P.O.V Carlisle

Reencarnação.

A palavra não era nova, mas as possibilidades eram novas e pareciam empolgantes.

— Carlisle, você acha que pode dar certo? De verdade? – Esme me perguntou com um olhar preocupado que eu entendia bem demais.

Veja, quando Edward se apaixonou por Bella, apesar de nossos temores em relação a todos os perigos possíveis de um vampiro e uma humana ficarem juntos, nos foi um alivio ver Edward finalmente saindo de sua bolha e encontrando sua parceira.

Evitávamos pensar nisso perto de Edward, mas tanto eu quanto Esme estávamos nos segurando sempre na possibilidade de quem em breve Bella seria integrante da família como uma vampira, assim tendo Edward e Bella como um casal para a eternidade.

No entanto, Edward é muito crítico consigo mesmo e com a ideia de eternidade e não queria isso para Bella. Nós partimos de Forks cedo demais e Edward cortou seu contato conosco por um tempo, onde nós só tínhamos notícias suas através das visões de Alice e suas ligações rápidas.

Isso se manteve por meses a fio onde todos nós estávamos infelizes e preocupados até o derradeiro dia onde a menina Swan tirou sua própria vida.

Era um dia de sol e estávamos em uma caçada quando Alice congelou e Jasper imediatamente se colocou ao seu lado. Alice fez uma expressão de horror e se manteve presa por um tempo na visão que aparentemente era horrível.

— Alice? O que você está vendo? Algo aconteceu com Edward? – Jasper começou a perguntar agitado, provavelmente sentindo alguma emoção negativa vindo de Alice.

— Edward? – Esme se agitou e se aproximou de Alice.

— Não – Alice voltou e começou a soluçar nosso choro vampírico – A Bella, Jasper – Ela se colocou de joelhos e ficou com a expressão congelada entre tristeza e horror que deixou Esme ainda mais agitada.

— Alice, consegue nos dizer o que aconteceu? – Perguntei, não aguardando uma resposta rápida, mas esperando que algo muito ruim tivesse prestes a ser dito.

— Carlisle – Ela me olhou – Ela se matou. Ela pulou de um penhasco e o futuro dela começou a sumir quando ela estava dentro da água. Eu não consigo ver mais nada sobre ela. Nada. – E então eu me senti um pouco anestesiado, se é que fosse possível.

Aquela sensação de dor no peito, é uma aguda e rápida que faz sua língua formigar e seus olhos arderem.

Nenhum de nós podia chorar, mas o luto podia ser sentido com intensidade. Nós sabíamos que isso podia acontecer e eventualmente iria, mas Bella era alguém de nossa família praticamente. Ela era a parceira de Edward e isso nos fazia pensar em nossos parceiros. A dor de perder alguém que você ama incondicionalmente para sempre.

Eu lido com a vida e a morte humana o tempo todo, mas a morte de Bella havia sido impactante.

Era algo que doía em todos nós, ainda mais por ser praticamente uma criança e por ter sido dessa forma. De todos os perigos que Bella corria, sendo desastrada como era, sua morte não foi causada por um acidente, uma doença ou até mesmo, algum vampiro maníaco. Era sua própria mente que havia lhe tirado a vida.

Imediatamente após sabermos do fato, Alice foi até Forks e lá encontrou Charlie desolado. O corpo de Bella havia sido encontrado por dois meninos da reserva, Jacob e Seth. Ela havia sido sido empurrada pelas ondas para próximo de algumas pedras da costa, ela estava já desacordada e seu coração estava parando. Eles tentaram prestar os primeiros socorros que conseguiram, fazendo massagem cardíaca e tentando tirar a água, mas quando o socorro verdadeiro chegou, já era tarde, ela já estava morta.

Alice ficou para o velório e voltou logo para irmos até o Brasil encontrar Edward. Omitimos alguns fatos no momento, mas mesmo assim, Edward não lidou bem. Não tinha como lidar. E por anos tivemos de lidar com Edward quebrado, em dor, constantemente preso em pensamentos.

Ele foi até Forks mais uma vez junto de mim e Alice. Entramos no quarto de Bella escondidos e lá encontramos Charlie dormindo, com o rosto inchado, olheiras profundas, e alguns medicamentos para dormir na cabeceira. A cena era de partir o coração.

Edward revelou que havia escondido as provas de sua existência de Bella sob o assoalho de seu quarto. Ele tirou fotos e outras lembranças de lá que ele gostaria de manter consigo.

Ele passou um tempo também sentado em uma cadeira que havia no canto do quarto, refletindo. Era seguro ficar lá ainda pois Charlie estava em um sono pesado por causa dos sedativos e Edward apesar de seus olhos escuros indicando que em breve teria de caçar, não estava se interessando em sangue. Ele não estava se interessando em nada. As caças todas foram forçadas. Ele só se mantinha em seu quarto, encolhido.

Após pegar mais alguns objetos, fomos embora com os pés pesados.

Os anos seguintes foram assim: Pesados. Escuros. Tristes.

Nossa família continuou sempre em um estado um pouco quebrado. Pelo que soubemos, em Forks eventualmente as coisas voltaram ao normal, os humanos podiam lidar com isso. Charlie casou novamente, a mãe de Bella teve mais uma criança, e todos tiveram suas vidas normais, viveram, alguns adoeceram, morreram, e o ciclo continuou, mas nós estávamos estagnados no tempo.

E então Alice teve uma visão há 16 anos atrás do nascimento de uma criança e nos anos seguintes, visões sobre uma província no Canadá, algo que não entendemos muito bem na época, mas agora se encaixava.

Bella havia nascido novamente e "sem querer" havíamos vindo parar em sua cidade.

— Eu não sei Esme – Respondi finalmente – Eu espero que sim, mas, é uma outra menina, com outra vida, outras experiências e gostos. Acredito que tenha sido um plano de Deus, mas e se for para nos ensinar algo diferente do que esperamos?

— Sim, mas pode ser que seja para que ela e Edward finalmente fiquem juntos, não pode? – Ela tentou adicionar, a esperança despontando em sua voz.

— Claro querida, pode ser sim. Eu vou procurar algumas leituras sobre o assunto, as vezes teremos respostas eficazes com algum registro histórico. – Pelo menos, é o que espero.

Que Freya seja a luz que precisávamos.