idiota. Não vou ajudar jamais! Prefiro morrer!

—E é exatamente isso que vai acontecer, caso não nos ajude! Vamos todos morrer! E se você morrer, quem vai trabalhar para fazer o mal?

Neste momento, madame Min ficou em silêncio e pareceu matutar consigo, como se recordasse de algo chocante e aterrador para, em seguida, se levantar e dizer:

—Tudo bem, está certo. Desta vez vou ajudar, mas depois vou destruir você, seu grande imbecil!

Dipper assistia a conversa surpreendido com o quanto aqueles dois indivíduos mágicos eram distintos: Merlin era educado, tranquilo, alegre, confiante, cheio de vida e paciente, enquanto madame Min era grosseira, intempestiva, furiosa como um javali, dotada de índole duvidosa, voltada para a devastação e de péssima aparência.

Porque o grande mago queria uma criatura como aquela, para lutar do lado deles? A situação estaria tão desesperadora assim, a ponto de precisarem de uma pessoa tão desagradável?

Antes que o rapaz pudesse fazer mais considerações, a cabana recebeu um forte impacto vindo do lado de fora, que a fez estremecer.

“Por Telas! O que foi isso? Algo forte nos atingiu!”, gritou Ford, enquanto tentava olhar pela janela, o que talvez não devesse ter feito, tendo em vista o que foi forçado a ver: duas serpentes de escamas vermelhas, barriga amarelas, línguas bifurcadas roxas, olhos amarelos e penas azuis que se estendiam de suas cabeças até chegar nas caudas.

As monstruosidades tinham 30 metros de altura cada (altura comparável a de um prédio de 10 andares) e rapidamente se enrolaram em torno da cabana, enquanto as hostes de seres das trevas, fadas sombrias, centauros, anões etc., todos próximos as criaturas, clamavam jubilosamente, “o senhor Gael é grande, ele estremece a terra com seus dedos poderosos. Viva Gael, o grande corvo que pousará no trono dos ghalarianos.”

Aquele ponto, a cabana já havia chegado à cidade: edifícios em chamas, como a terra de Ílion saqueada pelos aqueus, pessoas gritando, o céu ainda mais escuro que antes, coberto por um véu de trevas profundo que fez Stanley pensar que já fosse noite.

Ao comando do mago, os pratos e xícaras saíram pela janela da cozinha e atacaram aquelas hostes vis que exaltavam o impetuoso Gael. E, em desespero, aqueles filhos da noite correram em direção ao prédio da prefeitura, onde seu senhor e mestre os aguardava.

Madame Min preferiu sair da cabana pela porta da frente (pois, ao contrário dos pratos, a feiticeira estava “a alguns quilos da felicidade”, como disse Wendy) para, logo a seguir, se transformar em um gigantesco dragão roxo, com cauda “cheinha” e asas pequenas para, logo em seguida, atacar violentamente as duas serpentes.

Agarrando uma delas com as duas garras draconianas, Min a puxou com força, removendo o monstro da cabana e atirando-o em cima dos devotos de Gael, aqueles seres desprezíveis que tanto o glorificavam.

Aquela turba profana foi esmagada pela grande serpente e, embora não tenham sido exterminadas, foram ao nocaute, como Anteu, após combater o furioso Héracles.

Com um dos braços livres, a Cabana do Mistério conseguiu puxar a segunda serpente pela cauda emplumada e, em seguida, agarrá-la com ambos os braços, tentando enforcar aquele adversário assustador.

Abrindo sua boca cheia de dentes pontiagudos, aquela monstruosidade começou a lançar chamas furiosas, que incendiaram os telhados do soldado cabana e encheram de pânico Melody e Wendy.

Higitus figitus zomba kabom”, clamou Merlin, “seres das trevas… o banho chegou!” e logo em seguida, uma nuvem se formou em cima da cabana e todos os presentes testemunharam a precipitação: chuva torrencial, trovões, raios poderosos e ventos imbatíveis cobriram a cabana, apagando as chamas.

A grande serpente foi fulminada por uma das cargas elétricas lançadas por aquela poderosa nuvem, enquanto o mago movimentava sua varinha e transformava aquela chuvarada em uma poderosa nevasca, que congelou a segunda serpente, antes que ela incendiasse alguma coisa, como havia feito a outra.

Antes que alguém pudesse comemorar aquela humilde vitória, alguém surgiu em meio a fumaça das chamas que carbonizavam a cidade, montado em um andaluzia de olhos vermelhos, como rubis, rodeado de uma infinidade de soldados estranhos, que fizeram Merlin e Min recordarem da época de Vortigern e da Britânia romana.

A figura sinistra era Gael, que ainda portava o coracor e parecia satisfeito em reencontrar seus antigos irmãos de batalha…

Três lendas que antecediam o ciclo arthuriano estavam ali, no coração de Gravity Falls, prontos para fazerem o Oregon e o restante da Terra tremer ante seus insuperáveis poderes: Min (ainda na forma de dragão), Merlin (com sua varinha e a grande cabana soldado) e  Gael, com o coracor e seu poderoso exército…


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Notas finais do capítulo

Patíbulo:
(Do latim, patibulu). Estrado ou lugar onde os condenados sofrem a pena capital; cadafalso. (mini Aurélio)

Condoer-se:
Ato ou efeito de condoer. Despertar compaixão em alguém. Compadecer-se. (mini Aurélio)

Zodíaco mágico:
Trata-se de um zodíaco encontrado por Stanford em pinturas na caverna em que ele invocou Bill Cipher. Dez pessoas especiais deveriam se reunir em circulo, dar as mãos e, desta forma, derrotar Bill. Como Stanley quebrou a formação por causa de uma briga com Ford, ninguém sabe o que teria acontecido caso todos tivessem dados as mãos e permanecido dentro do círculo.

Peste negra:
A mais devastadora pandemia registrada pela história, a peste negra assolou a Europa entre os anos 1343–1353 e matou cerca de um terço da população europeia. Naquela época, a alegoria da "dança macabra" (na qual eram retratados a morte e uma série de figuras de diferentes estratos sociais, do rei ao camponês, dançando a caminho do túmulo, como iguais) se tornou popular.

Guilherme, o Leão:
Guilherme I (1143 – 1214), também chamado de Guilherme, o Leão, foi o Rei da Escócia de 1165 até sua morte. Defendeu a Escócia da dinastia inglesa de Plantageneta e, consequentemente, manteve a integridade do país.

Carta Magna:
Ou "Magna Carta", foi um documento assinado por João da Inglaterra (1166 - 1216), o "João Sem-Terra", em 1215, que limitava o poder real.
Foi revisada várias vezes e a versão de 1297 ainda integra o direito inglês moderno.

Ílion saqueada pelos aqueus:
Referência a guerra de Tróia, onde os habitantes de Ílion (que dá nome ao poema "Ilíada") combatem o invasor aqueu (as cidades-estado gregas).

Matutar:
1. Pensar ou refletir em algo; cismas, ruminar. 2. Pensar, refletir. (mini Aurélio)

Anteu e Héracles:
Parte da lenda de Héracles, a história começa quando o filho de Zeus chegou na região da Líbia e encontrou Anteu, filho de Poseidon e Gaia.
Cruel, Anteu matava todos que chegavam aquela região e usava seus esqueletos na construção de um templo sinistro em honra ao pai.
Confrontando Anteu, Héracles se deu conta de que seu adversário recobrava as forças sempre que caia ao chão.
Descoberto aquele segredo, bastou Héracles levantar Anteu no alto e segurá-lo com firmeza, até que o vilão morresse.



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