De um a dez outra vez escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 4
A fome que não aplaca


Notas iniciais do capítulo

Prontos para a primeira morte? Espero que gostem!



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Ele estava faminto.

Há quanto tempo não se alimentava?

As pessoas já não o temiam mais como antes. Parecia brincadeira de criança! Uma coisa boba.

Em Elm Street, não se ouvia mais falar o seu nome. Uma lei fora instituída. Proibido. Era simplesmente proibido.

Sentia as forças voltarem para si na forma daquelas histórias, ambas tão familiares a ele, de uma certa criatura abominável que trouxera de volta à vida certa vez no intuito de retornar para o seu próprio lar.

E agora, o vento trazia seu nome de volta. Suas forças. Estava revigorado! Que maravilha! Ah, maravilha.

A energia corria novamente por seu corpo! Podia ser ele mesmo? Achava que era a noite naquele lugar que o revigorava mais e mais.

E passeou.

Entre as barracas, buscando sonhos doces e cálidos. Buscando um local onde pudesse se infiltrar para começar a se divertir... mas por onde começaria?

Ah.

Já sabia.

Seus dedos passearam pelos sonhos e arranharam sua superfície. Tinha um vencedor!

Em breve, se recuperaria por completo e poderia sair daquele lugar.

X

A noite não era quente como temiam, muito pelo contrário. A brisa que entrava pela barraca entreaberta era maravilhosa. Havia se empanturrado com marshmallows e o medo fez com que a transa fosse simplesmente maravilhosa!

“Me faça esquecer as histórias ruins, Alex!”, pedira Caroline. E como o namorado bom que era, só pôde obedecer o que ela lhe pedia. Como ser diferente?

E para ajudar, nada de camisinha! Ah, sim, senhor pauzudo! Você vai se divertir a noite inteira até assar essa bocetinha por completo!

Estava satisfeito quando finalmente pegaram no sono. Talvez pudesse pedir a Jonas algumas dicas de história de terror que deixassem Carol acesa assim por mais algum tempo.

No meio da noite, ela havia despertado. Outro pesadelo, ele supunha.

“O que foi, querida?”

Os beijos dela se espalharam pelo seu corpo, descendo pelo peito musculoso, até o ponto em que ela lhe mordiscou o mamilo. Uma expressão que deveria ser de indignação escapou dos lábios de Alex. Ele queria reclamar, mas uma das mãos dela fechou-se contra sua ereção. Ele engoliu em seco.

“Quero você, baby.”, respondeu ela.

Ele fechou os olhos, curtindo o momento.

“Está gostando, amor?”

As mãos dela se firmaram em suas nádegas enquanto os lábios continuavam descendo.

“Aí.”, pediu ele. Praticamente implorou.

Mas quando ela o abocanhou, um grito escapou de seus lábios. Os dentes eram serras e o olhar não era lascívia, mas algo que beirava ao assustador. E seu pênis. Estava nos lábios dela.

“DEVOLVA!”, o grito deixou seus lábios. Ele tentou erguer o corpo na direção da estranha Caroline com dentes de tubarão, mas correntes saíram por baixo da barraca, aprisionando seus braços. Ele sangrava, sangrava muito! E morreria assim.

“Mas nós só estamos começando a brincar, querido!”

A expressão dela. Transformou-se. O rosto queimado e desfigurado quando as garras de metal desceram por seu peito, rasgando-o.

Seus gritos ecoaram no ar, desesperados.

Nada daquilo poderia ser real.

Queria acordar.

Precisava acordar.

X

O grito de Caroline acompanhou o seu. O desespero na face estampava todo o terror que sentia. Steve foi o primeiro a alcançar a barraca, junto de Nora. Caroline estava ensopada no sangue do namorado, que jazia morto ao seu lado.

Um recado estava estampado em seu peito:

O seu pior pesadelo retornou.

X

Nenhum deles sabia o que pensar.

Nora havia afastado Caroline do corpo morto do namorado, levando-a até o lago para banhá-la. Como estavam com medo de ficarem sozinhas, Mike as acompanhou até próximo do local e ficou de costas. Não conversaram durante todo o tempo, pois ela parecia aterrorizada, balbuciando sobre como havia sido horrível despertar com os gritos de Alex.

Steve e Jonas ficaram com a pior tarefa, a de enterrarem Alex. Jonas não sabia o que dizer, confuso e um tanto em choque. Ele parecia feito de papel, a luz do sol brilhando em seu cabelo como se fossem feitos de fogo.

— Nos conhecemos no final do Ensino Médio, eu e Alex. – Steve cortou o silêncio, enquanto os dois se ocupavam em colocar pedras sobre o túmulo improvisado para que os coiotes não o devorassem. Ele limpou as lágrimas do canto dos olhos. – Caroline e Nora também se conhecem desde esse tempo. Nós dois jogamos pelo time da faculdade.

Jogávamos, Jonas quis corrigir. Mas achou que seria inapropriado.

— Sinto muito, cara. Mesmo. – murmurou. O que se dizia em momentos como esse?

— Eu sabia que ele era real. – Os olhos de Steve se tornaram sombrios. – Sempre soube. Eu disse, sabe? Que nunca falássemos sobre ele. Nossa avó, Kristen, sempre falava a respeito. Ou melhor, nunca falava a respeito. Não falem, jamais, sobre ele, garotos. Os nomes possuem poder. Apenas esqueçam.— Abaixou o rosto. – A princípio, sempre pensamos que era coisa de velho. As pessoas diziam que ela não era certa da cabeça. Mas veja só. Ele existe. É real.

Jonas suspirou baixinho, olhando para Steve.

— Na maioria das vezes, os nossos maiores pesadelos são reais. Não se brinca com coisas desse tipo e se sai ileso. – Não parecia o comentário certo a ser feito, mas Steve aceitou. Tiveram que cortar a conversa, pois Nora aproximava-se com Mike e Caroline em seu encalço.

— Precisamos dar um jeito de sair daqui. – Nora disse.

— Mas como? – Jonas questionou. – O barco foi embora. Volta em 31 dias.

— Mas não estamos sozinhos aqui, estamos? – Mike apertou Caroline contra si. A garota permanecia em silêncio. – Tem outras pessoas na ilha. Quem sabe nativos?

— Hmm, não sei sobre nativos. – Steve pareceu pensativo. – Viu alguém, Jonas?

O ruivo negou com a cabeça.

— Mas talvez algum dos outros membros possua um rádio? Podemos tentar encontrá-los? – sugeriu.

Como ninguém tinha uma ideia melhor e ficarem parados ali parecia uma péssima opção, decidiram levantar acampamento e seguir em frente.

X

Steve sugeriu que eles tentassem ir atrás dos pontos turísticos para encontrar as outras pessoas. Se algo estranho tinha acontecido a eles na ilha, talvez tivesse afetado outras pessoas também.

— Será que não devemos saber nos precaver sobre isso? – Jonas não queria levantar a questão, mas o fez mesmo assim. Caroline parecia uma boneca de pano nos braços de Nora. Se alguém além de Mike escutou, permaneceu em silêncio.

— Não podemos dormir. Era o que vovó costumava dizer. Não durma. É como ele ataca. Nos sonhos. Somente nos sonhos. – Toda a faceta brincalhona da noite anterior havia desaparecido. Mike mordiscou o lábio inferior. – Acha que atraí ele?

Os olhos de Jonas faiscaram. Como nenhum dos outros parecia estar escutando, aproximou-se mais para que apenas sussurrassem. Haviam ficado um pouco para trás, mas ainda acompanhavam o grupo com Steve na liderança.

— Não diga isso. A curiosidade foi minha. Se alguém é culpado por algo sou eu. – suspirou e pousou uma das mãos sobre o ombro do outro. – Sinto muito.

Mike negou com a cabeça. Roubou um beijo rápido dos lábios que havia tomado com tanta volúpia na noite anterior. Estavam avançando rápido quando escutaram o grito de Alex e tiveram que se vestir às pressas. O gosto amargo de bile subiu por sua garganta e afastou-se.

— Vamos arrumar um jeito de sair daqui. Um rádio, qualquer outra coisa. Não deixaremos que ele vença no final.

Jonas apenas concordou com a cabeça, apertando o passo para que alcançassem os demais.

X

Todo o restante da ilha parecia simplesmente vazio, ou ao menos o lado onde estavam parecia. Chegaram até uma caverna onde decidiram parar depois de andarem pelo dia todo. Mike havia subido em uma das árvores mais altas do local em busca de qualquer coisa que pudesse indicar comunicação. Quando desceu, ao menos parecia ter uma expressão de boas notícias.

— Viu alguma coisa? – Nora perguntou.

— Acho que uma fogueira não muito distante daqui. Pensei em checar com alguém.

— Não acho que devemos nos separar, cara. – Steve suspirou, cruzando os braços.

— Mas olhe para ela, mano. Só vai atrasar as coisas. – Sua voz era um sussurro baixo, mas as paredes da caverna fizeram com que ecoasse em todas as direções. Nora olhou feio para ele diante da insensibilidade do cunhado para a perda da melhor amiga. – Uma hora. Me dê uma hora com o Jonas. Vamos até lá e voltamos. Vi uma fogueira acesa, cara! Pessoas por perto. Talvez a gente consiga ajuda.

Steve olhou para Nora.

— O que acha?

Ela encolheu os ombros, como se não soubesse o que dizer.

— Quarenta minutos. – Jonas reduziu o tempo. – E mandaremos um sinal de fumaça de lá se encontrarmos algo. Se não, voltaremos para cá. Steve fica do lado de fora da caverna vigiando e vocês ficam aqui. Se o que Mike me contou é verdade, só precisamos ficar acordados, não é?

Steve e Mike trocaram olhares nervosos, lembrando das palavras da avó. Mas se sabiam de algo mais, nenhum dos dois quis compartilhar.

— Quarenta minutos. Se vocês não voltarem, iremos atrás de vocês. Não importa o que estiverem fazendo.

Jonas parecia um pimentão quando ele e Mike se embrenharam entre as árvores em busca do que Mike havia encontrado.

“A primeira noite veio, de medo me alimentei

Com ela veio a dúvida. O que decidirei?

Matar todos vocês ou não?

Eis a minha questão!”

 


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Notas finais do capítulo

Toda história de terror trash tem: o gostosão que se acha imbatível, a namorada que morre de medo de tudo, aquela que quer pegar todo o elenco masculino, o pegador e alguém que certamente vai morrer de um jeito bem ridículo!

Quem vocês acham que interpretam esses papéis? sahusahsau

Enfim, a primeira morte chegou! O que estão achando da história? E dos meus poeminhas no final? Decidi usar eles ao invés da música!

Mais uma coisa. A Kristen citada na fic é Kristen Parker. Ela foi uma personagem em algum dos filmes de Freddy, e foi uma feliz coincidência quando eu pesquisava a respeito ver que ela tinha o mesmo sobrenome dos gêmeos! Aí foi tiro e queda, né? Juntei o útil ao agradável.

Espero que vocês estejam se divertindo com a história! Até o próximo e bons pesadelos.



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