As Crônicas de Aethel: O Livro dos Magos escrita por Aldemir94


Capítulo 12
O Círculo de Pedra




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A Lua brilhava no céu, o vento soprava forte na grande floresta, movimentando as folhas com violência, as criaturas noturnas ficavam cada vez mais inquietas, o que era aterrador, na medida em que este eventos eram interpretados como sendo o início da ascensão de alguém cujos propósitos eram firmados na ambição e no desejo de vingança.

A Cabana do Mistério estava silenciosa, como se já não restasse qualquer alma vivente.

Subitamente, uma bela luz dourada se moveu da sala de estar para as escadas, seguindo em direção ao quarto do sótão; era Tristan, que buscava Aethel para uma conversa muito séria.

O rapaz estava sentado aos pés da cama de Mabel, olhando para o rosto da garota, que se mantinha sempre sereno, como se os últimos acontecimentos não valessem preocupação maior que a de uma tenebrosa prova de aritmética.

O rosto dela estava corado, seus cabelos caiam em sua face, brilhantes, seu suéter rosa estava um pouco amarrotado e seus lábios estavam levemente abertos, de forma que se podia ver parte de seu aparelho dentário.

Aethel nunca notara aquele aparelho, fosse por distração ou porque os olhos de Mabel lhe prendessem a atenção, mas, agora que os via, a garota lhe parecia um pouco mais “normal” e graciosa em sua simplicidade pueril.

Em suas inúmeras ponderações noturnas, o discípulo de Merlin se prendeu a pensamentos tão soturnos que lhe tiraram o sono (o último dos recursos que poderiam lhe acalmar a alma angustiada).

Mabel deveria ter o direito de sempre dormir com serenidade, assim como qualquer garota de 13 anos comum; ao invés disso, ela quase havia sido morta por um elfo sombrio duas vezes, viu sua família ser ameaçada, seu irmão ser hospitalizado e, por fim, foi forçada a enfrentar uma horda de zumbis devoradores de gente.

Aethel havia se vestido com uma calça jeans escura, camiseta branca de mangas curtas, camisa também branca (com mangas limpas e um colarinho arrumado), sapatos sociais escuros e um cinto de couro com detalhes em prata, que lhe conferiam uma aparência muito mais jovial e moderna que suas amadas botas escuras, calças esverdeadas ou seu adorado gibão inglês de tom verde…

Um conjunto perfeito para um rapaz de 13 anos, mas que ele odiava.

Aquela roupa lhe havia sido presenteada por Luna, então o garoto tinha algum sentimento afetivo em relação a ela, porém, como não se acostumara com vestimentas tão modernas, sentia-se despido de sua elegância tradicional, o que era mera vaidade.

Enquanto o jovem fazia suas ponderações, Tristan (que, até aquele momento, havia esperado atrás da porta) entrou voando, tentando compensar o tilintar costumeiro da raça das fadas com  batidas de asas mais leves.

Sem olhar para seu visitante (que ainda se vestia com seu belo traje azul), Aethel perguntou:

—Tristan, o que quer de mim?

—Meu amigo, precisamos conversar. A situação ficou crítica e o grande mago ainda está pensando nos próximos movimentos de seu tabuleiro mental de xadrez, onde você é uma peça destacada de extraordinário valor.

—Tristan, você me chama de amigo, mas o que sei acerca de ti? Porque não estava na Cabana, protegendo Mabel dos mortos-vivos?

—Segui com o grande mago até o bosque, onde ele buscou encontrar Gael desprevenido, porém, o plano falhou e acabei por me perder do senhor Merlin. Nestes momentos tenebrosos, enquanto vagava sem rumo pelas florestas escuras desta terra amaldiçoada por Deus, encontrei rastros do diário do mestre Dipper, seu amigo. Também achei alguns fios de tecido escuro, onde o senhor das sombras deveria ter passado em tempos recentes.

—Tristan, seu relato, embora plausível, ainda soa muito suspeito. Não teria a covardia feito morada no seu pequeno coração? A garota que dorme diante dos seus olhos quase perdeu a vida… e onde você estava? Em uma busca com Merlin, embora meu mentor não precisasse de sua presença. Além disso, Luna também não deveria estar com meu mestre? Acaso ela não seria capaz de cumprir com o que fosse preciso, sem sua ajuda?

—Acalme-se Aethel, não queremos acordar a garota. – disse Tristan, voando próximo ao rosto de Mabel, que mexia seu narizinho como se incomodada pelo pozinho mágico. – acaso mostrei indícios de ser um mal amigo? Porque está fazendo juízo perverso de mim?

—Me desculpe, pequeno Tristan, mas sinto que perdemos a guerra por descuido meu. Não tentei destruir ou esconder o fragmento de Merlin, nem sugeri que Ford criasse alguma redoma ou sistema de armadilhas que impedisse o acesso ao fragmento de madame Min. Agora Gael tem todos os fragmentos: o coracor está completo e a culpa é minha. Eu condenei todos nós.

—Você atribui culpa demais a si próprio. Pense melhor, por acaso Merlin não se manteve excessivamente tranquilo? Sabe, não desejava quebrantar seu espírito com o relato a seguir, mas é preciso que você compreenda o quanto tem sido manipulado pelas estultícias de um mago que, simplesmente, ninguém consegue ler!

—Me enganei quando o chamei de covarde… pois são poucos aqueles que têm a coragem de insultar Merlin, na minha presença. Fale logo seu relato insultuoso e diga de uma vez o que que espera de mim, Tristan.

—Aethel… Merlin deseja entregar você nas mãos do senhor das sombras: de Gael.

O rapaz ficou em silêncio, como se duvidasse que a situação houvesse se tornado tão desesperadora, em seguida, começou seu processo de análise:

—Problema: Gael obteve todos os fragmentos do coracor e agora terá o poder supremo. Questão a considerar: Gael ainda não veio até aqui, para nos destruir. Análise: Houve algo de errado com a junção dos fragmentos? Algum dos fragmentos é falso? Negativo. Gael ajudou a criá-los e são mágicos, por tanto, o mago não seria ludibriado por uma cópia. As peças são autênticas e estão juntas… as peças estão juntas… estão juntas…

—Certo, mas o quê mais? Diga o quê falta! – disse Tristan, impaciente.

—Elas estão juntas… Elas não estão unidas… “unidade”... como as peças de um arco, sustentadas pela pedra angular… É isso! Conclusão: Gael tem as pedras do grande arco, mas ainda lhe falta a preciosa pedra angular… Merlin está tranquilo, porque sabe disto… desde o início ele tinha essa informação!

—Mas você disse que Gael ajudou a criar o artefato, não é? Então Gael deveria saber sobre isso.

—Ele pode ter ajudado a criar o coracor, mas o artífice foi Merlin; projeto, aparência, simbologia, até a forma pela qual foi dividido em três partes iguais.

—Então, se este é o caso, podemos perseguir o mago sombrio e destruí-lo – disse Tristan, convictamente.

Aethel fez que não com as mãos, pois Gael ainda era poderoso demais para ser detido por um humano comum e alguém do povo das fadas, mas Tristan insistiu:

—Teremos o elemento surpresa, além disso, Gael deve estar furioso por não conseguir ativar o coracor! Certamente a raiva vai desestabilizá-lo. Ou prefere que ele seja consumido pela fúria e ataque a cabana pessoalmente? Se isso acontecer, Mabel não vai escapar… Eles serão todos erradicados.

No começo, o rapaz pensou em como Merlin poderia parar o avanço de seu antigo camarada, porém, entendeu que Gael jamais atacaria a cabana sem ter meios para lidar com Merlin, logo, talvez o mago sombrio afastasse seu rival ou o enganasse de alguma forma.

Não. Aethel não podia arriscar a vida de Mabel mais uma vez.

Caminhando lentamente em direção à escrivaninha, ainda abarrotada daqueles livros que para ele eram tão caros, Aethel pegou arco e sua aljava recém carregada com mais flechas e voltou à cama de Mabel, colocando aquele conjunto de defesa aos pés do leito.

Em seguida, o garoto pegou sua adaga e caminhou em direção a cama de Dipper (um colchão acomodado no chão, junto a um travesseiro de penas, o que era uma raridade naqueles tempos) e segurou a mão direita do garoto:

—Proteja sua irmã, Dipper. E que Deus vele por vocês dois. – disse, enquanto colocava a lâmina nas mão direita do gêmeo.

A adaga tinha uma bainha ricamente decorada com flores-de-lis douradas e um leão vermelho em pé, pronto para a batalha: era um leão arthuriano, símbolo de sua corte dourada.

Olhando brevemente para os “gêmeos do mistério”, Aethel seguiu para fora da cabana , sendo guiado por Tristan.

O discípulo de Merlin entendia que era a vontade de seu mentor que ele fosse entregue nas mãos de Gael. Embora não entendesse a razão daquilo, não importava, pois conhecia o caráter do mago para saber que ele era de confiança.

Merlin havia cuidado dele, alimentado, educado, entretido com histórias nos dias de inverno, aprendido o gosto pelo estudo e muitas outras coisas incríveis! Como poderia duvidar de seu mentor?!

A terra ainda estava um pouco úmida, a ventania começava a se acalmar e os animais já não pareciam tão inquietos, o que fez o jovem entender que o mago sombrio o aguardava: Gael sabia que seu incômodo inimigo se aproximava, como um sacrifício voluntário.

Aethel era corajoso e cheio de virtude, correr de algo por medo era algo que ele jamais poderia cogitar, nem em meio aos mais aterradores monstros e criaturas do além…

Mas, naqueles minutos que antecederam o encontro mortal, o rapaz sentiu um frio correr por sua espinha, como se o anjo da morte estivesse à espreita.

Nestes momentos angustiantes, começou a sussurrar:

—Senhor… não peço por mim, mas pelos Pines. Proteja meus amigos, zele por minha querida Mabel. Encha meu espírito com coragem, para que eu enfrente aquele que zomba e escarnece de mim.

Tristan preferiu não interromper a oração de Aethel, pois sabia que, muito em breve, tudo estaria consumado e aquele grande terror que ambos estavam sofrendo por advento do conflito de magos acabaria.

Conforme seguiam pela floresta profunda, o cheiro da relva molhada se acentuava, bem como o limo verde e fresco nas rochas, as ramagens das árvores, fechando as pequenas trilhas verdejantes, os vaga-lumes iluminando entradas misteriosas que adentravam paredes  rochosas e seguiam para canteiros de tulipas e outras flores coloridas.

Mabel Pines teria se sentido no céu, caso tivesse a oportunidade de ver aquelas maravilhas naturais, mas o clima entre Tristan e Aethel não era de atenção para com aquelas dádivas, mas tensão e expectativa.

Subitamente, uma névoa começou a se formar, assim que os dois entraram em uma pequena clareira de onde não se podia ouvir o menor ruído, chegando ao ponto em que Aethel não via nada mais que a pequena luz emitida por Tristan.

Apesar do sentimento de medo, o jovem não voltaria atrás de seu desejo de proteger a todos, então continuou em frente, até chegarem em uma passagem de árvores com várias pedras grandes e pesadas, cobertas de limo e pequenas flores.

Continuando o caminho, ainda atormentado pelo nevoeiro, Tristan desapareceu e Aethel terminou por chegar em uma nova clareira, maior que a anterior: era rodeada por um imponente círculo formado por doze menires de pedra maciça, cada um deles tendo por volta de 3 metros, no mínimo.

 Aethel andou até o centro e admirou aquela maravilha antiga quando, de repente, uma figura apareceu, dissipando parte da névoa: um homem de manto escuro e capuz, barba e bigode cinzentos e longos que se ligavam, face enrugada e solene, tal qual um rei, mangas longas que saiam do manto e olhos cinzentos tão profundos e tristes, que fizeram o rapaz recuar dois passos.

Então era aquele o grande mago sombrio de que tanto ouvira falar? Sua figura emanava certo grau de solenidade, mas havia algo de errado, como se faltasse algum elemento para torná-lo completo em sua posição de antagonista final daquela grande epopéia.

Havia mais tristeza que maldade naquele homem idoso, o que não deve ter passado despercebido a ele, que começou a falar com sua voz grossa:

—Me alegra muito em finalmente conhecê-lo, discípulo de Merlin.

—Perdão, grande mago, mas venho em cumprimento do dever.

—Não fale como se fosse um soldado, criança, você é apenas um garoto confuso.

—Gael… Devido aos avanços de seu servo, Björn, e de suas tramas perigosas para ameaçar o senhor  Merlin e ferir a família Pines e seus amigos, optei por lidar com a questão da forma mais apropriada.

—Oh… é mesmo, criança? E qual seria a forma apropriada?

—Gael, a forma apropriada é aquela que ponha fim ao problema sem deixar vestígios… Eu optei pela sua execução! – disse Aethel, avançando para o mago rapidamente, como uma lança pronta para acertar o alvo.

Estendendo a mão, o rapaz tentou acertar o pescoço do mago para deixá-lo sem ar, derrubá-lo no chão e matá-lo…

Aethel não poderia ter sido mais imprudente.

Mostrando com tranquilidade a palma de sua mão esquerda, Gael lançou o garoto impetuoso para longe com tanta força, que o jovem atingiu um dos menires.

O impacto foi tão forte, que alguns de seus ferimentos pareceram abrir, provocando-lhe uma dor lacerante.

Gael não mudava seu semblante tranquilo em nenhum momento, nem quando recomeçou a falar:

—Não pedi que meu servo lhe guiasse até aqui para esta cena dantesca. – disse, enquanto pegava o coracor, totalmente montado – Veja, meu filho, o gerador de todos os seus sofrimentos, completo: A Coruja azul, símbolo da sabedoria, que pertencera a Merlin. A Raposa rosa, símbolo da astúcia e ardil, que pertencera a madame Min. O Corvo negro, símbolo do sombrio, morte e mau-agouro, que pertencia a mim, Gael.

Neste momento, o mago começou a recitar o que parecia ser um tosco poema:

 

—A coruja emplumada, 

O azul da sabedoria, 

Guia dos sonhos da infância,

Cujo voo nos fascina;

 

A raposa rosada,

Tão esperta e ardilosa,

Tão sozinha nos bosques,

Senhora das maquinações;

 

O Corvo sombrio,

Leal príncipe do oculto,

Em suas garras traz ruína,

Ou nas asas trás encanto?

 

Após declamar o poema, o mago olhou para Aethel e disse:

—Sem você eu não teria conseguido pegar a coruja, tampouco Björn, então me alegro em saber que não ficou preso nas pinturas daquela caverna. Embora eu me sinta impelido a perguntar: como escapou?

—Não sei – disse Aethel, tentando se levantar – talvez eu tenha mais amigos do que imaginava.

—Compreendo, mas acha que isso justifica se arriscar tanto? Vindo aqui sozinho, avançando para uma horda de zumbis sem proteção ou caindo de grandes alturas, como daquele totem?

—Você… estava lá, o tempo todo. Mas não pôde atacar porque Merlin apareceu e me salvou, não é?

—Minha criança… Merlin não te salvou daquela queda, fui eu.

Em choque, o rapaz caminhou, dolorosamente, em direção ao mago, sem entender o que estava acontecendo ali, afinal, qual seria o ganho de Gael salvar aquele que era um de seus maiores inconvenientes?! Com isto na ponta da língua, o rapaz questionou o mago:

—Porque salvar o motivo das suas dores? Se tivesse me matado poderia ter destruído os Pines e então só restaria Merlin!

—Filho, ainda não entendeu?

—É claro… você é meu pai! – disse Aethel, em tom zombeteiro.

—Não, eu não sou seu pai. “Filho” é uma forma de tratamento básica, muito usada no passado. – disse o mago, com ares de quem esperava uma melhor resposta por parte de seu adversário.

Aethel desabou no chão, entendendo quase todos os detalhes daquela trama nefasta e descrevendo cada ato dela para aquele mago terrível:

—Você me via como uma ameaça, mas depois que eu e meus amigos recuperamos a parte de Min (pois Stan e  Ford haviam sido guiados por Merlin até o esconderijo da bruxa) e, posteriormente, derrotei Björn, o senhor fez ponderações acerca do quanto eu podia ser útil, já que estava atrás dos fragmentos a séculos.

—Você começou bem. – disse o feiticeiro, enquanto Aethel prosseguia:

—Tendo Tristan como espião, você criou uma cena na qual esse pequeno traidor me ajudava  a derrotar o elfo e salvar Luna para, a seguir, ser inserido no convívio dos Pines. Porém, com a chegada inesperada de madame Min, o senhor deve ter concluído que precisava se livrar da bruxa pessoalmente, o que poderia ser incômodo comigo interferindo constantemente em seus planos, foi então que decidiu me aprisionar na caverna, dentro dos pictogramas, porém, algo deu errado e o “grande Gael” precisou redefinir seus planos, especialmente depois que derrotei aquele elfo mais uma vez e peguei o fragmento de Merlin.

—Exato. Acertou de novo. Agora devo reativar a relíquia e devolver meu pequeno espião a família Pines e meu querido amigo, Merlin. Tristan! Pegue o diário 3 e leve para a cabana. Diga que Aethel morreu tragicamente nas minhas mãos e você teve sorte de escapar. – encerrou o perverso mago, enquanto abria a mão esquerda e fazia o diário se materializar nela.

Tristan apareceu em meio a névoa e pegou o diário, porém, não conseguiu evitar o olhar  de censura de Aethel, o que lhe gerou um estranho peso na consciência.

Enquanto o espião de afastava, retornado para a cabana, o rapaz disse ao mago:

—Você nunca precisou do diário, não é? Tristan deve tê-lo usado para invocar os zumbis e, com aquela confusão, roubar o fragmento que faltava. Agora o diário 3 é apenas uma desculpa para que os outros acreditem na história daquele traidor!

Sorrindo com serenidade, Gael pegou um punhal de sua cintura e removeu a bainha de couro: era um objeto feito de ouro com empunhadura de acácia e prata refinada, lâmina curva e inscrições rúnicas.

O rapaz entendeu seu destacado lugar naquela cena trágica, então não se assustou quando o mago executou o ato final…

 Gael segurou com firmeza o braço de Aethel e fez um corte na mão dele usando a adaga dourada; o sangue manchou a arma e a camisa branca do jovem, enquanto esse sofria com mais esta dor.

Segurando o coracor com a mão direita, o mago molhou a relíquia com o sangue de seu inimigo, fazendo-a brilhar e, para coroar seu momento de triunfo, uma multidão de seres misteriosos apareceu e começou a declamar, “saúdem o senhor Gael, príncipe das sombras.”

As criaturas variavam entre centauros de crina escura, fadas translúcidas rodeadas por uma luz dourada (que ressaltava o que pareciam ser linhas de ouro em seus corpos diminutos), anões com macacões e outras roupas rústicas (mas adequadas para quem trabalha em minas de carvão e ouro), mulheres que variavam entre muito belas a excessivamente horrorosas (feiticeiras leais a rainha Griselda e devidamente trajadas em seus vestidos de veludo vermelho e mantos escuros da noite), etc.

Aquela era a multidão dos príncipes da escuridão, vindas dos confins mais diabólicos para reverenciar seu novo mestre e, caso tivessem a autorização almejada, ceifar a vida do discípulo de Merlin.

Olhando para aquela “presa” (tão ferida e encurralada) o mago perguntou:

—A Era de Merlin está prestes a chegar ao fim. Você estará do meu lado, ou do dele?

—Gael, meu caráter não está à venda. – disse Aethel.

—Isso foi lastimável. – disse Gael.

—Talvez, mas não vou virar as costas para meus entes queridos!

—Muito bem… sua insubordinação é punível com a morte. Mas como você me trouxe o sangue necessário, não haverá sofrimento desnecessário. Esta é a minha misericórdia. Através de mim, Ghalary ganha um novo rei que trará paz e júbilo a todos, começando por estes bons servos que estão diante de você! Porém, não verá as maravilhas que tenho planejado para esta ridícula cidadezinha no meio do nada, ou a este planetinha patético!

Raios e relâmpagos começaram a sair do coracor, o céu mergulhou no breu, a terra estremeceu e o vento soprou tão forte que parecia prestes a varrer o próprio estado do Oregon da face da Terra.

Era possível sentir o poder sendo absorvido pelo feiticeiro, que começava a rejuvenescer: sua pele tornava-se jovial, sua barba e cabelos encurtavam aos poucos, adquirindo a cor negra original.

Com a juventude restaurada, Gael se abaixou, tocou o chão e dele saiu uma multidão de soldados armados, cujos trajes remetiam ao período violento da velha Britânia, quando Vortigern reinava com mãos de ferro, décadas após os romanos abandonarem a região.

Alguns tinham proteções feitas com camadas grossas de tecidos, escudos de madeira e ferro, botas que lembravam o modelo romano, capacetes de ferro pouco decorados, espadas longas e envelhecidas, enquanto outros diferiam por suas proteções de metal romanas, capacetes produzidos na Britânia romana e os gládios.

O exército de mortos tinha peles pálidas, roupas desgastadas, cabelos cinzentos ou brancos, olhos brancos e sem expressão e lábios azulados, como se sofressem pelo clima frio daquela época do ano.

Ao redor daquelas tropas tão intimidadoras, emanava uma aura esverdeada, mas nada sugeria que eram como os zumbis que atacaram a Cabana do Mistério, mas soldados de alguma classe diferente.

Estendendo a mão esquerda em direção a Aethel, Gael comentou acerca de seu exército:

—Estes seres do bosque servem a mim porque detenho poder supremo, mas os soldados que acabo de trazer dos mortos me serão leais para sempre. Com estes soldados incansáveis e imortais, minha vontade será imposta ao mundo.

Em seguida, o mago lançou uma poderosa rajada de energia que atingiu Aethel e explodiu com tanta força que lhe gerou grande agonia…

E o fez desaparecer por completo.

Não restava mais nada do discípulo de Merlin, apenas uma pequena cratera no lugar da explosão.

As criaturas sinistras exultaram, como se tivessem testemunhado uma vitória de grande importância simbólica, mas se calaram quando o mago fez suas ordenanças:

—Sigam meus soldados, criaturas das sombras, pois hoje destruiremos Merlin e seus amigos. Nesta noite, marcharemos pela cidade e a destruiremos! A seguir, espalharemos minha vontade por este velho continente, onde irei impor o governo central de aço! E o reino de Ghalary, onde o senado se atrapalha com as crises e o interregno eterno, será tomado por mim! Seu novo imperador! Matarei os senadores e destruirei a oposição! Exultem, criaturas, pois quando o Sol raiar, vocês nunca mais terão que se esconder!

Quando aquela marcha terrível começou, os moradores da floresta de Gravity Falls fugiram em debandada: fadas, gnomos, unicórnios e muitos outros moradores esquisitos corriam, tentando chegar no único lugar em que pensavam estar a salvo daquele poderoso exército, a Cabana do Mistério, pois a cidade seria pega de assalto e nada poderia ser feito para salvá-la.

Gael havia alcançado o poder final e Aethel não existia mais…


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Notas finais do capítulo

Menir:
Menir (algumas vezes "menhir" ou "perafita") é um monumento pré-histórico de pedra, do período neolítico, cravado verticalmente no solo, às vezes de tamanho bem elevado (alguns chegam a incríveis 11 metros - o que é muito superior ao tamanho de 3 a 4 metros descrito neste capítulo).



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