Prenda-me se for capaz escrita por Luna Lovegood


Capítulo 5
Capítulo 5 - Divórcio


Notas iniciais do capítulo

Nas minhas primeiras notas iniciais dessa história, eu disse que essa fanfic seria um teste. Quem me conhece como escritora aqui, sabe que eu sempre escrevo fanfics mais emocionais, com um pouco de suspense e muito romance. Comédia não flui tão naturalmente, mas acho que é importante para uma “escritora” se desafiar, e sair da zona de conforto e não escrever apenas “mais do mesmo”, por mais difícil que isso seja.

E foi difícil. Como uma fanfic tão pequena me deu tanto trabalho? Rsrsrs eu tenho o hábito de pensar demais sobre o que escrevo, me preocupo em passar todas as emoções certas, e comédias pedem uma certa naturalidade e desprendimento das regras convencionais que nem sempre é fácil para mim, e batem de frente com esse meu jeito emocional e que preza por coisas que fazem sentido.

Eu acho que ainda há muito caminho para mim antes de me considerar boa em comédia. Mas testes servem para isso, melhorar. Eu agradeço a compreensão. Agradeço pela confiança que sempre depositam em mim, em qualquer projeto meu.

Estou fazendo essas notas iniciais enormes porque este é o último capítulo da história. E pela primeira vez, não estou com aquele sentimento agridoce por finalizar algo. Estou apenas feliz de ter me desafiado e conseguido, espero que vocês também se sintam felizes com este final.
Escrevi meu melhor, espero que agrade.

Dedico em especial o capítulo para Sophie River e Ka Duarte (menina eu tô de devendo um monte de agradecimento rsrsrs), mil desculpas por este presente atrasado, mas espero que a espera tenha valido a pena. Agradeço de coração o tempinho que tiraram para recomendar essa história, amei cada uma das palavras. Obrigada por tanto carinho!

Boa leitura!



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Felicity Smoak 

— Mas que merda! – resisti a vontade de lançar o telefone contra a parede e gritar em frustração, ao invés disso apenas contive meu ódio alimentando um pouco mais aquela bolha de raiva dentro de mim, e segurei o celular contra o peito, batidas frenéticas protestando contra o que deveria ser meu salva vidas, mas era inútil. Contei até dez me lembrando de que meu celular furtado, era minha única saída. Helena nunca havia recusado uma ligação minha. Nunca. E hoje, justo hoje quando eu mais precisava da minha irmã ela desligara na minha cara no segundo toque, e então o telefone passou a dar apenas fora de área.

O que poderia ser mais importante do que eu?

— Tudo bem aí dentro? -  A voz monótona veio acompanhada de fracas batidas contra a madeira da porta. Obviamente batidas feitas por mãos pequenas demais.

— Já estou saindo. – respondi escondendo minha impaciência, dando descarga no vaso apenas para fingir que o tinha usado.

Com dedos ágeis escrevi rapidamente uma mensagem de texto bem raivosa para Helena. Eu iria matar lentamente a vadia da minha irmã se ainda assim ela ignorasse meu pedido de socorro, e não atendesse o que eu especificamente pedia para ela fazer.

Talvez eu fizesse pior e a prendesse junto a Tommy. Considerando o quanto ela o odiava, com certeza ela estaria implorando meu perdão em poucos minutos! Um castigo perfeito!

Deixei meus planos de vingança para mais tarde, e tomei o cuidado de esconder o celular, ali mesmo no banheiro, uma vez que não queria levantar suspeitas.  Toquei meu pulso suavemente, onde parte da algema de aço tilintava como se fosse uma pulseira e me vi desejando ainda ter a outra metade dela me unindo a Oliver.  Suspirei apenas uma vez, me dando apenas aquele momento para me sentir miserável e assim que ele passou encarei meu reflexo no espelho por segundos o suficiente, para saber que a Felicity que me olhava de volta tinha sangue nos olhos e, estava pronta para ir atrás do que era dela.

Abri a porta num rompante, olhos castanhos e ansiosos vieram até mim.

O que eu não daria para um par de olhos azuis divertidos e um sorriso de canto sedutor esperando por mim? Por uma insinuação desavergonhada que faria meu sangue ferver de um jeito bom?

— Se sentindo melhor? – Billy perguntou, me seguindo enquanto eu passava por ele e caminhava pela sala até a porta, testando a maçaneta ainda trancada. O homem desconhecia o significado de espaço pessoal. Parei, virando-me de frente para ele e esticando um braço entre nós, garantindo pelo menos essa distância.

— Eu vou estar melhor quando você me falar onde diabos está Oliver e me deixar sair. – soltei rude, estava cansada daquele jogo.

A polícia havia simplesmente chegado até nós, no meio do nada, com armas em punho e ordenando rendição. Como haviam descoberto onde estávamos, ainda era um mistério para mim. E o pior de tudo é que simplesmente haviam nos separado e prendido Oliver.

Ninguém me deu ouvidos quando eu disse que ele era inocente e que tudo não passava de um mal-entendido.

Eles apenas usaram um alicate para quebrar as correntes das algemas que nos uniam, e puxaram Oliver para longe de mim. Ninguém me deixou ir junto com ele na viatura, ao contrário disso, eu tive que voltar com Billy que além de ser um motorista extremamente lento, não parou de tagarelar por um segundo que fosse sobre como estava preocupado comigo, que o que eu passara era traumático e que Oliver Queen iria pagar. Sua falta de tato na língua, ao menos me deu alguma noção do qual ferrado Oliver estava e o que eu deveria fazer a seguir, se quisesse ajuda-lo.

Eu não tinha minha bolsa, arma ou celular. Policiais a pegaram dizendo que aquilo era evidência. Meu único momento de sorte foi conseguir convencer Billy de que eu precisava passar em casa e me trocar antes de ir para a delegacia, consegui pegar meu celular reserva e uma coisinha que eu sempre mantinha escondida na mesma gaveta.

Não sabia se teria utilidade, mas uma vez que a vi ali, pensei em Oliver e a tomei de volta.

Eu tinha a metade de um plano.

Na verdade, eu tinha trinta por cento de um.

Que consistia em: 1) Me livrar de Billy como babá;  2) Convencer a todos de que eu não fui sequestrada pelo meu ex-noivo, e que na verdade estava muito contente em estar algemada com ele (Por favor me deem novas algemas!); e 3) Encontrar Oliver e dizer em alto e bom tom que Billy Malone não era meu namorado.

Já que o idiota havia se autointitulado meu namorado.

Na frente de Oliver.

Tudo tinha acontecido rápido demais.

E não tive a chance de desmenti-lo para Oliver, e a ideia do meu ex-noivo-porém-possivelmente-amor-da-minha-vida achar que eu namorava Billy Malone, me aborrecia muito mais do que a minha situação atual.

— Você não precisa se preocupar, Oliver está longe de você. – bufei com toda a condescendência e excesso de cuidado em suas palavras mansas.

Para todos, e graças ao idiota a minha frente, eu era a pobre vítima.

A policial que fora pega pelo cara mau, enquanto investigava seu crime. Era a conclusão daquele bando de policiais preguiçosos que teimavam em me ver como apenas uma garota frágil e indefesa.

E por causa deles agora estava trancada nessa sala, com um cara que beijava mal, achava que era meu namorado e me tratava como se eu fosse uma boneca de porcelana. Eu até poderia lidar com isso, afinal eu era uma mulher com um distintivo e estava acostumada a ser subestimada, seria um prazer imenso quando eu finalmente esfregasse a verdade na cara desses bundões. Mas isso teria que esperar, porque por mais que eu estivesse ansiosa para provar meu valor, eu tinha outra prioridade.

Oliver.

Eu não conseguia lidar com toda essa merda sem saber o que estava acontecendo com ele. Oliver havia sussurrado para mim “tudo vai ficar bem” antes de se entregar esticando nossas mãos para que nos soltassem, e eu apenas fiquei ali, parada tentando entender porque meu coração doía tanto, ao vê-lo ser algemado, desejando que as algemas nos unissem novamente, ao invés de nos separar.

— Baby, você ainda está muito abalada! – revirei meus olhos automaticamente ao som do apelido “carinhoso”. Como ele não enxergava o quanto eu odiava aquilo? Respirei fundo mais uma vez, me controlando. Eu não seria bem vista se socasse a cara dele, por isso cruzei meus braços apenas para me conter.

— Billy, eu vou perguntar apenas mais uma vez, – recolhi cada resquício de paciência que restava em meu sistema, o que era equivalente ao coeficiente de gostosura de Billy: igual a zero.  - Antes de começar a jogar as coisas nesse seu sorriso imbecil. Onde está Oliver?

— Sente-se antes, se acalme e eu lhe digo. – seu tom calmo testava ainda mais minha paciência e então ele puxou a cadeira indicando-a para mim, lançando-me um olhar solidário, mas ao mesmo tempo que me dizia que não iriamos a lugar nenhum sem minha colaboração. Manipulação baixa. Então ruidosamente, e muito a contragosto, me sentei. - Quer um pouco de água com açúcar? O que você passou foi traumático, e precisa ficar calma... – não o respondi a raiva percorrendo meu sangue quente enquanto minhas mãos inquietas moviam-se impacientes sobre a superfície da mesa, meus olhos encarando o grampeador na outra extremidade, e calculando quanto tempo eu levaria para pegá-lo e acertá-lo em Billy no meio da cara, ou talvez eu devesse grampear seus lábios para que nunca mais falasse... a mera imagem já me fazia sorrir - ...Eu já avisei a Dra. Cutter da sua situação, eu estou tão triste, mas iremos superar isso, juntos... – Ele pegou minha mão que ia na direção do grampeador e a segurou.

— Você o quê? – me ergui da cadeira de uma só vez, evitando o toque. Billy era, sem sombra nenhuma, o cara mais sem noção quando o assunto era mulheres. Eu estava pensando seriamente em pedir para que Tommy lhe desse algumas aulas, mas provavelmente era um caso perdido.

— Benzinho, você claramente está tendo uma reação ao sequestro! – ele veio novamente até mim, querendo me consolar. Eu iria rir se a situação não fosse tão desesperadora.

— Billy. – ergui meu tom de voz - Eu vou falar bem devagar para que você entenda, preste atenção nas minhas palavras, ok? – continuei como se falasse com uma criança - Eu. Não. Fui. Sequestrada. Eu estava com Oliver porque eu queria, bem não exatamente no começo, mas...

— Você está sofrendo com a síndrome de Estocolmo, o cara é bonitão, eu entendo o apelo. – Finalmente encontrei uma qualidade em Billy: ele enxergava bem! – Mas seria melhor se você conversasse com uma profissional para tratar do seu caso, a Dra. Cutter pode...

— Você quer que eu me trate com Carrie Cutter? – Semicerrei os olhos, desconfiada enquanto um riso sem humor deixava meus lábios. Em simples palavras a psicóloga da polícia era completamente biruta. – Você sabe que ela tem um sério problema com homens? A louca não pode ver um que ela já começa a persegui-lo!

— Ela não é louca. – A defendeu. - Ela é simpática.

Suspirei, desistindo.

Talvez fosse Billy quem precisava de uma psicóloga, havia um limite para a lerdeza. E ironicamente ele o ultrapassara na mais alta velocidade.

— Sabe, Billy, você e Carrie fariam um casal perfeito. Ela é carente de atenção e você é mais grudento do que um chiclete mastigado.

— Então é ciúmes?  - Ele riu, novamente entendendo tudo errado. - Sabe que só tenho olhos para você, princesa.

Ai. Deus.

Alguém.

Qualquer entidade divina.

Me dê uma luz.

Ou fones de ouvidos para que eu colocasse um rock bem pesado e nunca mais tivesse que escutar seus apelidos idiotas.

— Billy. – Eu praticamente gritei seu nome. - Nós não namoramos. – fui incisiva - Nos beijamos uma vez, e meu julgamento naquela época não era um dos melhores, na verdade meus critérios para beijá-lo foram puramente egoístas, e tinham mais a ver com o fato de você não me lembrar em absolutamente nada a pessoa que eu realmente queria beijar. - Ele era o oposto de Oliver que era lindo, divertido e fazia cada poro do meu corpo hiperventilar, enquanto Billy era apenas... Nada. - Mas posso te garantir: eu e você – apontei o dedo de mim para ele - não vai acontecer. – Em seus olhos um pontinho de esperança, eu teria que desenhar? - NUNCA.

— Você está confusa por causa do sequestrador. – Determinou, fazendo-me choramingar uma imprecaução.

Aquilo era como um disco arranhado.

Eu queria gritar. Jogar coisas. Segurar Billy pelos ombros e o sacudir até que ele finalmente entendesse o que eu dizia. Leva-lo para a cadeira elétrica e lhe dar um choque de realidade. Mas nada disso resolveria, apenas reforçaria a ideia dele de que eu, estava louca.

— Não se preocupe. – Billy deu um passo a frente, erguendo suas mãos inofensivas - Ele está preso e não pode mais lhe fazer mal. Me certifiquei de que a fiança seria alta. – O encarei, vendo em seu rosto uma expressão de contentamento que me deixava enjoada.

— Você o prendeu? – perguntei, meu coração batendo rápido e soando quase mais alto do que minhas palavras.

— Como um herói.  – Ele sacudiu chaves antes de coloca-las dentro do bolso - O seu herói, enquanto você é minha princesa. – Ok. Era oficial, eu iria vomitar se ele não parasse com isso. - Ainda estou no aguardo do beijo de agradecimento. – Ele sorriu verdadeiramente satisfeito consigo mesmo e abriu os braços esperando por mim.

Eu ainda o encarava sem piscar, enquanto aos poucos a minha raiva era substituída por algo mais gélido, e me imaginei caminhando até ele e dando uma joelhada bem forte no meio de suas pernas.

Mas ao invés disso, eu caminhei até ele o abraçando.

— Obrigada. – disse numa voz sem expressar nada - Eu não sei o que faria sem você. – Concedi, fazendo seus olhos se iluminarem como uma árvore de natal quando o beijei sobre a bochecha - Acho que estou pronta para a Dra. Cutter agora. – falei num tom vulnerável e baixo, lembrando-me de piscar meus olhos e sorrir minimamente, exatamente como uma donzela.

E enquanto Billy saia sorridente por causa de um beijinho inocente, eu apenas limpei meus lábios com as costas das mãos assim que ele saiu. Sorri para o que eu tinha dentro, as chaves que peguei de seu bolso, e que eu apostaria, eram da cela de Oliver.

Hora dessa princesa salvar o herói.

***

Oliver Queen

Engoli em seco após o policial dizer a gorda quantia de seis dígitos necessária para minha fiança.

Eu não tinha todo esse dinheiro.

Eu não tinha nem a metade, da metade desse dinheiro. Não teria nem se eu vendesse meus dois rins no mercado negro. Mas ainda assim, com toda a altivez que anos sendo um Queen me ensinaram, eu ergui o queixo e demonstrei apenas indiferença.

— Eu só falarei com Felicity. – Respondi pela enésima vez no mesmo tom das outras vezes em que ele me perguntou se eu estava pronto para falar. Observei o jovem policial me dar as costas me xingando, percebendo que eu era um caso perdido. Com sorte ele não voltaria a me atormentar dentro da próxima meia hora. Tão fodido quanto eu podia estar, eu não estava em condições de ser exigente se quisesse que pegassem leve comigo.

Mas eu já estava preso mesmo e não daria o que eles queriam antes de ter a chance de ter meu último desejo atendido. E esse desejo era Felicity.  

Bati minha testa no metal frio.

Eu era um idiota.

Eu tive um par longo de horas dentro dessa cela para pensar muito e finalmente chegar a essa conclusão.

Eu fiz tudo errado com Felicity. De novo. E de novo. Será que eu nunca aprenderia? Quando os policiais chegaram, tudo o que eu conseguia pensar era que era o fim. O fim daquele pequeno interlúdio onde Felicity e eu tivemos a chance de tentar nos reconectar. Prendê-la a mim não tinha sido minha ideia mais genial, eu usei de subterfúgios e menti para mim mesmo dizendo que não era pessoal, mas uma vez que estávamos juntos... Eu não queria soltá-la nunca mais.

Se me perguntassem se valeu a pena sequestrar minha ex-noiva, apenas para ter esses dias junto dela, apenas para que tivéssemos a chance de conversar e tentar resolver nossos problemas. Mesmo com todos os pratos voando em minha direção, mesmo acordando duro ao seu lado sem poder tocá-la, mesmo com toda a mágoa do casamento frustrado pairando sobre nós.

Eu diria que sim.

O inferno que sim!

O amor é sobre isso.

Não sobre sequestrar a mulher que você ama e força-la a te ouvir, isso além de abusivo é crime, olhe bem onde isto me deixou? Mas sobre cometer pequenas loucuras, colocar o orgulho de lado e não ter medo de ser ridículo ou tolo, apenas pela mera possibilidade de conseguir recuperar aquilo que tão estupidamente permitiu que escapasse de seus braços.

Valia a pena estar aqui e agora nessa cela.

Mas sabe o que não valia a pena? Ficar horas pensando na cara do mané que foi até ela e havia batido no peito dizendo que era seu namorado. Pensando no porque Felicity ainda não tinha aparecido aqui, e que provavelmente estava com o idiota. Rindo de mim, talvez?

Não. Felicity Smoak poderia ser muitas coisas. Esquentada. Absurdamente linda. E teimosa na mesma medida. Mas mesquinha jamais.

Ainda assim meu primeiro instinto era socar o idiota, que se chamou de namorado dela, bem forte, arrancando alguns dentes, e garantindo que ele não seria capaz de falar mais merda. Mas desacato a autoridade não ficaria muito bem na minha ficha, que agora além do estelionato – do qual eu era inocente, embora não fizesse ideia de como provar – continha sequestro e cárcere privado, o que bem, eu havia realmente feito quando joguei Felicity sobre meus ombros, a prendi a mim e a levei para uma casa deserta no meio do nada.

Nada bom.

Tão fodido quanto eu podia estar, eu ainda consegui piorar usando minha única ligação, ligando para meu melhor amigo e advogado. Eu deveria saber melhor que Tommy Merlyn estaria muito ocupado jogando seu charme barato para cima de Helena para se importar em atender minha ligação.

Encostei minha cabeça entre as grades e fechei meus olhos, tentando me concentrar em qualquer coisa. Pensar em uma solução. Mas minha mente, travessa como sempre, apenas se concentrou no último par de dias, em todas as vezes em que pressionei meu corpo no de Felicity, todas as vezes em que a beijei e o quanto de paixão havia naqueles beijos, momentos em que a fiz sorrir ou que seus olhos crisparam de raiva na minha direção... Foram três malditos anos sem ela, um par de dias não era o suficiente, mas certamente deixava algo muito claro para mim...

Eu queria uma vida inteira.

Com ela.

— Veja se este não é um semblante sonhador demais para quem está preso? – abri meus olhos, ainda cogitando se não estava imaginando sua voz.

— Felicity! – assim que a vi e constatei que não era uma miragem, meu coração atormentado reagiu batendo forte e vivo. Os cantos dos meus lábios se ergueram num sorriso involuntário, e minhas mãos apertaram mais forte a barra de metal, odiando-as por me manter longe dela. - Espero que tenha trazido a chave. – Respondi numa tentativa vã de humor.

Ela não se deixou enganar.

— Oi. – disse simplesmente, sua mão tocou a minha junto a grade. Seu toque era terno e confortador, varrendo por um instante todas as minhas preocupações. Meus olhos se concentraram em nossos pulsos com as argolas das algemas ainda ali, combinando. Um pensamento peculiar sobre o que parecia me fez sorrir. - Me desculpe demorar tanto. – falou com sinceridade, e apenas balancei minha cabeça. Ela não tinha do que se desculpar, o importante era que ela viera por mim. Porra! Depois de tudo, ela ainda viera por mim! - Eu tinha que pegar isto antes, foi um pouco difícil. – ela piscou para mim, erguendo na outra mão uma chave. Um sorriso traiçoeiro brincando naqueles lábios cheios, que há poucos segundos eu sonhava em beijar.

Sonhei novamente.

— Espero que não tenha colocado a mão na cueca de ninguém para isso. – tentei brincar novamente, mas o sorriso culpado em seu rosto me fez parar de sorrir. – Merda. O que diabos fez para conseguir isso, Smoak?

Eu não gostava da ideia dela se encrencando por minha causa. Para me salvar. Não é assim que as histórias são.

— Não foi muito fácil nem agradável de conseguir... Provavelmente logo irão descobrir, então teremos que ser rápidos. – franzi o cenho, não gostando de sua resposta, sabia que havia mais. Ela tinha infligindo a lei para me soltar? Ou algo pior?

Reconheci o leve mordiscar nos lábios segurando um sorriso e aquele olhar de quem sabe jogar sujo quando quer. Ela o usou comigo muitas vezes, e estremeci diante da ideia dela usar seu charme inocente, porém fatal com outra pessoa.

— Quem você teve que seduzir para isso? – falei mais duramente do que pretendia.

— É isso o que te preocupa? – a encarei, minha respiração alterada e meu olhar zangado me denunciando.  E ela ainda sorria! – Por Deus, Oliver! Foi apenas um beijo inocente, todos estamos bem. – deu de ombros.

Eu não estava nada bem.

Um beijo por uma chave.

O inferno que não!

— Eu preferia continuar preso. – me afastei das grades, irritado. De repente não mais me sentido tão feliz assim com sua presença, pelo menos não a este custo. - Na verdade, se você não tem ordens para me soltar, eu tenho que continuar preso. – escorei o corpo na parede e cruzei meus braços, minha mente masoquista imaginando Felicity beijando o babaca daquela manhã. - Já estou encrencado demais para fugir e acrescentar mais isso na minha ficha, e não quero você se arruinando por minha causa. – olhei atravessado para ela, meu mau humor ainda vencendo - Ou pagando por isso com beijos.

Ela apenas riu.

Felicity era a minha ruína.

— Não ligo. – deu de ombros.

— Mas eu ligo! – joguei as mãos para o alto frustrado - É a sua carreira. E são seus beijos! Que deveriam ser todos meus!— Ela ergueu uma sobrancelha diante da última frase segurando um sorriso, e eu usei toda a dignidade que eu não tinha para fingir que não havia deixado meus pensamentos ciumentos escorregarem até minha boca. - Eu sei o quanto você batalhou para isso. Você ama ser uma policial, mesmo que por enquanto esteja apenas atrás do teclado, você me disse o quanto tem treinado para ser mais. – minha voz abaixou vários oitavos, como tendia a fazer quando eu falava com Felicity. Não importa o quanto eu estava chateado, com raiva, ao falar com ela algo em mim sempre saía mais suave - Eu não vou arruinar isso. – declarei, e vi o vislumbre de um sorriso desafiador em seus lábios. Ela não estava desistindo de mim. - Você não pode me obrigar a sair dessa cela. – elevei o tom e olhei para ela finalizando a questão.

— Nem mesmo por um beijo? – ela bateu os cílios e sorriu, de um jeito que fez meu coração tolo palpitar mais rápido.

Por um beijo não, amor. Mas se forem todos os seus beijos, pelo resto da minha vida, eu faço qualquer coisa.

— Não brinque comigo. – falei mais sério, porque por mais que eu ficasse contente com a ideia de ter seus beijos agora, eu preferia fazê-la feliz a longo prazo. E nesse momento, fazê-la feliz seria priorizá-la e não envolvê-la nas minhas confusões, eu já tinha complicado demais as coisas. - Eu não quero que se encrenque ainda mais por minha causa, e definitivamente não quero que beije ninguém por mim. – frisei a última parte, ficando ainda mais mal humorado com o sorriso que teimava em brincar em seus lábios enquanto os meus nada mais eram do que uma linha fina de descontentamento, e ciúmes por não terem sido aqueles que tocaram seus lábios – Ninguém. – repeti mais forte, já que Felicity parecia determinada a se divertir às minhas custas. – Eu estou falando sério, Felicity! Sem mais beijos.

— Eu sei. – cantarolou tranquilamente, o sorriso em seus lábios me fazendo ficar alerta. Ah, cara! Eu conhecia bem aquele sorriso, ele sempre antecedia algo que me deixaria louco.

Eu estava certo.

— O que você está fazendo? – dei um passo para atrás me colando ainda mais a parede, assim que Felicity colocou a chave na fechadura, girando-a. E simples assim, a porta de metal estava aberta.

— Desde que eu não posso soltá-lo, e mesmo que eu o fizesse você se recusaria a sair. – observei hipnotizado Felicity dar um passo à frente entrando na cela e fechando a porta atrás de si. - A única alternativa é me prender com você. – E simples como ela disse, Felicity girou a chave nos trancando.

Juntos.

Naquela cela pequena.

— Isso é uma má ideia. – avisei, mas não fui capaz de me afastar mais, enquanto ela, com mais dois passos estava a minha frente. Seu queixo erguido, os olhos espertos me encarando e desafiando.  - Quando os policiais descobrirem...

— Eles não vão ter a chave para nos soltar.  – ela sacudiu o metal brilhante na ponta dos dedos, aquele sorriso audacioso veio acompanhado de uma leve e divertida piscadela dessa vez.  - A não ser que a peguem de mim.

— Felicity. – dei um aviso, não gostando nenhum pouco do brilho astuto naqueles olhos azuis.

— Eu colocaria a chave na minha calcinha, mas acho que você não hesitaria em pegá-la. – Pisquei, deixando-me por um momento me contagiar com sua travessura, a tensão de estar ali com ela, porém flertando com ela, despertando partes de mim que só se tornavam vivas quando estavam ao seu redor. Esqueci o resto do mundo enquanto o leve sorriso em meu rosto tornou evidente o rumo dos meus pensamentos.

— Seria um prazer. –  o rubor em suas bochechas demonstrou que ela já sabia disso, ergui minha mão tocando com as costas dos dedos o calor de sua pele. O toque era lento e não tinha nada de sexual como minhas palavras, mas ainda assim conseguia ser um prelúdio de algo muito maior. - Para nós dois. – dessa vez quem piscou fui eu.

— Eu sei. – Felicity falou com a respiração ligeiramente entrecortada, balançando a cabeça e desviando apenas um pouco o olhar de mim, como se buscasse por controle. - Por isso que vou guardar a chave aqui, onde corro menos riscos de me desfazer em suas mãos. – Pisquei rapidamente enquanto assimilava suas palavras, quase perdendo a chave desaparecendo no meio do seu decote.

Mas uma vez que vi onde estava, não consegui pensar em outra coisa.

— Eu não contaria com isso. – meus olhos caíram para o seios, várias ideias passando por minha mente. – Posso pegá-la com minha boca? – ofereci.

— Você é um desavergonhado. -  Felicity gargalhou, mas eu não. Como ela podia achar que eu não falava sério? - Mas também é um homem honrado. – Sua mão tocou meu ombro, a voz num tom mais doce. Eu teria ficado orgulhoso por ela achar que eu era esse homem, mas não me sentia muito honrado olhando para aquele par de seios. Desejando-os.

— Eu não teria tanta certeza de que tenho tanta honra assim. – Eu poderia me forçar a ser, mas não significa que eu gostaria. Pelo sorriso de Felicity, ela sabia disso também.

— Sabe do que eu tenho certeza? De que você não deixaria ninguém colocar a mão no que é seu. Então a chave ficará protegida. – O inferno que eu deixaria! Qualquer um perderia a mão se chegasse perto daqueles peitos... Mas outra coisa chamou minha atenção.

— É meu? – repeti me atrevendo a dar um pequeno passo ficando a distância de um palmo do seu corpo, ganhando seu sorriso tímido - Você é minha e apenas minha? – meu coração retumbava - E quanto ao imbecil dizendo que era seu namorado?

— Billy não é meu namorado, Oliver. – Meu sorriso tolo não escondeu a felicidade que era ouvir aquelas palavras.  

— Bom. – minha voz soou grave, e por mais satisfeito que eu estivesse, não escondia os resquícios da minha insegurança - Você consegue muito melhor. – ela revirou os olhos para meu óbvio oferecimento, mas não se afastou quando minhas mãos furtivamente se encaixaram ao redor da sua cintura.

— Eu consigo. – concordou, suas mãos se aconchegaram em meus ombros, dedos brincando com a gola da camisa - Talvez eu tente a sorte com um bonitão de olhos claros. – meu sorriso se tornou enorme e convencido - Eu só preciso conseguir o telefone do Chris Hemsworth... – ela fingiu pensar, fazendo um biquinho com os lábios, deixando a provocação no ar.

—  Você quer que ele seja seu próximo namorado?

— Sim, sempre fui apaixonada pelo Chris. – Sorri com suas palavras, amando a proximidade em que estávamos, eu podia sentir o gosto da sua respiração soprando em minha boca, tentando-me. Meus olhos nunca deixando o seu rosto, tentando absorver cada pequeno detalhe – Ao contrário do que você pensa, Oliver, você não é o amor da minha vida. Eu tenho outros pretendentes. – meu sorriso cresceu ainda mais enquanto eu assentia vagamente – Por que está sorrindo?

— Você está mentindo – Ergui uma das mãos tocando a pequena ruga no nariz, lembrando-a de que eu conhecia bem seu segredo. – Você não quer nenhum ator famoso como seu namorado. Também não tem outros pretendentes. - ela segurou o sorriso, apenas porque sabia que eu estava certo e não queria admitir - Mas talvez tenha um amor para o resto da sua vida. – notei a mudança no seu corpo imediatamente. Seus olhos estavam ansiosos por algo, mas Felicity se segurava. - Não vai me responder?

— Não confio no meu nariz, revelador de mentiras. – ela levou a mão ao nariz, o escondendo de mim.

Não a pressionei, me afastei apenas um pouco, deixando de tocá-la e mantendo minhas mãos seguramente contra meu corpo antes que elas me traíssem. Nos dei esse espaço, para pensar sobre o que foi dito. Não precisamente neste momento, muito havia sido dito desde nosso reencontro, quando a prendi a mim e a levei para a cabana. Não sabia onde estávamos exatamente. Mas sabia que chegaríamos lá em algum momento. Por hora, era apenas bom saber que ela se importava o suficiente para arriscar tudo e estar aqui. Comigo.

Mesmo que eu quisesse mais, não era bom pular partes, deduzir coisas ou ainda pior, tomar decisões importantes sobre nós, sozinho. Essa tinha sido nossa ruína da outra vez.

Não faria isso novamente.

Eu me asseguraria de ter tudo esclarecido antes de tomar uma ação.

— Por que está fazendo isso, Felicity? – Perguntei, e vi em sua expressão que ela estava surpresa com minha pergunta tão direta. E um pouco confusa também. – Por que está aqui nessa cela comigo? Não era necessário.

— Quer que eu vá embora? – a voz tremulou na última palavra, seu corpo oscilou afastando-se poucos centímetros.

— Inferno, não! – praguejei, odiando que ela entendesse tudo errado. - Estou há poucos segundos de pegar essa chave e destruí-la com minhas próprias mãos, apenas para que nada nos separe outra vez.

Ela sorriu.

E merda, havia algo diferente na forma como ela sorria, algo que reconhecia de algum tempo atrás e ativava uma memória antiga. De outros tempos. Ou talvez fosse apenas o fato de que ela sorrisse para mim, e eu havia perdido isso.

Ser dono de um sorriso seu.

— Porque... – ela mordeu o interior da bochecha e soltou o ar com mais força, seu nervosismo deixando-me nervoso também. Quando ela falou novamente, seus olhos estavam nos meus, seguros, embora seus dedos brincassem com a metade de sua algema, nervosamente, mostrando-me que ela ainda estava em uma luta interna. - Eu não tinha percebido, não até você aparecer na minha casa me jogando por sobre seus ombros, Oliver. –  não me movi. Me tornei apenas ciente dela, dos seus olhos que me olhavam daquela mesma forma que a faziam dona de mim, ciente do movimento de seus lábios enquanto as palavras fluíam em sua voz suave e pareciam flutuar até meu coração. Ciente de que eu, estava ainda mais perdidamente apaixonado por ela. - ...Não até estar debaixo do mesmo teto que você, presa com você, até você me irritar ao ponto de me fazer perder a cabeça, me confundir e me fazer questionar tudo.

— Percebido o quê? – meu coração bateu mais rápido, ansiando pela resposta.

— O quanto eu preciso de você na minha vida, Oliver. – Havia insegurança e medo naquela admissão, mas também havia um alívio em seu rosto quando ela disse meu nome, uma aceitação de que sempre seria assim. Eu vi, o momento exato em que tudo mudou. O momento em que seus olhos foram mais rápidos que suas palavras.  - O quanto eu ainda te...

Não consegui me conter.

Aquela expressão doce e apaixonada e também um pouco assustada no rosto dela me desfez, ao mesmo tempo em que me reconstruiu. Não me vi romper a pequena distância, não sei quando fechei meus olhos ou Felicity os dela, apenas me recordo do momento exato em que coloquei ambas as mãos ao redor do seu rosto e me aproximei, narizes se tocaram num beijo de esquimó antes de tomar seus lábios para os meus. Como era o certo de ser.

Apesar do meu rompante inicial, o beijo se construiu vagarosamente, e foi muito além de bocas que se tocavam. Senti o corpo de Felicity aproximando e moldando-se ao meu, corações ressoaram juntos. Em reconhecimento. Alívio, por finalmente estarem juntos mais uma vez. Lábios deslizaram um sobre o outro, em uma suave carícia. Minha língua tocou calmamente a abertura da boca dela que se entreabriu sem resistência para recebê-la. O gosto conhecido fazendo explodir milhares de sensações adormecidas.

Sorrisos se encontraram em meio ao beijo, que marcava muito mais do que um simples desejo. Marcava o fim do exílio em que colocamos nossos sentimentos, um retorno para casa.

Eu sabia que em algum momento teríamos que nos afastar e confrontar todos aqueles sentimentos, mas nesse momento, segurando em minhas mãos a pessoa mais preciosa na minha vida, tudo o que eu queria era prolongar este instante para sempre.

Eternizá-lo.

Por isso o estendi o máximo que pude beijando-a sem parar, até que se tornou uma pequena brincadeira, na qual eu contemplava cada pequeno riso seu com mais um pequeno beijo e mais outro e outro. Até que suas mãos repousaram em meu tórax, empurrando-me apenas o suficiente para que o beijo cessasse.

Eu deixei o beijo terminar, porque enquanto ambas as suas mãos deslizavam pelo meu peitoral pairando sobre meu coração quente e pulsante, eu sabia que aquele era o fim de um beijo.

Mas o começo de um nós.

— Você me interrompeu. –  Felicity acusou, embora ela não parecesse chateada com isso. E apesar do tapa sem força no meu ombro, Felicity continuava sorrindo e isso me dizia muito sobre seus sentimentos.

E talvez dissesse sobre os meus também, já que havia um sorriso permanente em meus lábios.

— Você ia dizer que me ama. – seus olhos se tornaram maiores, a boca entreaberta da qual palavras não saíram. Ok, talvez eu tenha pressionado cedo demais. O que fazer se tenho um coração inquieto e ansioso?

— Não tem como você saber disso. – mordiscou o lábio inferior, roubando minha concentração por um instante.

— Não ia dizer que me ama? – questionei, ainda mantendo meus olhos em seu rosto, enquanto meu coração com medo, falhou uma batida, eu não poderia ter entendido tudo errado? Poderia?

— Não. Eu não ia dizer que te amo. – meu coração voltou a bater mais forte e feroz do que nunca, meus olhos cravados no franzir do seu nariz arrebitado.

Peguei você, Smoak.

— Felicity Megan Smoak. – seu sorriso petulante ainda me provocava assim como aquela luz em seus olhos. Ela sabia que eu pegaria sua mentira, contava com isso até.  Minha mão balançou segurando a dela, as pulseiras das algemas tilintaram uma na outra. Não precisava de algemas quando eu a tinha assim, presa a mim por escolha. - Eu conheço todos os seus sorrisos e olhares. Memorizei cada marca em sua pele, e conheço cada curva do seu corpo. Sei que seu nariz franze quando conta mentiras. Que seu lábio inferior treme quando está prestes a chorar e você disfarça com um espirro dizendo que é apenas alergia. Sei que você tende a morder o interior das suas bochechas quando está nervosa. – ela parou de fazê-lo apenas porque indiquei - Que as únicas coisas capazes de te tirar do sério são: injustiça, e quando eu a provoco. A primeira a deixa irritada e disposta a ir aos limites para consertar, por isso se empenhou tanto para se tornar uma policial, e a segunda... Bem, nesse caso você ama ser provocada, ama o quanto eu a desafio. – ela não me contradisse - Eu poderia escrever um livro de mil páginas apenas sobre você, e ainda assim deixaria detalhes de fora.  – apertei sua mão mais forte na minha, e com a outra toquei seu rosto - Acha mesmo que não reconheço seu rosto antes de me dizer essas três palavras? Eu sonhei com ele tantas e tantas vezes nos últimos três anos. Eu forcei essa memória todos os dias ao acordar e antes de dormir, apenas para fingir que não tinha perdido algo tão precioso quanto seus “eu te amo” – eu não tinha percebido o quanto precisava ouvi-la dizer essas três palavras, eu havia escondido essa necessidade  - Não precisa mentir para mim, amor.

— Não tem como ter certeza. – ela mordiscou o interior da bochecha, nervosa.

— Então eu resolvo isso. – ela franziu o cenho sem compreender o que eu faria. Peguei ambas as suas mãos e as segurei junto das minhas erguendo-as entre nós, olhei em seus olhos quando disse as palavras que aprisionei em meu peito por um tempo longo demais. Por que se eu havia sentido falta de ouvir, eu havia sentido ainda mais falta de dizê-las. - Eu te amo Felicity Megan Smoak. – nós dois sorrimos e suspiramos. Como era bom voltar a ter essa sintonia com ela. - Mesmo quando me enlouquece e me frustra.  Mesmo quando faz coisas que deveriam me ficar com raiva de você, apenas me fazem amá-la ainda mais.

— É bom ouvir isso, porque eu te amo também, Oliver Jonas Queen. - Suas mãos se colocaram ao redor do meu pescoço, reivindicando para si meu amor ao mesmo tempo que me dava o seu. – Amo até mesmo quando é um idiota provocador. Mesmo quando age como um bruto homem das cavernas me jogando sobre seus ombros. Ou quando nos prende com algemas escondendo a chave na sua cueca. Ainda assim, eu o amo, mais do que pensei ser humanamente capaz de amar alguém.

Meu coração ficou eufórico com sua declaração.

— Você só não queria ser a primeira a admitir? – apertei meus olhos, e dessa vez a vi rir jogando a cabeça um pouco para trás.

— Você realmente me conhece bem. – Essa mulher me causaria meu primeiro ataque cardíaco antes dos trinta e cinco.

— Minha mulher teimosa.—  beijei rapidamente seus lábios. Estava num estado de êxtase tão grande, que queria fazer tudo ao mesmo tempo. Beijá-la. Abraça-la. Mas também queria manter meus olhos bem abertos me certificando de que tudo era real.

— Por mais que eu ame ouvir isso, e por mais que eu ame a ideia de ficar assim com você, ignorando o restante do mundo e tentando desvendar a razão desse seu olhar sonhador. – É você, respondi. —  Acho que precisamos pensar num plano de ação para te tirar daqui, não gosto da ideia de ter um namorado prisioneiro. – Claramente, Felicity ainda conseguia ser a mais racional de nós, ela indicou o banco que havia ali e nos sentamos para continuar nossa conversa - Não posso me contentar com visitas íntimas mensais.

Aquilo me atingiu em cheio.

Mensais nem no inferno!

Eu a queria ao meu lado por todos os dias da minha vida.

Era hora de trabalhar para isso.

— Eu pensei que você tivesse um plano, afinal, não foi por isso que veio até mim? – perguntei com esperança. Claramente Felicity era a mais inteligente de nós.

— Na verdade meu plano consistia em apenas encontrar você e me prender a você mais uma vez. –  Ah merda. Como não amá-la ainda mais depois disso?

— Gosto do seu plano. – nossas pulseiras de algemas tilintaram uma na outra quando peguei sua mão, lembrando de que não há prisão melhor do que aquela em que escolhemos estar. - Na verdade, amo seu plano.

— Eu também. – compartilhamos um sorriso - mas cedo ou tarde precisamos de algo permanente, Oliver. – Permanente e Felicity, eram duas palavras que soavam malditamente perfeitas na minha mente.

— Eu sou a favor de qualquer plano que envolve me prender permanentemente a você. – apertei nossas mãos, reforçando minhas palavras.

— Oh. – ela se afastou, não fisicamente porque o banco não permitia. Mas notei seus pensamentos indo para outro lugar – Bem, eu estou falando de agora, Oliver. – Ela fugiu do assunto, e por mais que eu quisesse voltar ao tópico de nos prendermos permanentemente um ao outro, eu engoli meu orgulho e deixei que ela conduzisse isso. Afinal, eu não poderia me prender à Felicity, com grades de uma cela nos separando e malditas visitas mensais pairando em nosso futuro. - Como pretende sair da prisão? – não respondi, porque eu não tinha resposta - Eu sei que vai ser fácil derrubar a acusação recente e absurda de sequestro, mas o resto... Eu sei que me procurou por ajuda, mas uma vez que estamos juntos como um casal, eu não posso estar no seu caso, e... Por que está sorrindo?

— Nada – respondi rapidamente, recolhendo meu sorriso - Continue, você parou na parte que dizia que somos um casal. – sorri novamente, fazendo-a entender o que me deixou tão animado em meio a um assunto tão importante.

— Você ao menos ligou para Tommy? – quase me distraí com seus dedos brincando com os meus.

— Sim. – lembrei do desperdício que tinha sido minha única ligação – Direto para a caixa postal. – bufei, eu o mataria quando o visse.

— Hum...  O mesmo quando tentei Helena. – Dividimos um olhar, sabendo que significava apenas uma de duas coisas: Ou Helena havia assassinado o meu melhor amigo, e enterrado seu corpo no quintal, como prometera tantas vezes. Ou...

— Alguém falou com você sobre a sua situação? – voltei a me concentrar no agora. – Algum policial deve ter vindo até você atrás de respostas.

— Eles vieram. – admiti, me remexendo no banco fingindo não ver seu olhar de esperando por mais.

— Desembucha, Oliver! – exigiu, daquele jeito mandão.

— Eu posso ter sido um pouco tenaz sobre apenas falar com você. – agora, gostaria de ter sido mais útil e procurado saber mais sobre minha situaçãoTudo o que tenho é o valor da fiança, e essa não é uma opção para mim. – lembrei-me novamente do valor exorbitante - Acho que terei que esperar Tommy resolver ser um bom amigo. Isso é, se ele ainda estiver vivo. – brinquei - Ou talvez seja bom ele estar morto, como seu melhor amigo, tenho certeza de que me deixaria algo de valor suficiente para pagar a fiança.

Felicity não sorria, parecendo pensativa demais.

— Falando sobre algo de valor...

— O que foi? – franzi o cenho, não conseguindo ler seu rosto.

— Eu posso ter algo que te ajude a pagar pela liberdade. – anunciou fazendo algo pesar no meu estômago, deixando-o embrulhado.

— Não. – me ergui do banco. – Nem pensar.

— Oliver, seja racional.... – ignorei seu tom e seus olhos ternos.

— Eu não vou pegar nada seu! – determinei, que tipo de homem eu seria se aceitasse sua oferta? Eu cancelei nosso casamento exatamente por esse motivo.

— Tecnicamente é seu. – Felicity falou calmamente, me deixando ainda mais esquentado.

— O quê? – olhei atravessado, sem conseguir disfarçar que estava irritado com o que seja lá o que ela me oferecia.

— Eu não imaginei que poderíamos chegar a isso, mas pensando bem parece que vem a calhar. - Felicity parecia nervosa, ambas as mãos sobre o colo e olhava para mim com o olhar vacilante, testando-me. Mudei minha postura, odiando que eu tivesse colocado a distância entre nós, mas por mais que eu a amasse, eu não poderia usar seu dinheiro e se ela piscasse seus olhos e oferecesse seus beijos, ou apenas pedisse com aqueles malditos olhos que me tinham em suas mãos, talvez eu não conseguisse dizer não. - Antes de Billy me arrastar para a delegacia, eu o convenci a passar na minha casa e peguei algo que estava lá, - apertei meus lábios não gostando de saber que ela  e o mané estiveram juntos por tanto tempo - eu não pensei que o usaria dessa maneira, na verdade nem pensei muito quando o peguei, foi mais instinto, ou talvez tenha pensado e não queira admitir, eu...

— Você está divagando, amor. – sorri, eu havia perdido esses pequenos detalhes dela.

— Bem, desculpe. – Por que ela estava tão enrolada? - Talvez isso possa te ajudar com a fiança – Não entendi quando ela colocou a mão dentro do bolso, não  tinha como ela ter trezentos mil dólares ali, mas quando ela ergueu a mão mostrando o que repousava na palma, meu corpo inteiro tremeu – Sei que gastou uma pequena fortuna nele, você pode vendê-lo e...

— O inferno que vou! O lugar desse anel é no seu dedo! – bradei. – E vou me certificar de que não saia daí na próxima vez.

— Está me pedindo em casamento de novo? – Não gostei do pânico em sua voz.

Estou?

— Não estou. – Falei mais calmamente assimilando o que estava acontecendo. Nós dois suspiramos, Felicity não sei ao certo se de alívio ou decepção. Tornei-me a sentar ao seu lado me obrigando a olhar em seus olhos, e não para o anel de noivado que continha tanta história, me tornando ciente de algo urgente, mais urgente do que eu possivelmente continuar preso. - Mas um dia, eu irei me colocar de joelhos diante de você e farei essa pergunta novamente, por isso, eu acho que deveríamos limpar o ar. Eu não quero nada mais entre nós quando este dia chegar, e para isso você precisa entender porque eu cancelei o nosso casamento no passado.

— Eu disse que não tem importância. – ela repetiu, disposta a deixar isso para atrás. E por mais que eu amasse sua ansiedade de seguir em frente, parte de mim não era capaz disso.

— Eu sei. Mas se vamos recomeçar, acho importante deixarmos tudo às claras. E é importante para mim. Se importa se eu contar? – pedi.

— Se é importante para você, então eu irei escutar. – Simples assim. Quem nos visse agora, não acreditaria que já resolvemos discussões com ela jogando pratos em mim.

Peguei sua mão na minha – aquela que não segurava meu anel.

— Eu nem sempre sou bom em me explicar com palavras. – ela me encarou com aquele olhar irônico de “é mesmo? Não tinha notado.”- Você me conhece, eu sempre fui um homem de ação e de poucas palavras. – ela assentiu, mas sorriu me encorajando – Depois do cancelamento, você deve ter visto o nome Queen na lama. – Deixei no ar, esperando sua resposta.

— Eu vi algumas coisas, revistas e reportagens, mas não... – cortou sua frase no meio - Doía olhar para a sua família em tantas capas, então eu me forcei a fechar meus olhos toda vez que as via. Eu não sei muito, mas sei que as coisas foram feias.

— Você está sendo condescendente. – eu disse, eu não era cego para a família que eu tinhas. - As coisas não foram feias, foram um verdadeiro massacre.

— Eu sinto muito. – Felicity se apressou em dizer.

— Não deveria sentir.  – a repreendi - Meus pais fizeram algo errado. Desviar dinheiro de todas aquelas fundações de caridade? Perder nossa fortuna foi o mínimo, eles mereciam pagar mais.

— Eu sinto por você, Oliver, você não merecia ser pego no fogo cruzado. – suspirei com suas palavras doces, queria tê-la ao meu lado quando tudo desmoronou. Mas mais uma vez, eu fui um tolo. – Mas eu não entendo, não foi por causa do escândalo da sua família que você cancelou o casamento. Isso aconteceu meses depois. 

— Eu sabia. – falei baixo demais, querendo enterrar minha vergonha.

— Como?

— Eu sabia que meus pais estavam ferrados antes da bomba explodir nas mídias. Eles me procuraram querendo blindar o patrimônio da família usando meu nome assim não perderíamos tanto. Eu recusei, e eles deixaram claro que as coisas respingariam em mim e em você. – Felicity mal respirava - Eu queria cancelar o casamento, porque assim que eu me casasse com você tudo o que é meu seria seu, e tudo o que é seu seria meu.  Todo o dinheiro que um dia eu tive, veio fácil. Um legado da família. – falei com escárnio - Mas você batalhou para ter tudo o que tem, eu não queria meu nome manchando o seu sucesso.

— Você deveria ter me contado.

— Ação primeiro, palavras depois? – a lembrei do meu traço - Eu estou aprendendo.

— Claro que está! Sequestrar primeiro e conversar depois. – seu bom humor me fez sorrir, com Felicity era apenas fácil deixar as coisas feias para trás.

— Olha quem está falando! Você atirou pratos em mim! – a lembrei - Pratos!

— Você mereceu. – Definitivamente eu mereci - Mas não mereceu que eu lhe desse as costas quando disse que queria cancelar o casamento. Eu deveria ter percebido que algo estava errado, deveria ter lembrado você de que poderia contar comigo para qualquer coisa. Eu pensei apenas na minha dor e não enxerguei a sua. – dei-lhe um pequeno sorriso - Nosso amor merecia mais de mim.

— Merecia mais de mim. – frisei — ­Não se culpe pelo meu erro.

— Não se é um erro quando se tem boas intenções, agora eu sei que eu deveria ter sido maleável e ter te escutado. – o arrependimento marcou sua voz. – Estaríamos casados há três anos, e...

— A vida é o que é. – a cortei, não queria perder meu precioso tempo com ela pensando no que havíamos perdido. - Não podemos voltar ao passado e desfazer nossos passos, pelo menos estou feliz que nossos caminhos se encontraram novamente. – sorri, recebendo de volta seu sorriso. Eu nunca me cansaria disso. - Da maneira mais estranha possível.

— Estou feliz por isso também. – Felicity declarou com uma certa euforia - Mas preciso dizer, Oliver, ainda que você me dissesse todos os motivos pelos quais acreditava que deveria cancelar o nosso casamento, eu ainda assim, teria me casado com você. – sua mão se ergueu, brincando com os fios curtos do meu cabelo - Sem me importar com os riscos.

— Eu sei. – eu entendia agora, que amor não era sobre proteger escolhendo o que era melhor para o outro, mas confiar de que juntos tomaríamos a melhor decisão para nós— E eu me casaria com você, mas teria insistido em pratos descartáveis, é um risco que não estava disposto a correr, naquela época.

— Idiota. – ela riu, puxando, apenas de brincadeira, alguns fios do meu cabelo.

— O seu idiota. – corrigi.

— O meu. – ela concordou, parecendo feliz em ter esse idiota para si.

Então o que me diz? – perguntei, fazendo-a franzir o cenho.

— Digo de quê?

— Casa comigo? – Felicity piscou, e aproveitei-me de sua surpresa para sorrateiramente pegar o anel de sua mão, me colocar de joelhos a sua frente e, mais uma vez, oferecer o meu anel. - Agora, eu estou pronto para correr todos os riscos com você, amor. Mesmo que signifique pratos voando em minha direção uma vez ou outra. Você está pronta para arriscar comigo?

***

Felicity Smoak

— Oliver... – eu me abaixei ao chão jogando meus braços ao redor de seu pescoço, e o abraçando tão apertado quanto poderia. Em outra época, eu teria esperado por um pedido em um lugar romântico, ou um jantar à luz de velas ao invés de uma cela pequena. Mas sendo esta a segunda vez em que era pedida em casamento, eu podia dar a certeza de que onde e como o pedido era feito, não tinha importância, exceto quem o fazia.

— Isso é um sim? – o modo como ele perguntou, nervoso e inseguro, me fez elevar minha outra mão, acariciando o rosto que eu tanto amava e que estava pronta para ser o primeiro que eu iria ver em todas as manhãs.

— É claro que é um sim! – falei rindo, observando com evidente felicidade o anel voltando para meu dedo, ainda servindo perfeitamente. Felicidade ainda maior eu vi nos olhos de Oliver ao colocá-lo lá.

— Parece que vim te tirar da prisão apenas para que você entrasse de bom grado em outra. – pisquei, meu olhar indo para a voz da pessoa a poucos passos de distância. Escorado nas grades de um jeito displicente e com um sorriso zombeteiro nos lábios estava Tommy Merlyn.

Oliver me ajudou enquanto nos levantávamos sob o olhar atento do seu melhor amigo e advogado, que veio direto para nossas mãos agora unidas sem a necessidade de algemas.

— Não parem por mim, continuem... – falou evidentemente bem-humorado, enquanto caminhava até ficar a nossa frente. - Acho que me custaria cinco minutos para conseguir uma licença de casamento online. – pegou o celular do bolso. – E voilà, vocês serão marido e mulher. – ergueu o aparelho oferecendo a solução simples me fazendo pensar. Eu tinha ficado noiva em uma cela. Tradicional definitivamente não era o nosso tema.

— Nem no inferno que você irá casá-los! -  Eu não tinha visto minha irmã ali, não até ela se aproximar escorando braço sobre os ombros de Tommy. Apertei ainda mais a mão de Oliver, abraçando seu braço com todo o meu corpo. Eu não queria ou precisava do julgamento de Helena, mas eu certamente queria que ela não chutasse as bolas do meu futuro marido novamente. - Minha irmã vai ter um casamento de verdade! Com direito ao vestido de noiva, com nosso pai a levando até o altar ao som da marcha nupcial, alguém com poderes de verdade para oficializar este casamento e obviamente a parte mais importante: eu de madrinha segurando o buquê.

— Não sabia que era romântica, Helena. – Tommy a provocou, algo mais brilhando em seus olhos.

— Eu não sou. – minha irmã respondeu altiva - Mas quando um homem se compromete, é bom que ele o faça na frente de muitas testemunhas e no melhor estilo. – ela estreitou os olhos na direção dele - Pense nisso quando for sua vez, Tommy. – Espere... eu tinha escutado direito?

Havia algo de estranho na dinâmica dos dois, a provocação era normal e eu já estava acostumada a isso, até mesmo o flerte de Tommy não me surpreendia. Mas Helena se divertindo com isso? Joguei um olhar questionador para ela, mas minha irmã seguia apenas com aquele maldito sorriso nos lábios, que me dizia tudo, sem me dizer nada.

— Por que demoraram tanto? – Oliver os cortou, notei que ele também suspeitava de algo.

— Nós demoramos um pouco. – Helena o corrigiu - O carro deste idiota pifou no caminho e não tínhamos sinal de telefone. – minha irmã suspirou, jogando o cabelo por cima do ombro enquanto torcia os lábios, como se dissesse ter odiado aquele contratempo.

Eu a conhecia melhor.

Helena me escondia algo, e com certeza tinha a ver com seu suposto ódio em passar um tempo sozinha com Tommy.

— Pensei que Helena tivesse enterrado você no quintal.

— Oh, bem definitivamente alguma coisa foi enterrada. – Tommy sorriu abertamente, piscou um dos olhos para Oliver. Se eu não tivesse juntado as peças ainda, eu o fiz com as palavras seguintes. - Bem profundamente.

— Helena? – chamei minha irmã, que enrolava uma mexa do longo cabelo nos dedos - Tem algo a dizer?

— Não. – sorriu cinicamente. – Você tem? Porque esse diamante no seu dedo diz muito mais do que a boca grande de Tommy. – revidou.

— Hey, você ama a minha boca grande.

— Isso depende do que ela está fazendo, falando não é uma das melhores qualidades.

— Oh, Deus! Informação demais. – abaixei minha cabeça em direção aos ombros de Oliver, senti seu corpo estremecer com a risada contida dele. Pelo menos um de nós se divertia com a situação. - Como vamos aturar esses dois agora que são um casal? – ergui o olhar para ele.

— Encontros duplos? – sugeriu, para meu desespero.

— Você realmente acha que Helena já te perdoou? – O lembrei, fazendo institivamente sua outra mão mover em direção a uma área mais delicada da sua anatomia.

Bom. Ele se lembrava.

— Relaxe, maninha - Helena se intrometeu com a voz divertida - Enquanto Oliver a fizer feliz, os seus futuros filhos estarão garantidos. – Oliver sempre me faria feliz, mas nós iríamos sempre bater de frente em alguns momentos...

— O que acha de eu comprar um protetor de bolas pra você? – ergui-me nas pontas dos pés sussurrando em seu ouvido.

— Eu acho que é lindo o quanto você quer proteger nossos futuros filhos. – Oliver volveu o rosto em minha direção, nossos olhos se encontrando enquanto compartilhávamos um sorriso que fazia meu coração palpitar em excitamento pelo futuro que nos aguardava.

— Acho que deveríamos tirar vocês daí, antes que resolvam consumar o casamento, antes dele acontecer.

— Certamente faremos isso. – falei ansiosa, ganhando um riso envergonhado de Oliver, mas que aos poucos foi se desfazendo.

— Temos um pequeno problema com a fiança, eu não posso pagar aquilo tudo. – seus ombros caíram ao admitir, enrolei meu braço eu seu corpo e deixei um pequeno beijo em seus ombros, tentando confortá-lo. Eu teria que esperar um outro momento para convencê-lo de que eu preferia tê-lo ao meu lado a ter aquele diamante no meu dedo.

— Está tudo resolvido. – Tommy deu um sorriso enorme.

Você pagou a fiança?! – Oliver questionou o amigo, num misto de surpresa e incredulidade.

— Você pode me pagar de volta com bebês. –  deu de ombros, o sorriso ainda nos lábios só que dessa vez ainda maior, se é que era possível. - Estou ansioso para ser tio.

— Tecnicamente você não seria tio de verdade. – Helena o alfinetou.

— Tecnicamente você e Felicity são irmãs de criação. – a respondeu, ganhando uma cotovelada no meio das costelas - Aí. – ele reclamou acariciando o lugar, mas nem mesmo a dor o impediu de ser Tommy Merlyn. - Ok, talvez eu me case com uma irmã de Felicity então poderei ser tio de verdade da ninhada. – sugeriu, a diversão dando lugar a algo mais sério - O que acha?

— Por mais que eu aprecie ver vocês dois se dando bem... – não deixei de observar que Helena havia, pasmem, corado com a menção de Tommy  a ideia de casamento - E quando eu digo bem, eu quero dizer que Helena tem algumas respostas para me dar.

— A única resposta que te darei, maninha, é: seu futuro marido está livre, eu tenho a ordem para soltá-lo. – ela sacudiu um papel na minha frente - Não pode ficar feliz apenas com isso?

—  Você realmente pagou a fiança. – Oliver ainda parecia abismado.

— Eu amo meu melhor amigo, mas não tanto assim.  Fodidos trezentos mil dólares, Ollie.  Era suposto que você continuasse a ser o amigo rico que pagaria a minha fiança, não o contrário. – reclamou.

— Eu acho que o fiz algumas vezes. – o lembrou, seu humor dizendo que havia uma história divertida por trás disso.

— Shiuuu... – Tommy levou o dedo a boca, pedido por segredo - Melhor manter algumas coisas no passado agora que eu namoro uma policial – Helena semicerrou os olhos na direção dele e Tommy fingiu não ver. Oh, ele não sabia o quanto estava encrencado! Ela puxaria seus antecedentes e o interrogaria do modo mais perverso. - A boa notícia é que a pessoa que havia o acusado de estelionato retirou as acusações. – mudou de assunto assumindo um tom mais sério, bem, pelo menos o mais sério possível em Tommy - Tudo não passou de um erro contábil. E como Helena e eu atestamos que você não sequestrou Felicity, e que tudo não passou de um fetiche por algemas de um casal sexualmente muito ativo... Vocês estão livres para ir. E eu nem vou cobrar honorários.

— Então o que estão esperando? -  me adiantei - Não vejo a hora de sair dessa cela.

— Pensei que gostasse de ficar presa comigo. – Oliver apertou minha mão.

— Eu amo. – o respondi de volta - Mas estou ansiosa para ficar presa com você em um lugar mais confortável e sem plateia.

— Espero que seu quarto tenha chave. – nós dois rimos.

— Falando em chave, pombinhos, temos a ordem para soltá-lo, mas parece que ninguém localiza a chave dessa cela... – Minha irmã explicou.

— Oops...! – mordi meus lábios.

— Felicity? – havia riso na voz de Oliver.

— Quer fazer as honras? – ergui uma das sobrancelhas, o desafiando. Eu não pensei que Oliver iria entrar na brincadeira, eu pisquei apenas uma vez e quando dei por mim sua mão descia por dentro do meu decote, fazendo-me prender a respiração por ter seu toque quente ali, buscando mais do que uma maldita chave.

Buscando me enlouquecer.

E tendo muito sucesso nisso.

— Pronto. – Oliver ergueu a chave com um sorriso vitorioso no rosto, e um olhar que me dizia que mais tarde adoraria repetir a brincadeira.

— Criativo, maninha. – Helena aprovou - Mas eu a teria colocado na calcinha.

— Era a preferência de Oliver também. – comentei espirituosamente, gostando de ver a forma como o rosto de Oliver assumiu um tom avermelhado. Peguei a chave de suas mãos, e a entreguei para minha irmã. – Estou ansiosa para sair daqui, agora que tudo está resolvido. – comentei assim que senti o corpo de Oliver ao meu lado, sua mão procurando a minha - Você não? Por que está tão pensativo? – franzi o cenho para o modo como Oliver encarava Helena e Tommy, algo não parecia certo.

— Amor, você não acha um pouco estranho que esses dois tenham desaparecido enquanto mais precisávamos, e uma vez que nós dois nos resolvemos, todos os meus problemas magicamente desaparecem? Não é estranho a acusação ter sido simplesmente retirada?

Eu não tinha parado para pensar, estava muito ocupada ansiosa para viver meu final feliz com Oliver e disposta a aceitar qualquer solução. Mas quando meus olhos caíram nos nossos antigos padrinho e madrinha de casamento, do outro lado daquelas grades, quando observei o semblante travesso que tentavam disfarçar com um sorriso doce demais e que não combinava com nenhum daqueles dois, minha mente deu um click.

— Muito. – conclui, caminhando até as grades e encarando minha irmãzinha melhor. Eu sabia que ela era traiçoeira, mas não tanto assim, e definitivamente não comigo! - Pensando melhor, quais eram as chances de eu ser designada justo para um caso em que você era o suspeito principal? Helena me encaminhou esse caso.

— Tommy me influenciou a te procurar para “me ajudar” – Oliver acompanhou meu raciocínio, as peças se encaixando - E como sua irmã e a polícia nos encontrou naquela cabana? Quando ela pertence ao Tommy e apenas ele conhecia a localização? – Lançou um olhar mortal para o amigo.

— O que acha, Tommy, devemos deixar esses dois presos por mais algum tempo, - Minha irmã brincou jogando a chave de uma mão para a outra, enquanto aquele sorrisinho divertido brincava em seus lábios vermelhos. - então suas mentes podem trabalhar melhor para enxergar o quadro geral?

— Eu não sei, Lena. – Tommy encostou um dos ombros na grade, e falou com um sorriso - Esses dois são tão cabeças-duras que acho que nem perceberam que foram manipulados por nós dois, gênios do crime desde o começo.

— Eu vou mata-lo. – Oliver declarou.

— Não vai não. – sorriu arrogante - Porque além de fazer dois idiotas admitirem que se amam e os livrarem de uma vida miserável e sem amor, onde usariam nossos ombros para lamentarem.  – pausou - Eu acabei de conseguir a licença para casar vocês.

Oliver ainda respirava forte, parecendo dividido entre estrangular o amigo, ou agradecê-lo, por suas tortas, porém boas intenções. Tornei a enrolar meus braços junto aos seus, entrelaçando nossos dedos.

— Bem, o que estamos esperando? -  Oliver me olhou confuso - Tragam meu buquê.

FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham se divertido :) Ainda há um pequeno epílogo vindo por aí, então esse não é o fim ainda.

Falo com vocês nos comentários! Beijos e até mais!



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