1812 — Interativa escrita por Holtzmann


Capítulo 4
Teaser


Notas iniciais do capítulo

Oláá, como estão? Espero que bem! Sentem que lá vem textão ( com um aviso importante no fim )!
Apareço eu aqui inesperadamente com um capítulo que não estava em meus planejamentos escrever ( como dito no capítulo anterior, o próximo a ser postado já seria com narrações de algumas das chars aceitas ), mas que acabei decidindo escrever após uma sugestão recebida, e após bolar uma ideia que seria narrativamente interessante e influente. So here i am.
Este capítulo é mais curto que os anteriores, pois é somente um pequeno teaser. Uma volta ao passado, um vislumbre de nossos rapazes dois anos antes da atualidade da história, quando ainda habitavam o tão citado Chalé e conviviam intimamente com o outro. Ele narra um pedacinho de um dia muito importante na vida dos meninos. Um dia que, para o bem e para o mal, ficou eternamente marcado em suas memórias.
Antes de me despedir, quero lembrar que dia 27 deste mês acaba o prazo das fichas. Mas, caso você esteja fazendo sua ficha e ainda tenha realmente interesse de enviá-la, pode vir falar comigo que certamente podemos estender um pouco mais este tempo, sem problemas! Só mandar uma mensagem para eu saber que você está trabalhando na ficha ;)
Ademais, espero de coração que gostem do que preparei dessa vez!



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Redondezas de Bath, 1810

 

 

Havia um rio próximo ao chalé.

Em seu último dia, eles decidiram que chegara o momento de conhecê-lo. A ideia nunca passara por nenhuma das quatro mentes durante aqueles últimos dois anos, mas parecera estranhamente correta e apropriada para aquele dia em questão. Aquele fatídico e abençoado dia. Jamais uma data fora tão desesperadamente temida e sofregamente desejada em iguais proporções por nenhum ser humano na face da terra. Ou era o que parecia para aqueles quatro, que já haviam suportado tantos – e tão piores – dias em suas miseráveis vidas.

A vida, ou o destino, ou qualquer que fosse a força regente na qual se acreditasse, aquela coisa má e mesquinha, lhes tinha pregado uma peça cruel; ao invés de matá-los e enviá-los ao inferno – para aqueles que criam na existência de um – os tinha poupado e os brindado com o inferno na terra. Durante aqueles anos, cada um lutara para escalar as paredes do abismo, esfolando suas mãos e pés, desesperadamente buscando a luz que os aguardaria assim que alcançassem o topo.

 Mas agora que se embebiam de seu brilho, ele parecia terrivelmente mais impiedoso e desafiador que a escuridão que o precedera. Ameaçava cegá-los, consumi-los, até que nada restasse além de suas carcaças que assinalariam os patéticos esforços que haviam feito afim de buscar uma chance de prosseguimento para suas vidas. Mas ah, quem fora o tolo que definira que o valor da vida era infinito e inestimável?

Era nisso que Griffith Shawcross refletia, os olhos presos no celeste profundo do céu que se erguia acima de sua cabeça. Pouco atrás de si, a superfície relativamente regular à beira do rio ia subindo até transformar-se numa colina íngreme. No topo desta colina, assentava-se o chalé.

Se pudesse apostar, o rapaz diria que nunca um lugar fora cenário de tamanha controvérsia; para sempre suas paredes guardariam memórias de um sofrimento indizível que, Griffith suspeitava, continuaria perpetuando-se em seus cômodos vazios mesmo muito depois de terem-no deixado, assombrando os moradores que futuramente viriam a habitá-lo. E, simultaneamente, suas janelas manchadas nunca contemplariam uma felicidade tão pura e genuína quanto a que percorrera seus corredores naqueles dois anos. Suas vigas de madeira jamais ouviriam novamente berros tão agonizantes nem gargalhadas tão deleitantes. Os dois extremos da vida. Preto e branco. Dor e cura. Felicidade e melancolia. Desespero e esperança.

Aquela casa carregava história. A história deles. Jamais nada igual se passaria dentro daquelas paredes. Talvez fosse por isto que havia uma certa dor – um prazer doloroso, uma excitação temerosa, um profundo sentimento de conquista amarga – na ideia de partir. Ela pairava acima de todas as cabeças presentes, como uma névoa, um suspiro espectral que se entremeava no meio da luz solar; a lembrança de que eles sempre tinham temido aquele dia tanto quanto tinham desejado a vinda dele. Agora ele tinha chegado. E eles teriam uma tarefa mais difícil do que sobreviver como tinham sobrevivido naqueles anos de recuperação: teriam de reaprender a viver.

Ao invés de pensar nisso, contudo, Griffith tentava desesperadamente agarrar-se ao presente. Talvez o presente fosse tudo o que importasse. Talvez fosse tudo o que qualquer um pudesse esperar. Talvez o passado tivesse sido somente um pesadelo e o amanhã fosse uma ilusão que jamais chegaria. Logo, ele não precisava preocupar-se em encará-lo.

Quem dera fosse ingênuo o suficiente para crer nisso.

Haviam encontrado um lugar tranquilo e isolado. Lá, em um prado coberto pela relva, pontilhado por flores do campo coloridas, com o céu azul e o sol acima de suas cabeças, tinham forrado uma toalha e repousado uma cesta velha que já não estava mais em seus melhores dias, mas que ainda servia suficientemente bem para seu propósito principal; carregar comida. A seu lado, Levi Holroyd estava sentado, uma perna dobrada e a outra estirada. Seus olhos permaneciam fixos adiante, na direção da margem. Havia o som da água corrente, o trinado suave dos pássaros voavam entre os galhos, o sussurro da brisa ao mexer a grama e...

Os berros frustrados de um homem.

Na mira da visão de Levi, William Hayes e Aiden Gillingham estavam parados, de frente um para o outro, os punhos erguidos à frente de seus rostos. Aiden tinha amarradas aos pulsos duas almofadas de couro, e segurava-as diante de si como um escudo. William estendera as mãos e as tateara. Então, nos últimos vinte minutos, começara a acertá-las enfurecidamente com socos que faziam mesmo o sólido Aiden recuar caso estivesse desatento. E não parecia se quer perto de cansar-se. Ocasionalmente, escapava de seus lábios um urro furioso e animalesco que acordava Griffith de sua tentativa contínua de tirar uma sesta.

Em determinado momento, o rapaz desistiu de seu cochilo e virou o tronco de lado, apoiando-se num dos antebraços. Olhou para Levi.

— Quando ele ficará satisfeito? — indagou, impaciente.

— Não sei. — o homem mais velho respondeu, dando de ombros. — Talvez no minuto seguinte, ou talvez só no fim da tarde. Talvez precisemos retornar e ele ainda não tenha terminado de descontar tudo.

— Um coração partido é mesmo um combustível poderoso. — o garoto refletiu. — Me lembre de testar a experiência no futuro, quem sabe não me forneça energia o suficiente para voltar a andar? Embora que se esta fúria fizesse com que William enxergasse novamente, isto seria cruelmente hilário, não é?

Griffith riu. Levi apenas balançou a cabeça.

— Deveríamos nos preocupar com isso? — Grifo indagou, olhando William.

Levi parou um momento, como se pensasse. Então negou com a cabeça. 

— Não. Ele ficará bem, eventualmente. Acredito que ele esperava que isso fosse ocorrer. Só não quis acreditar. 

Eles voltaram-se novamente para a dupla adiante. Então, muito de repente, como se a ideia tivesse simplesmente saltado de sua mente para sua língua sem que ele percebesse, o médico acrescentou:

— Sentirei falta disso.

Antes que o mais novo pudesse pensar numa resposta para dar, contudo, ouviram um grunhido diferente daqueles que William andava soltando. Os dois se voltaram para a dupla a tempo de ver Aiden levar a mão ao queixo que começava a inchar, avermelhado.

— Ai! Bem na cara! — Griffith exclamou para eles. Mas as palavras de Levi ainda ecoavam na sua cabeça. Sentirei falta disso. — Ei, cegueta! A almofada não foi o suficiente?

O sujeito cego virou-se na direção da sua voz, então – talvez não tivesse sido uma boa ideia provoca-lo no seu atual estado de espírito – começou a caminhar furiosamente rumo a ela... Até Aiden, com outro grunhido, correr em sua direção e agarrá-lo pela cintura, derrubando-o. Os dois começaram a se debater e rolar pela grama, trocando xingamentos – por parte de William, que lutava para se livrar do peso do sujeito que conseguiu prendê-lo ao chão – e resmungos – por parte de Aiden, que agarrou os pulsos do amigo e ficou empurrando ele em direção à grama sempre que tentava se levantar.

 Chega, William! — o mais velho exclamava, enquanto o outro continuava se contorcendo inutilmente. William era forte, mas Aiden era mais alto e maciço. — Já foi o suficiente! 

— Basta. — a voz de Levi foi que pôs um fim ao show. Ele não tinha erguido o próprio tom. Falara baixo, como sempre falava, mas foi como se suas palavras tivessem sido gritadas por um general superior. 

Aiden saiu de cima de Will, começando a se levantar. William permaneceu deitado, os braços abertos ao lado do corpo, encarando o céu. Sua respiração estava acelerada, e por um momento Griffith teve medo que o sujeito simplesmente começasse a chorar. Isso sim seria preocupante. Mas então Aiden estendeu a mão em sua direção, e após um momento de hesitação ele a pegou, se levantando – não, sendo levantado. Os dois foram até a toalha forrada e se largaram sentados ali.

Griffith deu um assobio de apreciação.

— Nem o Clube de Box de Jackson teria nos dado uma apresentação melhor. — anunciou. — Will, seu menino bonito e magrelo, achou mesmo que tinha alguma chance contra nosso grande e feio Aiden?

William, que estivera furioso desde o começo da manhã, de repente pareceu cansado demais para continuar irritado. Mas ainda assim virou-se na direção de Griffith com um olhar pouco amistoso.

— O que? — o mais novo ergueu as mãos dramaticamente. — Vai bater num aleijado? Isso é pecado, sabia? Deus te punirá por isso.

— Se tratando de você, acho que Ele premiará qualquer um que te dê uma boa surra, Griffith. De preferência uma que cale a sua boca. — Aiden murmurou, enquanto levava uma toalha que Levi molhara ao queixo. Fez uma careta.

O mais novo deu de ombros, indiferente.

— Podem vir, então. Qual a pior coisa que poderia me acontecer? Acabar numa cadeira de rodas?

Todos na pequena roda se olharam por alguns instantes. Então começaram a gargalhar, até Will. Foi como se o bloco de gelo que oprimia e envolvia a todos eles naquele dia tivesse sido quebrado durante um momento. Por um momento, o próprio Griffith se esqueceu que no fim daquela tarde ele e Aiden partiriam. E William faria o mesmo no dia seguinte. Para todo o sempre. Nunca mais se sentariam juntos à beira daquele rio, que nunca haviam tido a curiosidade de conhecer até então. Aquilo era uma despedida – e ainda que não fosse definitiva, pois eles certamente manteriam contato um com o outro, marcava o fim de algo.

Inesperadamente, lágrimas encheram os olhos de Griffith – embora ele não soubesse dizer se era por conta da risada incontrolável, que estava começando a fazer sua barriga doer, ou por outro motivo.

— Ei, Aiden. — William chamou, quando todos tinham se recuperado o suficiente para voltarem a falar. — Dizem que você tem a aparência de um soldado grande e feroz. Se isso é verdade, então você é uma fraude, pois consigo perceber gentileza por trás da sua voz.

— E por trás da sua disposição em apanhar calado pelo bem do coleguinha. — completou Griffith, o que lhe rendeu uma carranca especialmente assustadora vinda de Aiden.

— É, e por isso também. — o cego concordou, o que fez com que os três voltassem a discutir – o que significava dois se unirem afim de fazer com que o outro perdesse o juízo com suas provocações tolas.

Em algum momento, Griffith se calou, permitindo que os outros dois continuassem se engalfinhando sozinhos. Torcia intimamente para que voltassem a se agarrar como antes. Foi então que flagrou-se encarando-os com um deleite mal disfarçado – não só a eles, mas como a Levi também, que permanecera em silêncio durante todo aquele tempo, só assistindo-os. Olhou para cada um deles, pausadamente, colecionando o máximo de detalhes que pudesse para aquela memória. Observou aqueles homens que, durante os últimos dois anos de sua vida, haviam se tornado muito mais do que ele desejava. Muito mais do que ele esperava. Muito mais do que qualquer outra pessoa um dia fora.

Engoliu em seco. Ah, estava desesperadamente triste. Como alguém poderia se sentir tão miserável e tão contente ao mesmo tempo?

Ficou tão imerso naquela questão que se surpreendeu ao ver-se murmurando, sem perceber:

— Este é o dia mais feliz da minha vida.

Levi ouviu-o, pois se virou para olhá-lo. Então disse, abrindo lentamente um sorriso:

— É, o meu também.

E Griffith sabia, de algum modo, que ambos estavam sendo honestos. Mas o que ele viu em seus olhos – e o que provavelmente estava refletido em seus próprios – estava muito distante da felicidade. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Até a próxima!



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