De um a dez outra vez escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 5
Intenso como as estrelas


Notas iniciais do capítulo

O que será que esse capítulo reserva para nós? Boa leitura :D



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Parecia mais perto quando começaram a caminhar, mas embrenhar-se na mata era sempre um exercício demasiado traiçoeiro e Mike começava a sentir os efeitos de uma noite praticamente insone.

— Cansado? – Jonas ofereceu o cantil d’água para ele. Mike aceitou, mas deu apenas pequenos goles para cortar a secura na garganta. Jonas fez o mesmo.

— Acho que mataria por um expresso duplo! – Mike exclamou, o sorriso brincalhão voltando aos lábios.

— Entendo o que quer dizer. Mas você gastou mais energia que todos nós. Deve estar exausto.

Aquela frase dúbia arrancou um sorriso de canto de Mike. Mesmo que não tivesse chegado aos finalmentes, ele tinha mesmo gastado bastante energia. Jonas corou novamente.

— Se sente envergonhado pelo que fizemos? – perguntou ele. – Era a sua primeira vez?

— Bem, não exatamente. Mas não costumo sair me pegando com caras gostosos que conheço em ilhas com assassinos em potencial. – Jonas respondeu. –  Me desculpe. Falo demais quando fico nervoso. – Coçou a nuca.

Mike sorriu e enlaçou a cintura dele, beijando-lhe de leve o pescoço. A verdade é que queria demorar-se muito mais ali, mas a situação não permitia.

— Não se preocupe. Teremos muito tempo para isso. – Mordiscou sua orelha e soltou-o. – Acho que chegamos.

Mike caminhou até onde, minutos atrás, a fogueira estava acesa. Tocando nas brasas, sentiu-as ainda morna.

— Acho que não devem estar muito longe. – Jonas encolheu os ombros, olhando para o céu azul. – Mas se voltarmos, podemos perder sua trilha.

Mike pareceu pensativo sobre isso, sabendo que o irmão se preocuparia. Mas sabia que Jonas estava certo. Tirou do bolso de trás da bermuda um cavinete suíço e escreveu algo na árvore.

— Tem razão. Precisamos prosseguir.

Jonas concordou com ele.

Mike sabia que, mesmo sendo uma escolha difícil, era a mais sábia. Se queriam sair daquela ilha, trazer outras pessoas para perto talvez fosse a única solução.

X

Steve desenhava na terra com um graveto, estranhando a demora do irmão. Seu relógio de pulso indicava que haviam saído há algum tempo, mas decidiu não se desesperar. Mike sabia o que estava fazendo. Não era a primeira vez que os dois irmãos saíam para o meio de uma floresta.

Mas a morte de Alex havia lhe deixado sobressaltado. As marcas de garras e o recado... poderia ser alguma brincadeira de mau-gosto de alguém que ouvira a conversa deles na noite anterior?

— Um desses assassinos malucos em série... – Cuspiu no chão, um pouco incomodado com o fato.

Pouco depois, ouviu os passos de Nora e a garota sentou-se ao seu lado, acomodando-se em seus braços.

— E a Carol? – perguntou, imaginando que a situação não havia mudado muito.

— Permanece na mesma. Mas parece um pouco mais no controle agora. Nada do Mike e do Jonas?

— Devem estar se pegando por aí. – Encolheu os ombros parecendo um tanto enciumado. Mas Nora apenas sorriu.

— Não seja tão durão com ele. – Lhe deu uns beijinhos no pescoço. – É a primeira vez que o vejo sorrir em tanto tempo depois do fim do último namoro.

Steve tinha que concordar com a namorada. O último namorado de Mike havia deixado sequelas quase irreparáveis no outro rapaz. E já fazia seis meses desde que ele havia se envolvido romanticamente com outra pessoa. Mesmo em condições péssimas como aquela.

— Não quer checar ela um pouco? – Nora perguntou. – Posso ficar de guarda aqui fora.

Steve não queria, mas imaginava que a namorada deveria estar cansada daquilo. Tanto quanto ele. Por isso, cedeu.

— Não durma, okay? – reforçou ele. Nora apenas concordou, tomando seu posto de desenhista. Steve era péssimo nisso!

X

O interior da caverna era simplesmente deslumbrante. Não fosse a morte de Alex tornando todo o ambiente cinzento, Steve tinha certeza de que Nora teria apreciado aquelas luzes que se prendiam no teto! Como eram maravilhosas!

— Aposto que o Alex ia adorar isso aqui. – A voz embargada de Caroline chamou sua atenção para onde a outra jovem estava. Tinha uma garrafa de algo nas mãos dela que certamente era alcoólico pelo forte cheiro que se espalhava no ambiente.

— Essas coisinhas iluminadas no teto? – Steve sentou-se ao seu lado e aceitou um gole. Vodka. Daquela barata que dá perda total no dia seguinte. Passou a garrafa para o outro lado, achando que Caroline já devia ter ingerido demais da bebida. – Acho que ele ia pensar que são de comer!

Os dois riram um pouco daquilo até que Caroline começou a chorar baixinho. Steve sentia-se mal, mas sabia que os dois tinham planos para casar no início do ano vindouro. O golpe fora mais forte nela do que nele, mesmo que Steve e Alex se conhecessem há mais tempo.

— Sinto muito, Carol. Sinto muito mesmo. – murmurou baixinho.

— Ele nem queria vir, Steve! Fui eu quem insisti! – Escondeu o rosto no peito de Steve. O garoto acariciou suas costas lentamente.

— Não adianta pensar muito nisso agora, né? Temos que lutar para sair daqui vivos. O que acha de irmos um pouco lá fora?

O silêncio foi a única resposta de Steve.

— Carol? – chamou de novo. – Carol! Não durma! Carol!

Mas já era tarde demais.

X

Alex sempre havia sonhado com as estrelas. Era o que ele costumava dizer a Caroline. Que um dia, a levaria às estrelas. E ela não tinha dúvida alguma disso. De um jeito bastante figurativo, o astro do time de futebol já fazia isso. E como!

Estavam caminhando abaixo do céu estrelado no campus da faculdade. Os dedos entrelaçados de ambos eram mornos. E ela gostava daquela calmaria e do cheiro da grama molhada daquele horário onde poucas pessoas se aventuravam.

Os cabelos loiros de Alex pareciam mais reluzentes do que nunca, o sorriso sonhador pintando os lábios enquanto ele erguia os olhos para o céu.

O que acha de casarmos sob um céu assim, Carol? – perguntou ele. A garota mal podia acreditar. Aquilo era mesmo uma proposta de casamento?

O que quer dizer, Alex? – Precisava de uma confirmação. De algo mais!

Acho que seria ótimo nos casarmos durante a noite. Quero que seja minha esposa, Carol. Para sempre e sempre.

Alex beijou suas duas mãos. As estrelas pareciam ameaçar cair do céu. Carol nunca havia se sentido tão feliz em toda sua vida.

X

— Acorde, Carol!

Uma risada grotesca escapou dos lábios de Carol no entanto. Ela havia avançado sobre Steve e tomado a garrafa do outro lado, quebrando-a em uma rocha próxima. Os cacos perigosos estavam apontados na direção do rapaz.

— Carol? – Ela inclinou a cabeça em um ângulo estranho. O brilho em seus olhos era fugaz. O cheiro de álcool havia preenchido o estômago de Steve. Álcool que havia banhado todo o corpo dela.

Steve?!— A voz de Nora soou distante, na entrada.

— Fique aí, Nor! – alertou o namorado. Um segundo precioso. Foi o suficiente para Caroline avançar na direção de Steve, atingindo seu pescoço de raspão com o caco. Não fossem os seus reflexos apurados, provavelmente estaria morto agora. – Como se apoderou do corpo dela?!

O sorriso maníaco tomou conta de seu rosto e a gargalhada ecoou ao redor, fazendo com que a nuca de Steve se arrepiasse completamente.

— Acha que vivo há quanto tempo, moleque?! – A questão trouxe a ele a luz de onde reconhecia aquela voz. Modificada, talvez. Mas de suas próprias lembranças. A voz de sua avó. – Se ao menos tivesse me ouvido...

A expressão. Steve sentiu o coração apertar.

— Pare. Ela está morta. Você não é ela! – Rangeu os dentes. Mais um segundo de hesitação no qual Caroline avançou sobre ele, estocando-o na direção do peito. Steve conseguiu bloquear a investida com a própria mão, sentindo o corte na base da palma. Mas o grito de Nora trouxe uma nova distração que poderia ser fatal: o suficiente para que Caroline puxasse a garrafa de volta, arrancando uma exclamação de dor dele.

— O que está fazendo, Carol?! – Nora perguntou para a melhor amiga.

— Não é ela, Nor! É o Freddy! Porra! – A dor se espalhava como um choque por todo o braço de Steve.

Não é ela, Nor! É o Freddy!— Caroline imitou em falsete. A expressão de Nora era de puro terror ao ver a amiga banhada em vodka aproximar-se em passos lentos. – Claro que é o Freddy! Sempre é o Freddy!

A gargalhada de Caroline ecoou novamente pelo local. A caverna estreita parecia perfeita para um maníaco armado com uma garrafa de vidro!

— Como tiramos ele dela?!

O brilho da caverna parecia se tornar mais intenso. As larvas luminescentes se moviam aos poucos.

— Eu não sei, droga! Não sei! – Steve bradou, confuso. Não se lembrava de a avó ter explicado como afastar Freddy. Não quando ele possuía alguém. Nem sabia que isso era possível!

Aquele sorriso novamente. O sorriso que deveria ter amedrontado tantas pessoas antes deles.

— Precisamos fugir! – Steve decidiu.

— Não podemos simplesmente abandonar ela, Steve!

Caralho!— Ao dar um passo para trás, Steve sentiu um caco entrando fundo em seu pé. Caíra na besteira de ficar descalço para sentir a areia no chão!

Naquele momento, Carol avançou novamente. Nora gritou, vendo como o namorado acabaria morto pelas mãos da melhor amiga. E num impulso, lançou o isqueiro zippo aceso na direção dela.

Apenas para assustá-la.

Mas o álcool.

Em todo seu corpo. E as chamas começaram a trilhar o caminho em meio às gargalhadas de Freddy, finalmente fazendo um círculo ao redor do corpo de Carol.

— Isso ainda não acabou. Tenham bons pesadelos...

Os olhos se apagaram brevemente, enquanto Caroline parecia voltar a si.

— Carol! – Nora sentiu os olhos arderem com as lágrimas. – Não se mova! Onde está o cantil, Steve?!

O rapaz xingava por conta do caco em seu pé, e buscou com os olhos até encontrar o cantil, apontando para ela.

— Vou apagar! – Nora alcançou o cantil. Caroline gritou alguma coisa, mas ela estava tão desesperada que apenas lançou o líquido em sua direção. Que inflamou-se imediatamente.

Os gritos de Caroline se intensificaram conforme as chamas se aproximavam de seu corpo, queimando suas roupas, grudando-as no corpo.

Caroline havia substituído a água no cantil pela bebida.

As chamas consumiam seu corpo, os gritos de desespero preenchendo o local. Nora assistia desesperada ao desfecho daquilo enquanto Steve buscava o próprio cantil.

Mas quando jogaram a água sobre o corpo de Caroline, já era tarde demais. Mais uma alma havia sido angariada para saciar a fome de Freddy.

“Seja dia, seja noite

Se você não estiver desperto

Tenha certeza

Eu estarei por perto!”


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Notas finais do capítulo

Imagem: http://cf.broadsheet.ie/wp-content/uploads/2016/05/shaunjeffers2.jpg

Momento curiosidade: essa caverna é real! Ela existe na Nova Zelândia e são umas larvas que se prendem ao teto que têm esse efeito luminescente. É uma coisa de outro mundo! Vou deixar a reportagem do G1 aqui pra caso alguém se interesse!

http://g1.globo.com/turismo-e-viagem/noticia/2013/11/caverna-do-ceu-estrelado-na-nova-zelandia-tem-larvas-fluorescentes.html

Eu sempre acho esse pessoal de filmes de terror trash burro demais. Vocês não? Fora que, né, é bem típico deles fazerem umas coisas assim sem nexo.

Agora falando do Freddy em si, ao decorrer dos filmes, ele vai demonstrando que seus poderes não se resumem apenas a penetrar nos sonhos, mas em muitas coisas mais. Nunca vi nenhum dos filmes, pra ser sincera, porque morro de pavores dele. Sempre que tenho pesadelos, não consigo acordar. Então as sensações são horríveis. Sempre preciso de um estimulo externo. Geralmente, meu despertador.

Enfim.

Eu li que ele também pode se apossar do corpo de pessoas. Acredito que quando ele vai ficando mais forte, seus poderes retornam. Então, ao invés de matar Carol através de um sonho, por que não fazer ela se tornar uma assassina? No fim das contas, nem foi o Freddy que causou a morte dela, mas os próprios amigos!

E ela. Hohoho

Espero que estejam gostando! Até o próximo e bons pesadelos...



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