Glory and Gore escrita por Iulia


Capítulo 23
I can feel the taste of the deeds outgrown and the welcome overstayed.


Notas iniciais do capítulo

Oi oi famíliaaaa!! Cheguei com este capitulozinho aqui que é GIGANTE, mas que eu considero importante porque termina de explicar os rolos de Cato e Clove com o infame distrito 2!! (leia em partezinhas se cansar muitoo) E eu ADOREEEI escrever este aqui, na moral, eu tinha todo este rolo planejado desde o primeiro capítulo genteee. Não sei se vocês vão gostar de LER, mas eu acredito que eu gostaria pq eu acho TUDOOO..... kkkkkk Enfim. Eu não gosto de falar muita coisa aqui pra não estragar a Experiência, então até lá em baixooo! Ah, o título vem de No Better, de Lorde (ai família to sofrendo pra arranjar esses títulos sabe kkkk). Boa leituraa!



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O último dos confrontos entre Cato Hadley e Bac Sevina tinha sido grandioso.

Todos os elementos que formavam um espetáculo estavam lá; havia a Academia, escura, trancada para todos os bons elementos do distrito. Havia Fedra Delusa, uma garota da Patrus que relutantemente tinha vínculos com todos os envolvidos. Havia Wade Rankine, observando tudo com seus olhos brilhantes, ansioso. Havia Iana Kamp, rezando para todos os deuses para que pudesse desaparecer daquele universo estranho, muito distante das certezas da sua vila. E havia Clove, a mais nova Vitoriosa do 2, a celebridade oficial, que tinha dado à luta sua benção.

E havia uma longa história por trás de tudo.

Cato e Bac nunca haviam se dado muito bem; eles eram os dois garotos ricos que sempre acabavam competindo pela coroa da Academia. Contudo, a semente de todo aquele problema jazia em Clove Kentwell.

Muitos anos atrás, Clove notou uma dinâmica estranha aflorando entre ela e o garoto loiro que no momento se sentava num canto, destacado de seu grupo de seguidores pessoais, que confabulavam sobre seu oponente um pouco mais à esquerda. Era seu aniversário e Cato havia lhe dado um colar na frente de toda a Academia. Insultada, chocada, traída, Clove ouviu um longo sermão de Enobaria sobre vínculos e salas abandonadas e presentes como se fosse a única responsável por toda aquela história, a perfeita Eva que oferecia as maçãs interditas.

Clove Kentwell refletiu um pouco. Ela decidiu aceitar seu papel e fazer exatamente o que era esperado dela.

Ela então recorreu a um de seus contatos na Patrus, uma garota chamada Fedra que se sustentava na Academia aos trancos e barrancos, na esperança de se tornar uma Pacificadora e tirar sua família de todo o drama das pedreiras. Clove fez a oferta; ela, o destaque do nível, iria a ajudar com suas habilidades contanto que Fedra, a garota bonitinha, conseguisse a atenção de Cato.

E porque os planos de Clove nunca davam errado, aquele também teve sucesso.

Cato e Fedra começaram a “namorar” e a coisa toda era perfeita. O problema teve início quando Fedra ficou muito confortável e apresentou algumas pessoas da Patrus para Cato. Uma delas era Iana Kamp, a mesma que morava na rua abaixo da casa de Dom.

E, de repente, tudo estava se embrenhando. Cato conhecia Iana e Iana conhecia Clove muito bem, conhecia Clytastra, Leto, Dom, conhecia cada uma de suas brincadeiras favoritas quando ela tinha sete anos, cada uma de suas comidas preferidas. Tudo só ficou pior quando Bac Sevina colocou os olhos nela; Iana esperava Fedra na porta da Academia e Bac simplesmente decidiu que estava apaixonado.

Todos os mundos estavam se cruzando e Clove não podia tolerar nada daquilo. Ela estava perto demais de perder tudo por conta de Cato e da porra de um colar e ela não iria acabar voltando para Patrus porque todo mundo não podia só fingir que não se conhecia.

Clove Kentwell tomou outra decisão;

Bac, o garoto rico que era, precisava ter tudo que queria. E Clove decidiu empacar seu caminho, impedir tudo de se emaranhar ainda mais. Cato, que faria qualquer coisa para prejudicar seu inimigo, decidiu que a ajudaria. Ninguém ia dizer o nome de Iana ou onde ela morava, ninguém ia deixar que Bac sequer chegasse perto da garota, que eles haviam decidido que jamais devia ser vista por ele outra vez.

(Cato e Clove sempre tinham sido movidos por forças estranhas, muito chegados em causar problemas por motivo nenhum).

Acontece que Bac era um pouco mais esperto que Cato. Ele entendeu a coisa toda (Clove nunca mais tinha levado uma bronca de Enobaria; ela estava novamente no topo de ranking, ela era novamente a rainha absoluta da Academia).

E Bac explicou tudo pacientemente para um Cato estarrecido; todo aquele inferno, todo aquele drama, toda aquela conspiração absurda só porque Clove Kentwell não queria que todo mundo conhecesse suas origens.

(Tudo porque Clove Kentwell queria muito fugir da coisa nos olhos de Cato Hadley).

Enquanto as confrontações devidas aconteciam, o caminho ficou livre para Bac, que inesperadamente acabou conquistando Iana. Cato “terminou” com Fedra, que agora tinha a marca de uma facada acidental de Clove e uma certeza absoluta que não gostava daqueles dramas complexos.

A história, contudo, não terminou com nenhum final feliz. Já que Cato e Clove voltaram a ser amigos, ela cuidadosamente reconstruiu a trama e apontou um único culpado: Bac Sevina.

Como deveria ser, brigas brutais aconteceram, ofensas foram proferidas e uma cisão aconteceu na Academia. Era Bac ou Cato.

Alguns anos se passaram e Cato matou seu pai e virou um Vitorioso e Clove não o ouviu e também se tornou uma. Uma notícia se espalhou sobre Bac sendo cogitado para ser um voluntário para a septuagésima quarta edição dos Jogos Vorazes. Cato, uma alma que agora estava ainda mais cheia de ódio, fez a única escolha lógica: desafiou Bac. Se ele ganhasse aquela luta de agora, ele votaria por ele no Conselho. Clove apoiou sua ideia. Wade obviamente ia seguir o que quer que ela propusesse. E a coisa estava formada.

No dia que marcou o fim de uma era, Clove, como a realeza que era, estava sentada em um dos poucos bancos. Ela estava cansada de ser bajulada por Wade e era o segundo mês que Cato não falava com ela, então ela se viu forçada a reparar nos olhares intensos que Fedra e Iana a lançavam do canto que ocupavam, encolhidas, deixando todos perceberem que não pertenciam ali.

O que é?— ela rosnou, virando lentamente a cabeça para as outras duas meninas da Patrus. Iana deu de ombros, mas Fedra a cutucou. Revirando os olhos, Iana se aproximou de Clove, relutante.

— Obrigada por ter armado isso.

O quê?

— O Bac não devia se meter com isso, com essa coisa dos Jogos – Iana falou, casualmente, em um ar de familiaridade para com Clove que a perturbou. – O Cato acabou de voltar de lá, não tem jeito de ele perder isso. Se o Bac perder, ele está fora, certo? Então obrigada, eu vou lembrar disso.  

Pareceu o fim da explicação. Era uma coisa simples, lógica. Ela voltou para junto de Fedra. Clove, que não estava muito acostumada com linhas de raciocínio que envolviam atos de bondade e decorrentes, precisou de um tempo para assimilar como ela poderia parecer uma figura benevolente naquela história. Quando finalmente entendeu – e entendeu o que Iana esperava que ela tivesse feito em nome de algum tipo de lealdade –, Clove rumou na direção de Cato, que tinha uma cara fechada, mas olhos que não paravam de se voltar em sua direção.

— Você não pode deixar o Bac ganhar isso – ela sibilou.

Levou um tempo.

Primeiro, ela teve que assistir Cato fingir que não tinha a escutado. Então, ele levantou os olhos levemente mais escuros, sorriu para ela, ergueu suas sobrancelhas para que Clove pudesse compreender tudo.

Tudo aquilo era só uma armadilha.

Cato odiava os Jogos, odiava a Capital, odiava tudo. Ele não desejava aquela experiência para quase ninguém.

Daquele jeito muito casual, Bac Sevina foi condenado.

(Não seria justo que o Distrito 2 ganhasse três anos consecutivos, certo?)

E Clove, à despeito dos laços estranhamente forjados com Iana, não fez nada além de sorrir para Cato porque a lealdade entre eles era a única real.

Bac estava condenado e Clove assistiu fascinada enquanto Cato, o mesmo que tinha acabado de matar outras 23 crianças para a Capital, perdia uma luta cheia de golpes mal calculados de um oponente confiante demais.

Iana entendeu tudo quando viu de relance o sorriso de Cato por baixo de todo o sangue cobrindo seu rosto. Clove saiu da Academia sem sequer parabenizar o vencedor. Iana assistiu enquanto Bac erguia os braços em triunfo, pensando ter derrotado um deus, o monstro que aterrorizava todos os seus contos.

A Patrus assistiu o namorado de Iana receber um patrocínio errôneo e morrer algumas horas depois. A narrativa nunca foi contada, mas era perfeitamente legível.

Clove tinha traído a Patrus muito definitivamente.

E Iana e Clove ainda tinham toda essa trama na cabeça enquanto decidiam como iriam mobilizar as outras pedreiras do distrito. Eventualmente, a sala era preenchida por silêncios compridos demais, amargos demais, carregados demais.  

O Distrito 2 era um lugar glorioso, cru, o descendente direto do que um dia fora Esparta. Eles todos conheciam muito bem o orgulho, a glória, a vitória. E, claro, suas companheiras mais próximas: a traição, a inveja, as conspirações.

Tudo era quase normal. Mas havia algo pungente, insistente, no fundo da mente de Clove. Iana não amava Bac, talvez sequer gostasse muito dele. Entretanto, ela não tinha nenhum direito de ter entregado um dos seus para a Capital daquele jeito, não importasse o que ele falasse dela para os outros alunos da Academia ou as brigas injustas entre eles ou o quanto ele a odiava meramente em função do ódio que sentia por Cato.

— Você consegue a Remora. Eu conheço umas pessoas de lá e todos sabem que você veio daqui, então dava pra conseguir o Voivode – Iana disse, coçando a cabeça vagamente, segurando frouxamente um lápis em cima de um mapa do distrito.

— Acho que sim – Clove respondeu, erguendo as sobrancelhas.

— Já o pessoal da Dardelia trabalha lá.

— Essa porra só fica dando voltas. Não adianta conseguir a Patrus e a Remora se a Dardelia e a Curia ficarem com a Capital porque eles vão acabar com tudo. A Arvina não vai se pronunciar porque é do lado da Vila dos Pacificadores. Não dá para tentar nada ainda porque não tem chance da gente resistir um ataque das vilas maiores.

— “Ainda” – Iana repetiu, levantando a cabeça. – Essa história toda é só pro 13 devolver o Cato ou porque tem alguma chance de ele conseguir o distrito mesmo? – ela perguntou cruamente

o Cato ia conseguir o distrito inteiro – Clove respondeu simplesmente, o tom de voz tranquilo demais para não eliciar uma resposta hostil de Iana. Contudo, Iana só ficou lá, sentada do outro lado da mesa, a observando cuidadosamente. Clove não sabia bem o que ela queria ver. – Cato não tinha direito de sabotar o Bac, Iana.

Silêncio.

Elas conseguiam ouvir suas respirações pesadas, ver perfeitamente cada movimento no rosto uma da outra. Clove viu descaso no rosto de Iana; ela empurrou a bochecha com a língua, suspirando impacientemente.

— Ele voltou dos Jogos todo fodido – ela continuou, com a mesma voz entediada. – Ele não faria isso agora.

— Ele está arrependido, então? – Iana perguntou desafiadoramente, como quem pega alguém em uma mentira ridícula e insustentável.

— É. Provavelmente – Clove afirmou, dando de ombros. – Eu não posso dizer, porque...

— Não precisa ficar defendendo ele, Clove – Iana a interrompeu, voltando os olhos para o mapa.

— Eu não estou defendendo ninguém. Eu só estou te informando. Sobre as circunstâncias.

— Você me viu todo esse tempo antes do Massacre e nunca falou nada dessa história. O que aconteceu? – Iana cravou seus olhos na figura ofendida de Clove, que a olhava com desdém, mas acima de tudo com exasperação.

— Cato pode estar morto, então eu estou começando o trabalho de limpar a imagem dele – Clove respondeu muito rapidamente, muito sarcasticamente. Iana a encarou por longos segundos.

— E você? Está arrependida, Clove?

Clove voltou os olhos para o papel e girou o lápis de um jeito que costumava girar suas facas. Algumas verdades podiam ser muito cruéis, mas ela não estava no clima para elaborar uma mentira convincente.

— Iana, nem eu nem ele deveríamos ter colocado o Bac lá dentro – Clove anunciou, com uma voz fria e uma expressão de aço porque ela não queria estender muito aquela conversa. – Eu sinto muito se te decepcionei, eu sinto muito que seu namorado tenha morrido, mas acontece que eu nunca fui a boa samaritana do distrito e o Bac sabia no que ele estava se metendo, ele não era que nem você, ele queria ir e ele teria ido com ou sem a tramoia do Cato, tudo que a gente fez foi votar para que ele fosse. Mas que seja, Iana foda-se, eu sinto muito que as coisas tenham chegado nesse ponto. Eu sinto muito que eu não tenha sido leal.

As palavras de Clove eram cheias de verdades que insultavam Iana. Suas expressões, o tom de voz, a altivez.

A coragem.

Iana pensou em estapear a cara insolente de Clove, em puxar aqueles cabelos escorridos, em mandar ela se foder, em se recusar a ficar em sua presença.

— Porque você só é leal à porra do Hadley, certo? E que o resto do mundo se foda – foi o que Iana sibilou, um sorriso sardônico, incrédulo, tomando seu rosto – Que o resto das vidas se curvem aos verdadeiros reis do Distrito 2. E até o 13, até a porra de Panem inteira está no meio agora, os negócios estão se expandindo. Escuta, Clove, eu podia muito bem não dar uma foda, mas você precisa saber que essa história do Cato ser o grande salvador não vai colar pro 13. Eu entendo que você dobrou os ricos da Capital e todo idiota da Academia, mas eu não acho que o pessoal de lá vai aceitar suas gracinhas.  

Clove quase quis rir. Todo aquele drama porque ela não era chegada nas pessoas da Patrus como ela devia, porque ela tinha feito umas escolhas erradas, se cercado de todas as pessoas ilícitas.

Tudo aquilo porque ela tinha escolhido o Cato. 

— Eu fiz um negócio com o 13, Iana, não tem nenhuma história, não tem nenhuma gracinha. Eles devolvem o Cato, a gente agiliza as coisas com o 2. Eu não consegui minha parte, então eu vou segurar essa merda até eu cair morta – Clove decretou.

— Você é a mesma vadia perturbada de sempre – Iana cuspiu, uma coisa muito parecida com repulsa brilhando em seus olhos. – As pessoas estão morrendo nessa porra de guerra e você quer “segurar” as coisas até o Cato voltar? Qual é, Clove, todo mundo sabe que ele não vai fazer a mínima diferença, então deixa de ser covarde e fala logo que você não quer derrubar a Capital e é só por isso que você vai ficar enrolando em vez de subir na merda de um palco e dobrar esse bando de fodido que nem você sempre fez.

Pausa.

O ar mais uma vez foi sobrecarregado com aquele tipo de silêncio tenso, o tipo de silêncio que parece avisar que tragédias serão desencadeadas se um mero alfinete for derrubado. 

Clove adorava esses silêncios. Eles prediziam sua existência muito bem. Iana piscou, assimilando com um arrependimento temeroso o que havia dito. Ela estalou a língua.

— Acertou – Clove ronronou, enquanto seus olhos viravam profundas manchas negras. – Esse é meu plano maligno. Eu não quero derrubar a Capital. Eu quero que ela, que me usou de prostituta pelos últimos três anos, continue me fodendo. 

Clove se levantou da cadeira, mas não dramaticamente, não em nenhum rompante, mas lentamente, cuidadosamente, para que Iana pudesse ter todas as chances de retirar suas palavras. Suas mãos estavam tremendo levemente, ela notou, porque Iana dava nos seus nervos desde sempre, desde quando elas brincavam na frente de casa de Dom e Iana era a primeira a apontar cada uma das infrações de Clove, desde quando elas viraram adolescentes e Clove perdeu o aniversário de Dom e Iana teve muito prazer em marchar até a Academia para mostrar o quão moralmente superior ela era.

Clove respirou muito profundamente, porque se elas saíssem no tapa agora, Attico não estava ali para separar.

Ela se perguntou como ela podia apoiar qualquer lado daquele jeito, quando odiava tão profundamente os dois.

A Capital havia pessoalmente a destruído e as pessoas de sua própria casa apontavam o dedo para ela.

— Foda-se, Iana, por mim você pode falar pra todo mundo que descobriu exatamente o porquê da minha enrolação. Eu acho que é justo porque você é a boa samaritana, afinal. O Cato matou o Bac, você pode tentar matar ele, também – Clove falou, a voz muito baixa, muito tranquila, assumindo uma postura de intimidação.

— Eu sinto muito. Eu não quis dizer... – Iana resmungou. Clove reconheceu com olhos frios a vergonha no rosto da outra garota. 

— Foda-se – Clove rebateu, no mesmo tom vazio, caminhando para a saída. – Se você quer falar um monte de merda sobre coisa que você não sabe porra nenhuma a respeito, é com você. Da próxima vez que você for vendida para um monte de gente sebosa, você me avisa para gente retomar essa conversa.  

Desculpa, Clove – Iana rosnou efusivamente, contrariada.

Clove sabia que Iana provavelmente tinha mais razão que ela e sabia que Iana provavelmente era uma pessoa dez vezes melhor do que ela jamais seria e que ficar ofendida com qualquer colocação dela a respeito de seu caráter duvidoso era ridículo. Iana devia poder falar sobre seu relacionamento com Cato e como ela tinha alguma culpa pela morte de Bac e sobre como ela era mesmo a vadia doente que tinha planejado todas aquelas tramas loucas para prejudicar todo mundo menos ela mesma, mas.

Ela não podia falar sobre a Capital.

Porque a Capital tinha transformado ela em um monte de coisas às quais ela queria renunciar. A ideia de sentar ali e deixar uma pessoa que conhecia dois por cento do poder de destruição de Snow e sua corja de animaizinhos era... complicado. Não que ela não quisesse, claro. Agora que ela estava virando uma pessoa decente, ela devia querer deixar que outras pessoas apontassem dedos para ela. Certo? (Era isso que pessoas decentes faziam, certo?)

— Eu sou só uma vadia perturbada, você sabe, mas essa história já foi pro brejo. Vocês abriram o jogo muito cedo. Se não der pra conseguir pelo menos a Remora logo, o Orpherius vai abafar essa coisa em um dia – foi sua fria sentença.

Enquanto decidia dar uma olhada em Gaia, Clove reparou que estava se sentindo estranha. Como sempre, Gaia não reconheceu sua presença no dormitório e continuou encarando o teto, em silêncio.

Havia uma só voz emitindo uma só sentença;

Eu nunca devia ter me envolvido com essa história de levante.

Ela continuou deitada lá, respirando lentamente, ouvindo Gaia fazer o mesmo, pensando e pensando. Clove nunca havia sido muito fiel. Sua lealdade sempre oscilava, sempre dependia de fatores que cabiam só a ela balancear. Mesmo assim, ela se deitou lá e pensou se Iana tinha razão.

Clove sabia que a aliança entre ela e o Cato tinha produzido consequências terríveis, mas ela não era muito chegada em examiná-las.

Agora, ela era forçada a o fazer, como se houvesse chegado o dia de seu julgamento. Ela estava sendo forçada a encarar o rosto de todos que tinha negado. Não era nada sério daquele jeito. Ela ainda mandava dinheiro para Dom todo mês, ela ainda aparecia às vezes, ela não perdia seu aniversário desde o dia que Iana tinha feito todo aquele drama.

Mas não era o bastante. A lealdade dela não estava no lugar certo, nunca tinha estado, porque ela não devia ter andado com os garotos ricos e inconsequentes, mas sim com as pessoas gentis e honrosas com as quais ela nunca tinha se parecido.   

Clove quase quis jogar fora o colar, mais uma vez.  

Tudo aquilo parecia físico, parecia uma força poderosa martelando no fundo de seu estômago, criando náuseas insuportáveis.

— Eu já volto.

Clove saiu do quarto. Trilhou o mesmo caminho que vinha trilhando havia duas semanas. Ela chegou à Patrus, virou à esquerda e tomou uma rua um pouco mais iluminada. Ela encontrou o lugar que estava sempre listado no fundo da sua mente como a última das opções.

Sua mera entrada lá foi um acontecimento glorioso, que não podia sequer ser interrompido com palavras. Ela se sentou no balcão, franzindo os olhos com a luz amarelada do lugar, mas apreciando o calor da lareira à sua direita. Nenhum processo de pensamento sofisticado estava sendo feito, então ela não reconheceu exatamente os vários rostos familiares dispostos pelo salão de madeira ou sua foto oficial de Vitoriosa numa moldura pequena em uma das paredes.

Quando ela finalmente foi atendida pela senhora idosa de nome Ella, Clove sentiu um pequeno sorriso automático se abrir.

— Está perdida, princesa? – Ella podia estar impossivelmente embasbacada, mas não jogar uma provocação ou duas seria trair suas raízes. Ela ficou lá, olhando de Clove para seus outros clientes como se pedisse uma validação do que estava vendo, rindo com algo que não era só admiração ou ironia, mas também o sentimento amargo de uma comunidade que Clove tinha negado e traído desde que tomou consciência sobre si.

— Talvez – Clove replicou, desinteressada com o prospecto de consertar a visão que a Patrus tinha dela, uma visão que ela cuidadosamente havia construído, de qualquer forma. Ella ergueu suas sobrancelhas, puxando uma cadeira do outro lado do balcão e se sentando.

— Você voltou para ajudar com essa coisa de guerra – ela afirmou, alcançando uma garrafa debaixo do balcão e um copinho de dose. Uma vez que derrubou o conteúdo da garrafa misteriosa no copo, o empurrou para frente de Clove, que não hesitou em virar ele garganta abaixo. – Cansou da Capital?

Clove sustentou o olhar da senhora e mordeu a bochecha, na mesma raiva morna de sempre. Ella tinha recebido sua cota de vencedores derrotados; ela conhecia bem demais todas as piores histórias.

— Silêncio você terá, então, majestade. Você já é uma mocinha, então eu vou deixar a garrafa e assumir que você sabe o que está fazendo. É rum – Ella se levantou da cadeira e se afastou da figura hostil de Clove. – Eu vi na televisão que é o que você gosta.

Ela não gostava. Aquela era a bebida do Cato.  

Respondendo silenciosamente os ataques sutis de Ella com os olhos, Clove alcançou um copo maior na prateleira. Então ela sentou lá e encheu algumas várias vezes o copo com o rum, mesmo que não gostasse muito da bebida. Ela preencheu suas veias, sua mente, seus olhos escuros até que tudo pareceu quase suportável.

(Cato era muito fã daquilo; se sentar no bar de Ella e beber e beber e beber até tudo ficar dormente).

No primeiro momento, Clove quase acreditou que ia sobreviver àquilo tudo. Ela era a mesma vencedora de sempre, a mesma que dedicava seu ódio a um só objeto que precisava recuperar. Contudo, não era aquilo.

No próximo segundo, ela sentiu vontade de rir daquela bagunça. Clove correu uma mão pelas suas costelas, tentando sentir a dorzinha incômoda dos trabalhos com Naevio, mas não achou mais nada, porque ele estava morto. Toda aquela crueldade silenciosa estava morta, estava à sete palmos do chão, mas à que custo?

O que mais tinha sido enterrado com Naevio? Talvez os silêncios confortáveis, as risadas infantis, as alianças de ferro.

Com uma expressão vazia e todos aquelas veias correndo embaixo de seus olhos, Clove virou alguns vários copos, não se atrevendo a pensar nada, a deixar que sequer uma palavra fosse formada pela sua mente.

Ella voltou quando duas horas haviam se passado.

Silenciosamente, ela se postou num canto do outro lado do balcão, observando Clove com um olhar que ela conhecia muito bem, mente enevoada ou não. Ella estava começando a desassociar aquela Clove na sua frente daquela que ficava na foto emoldurada logo atrás de si. A mulher estava apreciando o poder de destruição da Capital, pensando no que tinha transformado Clove de uma guerreira para uma assassina e daí para a figura derrotada na sua frente.

Ella encarava e encarava.

Clove pensou com amargura que de certo tudo que a mulher queria era ser entretida pela personagem charmosa que ela era, a bonequinha arrogante da Capital, exatamente como seus clientes porque não importava mais que ela tivesse sido uma garota da Patrus uma vez, ela era Clove Kentwell e ela pertencia à Capital.

Ódio encheu os olhos de Clove.

Ela ouviu uma voz muito familiar a contando que Ella e todas aquelas pessoas sentadas nas outras mesas estavam à beira de seus assentos esperando que ela os divertisse, que contasse com sua voz suave algum caso memorável de trapaça, que se gabasse de algum passado glorioso, toda cheia de olhares mordazes e dentes afiados, do jeito que eles gostavam.

Eles ainda compram a história da Capital. Tudo que eles querem é ver que um deles foi bem sucedido. Eles não querem a Clove da Patrus, ninguém nunca a quis.

Eles querem a porra da Clove Kentwell, a princesa da Capital.

Clove sorriu um sorriso que não chegou aos seus olhos.

Nunca havia ar, nunca havia paz, nunca havia um lar.

— Aqui. Agora você pode emoldurar o dinheiro que uma Vitoriosa te deu – ela sibilou suavemente, largando umas notas no balcão e saindo do bar sem registrar a expressão de afronta de Ella, uma que era quase divertida. Quase.

Clove encontrou Attico sentado em um dos bancos da Praça Principal. Como sempre, ele parecia deslocado, ainda mais perto dos rebeldes de expressões rígidas trocando os turnos de guarda. Ele se levantou no mesmo segundo que a viu.

Com cuidado, ela desviou dos galhos dispostos pelo chão escuro, passando a mão com raiva pelo rosto a cada vez que tropeçava ou dava com o ombro em alguma árvore. Clove mordeu a bochecha, tentando se convencer a não voltar pra trás.

E lá estava ele, sentado em um dos troncos despencados como se tivesse passado a noite toda lá. Ele se levantou no mesmo segundo que a viu. Clove, convencida de que era sua eterna musa, estava esperando o alívio infantil em seus olhos; ela tinha mesmo seguido suas instruções, tinha mesmo atravessado a floresta da Nêmeses de madrugada para se encontrar com ele, mas. Não havia nada. Seu caminhar até ela era cheio de uma objetividade estrangeira. Ele coçou o nariz. Ela cruzou os braços.

— Clove.

— Cato.

— Por que você diz que odeia a Patrus se você entra em uma casa lá toda semana?

Simples assim.

Pausa.

Clove ficou em silêncio por longos segundos, observando a expressão séria no rosto de Cato, tentando ver o que havia por trás daquele disparo que devia preocupá-la, mas que não causava nada de verdade. Ele não estava com raiva, ele não estava confuso, ele só queria saber. A normalidade da coisa pareceu quase insultante. Como se ele pudesse e devesse saber de tudo sobre ela. Daquele jeito, não havia utilidade em mentir.

— Porque sim – ela emitiu, dando de ombros.

— Uau – Cato disse, empurrando os cantos da boca para baixo, o rosto começando a ficar vermelho porque aquele jeito de Clove enchia o saco às vezes. – É só uma pergunta. Não é difícil assim só responder, é? Você fala a mesma língua que eu, não fala? Usa a porra das palavras, Clove.

— Essa é a minha resposta – Clove rebateu vagamente, desviando de sua figura para se sentar no tronco que ele previamente ocupava. – É só isso? Eu vou voltar pra Capital amanhã cedo.

— A Lyme mencionou uns rebeldes lá na Patrus e eu fiquei sem entender. Me perguntando por que porra você me pediu pra te meter nessa coisa se seu negócio é ficar mancomunando com outros grupos pelas minhas costas. Você já tinha falado com eles antes de eu falar com a Lyme? Por que porra você não me falou que tinha outras pessoas aqui mexendo com isso?

Clove deixou ele terminar, deixou que ele ficasse flutuando ao redor dela, parecendo todo cansado, como se exercendo uma tarefa da qual estivesse esgotado. Ela estava cansada também.

— Se você odeia tanto o pessoal da Patrus por que você visita aquele homem? O Dom. Esse é nome dele, não é, do homem que está mexendo com isso? Por que você fica mentindo?

Olhos de um azul claro, agitados, a encarando com uma coisa esquisita.

— Você já me perguntou se eu visitava alguém na Patrus? Eu respondi que não? – ela perguntou de modo neutro, levantando os olhos para encarar sua expressão propositalmente confusa. Cato deu de ombros. – Então eu não menti.

— Lógica avançada, essa – ele rosnou, sacudindo a cabeça. – Se eu perguntar você vai responder, então?

— Se você fizer as perguntas certas – ela cansadamente replicou.

— Pra quê?! – era uma exclamação, carregada com uma espécie de frustração absurda. – Só me fala! Para com essa putaria, eu te vi falando com ele naquele dia do deslizamento.

— Pra quê você quer saber?! – ela quase gritou, também.

— Porque eu quero saber. Porque eu quero saber da porra da sua vida, imbecil.

— Por quê? 

— Porque, cacete, eu...

Aí Cato parou. Bruscamente, no meio de uma inspiração, porque ele estava prestes a falar uma palavra proibida, uma palavra que ele nunca devia usar, uma que nunca devia ser lembrada. Clove, instintivamente, em um mero ato de proteção, levantou as sobrancelhas como se certos motivos de Cato fossem completa e absolutamente estranhos a ela. Quase como se ela estivesse confusa sobre o motivo pelo qual ele havia bruscamente parado.

Ele sustentou seu olhar. Dessa vez, ela não pôde dizer se ele tinha acreditado na sua obliviedade ou não. Dessa vez, ele a olhava firmemente. Ela era o objeto de estudo. 

— Você não sabe o porquê? – ele perguntou lentamente, abaixando o rosto no que Clove podia ler como um alerta. Ela fez menção de sacudir a cabeça negativamente, mas. Qual era o ponto? Ela sabia. Só porque eles não podiam nomear a coisa, não significava que eles não sabiam o que a coisa era.

Aquilo era divertido antes. Era perigoso agora. Incomodava Clove agora. 

Um terror primitivo tomou sua mente. Clove sustentou seus olhos por mais uns segundos, o avisando também, e se levantou. Ela voltaria para o Naevio na manhã seguinte.

— É isso que as pessoas fazem, Clove. Elas sabem coisas umas sobre as outras – a voz de Cato reverberou pela clareira, em um tom óbvio, um tom que dizia que ela precisava de explicações daquela natureza. O que não deixava de ser verdade. Clove começou a caminhar de volta.  – Mas você é esperta. Você sabe o porquê.

— Eu vou acordar cedo amanhã.

— Clove.

Sua voz era suave. Ele estava pedindo que ela reconsiderasse. Era só isso. Um pedido.

Se ela só não olhasse de volta pra ele, talvez ela pudesse deixar de vê-lo daquele outro jeito. Talvez tudo voltasse ao normal. Talvez tudo parasse de doer, talvez ele largasse mão daquela história, talvez as coisas com o Naevio não fossem mais tão ruins se ela não tivesse com o que comparar.

Eles não podiam dizer nada. Nem ela, nem ele. Entretanto, Cato toda hora chegava perto de quebrar o acordo. Certas coisas tinham que permanecer bem enterradas no fundo da mente. Mesmo assim...

Ela voltou a olhar para ele e Deus...

— Clove.

Clove se lembrou de se virar na direção de Cato há milhares de anos atrás.

Attico caminhou até ela, sorrindo.

— Oi – ele disse, com os mesmos olhos brilhantes de sempre. Ele os correu por seu rosto levemente vermelho até que um leve ar de divertimento tomou suas feições. – O que você estava fazendo lá na Ella?

— Adivinha – Clove sibilou, sorrindo muito levemente. Attico só sorriu de volta e Clove observou com atenção aquela coisa estranha que ele tinha nos olhos, seu sorriso muito fácil, o jeito que ele movia o corpo. Sempre tinha havido algo muito diferente em Attico, algo que prendia sua atenção por horas, que era muito... cativante.  

Eles caminhavam em silêncio para o acesso à base, mesmo que Attico passasse o tempo todo na casa de Dom. Uns segundos se passaram e Attico respirou ruidosamente antes de dizer:

 – A Iana saiu da base e desceu lá pra casa.

— Sério? Legal – Clove hostilizou automaticamente. – Ok, Attico, eu não vou te obrigar a dizer; a Iana te disse que eu sou a mesma vadia doente de sempre e que eu sou a maior traidora fodida do distrito. Você quer elaborar mais alguma coisa?

Dessa vez, a expressão tranquila no rosto de Attico cedeu levemente. Ele pressionou os lábios juntos, como se contemplasse uma situação complicada. Clove mordeu a bochecha, decidindo não se importar muito. Uma pausa longa se seguiu. Eles alcançaram a floresta e a cabeça de Clove estava rodando quando Attico disse:

— E se o 13 não for trazer o Cato, Clove?

Ela não parou, não se virou, não deu sinal de ter ouvido o que ele tão bravamente havia juntado coragem para dizer. Clove andou na frente, avançando com dificuldade por entre as árvores. Ela não queria ouvir mais.

— A gente vai ter que pensar em outro jeito de conseguir as outras vilas? – ele continuou. Clove fechou os olhos por um segundo. – Clove.

— Eu não consigo chegar nas outras vilas sem o Cato – foi o que ela mecanicamente pronunciou, o mesmo anúncio que repetia todos os dias nas reuniões, todas as noites em sua mente, todos os segundos que passava de frente para o espelho.

— Não mente – Attico voltou a dizer, a voz muito firme. Ela não se atreveu a olhar pra trás.

— Eu não consigo. – A voz de Clove era suave, como se ela estivesse apenas respirando. 

— Não dá para sustentar as coisas desse jeito mais. O Orpherius vai tomar a Patrus de novo. A gente precisa avançar para as outras vilas, entende? – a paciência, a suavidade em sua voz quase fez Clove querer estapear seu rosto anguloso.

— Eu estou entendendo que você não está dizendo que vocês precisam, você está dizendo que vocês vão. – Ela finalmente se virou, empatando o caminho de Attico na trilha estreita. De qualquer forma, ele não iria a lugar nenhum. O rapaz sustentou o olhar raivoso de Clove, seus dentes cerrados, sua postura agressiva. – Certo? É isso que você está dizendo, Attico?

— Eu estou dizendo o que eu disse, Clove. A gente podia. Por respeito, eu estou checando essa possibilidade com você – sua voz era muito confiante. Ele nunca tinha medo dela.

— E eu estou dizendo a mesma coisa que eu disse para a Iana; vai se foder.

Há só uns minutos atrás, talvez Clove decidisse se retratar frente a expressão de Attico, que sempre fazia seus ataques parecerem despropositados. Mas agora não havia nada além das nuvens em sua mente e seu corpo sempre enjoado, sempre gritando para que ela simplesmente dormisse por uma hora ou duas que fosse e a mesma ideia que Cato fosse continuar na Capital.

Attico só sustentou seu olhar, mas tinha uma coisa muito inquietante no dele, sempre tinha havido. Era afeição. Era o mesmo Attico que tinha a ensinado a cozinhar, que tinha a ajudado a se esgueirar de volta para casa de seu tio Dom todas aquelas vezes, que não tinha aquele olhar de reprovação quando falava com ela.

Ela quase desarmou.

— Eu falei com vocês aquele dia e quase pareceu que vocês não estavam pouco se fodendo pro Cato.

— As pessoas estão morrendo na Remora e a gente tem o poder de parar isso. Eu sei das suas coisas com o Cato, mas tudo que eu estou pedindo é que você revise suas ideias. As pessoas do seu distrito...

— Vai se foder – Clove cuspiu com naturalidade, sentindo de novo que tinha atingido seu limite. – Eu não vou dar pra trás. O Cato é uma pessoa do meu distrito, também.

— Clove, escuta...

— Eu fiz promessas.  

— O Cato sabia desse negócio. Ele ia entender se...

— Não! Porra, cala a boca! Eu não vou largar ele! Não dá, eu não posso!

Clove escutou as palavras serem proferidas em seu tom de voz, ela sentiu seu coração disparar e a raiva pulsar suas veias, ela viu a expressão esquisita no rosto de Attico ser uma que ela já tinha visto antes.

Eles sustentaram olhares.

— A Iana pensou que talvez você voltasse atrás – Attico começou a declarar, lentamente, observando a expressão de Clove. – Eu disse que não ia dar certo, mas ela insistiu. Ela pensou que você estava dando trabalho com isso pra pirraçar, punir a gente por alguma coisa ou qualquer merda assim. Eu vou dizer pra ela que isso tem a ver com outra coisa, ok? Me desculpa.

Clove não respondeu. Ela estava cansada. Sua mente não conseguia mais pensar em nenhuma saída, ela não parava de acusá-la de incapacidade e de traição e de fraqueza porque ela sabia por que ela estava fazendo isso tão bem quanto Attico.

A única lealdade real era a que havia entre eles.

Mas não era só lealdade, era?

Era mais, era o jeito que ela deixava Cato traçar linhas em suas sardas ainda que odiasse aquele tipo de coisa, era o jeito que ele era a única pessoa que ela queria ver nos piores dias, era o jeito que ela sempre cuidava dos seus ferimentos desde o começo dos tempos, quando eles tinham doze anos e as coisas começaram a ficar difíceis.

Era o jeito que aquela dor nunca passava, o jeito que ela não conseguia pensar em mais nada, que só havia um nome ecoando o tempo inteiro.

Era a palavra proibida, a que às vezes pendia dos lábios de Cato, a que as pessoas da Patrus falavam de vez em quando.

Era amor. 

— Você está bem?

E se o 13 não trazer o Cato?

Clove sentiu uma inspiração entalar e as lágrimas escorrerem por seu rosto.


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Notas finais do capítulo

Gente, na moral... A ENERGIA deles é essa pra mim, sabe? Eu consigo ver eles tocando o terror por motivo Nenhum no d2, como os excelentes adolescentes que eles eram, entendem? Não sei se cola procês, mas pra mim a relação deles com o 2, com tudo, era assim CAÓTICA. Aí eu quis mostrar isso com Clove interagindo com várias pessoas que conhecem ela de um jeito diferente que o pessoal da Capital conhece, refletindo sobre essas relações e tals. Não e peraí!! E ela falando de AMOR??? Amaram? Eu AMEIII!! Esperei deveras por esse momento, mas eu quis separar ela do Cato para forçar essa madame a refletir sobre a relação deles, sobre essas coisas de Lealdade, sobre quem ela era antes dos Jogos, sobre o que ela aprontou etc etc. Agora no próximo acredito que já vamos para outra fase nessa historinha!! Vem aí! Muito obrigada por lerem e beijãooo!!



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