Uma Era De Ordem E Honra escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 28
27. Os problemas são tão grandes, tão extensos, que até mesmo morte experimentamos com eles.




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12|12|1776 Amelian House, Cheshire

Em agosto aconteceu na cidade de Nova York uma batalha, uma que ficaria eternamente conhecida com a Batalha de Long Island. Foi uma vitória britânica, um que afirmou duas coisas para os rebeldes americanos: Nova York pertencia aos ingleses; e que essa seria uma guerra difícil de vencer, para os dois lados.

Chegando em Londres, essas notícias causaram um grande rebuliço. Nem todos eram a favor de uma guerra. Mas para os apoiadores, Long Island foi uma vitória, os britânicos afirmaram seu controle sob os portos, a área agrícola e a população da cidade de Nova York, embora Nova Jersey continuasse com os rebeldes.

Porém, foi a Batalha de Saratoga que causou um rebuliço ainda maior, foi uma derrota britânica, uma humilhante rendição britânica. Se antes a maioria desejava apenas o fim da guerra, com a derrota em Saratoga, com a moral ferida, o apoio a guerra ganhou força.

Mas não seria certo dizer que apenas os generais nas colônias, os ministros em Downing Street e os parlamentares em Westminster eram os únicos a trabalharem em prol da vitória britânica. O rei, sua família e o conselho privado também tinham suas funções na guerra. E isso se incluía os Bristol. E mesmo em Amelian House, uma propriedade que era sinônimo de calma e sossego, os assuntos de Londres não paravam de chegar.

— Sempre vamos ficar juntos.— Alfred segurava as duas mãos de Elizabeth, enquanto ela olhava bem fundo em seus olhos.— Iremos sempre apoiar um ao outro.

— Até o fim.— Elizabeth assentiu, ao mesmo tempo que o marquês levou suas mãos até sua boca e deu um leve beijo nelas.— Juntos até o fim.

Elizabeth fechou por um momento os olhos ao sentir Alfred beijar novamente sua mão. Quando ela os abriu, ele olhava fixamente para seu rosto, e a marquesa agora fixamente para o dele. Os olhos de Alfred, sempre foram de um azul tão claro, gélido, mas ao mesmo tempo com tanto brilho, agora as marcas de cansaço estavam começando a aparecer. Elizabeth levou delicadamente sua mão até o rosto de Alfred, fazendo ele fechar os olhos por um momento.

— O que faremos agora?— Ainda com os olhos fechados Alfred perguntou baixo.— O que farei agora? Eu me sinto tão esgotado, mas não posso fazer nada com isso, apenas continuar.

— Isso nos leva ao que acabamos de prometer.— O marquês abriu os olhos e os tentou desviar, mas Elizabeth o trouxe novamente para ela.— Sempre juntos, vamos nos esgotar juntos. Os homens no campo de batalha e na política, e nós, mulheres, exibindo nossas roupas, mostrando nosso apoio nos salões.

Elizabeth falou e deu um sorriso para seu marido, não era um dos seus sorrisos normais, para ela se tornou nos últimos tempos quase que automático sorrir, talvez um dia Elizabeth fosse chamada ridiculamente até de "a marquesa sorriso". Esse era um sorriso de verdade, um que fez seu Alfred também sorrir.

— Se você sorrir assim para mim a cada hora do dia, meu cansaço talvez passe rapidamente.— Alfred falou com um sorriso, mas que logo sumiu quando ele enclinou a cabeça.— Mas aí seria você a se cansar. Você não pode parar de sorrir para a sociedade, Elizabeth. Todos precisam ver seu sorriso, tudo que nos pertence é uma arma a nosso favor. Até os sorrisos.

— Não vamos nos desesperar tanto, Alfred.— Com essa pequena repreensão o marquês se calou, e novamente Elizabeth deu um sorriso.— Vou sempre exibir um sorriso no rosto, para todos.

A ação de Alfred foi assentir. Ele novamente fechou os olhos, mas dessa vez ao invés de apenas isso, Alfred apoiou sua testa na de Elizabeth, e assim eles ficaram por um bom tempo.

Era tão estressante essa situação de guerra. Ela poderia estar acontecendo a milhares de milhas de distância da Inglaterra, mas pelos Bristol serem próximos do rei, e principalmente por causa disso, eles também eram afetados. Quando a guerra foi oficialmente declarada depois da chegada da Declaração de Independência, a temporada social já estava no seu fim, mas isso não impediu as aparições públicas e muito menos as demonstrações de apoio.

Agora Alfred e Elizabeth esperavam os membros do Conselho de Bristol chegarem, já que eles haviam sido convocados para uma reunião emergencial em Amelian House, coisa essa que nunca aconteceu, não havia precedentes.

Mas esse momento de calma não foi eterno, logo eles foram trazidos novamente para o agora. Alfred e Elizabeth separaram suas testas quando um som de correria foi ouvido no corredor, seguindo por algumas risadas, e por fim um grito.

— Charlotte! Devolva meu chapéu!— Pela voz poderia se supor que era Katherine.— Eu não gosto que mexam nas minhas coisas, você e Elizabeth sabem disso!

— Você está discutindo por causa de um chapéu, Katherine?— E a nova voz deveria ser da jovem Elizabeth.— Acho isso um tanto quanto... fútil, não?

— Então vou entrar no quarto de vocês duas e pegar suas joias "emprestadas".— Ao ouvirem as filhas, Alfred e Elizabeth balançaram a cabeça negativamente, embora com um leve sorriso.— Acho que o colar de Friedrich August vai ficar lindo no meu pescoço, e a pulseira de Maximilian Francis irá brilhar no meu pulso.

— Sinta-se a vontade!— Foi ouvida a voz irônica da princesa Charlotte.

— Não ouse, Katherine!— O nome Katherine saiu como um grito na boca de Elizabeth. Logo em seguida mais passadas fortes e rápidas foram ouvidas. Assim como um último:— Eu vou trocar o seu rouge por carvão, Katherine!

No escritório Alfred suspirou com um leve riso, enquanto Elizabeth soltou sua mão e fechou a porta que estava apenas encostada.

— 17, 15 e 14, nossas filhas têm respectivamente essa idade, Elizabeth. Isso... me faz até pensar em algo.

— O que exatamente, Alfred?— Elizabeth perguntou depois de fechar a porta.— Que nossas filhas apesar de já serem quase moças, não se esqueça que Elizabeth faz dezesseis em fevereiro, ainda tem episódios de imaturidade?

O marquês lentamente balançou negativamente a cabeça. Elizabeth suspirou e voltou para o lado do marido.

— Acho que está na hora de usarmos nossas filhas para nosso benefício.— Elizabeth enrugou a testa ao ouvir isso, parecia um pouco...— Todos nós somos peças em um jogo, lembre-se? Creio então que está na hora de usarmos nossas mais valiosas peças nesse jogo. Principalmente, Katherine.

— Você fala de...— Elizabeth não conseguiu acabar sua frase, a sua apreensão não deixou.— Tem certeza, Alfred?

— Uma hora ou outra isso iria acontecer. Katherine já tem idade o suficiente, Elizabeth também, apenas Charlotte não, mas isso ainda pode ser contornado.— Alfred respondeu com seriedade.

Elizabeth tinha tanto receio de fazer isso com suas filhas, a sociedade poderia ser tão malvada. Mas ela também sabia que essa era a função de suas filhas, a função de todos eles: servir a nação.

— Muito bem, depois da reunião irei falar com Katherine.— Por fim Elizabeth respondeu resignada, que assim fosse.

Não demorou muito e o conde de Kent; o conde de Berland; Alphonse Parker, o 3° conde de Rochford; George Lancaster, o 3° visconde Cambridge; Henry Howard, o 2° visconde Ormond; Edmund Platage, o 2° visconde Richmond; Guilford Gray, o 1° visconde Gray; George Danver, o 4° barão Hartford; o barão Barnander; Anthony Neville, o 3° barão Laytmer e o barão Windsor, os membros do Conselho de Bristol, chegaram em Amelian House.

A reunião iria iniciar, e não seria agradável.

*****

— Você já tem dezessete anos, Katherine. É a herdeira de toda a fortuna sanguínea, histórica e secular dos Tudor-Habsburg. Você minha rosa, é o futuro.— Atrás da porta da sala onde Elizabeth conversava com Katherine, Alfred revirou os olhos.— O adequado era que você fosse apresentada a corte nessa temporada que passou, mas sabiamente decidimos adiar mais um ano. Porém aqueles eram tempos de paz, e agora estamos em uma guerra, então chegou a sua vez de ajuda.

O marquês suspirou e levou sua mão até a testa, sua cabeça estava começando a doer, a reunião com os lords do conselho foi terrivelmente cansativa. Alfred lentamente sentou em um banco que havia ao lado da porta. Ele ainda poderia ouvir.

— Entendo a situação, mamãe. Mas o que a senhora deseja dizer com essas palavras?— Foi ouvido Katherine fazer essa pergunta a mãe.

Quer dizer, isso foi um erro. Uma guerra, a essa altura do campeonato? Certamente foi um erro do rei.

Por algum motivo desconhecido por Alfred, as palavras do jovem barão Laytmer vieram novamente a sua cabeça.

— Você irá ser apresentada a corte, Katherine. A partir de agora você estará comigo e com seu pai em todos os eventos em que nós formos.— Elizabeth respondeu com um tom sério.— Está na hora de tornar-se um símbolo.

— Um símbolo! Mas mamãe, o que eu poderia fazer?— Katherine elevou sua voz, ao mesmo tempo que Alfred sentiu uma pontada na sua cabeça.— Sou apenas...

— O que fazer, meu marquês? Essa é a pergunta. Porque o senhor e sua família, peço perdão por dizer isso, são insignificantes. Como ajudarão? Usarão o que?— As perguntas irônicas de Lord Berland também vieram, e ao marquês faziam apenas mal.

— A beleza. Use a sua beleza, Katherine.—Alfred bateu levemente sua cabeça contra a parede, tentando acalmar a sua dor, ao mesmo tempo que ele ouviu passos, quase certamente de Elizabeth.— Você é tão bonita, minha filha. Uma rosa perfeita você se tornou. Não há na Inglaterra uma beleza que supere a sua, minha rosa. Então use essa beleza para o seu benefício, para o nosso benefício.

— Mas...— Katherine parou antes mesmo de iniciar.

Novamente Alfred sentiu uma pontada na sua cabeça, o fazendo novamente bater a sua cabeça na parede, a sua asma já não bastava? Agora também isso?

Isso não é o suficiente, meu marquês! De nada isso ajudará os generais, os coronéis, os capitães! Ser visível de nada ajuda em uma guerra!— Agora era a voz gritante de Lord Kent que vinha na cabeça de Alfred.— São necessárias ações de verdade!

O último grito parecia tão vivido para Alfred, não como uma simples lembrança, mas como acontecendo agora mesmo. Ele abriu a boca e sussurrou apenas para si mesmo:

Mas ser visível é uma ação de verdade! A moral... ela precisa ser levantada.— O marquês repetiu as mesmas palavras que disse para o conde de Kent.— Ah minha cabeça! Por que dói tanto?

— Será que estou preparada, mamãe?— A dor se acalmou por um momento, ajudando Alfred a prestar mais atenção nas palavras de Katherine.— Eu posso ter a beleza... e todos dizem que meus olhos azuis celestes são como os olhos dos anjos. Mas... será que tenho coragem? O que com toda certeza é o mais importante.

Houve um momento de silêncio na sala, esse que combinado com o silêncio do corredor inteiro, foi um refrigerio para a dor de Alfred. Mas logo acabou.

— Todas temos essa mesma dúvida quando chega nossa vez, mas todas nós, ou pelo menos a maioria, rapidamente descobre que tem sim essa coragem... Mas que rostinho triste é esse?— Toda a seriedade de Elizabeth caiu por terra. Mais passos foram ouvidos.— Estou sendo muito dura, minha rosa? Eu não... meu objetivo não era...

— Não! Mamãe, a senhora não está sendo dura... apenas sorria por favor. Não gosto de ver as pessoas tristes.— A última parte da frase de Katherine saiu mais baixa. Alfred fechou os olhos e os apertou com força, estava voltando.— Eu apenas... Sei que não estarei sozinha, terei vocês, mas... serei apenas eu?

Gemendo fortemente de dor, Alfred levou suas mãos até a cabeça, ao mesmo tempo que começo a tossir. A sua garganta... sua respiração...

Sim, sozinho! Ou melhor, sozinhos!— Nem mesmo em seu sofrimento ele teria paz? Até mesmo a voz aparentemente calma do visconde Richmond veio a Alfred.— A ideia de uma guerra não é popular, a Grã-Bretanha agora está apenas com um grande desejo de vingança, mas e quando esse desejo acabar?

Novamente Alfred gemeu de dor, por que estava tão forte? Por que era tão ruim? A sua garganta estava se fechando! Apesar de sua dor o marquês se levantou do seu lugar, andar iria ajudar? Em seu desespero Alfred até mesmo esqueceu o que o ajudava a respirar bem. Sua única ação foi levar as mãos até o pescoço.

— Suas irmãs também serão apresentadas a corte no próximo ano, junto de você.— A voz de Elizabeth, agora estava ficando muito mais distante do que já estava.— Katherine, minha rosa, você não estará sozinha, nunca.

A princesa respondeu alguma coisa, Alfred ouviu, apenas não conseguiu distinguir as palavras. Tudo estava ficando tão embaçado, o aperto de Alfred ficou mais forte, até que pela sua tontura ele teve que tentar se apoiar em algo.

Foi nesse mesmo momento que Katherine saiu pela porta, quando ela viu o pai, sua ação foi simplesmente:

— Papai!?— Os lábios de Katherine apenas se mexeram para ele, ao passo que tudo começou a escurecer.— Papai!?

E tudo ficou escuro na cabeça de Alfred, ele deixou de sentir seu corpo, simplesmente... o tempo parou.

— Alfred!? Alfred!— Essas foram as últimas palavras que Alfred ouviu antes de perder a consciência.

Por que a vida tinha que ser tão difícil? Por que eles foram obrigados a passar por todas essas coisas? Foi um teste? Uma missão? Talvez... apenas talvez, fosse impossível responder essas perguntas. Já faziam 17 anos, que Alfred era o marquês de Bristol, e a 18 ele era príncipe de Niedersieg. Durante todos esses anos o que ele fez?

Alfred viu a Guerra dos Sete Anos acabar, ele viu as negociações de paz em Paris, o funeral de um rei, a coroação de outro, isso se estendendo a França também. Como príncipe de Niedersieg, Alfred viu uma leve perda de autonomia do principado, assim como ajudou a consertar o pequeno estado depois da guerra. E como marquês? Alfred encontrou caos e desordem, e agora eles tinham paz e ordem. Em dezessete anos os Tudor-Habsburg passaram do mais terrível estado de desordem, a mais plena paz organizacional.

Eles ainda não eram populares entre a burguesia britânica, e alguns fazendeiros e comerciantes odiavam Elizabeth. Mas... eles já não eram amplamente odiados. As pessoas comuns gostavam de Elizabeth, a sua gentileza, a sua falta de arrogância e orgulho excessivo... talvez ela, que não nasceu Tudor-Habsburg, fosse a mais amada dos Tudor-Habsburg.

— Alfred! Alfred!— Como se fosse um sono estranho, o marquês começo a ouvir uma voz, ela começou a ficar mais forte, até que ele conseguiu a distinguir.— Alfred!?

Os olhos de Alfred se abriram de imediato, como se ele tivesse acordado de um pesadelo, o pesadelo de sentir a sua própria morte. Respirando ainda muito forte, o marquês tentou sentar na cama, ele estava na sua cama, em seu quarto. Mas essa ação foi impedida por Elizabeth, que o fez deitar novamente.

— O que... o que aconteceu exatamente?— Ainda respirando com certa dificuldade ele perguntou.— Eu desmaiei?

— Segundo o Dr. Laike você teve a experiência de como é morrer.— Alfred se encolheu ao ouvir isso, a sua espinha gelou nesse momento, morrer?— Mas você está bem agora, Alfred. Depois de claro ter quase matada a mim e Katherine.

— Foi uma dor de cabeça, acho que foi tão forte que "ativou" a minha asma.— Com um suspiro triste o marquês deitou sua cabeça no travesseiro.— Não vamos falar disso, por favor.

— Como queira.— Alfred sentiu uma certa irritação nessa concordância de Elizabeth.

Era melhor mudar o assunto, havia uma pendência certamente.

— Eu ouvi a sua conversa com Katherine, ou melhor, ouvi as partes mais importantes.

— Não vamos nos preocupar com isso agora, Alfred.— Elizabeth respondeu sentando agora ao lado de Alfred na sua cama. A presença dela já era o suficiente para ele sentir-se melhor.— O Dr. Laike receitou descanso.

— E teremos descanso, eu vou descansar. Claro que só até fevereiro.— Em fevereiro ou até mesmo antes, eles teriam que voltar para Londres.— Mas de nada será prejudicial planejarmos desde já os eventos sociais em que iremos, e principalmente em que iremos mostrar nossa mais bela rosa.

Elizabeth balançou a cabeça negativamente, embora com um leve sorriso no rosto, Alfred não iria descansar completamente, e ela nada poderia faze para o impedir. Então Elizabeth cedeu,  e eles se puseram a planejar.

... Cottington House, Witte House, Bravandale House, Courteney House, Torrington Hall, Monmouth House, Laytmer Hall...


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Notas finais do capítulo

Aqui eu irei dizer algo "interessante", quando eu falei dos membros do conselho, houveram alguns que eu apenas disso o título, outros que também coloquei o nome. Esses segundos, eu coloquei o nome para mostrar que eram novos membros, entre o início da história e agora, alguns morreram, assim como a vida.
Você deve se perguntar, "mas então por que colocar o nome deles se você não os dá destaque?" A resposta é simples, e ela se estende a todos os outros nobres que eu apenas citei: Eu criei mais de 110 títulos de nobreza, apenas na Inglaterra, então eu vou colocar esses títulos nas minhas histórias, e em todas as outras que eu fizer.
110 títulos, apenas na Inglaterra, sem contar com os da Alemanha, Niedersieg, Áustria, Itália, Rússia, Brasil, e os outros títulos britânicos. Eu não fiz tudo isso em vão.