Uma Era De Ordem E Honra escrita por Landgraf Hulse


Capítulo 27
26. A paz é como o vapor, existe agora... e logo não existe mais.




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Era meados de agosto do ano de 1776, e tirando a pequena rebelião nas Treze Colônias, a Grã-Bretanha estava em um bom clima de paz. Eles não estavam envolvidos em uma grande guerra, o primeiro-ministro era o mesmo desde 1770 e a Europa não estava envolvida em uma grande guerra.

Era um perfeito clima de paz, um que combinava muito bem com o ensolarado e fresco clima de verão que estava fazendo. Era um dia e em um momento tão bom, que Alfred e Elizabeth não puderam resistir, eles iriam aproveitar esse momento de paz e sol, iriam usufruir dos jardins de Hampton Court.

Por conta disso o marquês e a marquesa prepararam um piquenique particular, apenas para os dois aproveitarem em paz. Com isso em mente eles escolheram ficar debaixo de uma grande árvore do Hampton Court Park, assim como faziam a mais de dezoito anos atrás em Kensington, Alfred e Elizabeth iriam aproveitar um ao outro, assim como a quase privacidade.

Embora Edmund e Jane Vane, o barão e baronesa Barnander, junto com Lord Norton e Lady Norton, a nascida Melissa Netterville, também estivessem com Alfred e Elizabeth, vigiando o casal, os dois casais de barões estavam ainda afastado, aproveitando a sua maneira o belo dia que estava fazendo.

Com isso Alfred e Elizabeth poderiam ficar tranquilamente em seu lugar, sem nada para os atrapalhar.

Depois de comerem um belo bolo de nozes, junto com algumas frutas pequenas, Elizabeth se encostou no tronco da árvore, com issso Alfred se aconchegou no colo da esposa.

Eles poderiam apenas ficar assim, mas logo os sorrisos bobos surgiram, as carícias no rosto iniciaram-se, e no final os dois estavam aos beijos, relembrando os dias como Lady Elizabeth e Alfred, conde de Rivers. Não eram beijos escandalosos ou cheios de desejo, mas sim os mesmos inocentes beijos que eram no passado.

— Eu te amo tanto...— Alfred falou sorrindo bobo, antes de ganhar novamente um beijo de Elizabeth.– Amo mesmo. Tudo em você me alegra, Elizabeth.

A marquesa sorriu e começou a acariciar a bochecha e o queixo dele, o fazendo fechar os olhos.

— É um amor correspondido, Alfred. Eu te amo.— Abrindo imediatamente seus olhos Alfred sorriu para Elizabeth, eram palavras tão simples mas... tão difíceis de serem ditas.— Amo toda a alegria que você me dá.

— Eu também, amo essa alegria, esse amor e essa paz.— Segurando uma das mãos de Elizabeth, Alfred fechou os olhos. Ele ainda sentia a outra mão da esposa em seu queixo. Eles se calaram.— Você está pensando em algo?

— Eu? Em nada exatamente.— Alfred deu um pequeno sorrisinho, ele continuava com seus olhos fechados, dava até para cochilar por...— Apenas... eu não sei, não quero ser pessimista.

— Fale de qualquer forma, em nossas vidas nada é péssimo. Mas sim possibilidades.— Possibilidades de dar errado. Alfred abriu seus olhos e olhou para Elizabeth, ela não mais olhava para ele, mas sim para Lord e Lady Norton, ela estava apertando os lábios.— Fale.

— Toda essa paz, ela me parece tão suspeita. É como se alguma coisa muito ruim estivesse prestes a acontecer.— Falando devagar e com certo receio, a marquesa respondeu.— Você lembra do Terremoto de Lisboa, Alfred? Tudo estava muito calmo, Lisboa inteira estava se preparando para o Dia de Todos os Santos, aí aconteceu. Toda essa paz é tão suspeita.

Alfred entendia essa preparação de Elizabeth. Levantando sua cabeça do colo dela, o marquês se levantou e se encostou ao lado da esposa no tronco da árvore.

— Vivemos realmente um período de grande paz. Na Grã-Bretanha, Lord North é primeiro-ministro já faz seis anos, não estamos envolvidos em guerra alguma, a não ser a rebelião nas Treze Colônias. Niedersieg também continua incrivelmente pacífico.— Alfred falou isso e deu uma pequena risada.— Já faz muito tempo que não há uma briga em meu conselho. Olhando dessa perspectiva, realmente tudo é suspeito.

— Será que estou sendo pessimista? Senhor! Não existe coisa pior que ser pessimista!— Ainda com seus olhos nos Norton, Elizabeth falou beirando ao desespero. Alfred não conseguiu aguentar e riu da reação dela.— Não ria de mim, Alfred. Estou falando sério, muito sério.

O marquês novamente riu com suas palavras, mas ao invés de simplesmente rir, Alfred envolveu um dos braços envolta de Elizabeth, e a trouxe para mais perto de si.

— Eu sei. Não é péssimo, mas sim a realidade.— A triste realidade.— Não a nada ruim que não possa ficar pior, e não existe nada quieto que não posso ser mexido.

Ambos suspiram depois dessas palavras de Alfred. A verdade era muito difícil, mas não havia uma opção diferente da de aceitá-la. Alfred seguiu a direção dos olhos de Elizabeth, ele também começou a observar os Norton, para ver o que o jovem casal tinha assim de tão interessante. Ele logo descobriu.

O casamento de Roboam Nathan e Melissa Netterville foi um simples arranjo familiar, onde tanto os Nathan como os Netterville iriam ganhar. O barão Norton iria ter uma baronesa, e subsequente um herdeiro; os Netterville iriam ter uma filha nobre, casada com um Nathan, uma família que veio para a Inglaterra junto com Cathrine de Valois. Parecia um arranjo perfeito, mas uma coisa não foi considerada...

— Eu sinto pena do pobre Norton. Ele sempre é tão galante, cheio de companhias, um olhar lascivo. Mas não consegue enlaçar a própria esposa.— O marquês sorriu divertido com o comentário irônico de Elizabeth. Talvez fosse exatamente isso que fizesse Lady Norton não se aproximar do marido.— São tão diferentes dos Barnander.

— Talvez os Barnander é que sejam diferentes.— Elizabeth pensou por um momento e assentiu, isso também fazia sentido.— Nós também não éramos muito diferentes dos Norton, Elizabeth.

— Éramos pior.— Elizabeth completou secamente, antes de rir levemente.— E olhe onde estamos agora. Há dezessete anos, quando nos casamos, francamente eu não achava que iríamos chegar aqui. Voltarmos a ser como éramos. Estava eu enganada, Graças a Providência.

Alfred sorriu e novamente fechou os olhos. Eles haviam progredido muito realmente. Agora o marquês queria aproveitar a paz que lhe foi dada, e iria aproveitar o máximo possível. Ou se não...

— Abra os olhos, Afinal. Lord Clasterberg está vindo em nossa direção.— Apertando o braço de Alfred, Elizabeth chamou pelo marido.— Creio que seja importante.

O marquês gemeu de tristeza ao abrir os olhos e ver que realmente o conde de Clasterberg estava vinda na direção deles. E quando o conde chegou na sua frente, Alfred suspirou e assentiu.

— É o rei, ele chama meu senhor para St. James.— As vezes Alfred tinha vontade de mandar George para...

— O rei não pode esperar?— Com sua voz calma Alfred respondeu, tentando não mostrar seus pensamentos.

— Ele diz que é urgente, meu marquês.— E qual seria o grau de urgência?— Acho que envolve a rebelião nas Treze Colônias.

— As Treze Colônias?— Elizabeth repetiu apreensiva e olhou para o marido. Alfred agora compartilhava dessa mesma apreensão.— É nossa dever, Alfred. Não podemos fugir dele.

Fechando os olhos e os abrindo logo em seguida, Alfred se levantou de seu lugar e estendeu a mão a esposa.

— Em uma situação comum e normal, poderíamos sim fugir.— Elizabeth pegou a mão de Alfred e se levantou.— Mas essa não é uma situação normal. Mande preparar nossa carruagem, Lord Clasterberg.

Suspirando cansado Alfred enlaçou seu braço envolta do de Elizabeth, e eles começaram a caminhar para o palácio. Passou-se o tempo que a Prússia era um problema para a paz dos Tudor-Habsburg, agora eram as Treze Colônias.

*****

—"[...] Vigésima quinta: Ele está neste momento transportando grandes exércitos de mercenários estrangeiros para completar as obras de morte, desolação e tirania, já iniciadas com circunstâncias de crueldade e perfídia dificilmente paralelas nas eras mais bárbaras e indignas do chefe de uma nação civilizada."— George parou a leitura e olhou perdidamente para nenhum lugar em específico.

— Perfídia!? Perfídias são as palavras dos americanos! Eles se revoltam, organizam milícias ilegais, desculpem a lei, e ainda se queixam dos mercenários que são contratados para conter sua rebelião!— Diferente de George, Alfred não estava abalado, mas sim indignado.

Ao lado de Charlotte no sofá, Elizabeth pegou a mão da rainha e a apertou, a expressão dela estava tão... perdida.

— "Vigésima sexta: Ele obrigou nossos concidadãos capturados em alto mar a portar armas contra seu país, a se tornarem carrascos de seus amigos e irmãos, ou a cair por suas mãos."

— Me pergunto se os senhores do "Congresso Continental" desconhecem que seus próprios "estados" usam dessa mesma prática?— Cheio de ironia jacosa Alfred comentou.

— "Vigésima sétima: Ele provocou insurreições domésticas entre nós e se esforçou para atrair os habitantes de nossas fronteiras, os impiedosos índios selvagens cuja regra de guerra conhecida é uma destruição indistinta de todas as idades, sexos e condições."— Lenta e dolorosamente o rei leu a última queixa contra ele.
Ao acabar, o rei respirou fundo e ainda segurando fortemente o documento que acabou de ler, George foi até uma poltrona e sentou. Estava sendo mais doloroso para ele do que para qualquer outro.

— Preconceito! Preconceito!?— As altas palavras de Alfred fizeram a rainha e a marquesa mudarem seus olhares do rei para ele.— A última queixa dos americanos é um preconceito. É uma ofensa eles "declararem sua independência" por causa de um simples preconceito. Essa é a mais baixa...

— Já chega, Alfred.— Com um tom cansado na voz o rei tentou calar o marquês, mas Alfred riu e balançou a cabeça.

— Não, George. Eu não acabei. Esse americanos há muito tempo são uma pedra de tropeço para...

— Alfred, eu mandei você calar a sua boca!— Com indulgência, um que Elizabeth não sabia que o marido tinha, Alfred se calou e sentou no sofá a frente de George.

O rei não deu essa ordem gritando, mas sim com uma frieza e presença que talvez nem mesmo a marquesa Anne tivesse quando estava viva.

Mas certamente era necessária essa frieza. Os americanos foram muito atrevidos com suas ações, um atrevimento que não haveria um perdão fácil. As Treze Colônias cometeram a afronta de declara independência da Grã-Bretanha. E se isso não fosse um sacrilégio grande o suficiente, eles ainda enviaram junto com sua "Declaração de Independência", um documento listando 27 queixas contra o rei, o rei!

— Francamente, Elizabeth, eu não entendo esses americanos. Esses mesmos homens que hoje chamam o rei de "tirano contra a liberdade", já chamaram ele de "a esperança", eles comemoraram a ascensão de George.— Com um trágico tom de incredulidade a rainha falou apenas para Elizabeth.— Que seres estranhos são esses... americanos.

— Você é alemã, Charlotte, talvez por isso não saiba. Mas as Treze Colônias sempre foram... elas sempre mostraram uma certa resistência contra o governo colonial.— Elizabeth cresceu ouvindo seu pai reclamar da insubordinação americana.— Eles sempre se viram como iguais a nós, ingleses. É muita pretensão isso.

A rainha apenas olhou preocupada para o rei. Todos estavam esperando ele falar alguma coisa, tomar alguma ação. Mas embora George fosse o primeiro que deveria se pronunciar, ele também era o mais abalado, afinal os americanos estavam chamando ele de tirano, dizendo que a culpa de tudo isso era dele.

Depois de um longo momento calado sem ação alguma, o rei finalmente se arrumou em seu lugar na poltrona, para por fim se levantar de seu lugar. Todos na sala continuaram a olhar para ele, George agora iria falar, e pela sua expressão não era algo bom.

— Nós somos os únicos culpados por isso que está acontecendo.— Nós? Elizabeth não entendeu essa frase, Alfred levantou uma sobrancelha curiosa e Charlotte continuava a olhar para o rei.— Nós, os britânicos, somos os únicos culpados por isso. Demos muita liberdade para as Treze Colônias, para os americanos, e aqui está o resultado dessa liberdade... uma monstruosidade chamada "Treze Estados Unidos".

Esse nome parecia fel na boca de George, a forma como ela falou foi cheia de desprezo e negatividade.

— Portugal e Espanha tem suas colônias em rédeas curtas, mas nós, o que fazíamos? Deixávamos acontecer eleições para representantes nas Treze Colônias.— Alfred acrescentou as palavras do rei.— George eu novamente vou dizer, embora isso pareça lhe aborrecer. Mas os americanos cometeram uma ofensa terrível a nós. E a você também, principalmente a você. Está lhe difamando, chamando você de tirano.

O rei ouviu todas as palavras de Alfred. George começou então a andar pela sala, ele não parecia conseguir ficar calmo ou parado, nem mesmo as mãos George conseguia manter paradas.

— De fato foi uma ofensa, um sacrilégio... uma difamação. Nunca desejei isso, mas serei obrigado. Até agora os americanos viram apenas a minha melhor face, está na hora então deles conhecerem a face mais dura do rei.— George desejava dizer com isso que?— Essa declaração de independência não foi simplesmente isso, os americanos desejam guerra, então eles terão guerra.

— Guerra!?— Alfred repetiu as palavras e levantou rapidamente.

— Como assim guerra, George?— Charlotte também se levantou.— Realmente é necessário isso?

— Sim, é muito necessário. Primeiro porque as Treze Colônias são um território grande demais para perdemos.— Isso era uma verdade, a Grã-Bretanha iria caber muitos vezes nas Treze Colônias.— E segundo porque nação nenhuma irá permitir que uma colônia se declare independente e nada aconteça. Os outros iriam tomar o exemplo.

— Mas uma guerra, George?— Charlotte ainda tentou insistir, mas havia muita certeza no olhar do rei.

— Sim, uma guerra sim. Os americanos me acusaram de levantar armas contra eles, pois então agora irei sim levantar as armas.— George falou cheio de certeza e mágoa.— Estou firme na minha decisão. Esses Treze Estados Unidos irão ser destruídos. E seu eu não conseguir os destruir, vou exaurir todas as forças deles. Mesmo que vençam, minha vitória será tê-los destruído internamente.

Com essa declaração do rei todos se calaram, ninguém tinha nem vontade ou coragem para o contradizer. Era isso então, mais uma guerra. Um sorriso triste se formou nos lábios de Elizabeth, três guerra, nas sua vida ela viu três guerras. Quando ela nasceu a Europa era assolada pela Guerra de Sucessão Austríaca, depois veio a Guerra dos Sete Anos, e agora essa guerra contra as colônias.

— Lord North irá permitir isso?— Apesar de seus pensamentos, Elizabeth conseguiu fazer essa pergunta. A única que conseguiu.— Digo, para uma guerra ser declarada, e uma ainda contra as colônias, é necessário o apoio do parlamento e do primeiro-ministro, não?

— De fato, Elizabeth, esse apoio é necessário.

— Lord North já foi chamado, ele não irá supor. Não é apenas vingança, mas estratégia, reação necessário.— George falou depois de Alfred responder a esposa. Depois de um tempo parado, o rei voltou a andar com animosidade pela sala.— Eu tenho seu apoio, Alfred?

— Do marquês de Bristol você terá todo o apoio, do membro do Conselho Privado também.— George assentiu agradecido, mas Alfred não acabou.— Mas não terá do príncipe de Niedersieg, como um príncipe alemão o máximo que lhe darei será não reconhecer a independência das Treze Colônias.

— Muito bem, esse é o máximo que peço.— George por fim respondeu, antes de suspirar cansado e sentar novamente na poltrona.— Quando North irá chegar?

— Faz muito tempo que...— Alfred respondeu, mas Elizabeth não deu muita atenção.

A marquesa foi lentamente até a mesa do rei e pegou a Declaração de Independência. Elizabeth começou então a ler o documento, era tão bem feito, quem teria o redigido?

"Todos os homens são criados iguais".— Essa frase, Elizabeth a repetiu alto, chamando assim a atenção dos outros.— Se todos os homens são iguais, por que os indígenas e os que têm pela negra são inferiores? Por que os líderes dessa "revolução" têm escravos?

— Porque são hipócritas, Elizabeth. Simplesmente por isso, hipócritas!— George respondeu hostil.

— Me pergunto se quem escreveu isso é dono de escravos? Liberdade, que linda liberdade.— Elizabeth deixou o documento na mesa de George e voltou para o lugar de antes.

Não demorou muito e o primeiro-ministro, Lord North, chegou em St. James. E no final, quando a reunião acabou, ficou completamente decidido, uma guerra estava se iniciando.


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Notas finais do capítulo

A guerra iniciou! Nada será o mesmo a partir de agora!
Com essa mensagem eu aviso que os próximos dois capítulos são os últimos, tirando o prólogo claro.
Devo dizer que sinto muito prazer com isso, é o final de um ciclo... muitos ciclos, assim como de um ano... eu vou parar por aqui, o textinho não é agora.