De um a dez outra vez escrita por Ariane Munhoz


Capítulo 3
Histórias ao redor da fogueira


Notas iniciais do capítulo

Preparados para mais um capítulo? :D



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Montar acampamento não foi difícil com Alex, Mike e Steve à frente do caso. O garoto que haviam encontrado se chamava Jonas, e até o momento, Nora o havia achado bastante gentil.

Quando as garotas se ofereceram para buscar água, ele as acompanhou até o rio, levando consigo o cloro necessário para limpar a água.

— Nunca se sabe. – disse o ruivo. Os olhos eram de um tom claro como o céu, e as sardas se espalhavam pelo rosto. Mas, apesar do porte magro, havia um tipo de beleza exótica nele que saltava aos olhos.

— Você não é americano, é? – perguntou Caroline enquanto passava os cantis para ele. Jonas começou a clorificar a água para que pudessem bebê-la.

— Meio-irlandês. – Sorriu. – Ascendência paterna. O’Reehvs. – justificou-se.

Caroline já estava caindo de amores pelo meio-irlandês e recebeu uma cotovelada entre as costelas da melhor amiga.

— Ele é do Mike! – sussurrou. – Além disso, você tem o Alex.

Caroline revirou os olhos, mas acabou se dando por vencida. Alex era mesmo um pedaço de mau caminho.

— E como veio parar aqui, Jonas? – Caroline não quis deixar a conversa morrer. Nora havia se afastado um pouco para pegar alguns gravetos para acenderem o fogo, mas não muito.

— Acho que da mesma forma que vocês. – Encolheu um pouco os ombros, aquele sorriso um pouco preguiçoso iluminando seu rosto. – A ilha meio que me atraiu.

Como não cair de amores por um cara assim?

X

Voltaram para o acampamento levando água e suprimentos necessários para acender o fogo. Mike, Steve e Alex já tinham montado as três barracas que possuíam—Jonas não tinha nenhuma.

— Veio totalmente desprecavido pra cá? – Mike perguntou ao meio-irlandês, que coçou a nuca um pouco sem jeito.

— Eu não achei que iriam cobrar quase dois mil em uma barraca! E pensei que poderia ficar em um hotel. – Sua risada preencheu o ambiente e Mike o acompanhou. Steve se ocupou em tentar acender o fogo junto com Alex enquanto as garotas começavam a separar as coisas para comerem.

— É, a gente veio mais prevenido pra isso. – Mike encolheu os ombros, lembrando-se do anúncio. Não falava nada a respeito de hotéis, mas como seu irmão e ele adoravam aventuras, tinham se preparado para isso. Ele queria conhecer cada pedaço da ilha, e um hotel os limitaria demais. – Sei lá, se você não se importar pode dormir comigo.

Toda a conversa cessou ao redor. Mike não era nem um pouco sutil!

— Não quero incomodar. – Jonas abriu um sorriso um pouco sem graça, ao que Mike apenas piscou para ele.

— Não é incômodo algum. A barraca é grande o suficiente para nós dois.

Era difícil negar uma proposta assim quando a noite começava a cair.

Sentaram-se ao redor da fogueira cozinhando os Cup Noodles que as garotas tinham trazido para aquela noite.

— Acho que não teremos comida para 31 dias aqui. – Nora deixou o ar escapar pelos lábios. O restante do dia havia sido divertido, mas morreriam de fome em um período tão grande.

— Estamos perto de um rio aqui, Nor. – Steve abraçou a namorada. – Vai ficar tudo bem.

— Acho que nenhum de nós tem uma vara de pescar. – Ela fez um muxoxo. Aquilo era bem verdade.

— Podemos bolar uma rede ou algo assim. – Jonas encolheu os ombros e quando todos olharam para ele, se justificou. – Sabe como é, passei muito tempo em rios na infância. Meu pai era pescador.

— Oooh! Parece que você caiu do céu, carinha! – Um sorriso iluminou o rosto de Mike. Parecia que não morreriam de fome!

X

— Histórias de terror, alguém? – Alex, que assava um marshmallow na fogueira, perguntou. Um sorriso maldoso brincava em seus lábios rosados, os cabelos loiros grudados na nuca por conta do calor do fogo.

— Ah, Alex, não! Você sabe que eu e a Nora detestamos isso! – Caroline se encolheu perto do namorado, fazendo biquinho.

— Da última vez, você contou uma história de arrepiar os cabelos, Nor! Só se assusta fácil. – Mike deu um risinho. A cunhada fez cara feia ao lembrar-se que ele havia lhe assustado mais cedo.

— Não tenho nenhuma nova. E da última vez, estávamos protegidos por um teto! – exclamou ela.

Mike e Steve permaneceram em silêncio, como se conversassem através do olhar novamente. Foi Jonas quem se manifestou.

— Conheço uma sobre um lago se quiserem ouvir...

Os olhos de Alex se aguçaram. Estavam perto de um afinal.

— Conte! – instigou ele.

— Pare com isso, Alex! Eu não vou conseguir dormir depois! – Caroline bateu de leve no braço musculoso do namorado.

— Eu protejo você, meu docinho. – Roubou um beijo da namorada. Aquilo pareceu ser o suficiente para acalmá-la.

— Foi em um lugar parecido com esse, em um acampamento. – murmurou Jonas. Suas feições pareciam ter mudado, conforme os olhos azuis pareciam tornar-se mais escuros por conta das chamas crepitantes. – O filho da cozinheira resolveu se aventurar nas águas do Crystal Lake, mas acabou se afogando. Os monitores que deveriam estar de olho, estavam ocupados demais, se é que me entendem.

O silêncio parecia ter tomado todo o local. Nem mesmo o ganido dos coiotes, que mais cedo preocuparam o grupo, podia ser ouvido. Nenhum piado de ave. Nada. Era como se Jonas fosse o próprio silêncio.

— O que houve? – Carol questionou, querendo acreditar que alguém o vira. Que por trás disso, existia um final feliz. Ou que a história simplesmente acabava ali.

— Sua mãe, que era cozinheira no acampamento, foi a única a ver. – prosseguiu Jonas. – Ela teve um surto de esquizofrenia enquanto assistia a morte do filho. Sei que alguém a matou. – Engoliu em seco, os punhos cerrados. Havia algo em seu olhar que trazia tanta realidade para a história que até mesmo os garotos se calaram. – Dizem que todos os anos, o garoto volta para se vingar, assassinando as pessoas que se aventuram naquele acampamento, enquanto busca pelos assassinos de sua mãe. Principalmente os monitores e aqueles que fazem sexo antes do casamento.

O silêncio prosseguiu por mais um momento, sufocante como um quarto sem janelas. Steve e Mike se entreolharam. Depois Alex.

E caíram na gargalhada.

Todo som retornou ao ambiente.

— Caralho, Jonas! – exclamou Alex, dando um tapinha leve em suas costas. – Se não fosse por esse final, eu ficaria no cagaço! Mas que tipo de assassino faz isso hoje em dia, né?

Jonas acompanhou a risada dele.

— Bem, eu ouvi essa história porque é perto de onde eu vim. Vocês não têm mesmo nenhuma? Mike? – Os lábios rosados se curvaram em um sorriso convidativo. Mike podia pensar em muitas coisas que desejava fazer com eles.

— Tenho uma. – respondeu por fim. Steve ficou sério.

— Mike...

— É só uma história, Steve.

Nora ficou de repente interessada com a seriedade do namorado.

— Qualé, Steve. Você adora histórias de terror. – Encorajou ela. Parecia mais solta, mais disposta a participar das brincadeiras também. Jonas parecia ter deixado o clima mais leve. E era apenas uma história, certo?

— Tudo bem. – Deu-se por vencido. – Conte então.

— Ninguém sabe ao certo como começou. – Mike chamou a atenção de todos. Jonas recostou o joelho contra o seu, inclinando-se mais para perto para ouvir. – Mas foi perto de onde eu morava com Steve na nossa infância. Já ouviram falar da Elm Street? Pois é. Umas coisas bizarras aconteciam por lá, geralmente com os adolescentes. Pesadelos... que se tornavam reais.

— Pesadelos que se tornavam reais? Isso é impossível, cara! – Alex protestou.

— Shh! Está atrapalhando a história, amor! – Até mesmo Caroline parecia ter entrado no clima.

— Não eram simples pesadelos ou sonhos de criança. Não eram sobre o cara do guarda-roupa ou coisa do tipo. – Mike tomou uma expressão mais séria.

“Eram sobre um cara que havia morrido em um incêndio há muito tempo. Ele era a encarnação dos próprios demônios, alguém que fazia os pesadelos se tornarem reais. Mas reais de verdade. Ele pegava os piores medos das pessoas e... fazia-os vivos. Era impossível escapar. Ninguém saía vivo. Esses assassinatos rondaram a rua Elm por muito tempo. Quando chegamos lá, éramos apenas crianças. Os boatos já estavam quase mortos. Mas de vez em quando, eram revividos. Nunca vimos nada a respeito além de recortes de jornal. Falar sobre isso era proibido por lá.”

— E vocês sabem o nome do cara? – Jonas perguntou, os olhos aguçados pela curiosidade.

— Ninguém fala disso, cara. É melhor deixar pra lá. – Steve parecia realmente incomodado, ao que Alex apenas riu.

— Deve ser algo engraçado! Fala pra gente, Mike! – insistiu o loiro.

— Alex... – Caroline chamou baixinho pelo rapaz. Ele apenas bufou.

— Tudo bem, tudo bem. – Encolheu os ombros. – Acho que já deu por hoje, não é? Vamos dormir.

Recolheram-se para suas barracas, pensativos a respeito das histórias de terror. Alex estava feliz, pois Caroline provavelmente o agarraria durante a noite toda. Quando Mike e Jonas se ajeitaram na barraca, o rapaz apoiou-se nos cotovelos para encarar Jonas, um sorriso matreiro brincando em seus lábios.

— Freddy. – disse ele. – O nome dele era Freddy Krueger.

Os coiotes uivaram ao longe. Na alta madrugada, os gritos vindos de uma barraca despertaram todos os demais.

"Diga para mim

Quais os seus maiores medos?

Seu lençol todo vermelho tecido em sangue carmesim?

Ou perder todos os dedos?

A noite é o meu lar

E cada um de vocês, vou pegar!"


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Notas finais do capítulo

Não podia faltar na historinha alguém que conhecesse a lenda sobre esses dois, né? Adoro Freddy e Jason, gente, mas confesso que morro de medo de histórias de terror em geral. Tanto que costumo ter altos pesadelos. Às vezes, escrever sobre isso me ajuda um pouco!

E então, o que estão achando dos personagens? Próximo capítulo tem morte sim! Até lá!

E, como diria um blog ótimo que eu costumava acompanhar... bons pesadelos.



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